sábado, 3 de fevereiro de 2024

Editorial: "Volta para o PT, Tarcísio."



Depois de alguns escorregões verbais naturais - obviamente amplificadas pela Oposição - o presidente Lula ficou mais atento às orientações de sua assessoria neste sentido. No dia de ontem, no entanto, por ocasião das comemorações dos 132 anos do Porto de Santos, onde também foi anunciada a constração de um túnel subterrâneo ligando Santos ao Guarujá, Lula confessou que ficaria difícil segurar o papel e o microfone ao mesmo tempo, optando por falar de improviso. Esteve muito bem em sua fala, orientando-a pela necessidade de construção de padrões de relações institucionais civilizadas entre os entes federados, apelando para um clima de normalidade democrática entre Governo e Oposição. 

Entusiasmado, em certo momento, Lula como que propôs uma humanização ou civilização do bolsonarismo. Ressalvado a sua boa vontade e o entusiasmo, aqui, infelizmente a utopia proposta ficaria apenas no plano das utopias impossíveis. O que alimenta o bolsonarismo é justamente o discurso de ódio, que serve como combustível para mobilizar a sua base de apoio mais renhida. Entende-se o discurso do presidente, naquele momento em particular, sobretudo em razão da conjuntura política que ele sabe que deverá enfrentar para derrotar Ricardo Nunes da gestão da capital. Tarcísio de Freitas é um principal cabo eleitoral do atual gestor e a figura mais emblemática do bolsonarismo nacional.  

Sabe-se, inclusive, que o governador Tarcísio de Freitas, de fato, opte pela continuidado do seu mandato em 2026. Por outro lado o financiamento do túnel Santos\Guarujá também foi suficiente para produzir alguns ruídos entre o governador paulista e o Governo Federal. Em princípio, a ideia seria do governo estadual, mas, de tão importante e relevante, o Governo Federal resolveu assumir o projeto, incluindo-o no PAC, com total financiamento do Governo Federal. O ruído levou Tarcísio de Freitas ao Palácio do Planalto, com a ameaça até mesmo de deixar a legenda Progressista. 

O Governo Lula aquiesceu e resolveu compartilhar o custo da obra com a participação, em partes iguais, do governo estadual. O atual Ministro de Portos e Aeroportos é o pernambucano Sílvio Costa Filho, que pertence ao Progressistas. Por outro lado, durante o discurso, o presidente Lula descartou completamente a privatização do Porto de Santos, que seria uma ideia fixa do governador. Como se sabe, a privatização de estatais se traduz numa das ações mais visíveis da gestão do governador Tarcísio de Freitas. 

O momento de bom humor durante o evento se deu em razão dos afagos do presidente ao governador Tarcísio de Freitas, que ficaria meio que constrangido ao longo do discurso do presidente Lula. Lula fez referência, inclusive, ao período em que o atual governador ocupou um cargo técnico no Governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Neste momento, alguém da plateia sugeriu que Tarcísio voltasse ao PT. A política institucional de boa vizinhança, por outro lado, desagradou bastante a alguns bolsonaristas nas redes sociais, que manifestaram sua insatisfação com a aproximação entre ambos.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário