O xadrez político das eleições estaduais de 2026 em Pernambuco: O "fator" Marília nas eleições para o Senado Federal.

Crédito da Foto: Miqueias Gomes\Folha de Pernambuco

 


O fotógrafo da Folha de Pernambuco, Miqueias Gomes, captou uma foto bastante emblemática no que concerne aos arranjos de forças políticas que devem disputar o Palácio do Campo das Princesas nas eleições de 2026. Seja em relação ao Governo do Estado, seja em relação ao Senado Federal. A foto apresenta o prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE), ladeados de sua prima, Marília Arraes, do Solidariedade, o Ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho(Republicanos), e o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho(União Progressista). Os festejos juninos se constituíram numa excelente oportunidade para os políticos pernambucanos, independentemente das matizes ideológicas, se movimentarem nos polos de festejos por todo o estado. 

Uns se expuseram mais, outros foram mais discretos, mas, no geral, todos se empenharam em adubar as bases e consolidarem seus projetos políticos junto aos eventuais apoiadores. No ranking das movimentações, dizem até que a governadora Raquel Lyra se movimentou mais do que o prefeito João Campos, que, em uma de suas redes sociais, aparece curtindo os festejos junto à namorada, Tabata Amaral,  e à família. em sua residência no bairro de Dois Irmãos. Na semana anterior havíamos publicado aqui pelo blog uma foto onde o prefeito João Campos aparece ao lado do ministro Sílvio Costa Filho e do ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho. Perguntávamos, logo em seguida, se essa seria a chapa que deveria concorrer ao Palácio do Campo das Princesas, tendo ele como candidato a governador, Sílvio e Miguel concorrendo às duas vagas ao Senado Federal.   

Durante a semana anterior, em entrevistas concedidas, Sílvio reafirmou sua condição de candidato ao Senado Federal e praticamente consolidou o nome de João Campos como candidato ao Governo do Estado, algo que, como dissemos em outros momentos, já não se trata-se de uma decisão que  depende apenas dele. Segundo matéria do mesmo jornal, assinada pela jornalista Carol Brito, há dez candidatos ao Senado Federal em Pernambuco. A disputa é acirradíssima, numa engenharia de composições políticas das mais complexas, pois dependem de inúmeras variáveis, a começar pela enorme dificuldade de construção de consensos. Fazer algum prognóstico por aqui não é tarefa simples. 

Pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, por exemplo, aponta que Pernambuco é um dos poucos estados onde o PT tem chances de eleger ao menos um senador, que seria, naturalmente, a reeleição do senador Humberto Costa, prioridade número um para o partido no estado. Apesar do desgaste nacional, Lula ainda conta com o seu capital político preservado no estado, o que pode ajudar bastante no afunilamento das composições de chapa, onde, em princípio, o caminho mais "natural" seria o PT compor com o prefeito João Campos, isso se houver condições de entrar no forró. Para complicar ainda mais o enredo, agora surge a candidatura de Marília Arraes ao Senado Federal. 

Marília construiu uma sólida relação com setores do PT ao longo de sua trajetória politica. O "fator" Marília, quer queiramos ou não, dá uma sacudidela nos arranjos que estão em andamento, seja no que concerne às composições de chapa, seja em relação ao capital político da neta do Dr. Miguel Arraes. Numa pesquisa do Instituto Simplex, ela já aparece liderando a corrida ao senado. A questão é saber como se comportariam os eleitores do PT ou da esquerda - ou do Grupo da Educação - em relação ao seu nome. Com experiência de eleição majoritária no currículo, Marília é um fator que pode desequilibrar o jogo. 

Editorial: Tarcísio já está ensaiando o iiiihul?


Hoje, as negativas do governador Tarcísio de Freitas no sentido de que não será candidato presidencial em 2026 já podem ser entendidas como uma confirmação de sua candidatura ao Planalto. As forças do campo conservador já entenderam que seria o momento de uma definição e fazem gestões junto ao governador para que ele assuma sua candidatura. Já faz algum tempo que o Planalto percebeu as movimentações em torno do nome de Tarcísio de Freitas. Logo no início do seu Governo, o Estado de São Paulo enfrentou uma dessas intempéries da natureza e Lula foi aconselhado a visitar o estado para equilibrar o jogo e não ficar mal na fita. O feeling político apurado do ex-ministro José Dirceu também percebeu que ele seria o nome das hostes conservadoras a ser abatido pelas forças do campo progressista, em 2026. 

Há, aqui, deliberadamente, uma narrativa pautada pelo nós contra eles. Se Lula for mesmo candidato à reeleição, essa narrativa tende a recrudescer, sobretudo porque o programa do PT hoje está resumido a defender as instituições democráticas da extrema direita, esgarçando esse cabo de guerra da polarização, que já deu certo na eleição anterior, e eles apostam que possa surtir efeitos nas eleições de 2026. Se houver uma confirmação de uma eventual candidatura do cearense Ciro Gomes, ele que prepare o gogó, mais uma vez, para demonstrar a falácia deste discurso, como ele tentou nas últimas eleições presidenciais passadas. 

Além das cores, Tarcísio vai sempre com a cor azul do time reserva da seleção brasileira, ele procura calibrar o seu discurso consoante os arranjos institucionais possíveis. Está sendo muito bem orientado. Tudo que ele não deseja é se indispor com o sistema logo na largada. Nos escaninhos da política, dizem que ele está sendo moldado por duas hábeis raposas: o ex-presidente Michel Temer e  Gilberto Kassab, Presidente Nacional do PSD. Lula acena para o MDB, mas é muito pouco provável que a cúpula da legenda aposte suas fichas no petista. Talvez ele tenha que se contentar, como sempre, com o apoio das oligarquias regionais da legenda, em regiões como o Nordeste e o Norte.  

Editorial: O incrível número de pescadores de Mocajuba, no Pará.


Até recentemente publicamos por aqui uma postagem onde, através de cruzamentos de dados entre o Ministério do Desenvolvimento e Segurança Alimentar e o IBGE constatou-se que nada menos do que 1.400 beneficiários do Programa Bolsa Família escondem que são casados para continuarem habilitados a receberem o benefício. Quase 900 alunos milionários de Santa Catarina têm seus cursos superiores em instituições privadas financiados por um programa do Governo do Estado destinado a atender alunos pobres. Problemas existem, igualmente, em relação ao Programa Pé-de-Meia, do Ministério da Educação, em alguns municípios do país. O jornal O Estado de São Paulo apontou irregularidades no estado da Bahia, onde, em uma cidade, mais de 100% dos alunos matriculados no ensino médio, salvo melhor juízo, estariam recebendo o benefício. Quer dizer, há alguma coisa errada aqui. 

Agora vem a notícia, através de uma matéria muito bem realizada pelo Portal UOl, apontando eventuais irregularidades com a concessão do benefício do defeso numa cidade do Pará, Mocajuba, onde haveria um número improvável de tantos pescadores na cidade. Dados da população da cidade, aliados à sua inserção produtiva, descartam completamente a existência de tanta gente se dedicando à pesca no município. Para variar, o pagamento também é realizado pelo INSS, intermediado por entidades, o que potencializa os problemas de irregularidades já existentes no órgão. Caso se confirmem as irregularidades, sugere-se, preocupantemente, que o modus operandi seria o mesmo utilizado por ocasião das fraudes dos aposentados e pensionistas do INSS, procedimento realizado através das entidades ou associações.  

