pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Michel Zaidan Filho: Psicanalisando o "Panopticum" da cidade universitária
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sexta-feira, 11 de março de 2016

Michel Zaidan Filho: Psicanalisando o "Panopticum" da cidade universitária

    



                               

Nos anos 30, Sigmund Freud escreveu um ensaio famoso e profético sobre a civilização ocidental (O mal-estar na civilização), tratando de uma espécie de patologia social – a violência e o desejo de autodestruição. Nos anos 50, foi a vez de Erich Fromm fazer a sua psicanálise da sociedade (americana) contemporânea, apontando para uma estranha patologia da normalidade ou da massificação. Eis que em pleno século XXI, surge diante de nós, a comunidade universitária da Universidade Federal de Pernambuco, um corajoso estudioso que se propõe a fazer o diagnóstico e a psicanálise da instituição universitária. Há dias atrás, a psicanalista Rachel Ronik falava da doença da vaidade no meio universitário, em ensaio muito comentado nas redes sociais. 

Não me surpreendi porque seguindo as intuições de Nietzsche e do jovem Walter Benjamin venho acompanhando a transformação da cultura acadêmica nunca “cultura filisteia”, de resultados, sem vigor crítico ou utópico. Desde que foi estabelecido como padrão de produção científica o neo-taylorismo, ou o produtivismo acima de tudo, e o modelo cartorial e auto declaratório do “curriculum lattes” na universidade brasileira, a nossa vã e precária ciência virou uma decalcomania da cultura universitária americana.

O manifesto do referido professor, que é um educador, falava da existência de uma “pulsão de morte” na UFPE, que procurava demonizar o outro a todo custo. Essa pulsão de morte teria abolido o livre debate das ideias pela criminalização sistemática daqueles que se opunham a atual administração da Universidade Pública. Ou seja, as ações, as palavras e resoluções coletivas que questionavam os atos dessa administração estavam sendo tratados como crime e seus responsáveis, como réus em processos administrativos e policiais.

Essa pulsão de morte, que transformaria a UFPE numa espécie de espaço concentracionário, se manifestaria através dos seguintes indícios ou sinais: 1) o gradeamento da UFPE, segregando-a da comunidade adjacente: 2) a farda de guerra vestida pela guarda patrimonial da universidade:3) o uso exagerado de tecnologias nos centros e no campus em nome da “segurança”: 4) o emprego de uma linguagem estigmatizadora ou rotuladora:5) incapacidade de escutar o Outro (os moradores do entorno, os estudantes os críticos etc.):6) a manutenção do Estatuto universitário oriundo do regime militar, recusando o novo, fruto de uma amplo e democrático consenso universitário.

O pesquisador, utilizando referências teóricas como Max Weber e Enriquez (da sociologia clínica), fala da instituição de um imaginário burocrático, excludente e autoritário dentro da UFPE. Em oposição a um “locus” da liberdade de opinião e criação. Imagino que essa tarefa não deve ter sido difícil para o atual reitor e seus fiéis colaboradores, em razão das condições em que se deu sua reeleição: trocando apoios por cargos, coordenações, nomeações, núcleos de pesquisas etc. Com tais métodos de persuasão e convencimento, criou-se uma rede de clientelismo na universidade, que minou a autoridade moral e acadêmica da instituição, mas garantiu a reeleição do dirigente universitário. 

Ex-pró-reitores transformaram-se em oficiais de gabinetes, servidores foram investidos da função de Pró-reitores e docentes egressos de campi do interior passaram a integrar comissões de inquérito para criminalizar estudantes e funcionários, em função de suas ações contra a invasão policial ao campus (por duas vezes), a privatização da gestão do Hospital universitário, corte de bolsas, não pagamento às empresas prestadoras de serviço, cujo o triste espetáculo é a degradação física das instalações universitárias etc.

Como diria Freud e Fromm, há um mal-estar na comunidade universitária da UFPE. A impressão que se tem é de um gerente de gastos, não de um educador à frente da UFPE. O que faremos, antes que essa coisa toda degringole num regime falsamente meritocrático, mas profundamente autoritário e intolerante?

Basta de fascismo!

Basta da hipocrisia meritocrática!

Basta de autoritarismo!

Basta de criminalizar o direito de crítica e de opinião.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE


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