Indo mais além, a matéria apura que houve um aumento exponencial de pescadores no país nos últimos anos, que pulou de um milhão em 2022 para um milhão e setecentos mil em 2025. Questionados sobre esses dados, as autoridades consultadas pelo portal de notícia se mantiveram em silêncio. A CPMI que apura as fraudes no INSS deve começar seus trabalhos em agosto. Pelo andar da carruagem política, vamos ter muito trabalho.  

Editorial: Nova manifestação bolsonarista neste domingo.



Neste domingo, 29, teremos mais uma manifestação bolsonarista na Av. Paulista. A programação começa às 14h00, com a presença do ex-presidente, Jair Bolsonaro, o pastor Silas Malafaia, o governador Tarcísio de Freitas, o deputado Nikolas Ferreira, entre outros convidados. Segundo matérias que estão sendo divulgadas pela imprensa em torno da pauta das discussões do encontro de logo mais, haveria uma contestação sobre o julgamento dos implicados na tentativa de golpe de Estado, inclusive sobre as eventuais fragilidades da delação do tenente-coronel Mauro Cid. Um fato novo sobre o assunto são as especulações em torno de eventuais contatos entre os advogados de defesa dos réus, no sentido de obterem informações mais substantivas sobre o teor da acusação que pesa concretamente contra os seus clientes. Embora os métodos possam ser heterodoxos, entende-se as preocupações. 

Ao que se sabe, as acareações recentes entre os acusados não teriam sido suficientes para mudar os rumos do julgamento em curso. O ex-presidente Jair Bolsonaro tem prometido um pronunciamento diferente para este domingo. Não se sabe o que significa isso, talvez apenas um incentivo a mais para atrair a presença dos seus apoiadores. Diante das circunstâncias tão adversas no que concerne a reversão de uma condenação no STF e uma revogação de sua inelegibilidade, o ex-presidente tem se mostrado mais flexível no tocante a articular o seu apoio a um candidato de centro-direita às eleições presidenciais de 2026. Antes ele se mostrava irredutível, afirmando que só morto estaria fora daquele pleito. 

Neste aspecto, também se aplica o preceito bíblico. Muitos são os chamados e poucos os escolhidos. Hoje o nome que mais atende às expectativas da família Bolsonaro é o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já devidamente ungido pela Faria Lima. O compromisso do grupo é que, se eleito, Tarcísio indulte, de imediato, o ex-presidente. No dia de ontem, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, divulgou em suas redes sociais um vídeo onde se contrapõe à divulgação de um outro vídeo, possivelmente concebido pela Secom, onde o Governo se coloca contra os BBB's que estariam se insurgindo contra o aumento do IOF: Bancos, Bilionários e as Bets. Zema teve o seu momento de Nikolas Ferreira. 

sábado, 28 de junho de 2025

Editorial: Governo abre frente de batalha e declara guerra ao BBB.


Não é improvável que surja algum vídeo daquele deputado mineiro defendendo o Congresso Nacional na votação que derrubou o aumento do IOF, projeto de absoluta prioridade para o Governo Lula 3. Se o Governo conseguir vencer a batalha jurídica, uma vez que, neste momento a AGU já se debruça no sentido de encontrar os argumentos jurídicos para apresentá-los ao STF, neste caso não teremos qualquer dúvida sobre um novo vídeo do deputado tratando desta questão, que, com o suporte de rede sociais que ele possui, atinge logo os milhões de visualizações em poucas horas. Alguém estava questionando se a Secom não estaria muito focada nas redes sociais, esquecendo de outras frentes ou mídias igualmente importante. 

Não sabemos se o Sidônio Palmeira concordaria com esta avalição, mas, pelo sim, pelo não, neste caso específico do IOF, algo sugere que o Governo partiu mesmo para antecipar-se à guerra de narrativas em relação ao assunto, lançando uma espécie de campanha do nós contra eles. Eles, neste caso, são os BBB's. De bancos, bilionários de Bets. Mesmo se o governo for bem sucedido em seu pleito junto ao Supremo Tribunal Federal e a situação for revertida, não se trata de uma batalha jurídica, mas, sobretudo política e esta o Governo Lula já perdeu. Perdeu no parlamento, perdeu junto ao mercado e corre um sério risco de perder junto à opinião pública, uma vez que parte da população não aguenta mais pagar tantos impostos, e a outra já percebeu a necessidade de se dar bons exemplos de austeridade para conter a sanha do monstro da inflação.

Assim, mesmo que ganhe, o Governo acaba perdendo. O STF, por outro lado, já está cansado de tantos acionamentos do Executivo, esgarçando a relação do órgão com o Poder Legislativo. São muitos pênaltis para bater, segundo comentário que circula pela imprensa, indicando, em última análise, um profundo desequilíbrio na propalada harmonia entre os Três Poderes. Numa última reunião convocada para debater as emendas parlamentares, os presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados não compareceram. 

Editorial: Lula vai recorrer ao STF no caso do veto do IOF.



O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a pronunciar-se sobre esta possibilidade, mas com muita prudência, exemplo seguido pelo Ministro da AGU, Jorge Messias. Todos sabem da implicação de uma atitude como esta, num momento em que o Executivo recebe críticas contundentes ao recorrer ao STF sempre é derrotado no Congresso. Juridicamente, talvez se encontre alguma brecha, mas, politicamente, trata-se de uma medida desastrosa. Isso não tem como dá certo, uma vez que ampliará sensivelmente o climão que já existe entre os congressistas e o Governo Lula 3. O Governo insiste em arrecadar mais para continuar gastando mais, num apetite incontrolável por mais tributos. Essa lógica é um desastre para as contas pessoais e para as contas públicas. A matriz é a mesma: não se pode gastar mais do que se arrecada. 

Se as relações já estão difíceis entre o Executivo e o Legislativo, a judicialização do IOF vai significar a pá de cal que faltava. Cálculos um pouco antes da votação que derrubou a proposta do Executivo, indicam que ocorreu uma espécie de liberou geral em relação às famigerada emendas parlamentares. Estima-se um montante superior a um bilhão. Nem assim a situação se reverteu, levando o Governo a uma acachapante derrota na Câmara e no Senado Federal. De há muito já não se trata apenas de uma questão relativa à liberação de emendas, algo que poderia funcionar em outros tempos. Hoje não mais. Há muito coisa em jogo, como as tessituras em relação às eleições de 2026, interesses outros não atendidos pelo Executivo. Ou seja, cruzou-se a linha entre Executivo e o Legislativo, daí ser prudente que o Governo não recorresse ao STF. Mas, por outro lado, quem vai convencer Lula a recuar da decisão?

As mudanças na articulação política, pelo andar da carruagem, tornaram as coisas ainda mais complicadas, como, aliás, já se previa. Nada reverteu-se com as mudanças na comunicação institucional, confirmando-se a nossa tese de que o problema era a lâmina enferrujada. Ontem liamos um artigo onde a articulista apontava que um dos erros da Secom pode ter sido apostar todas as suas fichas nas redes sociais. Pouquíssimas são as pessoas que hoje possuem alguma ascendência sobre Lula, capaz de aconselhá-lo nas horas certas. Num momento em que ele precisa tanto desses conselheiros leais e sinceros. 

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Editorial: A excrescência do aumento do número de deputados federais.




Segundo um levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo, 76% da população brasileira não desejava que houvesse mudanças na composição da Câmara Federal, que aumentou o número de parlamentares dos atuais 513 para 531. No dia de ontem, 26, foram divulgadas várias estimativas sobre o montante que isso representará para os cofres públicos. Não há como ser muito preciso por aqui, mas sabe-se que haverá um efeito cascata junto às composição de parlamentares em alguns estados da federação. Eles, que advogam, reiteradamente, os bons exemplos do Executivo no sentido de manter controle sobre os gastos públicos, não deram um bom exemplo da austeridade cobrada. Curioso que a tese de que a população brasileira não aguenta mais ampliar a carga tributária, não se aplica ao axioma de manter e até ampliar os seus próprios privilégios. 

Os gastos com cada parlamentar são enormes, envolvendo o salário, em torno de R$41 mil;  verba de gabinete para a contração de assessores; auxílio paletó; cobertura de despesas diversas, com médicos, odontólogos, correios, transporte, passagens, diárias, hospedagens; auxílio moradia ou disponibilização de apartamentos funcionais. Possivelmente outros penduricalhos que a gente não consegue lembrar. Estima-se que, mensalmente, cada parlamentar represente uma despesa da ordem de R$ 273 mil. É só os leitores fazerem as suas próprias continhas. 

Enquanto fazemos essa postagem, a Polícia Federal está em operação no estado Bahia, no curso da operação Overclean, cumprindo mandados de busca e apreensão, com determinação de afastamento de servidores públicos de suas funções, em razão de mais evidência do uso irregular das famigeradas emendas parlamentares. Esta operação é aquela onde está envolvido um cidadão com o apelido de Rei do Lixo, cujas empresas operavam em várias praças do país, sempre nos estertores, constituindo-se num verdadeiro duto por onde escoavam os recursos públicos. Não podemos generalizar, mas, neste caso específico, estamos tratando de irregularidades cometidas por parlamentares. 

Editorial: A infidelidade do União Brasil e a entropia do Governo Lula 3.



Depois da acachapante derrota na derrubada do aumento do IOF, o Governo Lula 3 encontra-se num grande dilema. Usar a via diplomática e da negociação para tentar conter as indisposições do Congresso com o Executivo ou partir para a guerra do tudo ou nada, recorrendo, mais uma vez, ao STF. Em ambas as situações, o quadro é preocupante, indicativo do momento difícil que passa o Governo. Se tenta negociar, os canais estão cada vez mais obstruídos e pouco confiáveis. Se recorre ao STF para se contrapor a uma decisão constitucional e majoritariamente decidida pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, amplia sensivelmente o ambiente de animosidades com o parlamento. A coisa aqui desanda de vez, pois daria argumento ao Congresso para continuar recrudescendo esse cabo de guerra. 

O Governo também está dividido em relação a essa questão. Uma ala põe panos mornos, enquanto os mais radicais consideram que chegou a hora de partir para a guerra do tudo ou nada, impondo a vontade do Executivo goela a dentro, o que  deixaria o Governo cada vez mais isolado. O ex-ministro da defesa, Aldo Rebelo, considera que o Governo Lula 3 passa por um momento de entropia, ou seja, uma desordem, uma descoordenação completa. Lula, logo depois da refrega, ainda sob ressaca, manteve uma conversa com o Presidente Nacional da Federação União Progressista, Antonio Rueda, tentando entender o que está se passando com o "aliado". Na realidade, a grande federação que se formou, juntando os dois partidos, o União Brasil e o Progressistas, esta desembarcando do Governo. Simples assim. Cumpre-se aqui aquela expressão utilizada pelo ex-Presidente da Câmara dos Deputados, que afirmou que ninguém embarca em navio que está afundando. 

Uma matéria do jornal Folha de São Paulo, aponta que o União Brasil, que, junto com o PP, ocupa 04 vagas de estacionamento na Esplanada dos Ministérios, é o partido mais infiel da base de sustentação do Governo. Há um ano e meio das eleições de outubro, começam a fazer sentido as afirmativas no sentido de que setores do Centrão já estão trabalhando pela fritura do Governo Lula 3. O Governo Lula 3 quebrou ali de saída, diante da ausência de base de sustentação política; num nevoeiro de instabilidade institucional onde até tentativa de golpe de Estado chegou a ser posta em prática; com diretrizes focadas em políticas públicas ultrapassadas; acumulando déficits público que podem superar as receitas, numa sanha gastadora desenfreada, impondo uma condição delicada ao seu condutor da política econômica, o ministro Fernando Haddad.   

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Editorial: A hora da sangria?



Todos conhecem aquela expressão fulano já está tomando café frio, numa referência aos indicadores de que determinado chefe já se encontra tão desgastado, com os dias contados no cargo, quando até a copeira da repartição já não tem aquele cuidado de outrora com o cafezinho servido ao cidadão. Ontem, por uma dessas felizes coincidência, encontramos uma foto antiga da ex-presidente Dilma Rousseff, onde o seu semblante externa todo o seu descontentamento com a leitura de um bilhetinho com novas demandas do Centrão ao Executivo. Acreditamos ser aquele momento em que a ex-presidente compreendeu que o seu momento como Presidente da República estava terminando. Nada mais poderia ser feito. 

Agora há pouco tomamos conhecimento de duas notícias bastante emblemáticas acerca desse momento crucial das dificuldades do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma delas diz respeito a uma eventual declaração do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no sentido de que poderá recorrer ao STF para reverter a derrota congressual sofrida em relação ao aumento do IOF. A outra diz respeito a uma eventual ligação de Lula aos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e do Senado Federal, Davi Alcolumbre, no sentido de retomar o diálogo com o objetivo de evitar novas refregas do Governo no Legislativo. 

Resta saber se a manobra para aprovar a rejeição do IOF foi mais um desses recados ou se trata, na realidade, de uma indisposição efetiva do Legislativo com o Executivo, indicando, neste caso, que chegou a hora da sangria, um momento de não mais retorno, onde, pragmaticamente, os políticos, principalmente os do Centrão, já estão mobilizados em torno dos seus novos senhores, negociando nacos de poder e outras benesses na nova gestão, muito antes da anterior dar o seu último suspiro. A discussão sobre aumento de impostos é bastante relativa, se entendermos que eles aprovaram a criação de mais 18 vagas de deputados federais, brincadeira que pode significar mais de R$ 140 milhões de despesas para os cofres públicos. A austeridade fiscal aqui, tão cobrada ao Executivo,  não vale para eles. 

Editorial: Congresso veta aumento do IOF e impõe derrota ao Governo.


Há alguns dias especulou-se que próceres figuras do Centrão teriam procurado o Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, com a missão de informá-lo que já seria o momento de deixar o Governo Lula sangrar até as eleições de outubro de 2026, facilitando a vida dos seus opositores, já articulados com este grupo político. Por outro lado, a discussão em torno das tarifas de energia, quando o governo deseja ampliar a tarifa social, teria incomodado bastante o presidente Hugo Motta. Talvez como resultado dessas situações relatadas, sem avisar o Governo, através de votação remota, o Congresso infligiu uma fragorosa derrota ao Governo Lula, rejeitando o aumento do IOF, procedimento já referendado pelo Senado Federal, numa articulação entre as duas instâncias do Poder Legislativo. 

Um duro recado ao Governo, pego de surpresa, e já com ameaças de retaliações, através da retenção de emendas. O Ministro Fernando Haddad pode até ter razão em seus argumentos de que o aumento do IOF atingiria aqueles que moram em cobertura, no andar de cima. Mas, por outro lado, ninguém aguenta mais esta sanha de aumentos de impostos, principalmente quando não se oferece uma contrapartida em relação ao controle do gastos públicos, traduzido pelo próprio Hugo Motta como a ausência de um gesto. É essa a questão. Segundo matéria da coluna do jornalista Cláudio Humberto, 26, Lula já teria liberado seus emissários para estabelecerem conversas com o MDB, de olho numa composição de chapa para 2026. O curioso é que o nome mais vistoso desse assanhamento é o da Ministra do Planejamento, Simone Tebet, justamente a pessoa que nunca contou efetivamente com a simpatia das oligarquias regionais da legenda, que sempre estiveram com Lula em momentos anteriores, a exemplo da família Barbalho, no Pará, e Renan Calheiros, em Alagoas. 

A movimentação preocupa bastante o PSB que, na última convenção partidária, sugeriu um estreitamento ainda maior do Governo Lula 3 com a legenda, quem sabe ampliando os espaço no Governo e, principalmente, mantendo o nome de Geraldo Alckmin como vice na chapa presidencial do Planalto para 2026. Política tem uns lances curiosíssimos. Setores mais autênticos do PT, hoje mais próximos de Lula, rejeitam completamente a proposta, em razão da experiência pretérita desagradável com o MDB, que se articulou para a queda da ex-presidente Dilma Rousseff. Hoje, um dos próceres integrantes da legenda, Michel Temer, articula-se exatamente na construção de um nome antipetista para 2026. Por outro lado, o MDB vem sendo sondado para formação dessas tais federações, que partem de um princípio de oposição a Lula em 2026. 

Editorial: Esqueceram de mim? Marília Arraes para o Senado Federal?



Este fenômeno deve estar ocorrendo em todo o país, principalmente num contexto onde as eleições para o Senado Federal devem ser mais concorridas do que mesmo a eleição presidencial em 2026. Ou seja, aqui e ali, em alguns estados da Federação, há alguns francos favoritos, mas, no geral, o quadro está bastante embolado. Pernambuco é um desses estados onde o imbróglio se estabeleceu, tornando-se difícil fazer algum prognóstico para aquelas eleições. Pernambuco, aliás, em razão de ser o estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acredita-se na eleição de pelo menos um nome do PT, conforme enfatizamos num dos textos anteriores, possivelmente o senador Humberto Costa, com ampla capilaridade política no estado. Humberto, aliás, foi apontado numa pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas como um dos poucos nomes favoritos do PT ao Senado Federal, juntamente com Renato Casagrande, do Espírito Santo, do PSB, mas, em tese, ainda considerado um aliado de primeira  ordem do PT. 

Com os acenos e conversas do PT com o MDB, no sentido de uma eventual composição de chapa para a vice no projeto de reeleição de Lula, a coisa muda completamente de conformação. É mais um dos dilemas que os socialistas enfrentam em Pernambuco, uma vez que o presidente Lula continua com o capital político preservado no estado, a despeito das dificuldades no plano nacional. Como distanciar-se do PT no plano nacional, se aqui na província - berço dos socialistas - a conjuntura política indique exatamente um caminho contrário? Não apenas João Campos(PSB-PE), mas a governadora Raquel Lyra é considerada uma aliada do Planalto, nas palavras de um dos homens fortes do entorno de Lula, Rui Costa. Para completar o enredo, João Campos assumiu recentemente a direção nacional do PSB. 

Com dois palanques governistas montados no estado, por exemplo, não se sabe como deverá se arranjar o senador Humberto Costa, diante de uma conjuntura de inúmeros pretendentes à disputa pelo Senado, com uma penca de nomes disputando espaço nessas duas chapas principais, já configurada pela imprensa como um clássico da política local. Neste festejo junino, as movimentações foram intensas. Os nomes cotados à disputa estiveram presentes em diversos polos, em várias cidades do estado. O nome da deputada Marília Arraes, em princípio, não aparece entre os nomes mais cotados para compor essas chapas, mas, numa pesquisa recente, realizada pelo Instituto Simplex, de 04 de julho, onde foram entrevistados 600 pessoas nas diversas regiões do estado, com margem de erro de 4 pontos percentuais, indica sua liderança na corrida pelo Senado Federal. Vejam os números: 

Marília Arraes      -      13,3%

Eduardo da Fonte -     12%

Gilson Machado -         9,3%

Humberto Costa -         8,1%

Miguel Coelho -             6,8%

Sílvio Costa Filho -        4, 8%

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Editorial: Governo Lula tem pressa em resolver problema das fraudes no INSS.


Passado os festejos juninos, iniciamos uma quarta-feira com um elenco de notícias não muito agradáveis para nos nossos diletos leitores. Segundo matéria publicado pelo Portal UOL, na coluna do jornalista Josias de Souza, 858 estudantes milionários estariam inscritos num programa do Governo de Santa Catarina destinado a atender estudantes pobres em instituições privadas de ensino. Os dados foram levantados pelo TCE, evidenciando não apenas as fragilidades dos programas de cadastramento, mas a consciência "maneira" ou malandra de nossas elites. Historicamente, já existiam críticas ao fato de os filhos da elite estudarem nas escolas da casa grande em todo o círculo da educação básica e, logo em seguida, melhores preparados, ocuparem as vagas nos melhores cursos das instituições federais de ensino superior. O quadro mostrado acima, através da matéria do jornalista, é ainda mais grave. 

No andar de baixo, meu caro Roberto da DaMatta, a coisa não é muito diferente. Dados levantados através do cruzamento de informações entre o Ministério do Desenvolvimento e Segurança Alimentar e o IBGE, constatam que 1.400 pessoas casadas estão inseridas irregularmente no programa Bolsa Família. Ou seja, escondem os cônjuges para se habilitarem a receber os benefícios. A matéria tratando deste caso foi publicado pelo Portal Poder 360. Para atender à chamada deste editorial, o Governo Lula tem pressa em resolver o problema das fraudes do INSS, já estabelecendo um calendário para o pagamento dos aposentados e pensionistas lesados, possivelmente com recursos do tesouro, uma vez que não haveria condições de realizar o ressarcimento em tempo hábil, ou seja, até as eleições de 2026, através da cobrança às entidades que efetivaram os descontos irregulares nos contracheques dos velhinhos. 

Repercute hoje, igualmente, a acareação entre o tenente-coronel Mauro Cid e o general Braga Netto, ocorrida no dia de ontem, 24, nas dependências do STF. É curioso como, mesmo não sendo permitido o acesso ao público várias situações acabam chegando à imprensa, sabe-se lá em que circunstâncias. Não há dúvidas de que a nossa imprensa deve ter fontes bem informadas, plantadas em ambientes estratégicos. É por isso que se torna melhor abrir ao público para que se evitem as ilações daí decorrentes. No geral, entende-se que a delação do militar encontra-se bastante fragilizada. 


terça-feira, 24 de junho de 2025

Editorial: A acareação entre Mauro Cid e Braga Netto.


Este é um dos assuntos mais comentados no dia de hoje. Está prevista para logo mais uma acareação entre o tenente-coronel Mauro Cid e o general Braga Netto, no curso da ação 2668, que trata da tentativa de golpe de Estado no país. Uma pena que não será transmitida, assim como ocorrera com as audiências recentes no curso desta mesma ação. Por atitudes do próprio Mauro Cid, a sua delação premiada passou a ser bastante questionada por praticamente todos os advogados dos réus envolvidos naquela ação. Uma revista de circulação nacional afirmou que ele mentiu sobre alguns fatos. Especula-se agora que ele também poderia ter desabafado com advogado de um dos réus e poderia ter utilizado as redes sociais com outra identidade. A sua delação premiada ficou bastante fragilizada depois que essas informações vieram à tona, mas, pelo andar da carruagem jurídica, não mudaria em nada o curso do processo, uma vez que as provas colhidas já seriam suficientes para a condenação dos envolvidos.  

A acareação de hoje foi solicitada pela defesa do general Braga Netto. Mauro Cid já caiu em contradição ao ser indagado pelo advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante uma dessas audiências. Faz parte do jogo. Estima-se que a defesa do general Braga Netto tenha elementos para conduzi-lo a eventuais contradições durante a acareação, assim como sua defesa deve tê-lo preparado para não cair em eventuais armadilhas. Como disse antes, infelizmente, a acareação não será transmitida pela TV Justiça, que faz um trabalho de excelente nível.  Durante este intervalo, novas operações foram realizadas pelo Polícia Federal, depois de suspeitas sobre eventual tentativa de obtenção de passaporte português para o militar, algo já esclarecido. 

Diante da enrascada jurídica em que estão metidos, os bolsonaristas já se movimentam de olho no quadro da correlação de forças que podem ser arregimentadas a partir das próximas eleições de outubro. Maioria no Senado Federal e um candidato de centro-direita que assuma o compromisso de, uma vez eleito, indultar o ex-presidente Jair Bolsonaro, que parece que começa a jogar a toalha em torno de uma possibilidade de candidatura. Tarcísio de Freitas já vem ensaiando até o grito de guerra.  

Editorial: O PT tem uma vaga de senador em Pernambuco. De quem será a outra?


A formação das federações políticas no plano nacional produziram algumas situações anômalas entre os entes federados, o que não seria de se estranhar, sobretudo no que concerne à definição sobre o comando estadual dessa nova federação, se ficaria com o dirigente do partido A ou com o dirigente do partido B. Em Pernambuco temos um caso bastante emblemático, depois da formação da federação União Progressista. O União Brasil dessa nova federação está afinado com a gestão municipal do prefeito João Campos(PSB-PE), enquanto o Progressistas integra o Governo de Raquel Lyra, quando se sabe que os dois gestores já se preparam para bater chapa nas eleições de 2026. 

Outra questão diz respeito ao Partido dos Trabalhadores, que se encontra em situação parecida, ou seja, uma ala, a parlamentar e estadual, sugere-se que se identifica com a governadora Raquel Lyra, enquanto a ala municipal da legenda integra a gestão do prefeito João Campos - e não deve ter gostado nenhum pouco das ponderações recentes do deputado estadual João Paulo sobre a gestão do Palácio Capibaribe. O PT tem dois trunfos políticos em Pernambuco. O capital político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que continua intacto localmente, e o o franco favoritismo da reeleição do senador Humberto Costa, tendo-se como certo que uma das vagas em disputa será dele. 

Pesquisas realizados pelo Instituto Paraná Pesquisas indicam que Pernambuco e Espírito Santo são dois estados onde o PT se apresenta em melhores condições na disputa para o Senado Federal. Deve ocorrer com Humberto o mesmo que ocorreu com a eleição de Teresa Leitão, em 2022, que foi eleita com certa facilidade, praticamente ignorando os adversários, com o inestimável apoio da capilaridade do Grupo da Educação. A questão que se coloca neste momento é sobre quem irá se habilitar a disputar esta segunda vaga, uma vez que o quadro está completamente embolado, onde se trava uma luta hercúlea para se assegurar o nome numas das chapas em disputa pelo Campo das Princesas. Até Humberto Costa teria alguns dilemas por aqui, uma vez que precisa aparar arestas s situar-se entre essas principais chapas em disputa pelo Governo do Estado. Alguém andou perguntando para onde caminharia o deputado João Paulo, numa situação em que Humberto Costa viesse a compor com João Campos. Continuaria onde sempre esteve, uma vez que suas críticas ao gestor municipal não são recentes.  

Editorial: As críticas de João Paulo à gestão municipal do Recife.



Mesmo há um ano e meio das eleições de 2026, não há dúvidas de que existem mobilizações de grupos políticos no sentido de prejudicar o andamento de algumas gestões, de olho naquelas eleições. Segundo os escaninhos da política, o Centrão já teria emitidos recados a Hugo Motta, Presidente da Câmara dos Deputados, no sentido produzir um sangramento do Governo Lula 3 até às próximas eleições. Setores do Centrão estariam se articulando em torno de um eventual apoio ao nome de Tarcísio de Freitas, no momento, o nome que reúne as melhores condições de agregar em torno de si o conjunto dessas forças conservadoras de centro-direita e até da extrema direita. Até o grito de guerra de Jair Bolsonaro ele já está ensaiando, com a cessão do próprio capitão, sem os ônus dos direitos autorais. 

No podcast do Jornal do Commércio, onde concedeu uma entrevista recente, o deputado estadual João Paulo fez duras críticas ao prefeito do Recife, João Campos(PSB-PE). Segundo João Paulo, haveria uma suposta articulação entre socialistas e bolsonaristas na ALEPE com o propósito de prejudicar o Governo Raquel Lyra. Um outro ponto elencado pelo ex-prefeito do Recife é que estaria faltando disposição do atual ocupante do Palácio Capibaribe no sentido de ampliar o diálogo com o Governo do Estado, em prol do interesse da população do Recife. João Paulo lembra um momento realmente de profundas indisposições políticas entre a sua primeira gestão como prefeito, quando era governador do estado Jarbas Vasconcelos. Naquele momento político, João Paulo interrompeu o projeto da União por Pernambuco, tornando-se um adversário ferrenho do governador e do grupo político que orbitava em torno da gestão estadual, oriundos de segmentos conservadores da política pernambucana. Nem assim, argumenta ele, deixou de conversar com Jarbas quando os interesses dos recifenses estavam em jogo. Até setores do partido à época estranhavam essa relação, movida, acreditamos, em nome do interesse público. 

Os socialistas acusaram as críticas e as responderam em tom duro, insinuando que João teria inveja da gestão de João Campos. Não vamos aqui descer às miudezas dessas discussões para não melindrarmos, mas consideramos prudente e dentro de um espírito republicano, prestar a atenção necessária às ponderações críticas à gestão, seja partindo do público, seja quando elas partem de políticos com a expertise do deputado João Paulo, prefeito do Recife por dois mandatos. Historicamente, os gestores do estado não gostam de serem criticados. São arrogantes, andam de salto alto, comportamento muito provavelmente herdados da profunda hierarquização de nossa formação colonial, onde essas elites familiares foram forjadas. Eles acham que não precisam dar satisfações ao público, o que se traduz num grave equívoco, pois é exatamente este público que, através de seus tributos e suas escolhas, financiam e delegam a gestão da polis a determinados atores, em período regulares, que são as eleições.   

sábado, 21 de junho de 2025

Editorial: A chapa?


 


São curiosos esses movimentos da política. Embora pertença ao partido Republicanos, partido do possível maior adversário de Lula numa eventual disputa à reeleição em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, O Ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, é apresentando como um dos ministros que mais se alinham às diretrizes do Planalto. Mesmo quando está aqui na província, se movimenta bem, afaga as bases, mas sempre dentro de uma margem que não pairem dúvidas sobre a sua fidelidade ao Governo que integra. Estrelas de primeira grandeza do Governo, grupo com ascendência direta sobre Lula, reconhecem esses princípios que norteiam a conduta do auxiliar. 

Agora mesmo, por ocasião das festejos juninas, difícil dizer o polo onde o político já não tenha marcado a sua presença. Prestigiou o forró dos Coelhos, em Petrolina, e, salvo melhor juízo, já se encontra em Caruaru, ao lado do prefeito Rodrigo Pinheiro, neste caso em nome de sua condição de gestor público, no plano das relações institucionais, uma vez que o prefeito é aliado da governadora Raquel Lyra. Sílvio Costa Filho é cotadíssimo para assumir uma das vagas em disputa pelo Senado Federal na chapa composta pelo prefeito João Campos, que deverá disputar a cadeira do Palácio do Campo das Princesas, nas eleições de 2026.  

Até recentemente, por sua indicação, foi nomeado Miguel Ricardo, filho do ex-prefeito de Igarassu, Mário Ricardo, para assumir a pasta de Saneamento da Prefeitura do Recife. O Grupo Coelho, por outro lado, vem mantendo relações de excelente nível com o prefeito João Campos, mesmo depois da formação da federação União Progressista. O arranjo é complicado porque os dirigentes da federação no estado, hoje aliados da governadora, já sinalizam que possuem musculatura política para ocuparem duas vagas na majoritária. Em todo caso, a foto acima, onde se encontram o prefeito João Campos, Sílvio Costa Filho e Miguel Coelho poderia ser a chapa para 2026? O jogo da disputa pelas vagas ao Senado Federal em Pernambuco é um jogo bastante embolado. Como estão surgindo a possibilidade de lançamento de novas chapas, talvez este fato contribua para descomprimir um pouco o processo das escolhas. 

Editorial: O capital político de Lula em Pernambuco e o dilema dos socialistas.



Mesmo passando por um momento difícil na gestão, Lula reafirmou no dia de ontem, em entrevista no podcast do Mano Brawn, ou Mano a Mano, que, se a saúde se mantiver em ordem, ele será candidato à reeleição em 2026. Não vamos nos antecipar aos fatos e fazer aqui algumas considerações sobre uma eventual prudência em relação a uma nova candidatura de Lula, algo que políticos experientes como José Sarney já desaconselharam. O problema maior no campo da centro-esquerda, na realidade, talvez seja mesmo a ausência de alternativas. Pode-se dizer que Lula foi um pouco egoísta em relação ao assunto. 

Na outra margem do Rio, o problema é exatamente o contrário. Muitos são os chamados e poucos os escolhido. Nos últimos dias, porém, vem se confirmando uma tese de que, finalmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro parece curvar-se à necessidade de negociar um arranjo político onde o clã familiar e o PL possam apoiar o nome de Tarcísio de Freitas para disputar as eleições presidenciais de 2026 como um ilustra representantes das forças de centro-direita e até da extrema direita, embora eles não gostem muito dessa expressão. Se tal conformação se consolidar, talvez tenhamos, mais uma vez, desta vez como representante do tucanato, uma eventual candidatura presidencial do cearense Ciro Gomes, que se propõe à tarefa ingrata de tentar quebrar uma polarização renitente na política brasileira. 

Aqui em Pernambuco, segundo levantamento realizado por um blog local, a situação de Lula é bastante confortável em relação aos adversários. Na realidade, o pernambucanos não podem se queixar de Lula. Lula foi sempre muito generoso com o seu torrão, independentemente de quem estivesse na gestão do Palácio do Campo das Princesas. Isso vem criando um dilema para os socialistas locais que, no plano nacional, sugere-se que estejam criando uma situação de menos dependência do lulismo. Discursos, como advertia o filósofo Nietzsche, não são parâmetros seguros para avaliarmos os atroes políticos. A despeito das juras de amor eterno durante a convenção partidária, na prática, os socialistas não acompanharam o Governo na questão do aumento do IOF. Os socialistas desejam um protagonismo maior no Governo e nas composições políticas daqui para frente, o que o PT talvez não ofereça. 

Editorial: Lula libera mais de meio bilhão em emendas para acalmar o Congresso.



Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve uma conversa com o Presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, que já se encontra em sua terra natal, Patos, para os festejos de junino. Logo em seguida, com o intuito de acalmar as coisas no Legislativo, onde vem sofrendo sucessivas derrotas, o presidente liberou mais de meio bilhão em emendas para os parlamentares. A liberação ocorre num momento de ressaca, conforme os leitores podem ter percebido pelos nossos editoriais dos últimos dias. Não vai resolver o problema, pois sugere-se que possamos ter entrado na fase da sangria, ou seja, uma fase sem possibilidade de retorno, pois um grupo expressivo de parlamentares, percebendo as dificuldades de reeleição do mandatário, já sinalizam com nomes em ascensão ao pleito presidencial de 2026. 

Os movimentos dos parlamentares de centro-direita, deliberadamente, caminham no sentido de desgastar a gestão até as eleições de 2026. Numa entrevista recente, Lula afirmou aquilo que já se sabia, ou seja, será novamente candidato à reeleição. Tem aparecido bem nas pesquisas de intenção de voto, a despeito dos problemas enfrentados neste terceiro mandato. O Centrão já esta fora do barco da reeleição e, neste momento, conforme se especula, estaria se articulando com Hugo Motta para deixar Lula sangrar em praça pública até outubro de 2026. A formação dessas federações, além dos interesses pelo fundo partidário, evidenciam sempre um caráter antilulista em suas narrativas. 

Há quem ande sugerindo entre os petistas, alguns deles inclusive em disputa pela condução do destino da legenda a partir das próximas eleições internas programadas para julho, que o partido faça uma inflexão à esquerda. Ficamos aqui tentando imaginar como isso seria viável eleitoralmente, uma vez que atitudes e gestos de Lula, desde a primeira eleição, sempre foram no sentido de uma composição com o centro e a direita democrática. Fazer este caminho de volta a esta altura do campeonato? E preciso analisar se isso seria pragmaticamente viável eleitoralmente. 

 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

 




Corre-se sempre um risco, ao prefaciarmos um romance, em incorrermos na perspectiva de eleger, consoante nossos critérios e não de acordo com os critérios do autor do texto, aqueles aspectos que consideramos os mais importantes e relevante na obra. Mas, afinal, aprendemos logo cedo que o texto, sobretudo o texto literário, possui características específicas, entre as quais a subjetividade, que permitem ao leitor extrair a sua própria percepção sobre a narrativa, nem sempre coincidentes com as do autor, quem sabe preferencialmente não coincidentes. Mesmo num romance histórico e memorialista, com traços autobiográficos, como é o caso de Memórias de uma Cidade Tecida, situarmos o livro no contexto da época pode não ser suficiente para informar ao leitor o que, de fato, ele encontrará na leitura do texto. Estaríamos dando conta apenas da primeira parte do livro quando, logo em seguida, há dois outros momentos da narrativa igualmente cativantes aos leitores. 

Se ainda nos limitarmos apenas ao aspecto histórico, o romance traz um conjunto de informações das mais importantes sobre as relações sociais e políticas estabelecidas entre uma oligarquia industrial e os operários de uma vila operária localizada numa cidade-fábrica da Região Metropolitana da cidade do Recife. Paulista, na realidade, podia perfeitamente ser considerada à época como uma grande fazenda controlada, em todos os aspectos, pela família Lundgren, que, assim como afirmava Gilberto Freyre, numa alusão à hegemonia absoluta da aristocracia açucareira nordestina na Zona da Mata, era dona das matas, das águas, das terras, das máquinas, das fábricas, do porto, do aeroporto, da vila onde residiam os operários e operárias. Para exercer esse controle absoluto sobre a cidade, o grupo contava com uma milícia armada, disposta a impor à força a vontade do clã familiar sobre os moradores locais, domínio que se estendia para muito além dos limites das fábricas de tecidos, alcançando as dimensões social, religiosa, política e cultural dos moradores locais. Sugere-se que os próprios locais escolhidos para a instalação dessas indústrias tenham sido astuciosamente pensados para manter esses operários menos suscetíveis às influências das metrópoles. Tal situação foi mantida desde o início do século passado até meados da década de 60, quando ocorre um declínio da indústria têxtil no país inteiro, com seus reflexos sobre o que ocorria naquela cidade. Somente pelo apanhado dos aspectos históricos já recomendaríamos a leitura do texto. Mas, as qualidades do romance não se encerram apenas no que concerne à abordagem dos aspectos dos padrões de relações estabelecidos entre os operários e os donos da fábrica de tecidos, ao longo de décadas, onde pode-se observar, inclusive, uma microfísica da resistência das mais relevantes e exitosas, em alguns casos, encabeçadas pelas mulheres.

O romance também é um romance de costumes, que faz uma análise do ambiente doméstico para uma avalição de relações sociais mais amplas, como os hábitos sexuais dos moradores locais, numa época em que a virgindade feminina ainda era um tabu, meu caro Michel Foucault. Podemos assegurar que há relatos interessantíssimos por aqui, numa verdadeira reconstrução da arqueologia sexual dos moradores locais. Nessa história do cotidiano dos operários e operárias podem ser encontrados os elementos que nos permitem analisar, de forma mais complexa, a sociedade semifeudal que se tornou aquela cidade, onde, diferente das cumplicidades entre colonizadores e escravizados da sociedade colonial, conforme ainda sugeria o antropólogo Gilberto Freyre, o exercício do poder da oligarquia industrial era imposto, nada minimamente consensual ou consentido, sustentado numa relação de extrema dependência, ora do emprego, ora de uma autorização para residir numa das casas da Vila Operária mantida pelo grupo.

Quando partimos para a análise sobre a vida dos meninos da Vila, aí entramos numa parte extremamente gostosa da narrativa, que nos permitem uma leitura prazerosa, capaz de nos fazer recordar de nossas mais tenra infância, das peladas na chuva, banhos de bica, as brincadeiras da burrica, corrida no saco, subida no pau de sebo, empinar pipas ao vento, encher-se de contentamento com a invernada e a revoada das tanajuras, as corridas de patinetes que desciam desembestados pelas ladeiras locais, as pescarias e os banhos de riachos, dá uma de jia nos açudes, contemplando as cambalhotas dos pássaros tizius ou o festival de cores das saíras-sete-cores. Com sorte, a saíra-pintor também marcava presença junto às nascentes do Balde da Levada, repletos de bambuzeiros. Como mesmo afirma o autor, a Vila era marcada por muitas adversidades, mas também era uma festa, o que ensejava momentos de grandes gestos de solidariedade e irmandade entre os moradores, que davam sempre um jeito de se divertirem. Nos capítulos finais, cenas tristes do estigma ou preconceito existente à época sobre os portadores de hanseníase que residiam num hospital colônia instalado próximo à vila operária. Na década de 20\30 pouco se sabia sobre o tratamento dos doentes e a solução encontrada foi a de isolá-lo de suas famílias, criando verdadeiras cidades destinadas aos portadores da doença. Emocionante o drama de uma criança infectada pelo bacilo, que descreve o processo de estigma social que passou a ser submetido pelos antigos colegas que o acompanhava nas sessões de cinema de sua cidade natal. Isolado na cidade do medo, o autor escreveu dois livros tratando deste assunto, com relatos chocantes sobre o drama vivido por ele e pelos moradores do local. Parte dessa narrativa estão resgatadas no romance Memórias de uma Cidade Tecida.

A cidade de Paulista, onde foi ambientando o romance, rigorosamente, em todos os aspectos, foi uma cidade tecida. A família do comendador Herman Theodor Lundgren chegou ao município no início do século passado, adquirindo uma modesta fábrica de sacarias para armazenar açúcar, transformando-a, anos depois, num dos mais pungentes parques têxteis da América Latina. Os fios desse novelho, por outro lado, foram tecidos a um custo muito alto pelos trabalhadores e trabalhadoras locais, aspectos argutamente resgatados pelo autor, que teve a acuidade de observar em sua narrativa como aqueles pedais foram movidos. Como diria um nordestino raiz, a cidade jamais escapou dessa sina ao longo de sua existência. Há, na realidade, uma grande curiosidade e inquietação entre pessoas comuns e entre estudos acadêmicos em se saber como, de fato, se deram esse padrão de relação entre a oligarquia industrial e os moradores da Vila Operária. Há alguns bons trabalhos acadêmicos produzidos sobre o tema, mas nenhum deles desce às minúcias do cotidiano como este romance escrito por José Luiz Gomes da Silva, relatando os acontecimentos com a autenticidade de quem conviveu por eles, seja em seus momentos bons, seja em seus momentos difíceis, trocando ideias com Seu Pedro, um pescador que residia na Vila mesmo antes da implantação da fábrica de tecidos. Bons papos aqueles, sob o sombreiro das enormes castanholas do quintal.

A experiência acadêmica do autor, por outro lado, estabelece uma conexão entre a teoria acadêmica e os conflitos ocorridos entre o capital e o trabalho nesta relação, recorrendo-se a Pierre Bourdieu para observar a teatralização da dominação; a Michel Foucault quando da abordagem sobre a microfísica da resistência; A Engels e Edward Thompson, quando trata das discussões de ambos os autores sobre as condições de vida e de trabalho dos operários têxteis ingleses no século XIX; a Foucault, mais uma vez e de forma divertida, quando da discussão sobre a história da sexualidade e da loucura na comunidade. Não é pouca teoria, quando se sabe, por exemplo, que Karl Marx, que se encontrava na França à época, tornou-se comunista depois dos relatos chocantes de Engels sobre como era a vida dos operários e operárias na fábrica que a família mantinha na Inglaterra. Curioso que a fonte privilegiada de Engels foi uma operária com quem ele manteve um relacionamento.

Não é fácil a tarefa de conduzir um romance, talvez ensaístico, sem perder o foco de uma narrativa com todas as características de um romance literário, como um conflito que se esboça, com letras amargas, desde o início da narrativa, estabelecido entre os operários, representado pela família do narrador, e o capital, representado pela indústria têxtil. Como o autor escreveu não um, mas três romances sobre o tema, no último deles há uma abordagem sobre a decadência da indústria têxtil local, provocada por inúmeros fatores, o que poderia ser entendido como um desfecho do enredo. Neste caso, aconselhamos a leitura não de um, mas dos três romances escritos com esta temática, desde as suas origens, Menino de Vila Operária, ao seu apogeu, Memórias de uma Cidade Tecida, e, finalmente, Tramas do Silêncio, sobre a fase de decadência da indústria têxtil no município e suas consequências para a população local.

Editorial: First Mile : 60 mil monitoramento ilegais de celulares.



A Polícia Federal considera que todos os monitoramentos realizados pelo sistema de rastreamento denominado First Mile, concebido por uma empresa de Israel e adquirido pela Abin, com dinheiro dos cofres públicos, por algo em torno R$ 5, 6 milhões, tenha realizado 60 mil operações ilegais, se considerarmos seu vício de origem. Hoje, 19, está repercutindo na imprensa mais uma trapalhada dessa Abin paralela, que teria monitorado o Alexandre errado, numa referência ao Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, desde sempre um dos alvos principais da arapongagem ilegal. Não há nada que se possa brincar por aqui. Isso é coisa muito séria. Vários cidadãos e cidadãs brasileiros, pessoas íntegras, vivendo dos seus salários, pagando seus impostos, podem ter sido vítimas dessa sanha persecutória, com seus tentáculos, não qualquer dúvida sobre isso, operando dentro da estrutura de Estado, atropelando preceitos republicanos, agindo ao arrepio da lei. 

Na medida em que as investigações avançam sobre a tentativa de golpe de Estado, já se conclui o papel realizado pelo monstro da Abin Paralela para o seu intento. A Abin Paralela dava suporte ao projeto autoritário que estava em curso. Alguns setores da imprensa ficam fazendo um jogo onde aponta-se eventuais indisposições da PF em relação a Abin, mas, à medida que o trabalho da PF avança, o que se tem, na realidade, é um calhamaço de provas robustas sobre as irregularidades que foram cometidas por um grupo de seus integrantes. Nunca se pode generalizar.  Não estamos tratando aqui da Agência Brasileira de Informações como um todo, mas de uma banda podre, embora essas investigações, por inúmeras razões, projetem negativamente a imagem do órgão. 

Os implicados na tentativa de golpe de Estado estão buscando uma tábua de salvação para as suas investidas antidemocrática do passado recente. Quem acareações com o delator, estão procurando minar o teor dessa delação, como se não houvessem outros elementos para condená-los. É bom ir devagar com a ansiedade, pois já tem gente indo em cana por manobras de obstrução da ação penal que trata deste assunto. 

Editorial: A "Caixa de Pandora" da Abin.



Com os últimos indiciamentos da Polícia Federal em relação aos envolvidos nas operações ilegais e clandestinas da Abin Paralela, fica evidente que tínhamos razão ao usarmos o termo  "Caixa de Pandora" para definir aquela situação. As medidas tomadas pelo Governo Lula 3, no início do seu Governo, não foram suficientes para se efetuar um processo de assepsia republicana no órgão, segundo conclusões da própria Polícia Federal, ao observar que a banda podre que se instalou na agência durante o governo anterior, supostamente continuou operando, como se presume em relação à lambança das investigações sobre como se portaria o Governo do Paraguai em relação às tarifas da Itaipu Binacional. Segundo consta, um agente da Abin confirmou essa informação. Em princípio, a estrutura ilegal montada no governo anterior, manteve-se intacta. 

Não se brinca com serviços de inteligência e segurança de Estado quando eles fogem ao controle das instituições reguladoras ou fiscalizadoras de suas ações. Paga-se um preço muito alto por isso. É assustador o número de operações ilegais realizadas pela Abin Paralela, conforme estima relatórios preliminares da própria Polícia Federal. No Governo anterior ampliou-se sensivelmente o números de órgãos públicos que passaram a compor a comunidade de informações da Abin, sabe-se lá com que objetivo. Ou, sabe-se sim. Se usados por essa estrutura paralela, supostamente podem ter sido úteis para promover uma "caça" aos desafetos do governo de turno, cascavilhando ilegalmente suas vidas com o propósito de desacreditá-los; plantando informações falsas; promovendo campanhas de difamação para cancelá-los. A PF estima que 60 mil telefones celulares podem ter sido monitorados. 

Como o projeto autoritário estava "integrado", hoje uma das preocupações é entender toda a dinâmica das operações clandestinas da agência, assim como suas articulações no sentido de colaborar para viabilizar o golpe de Estado que esteve em curso. Uma das preocupações que sempre incomodou este editor seria a razão pela qual Lula foi tão tímido no sentido de tomar as medidas que seriam fundamentalmente necessárias em relação a esses órgãos, uma vez havia comprometimentos de outras agências de segurança e inteligência. Em governos com perfil  autoritário esses flertes são automáticos. Durante a ditatura do Estado Novo a relação era tão orgânica que a sucessão no Palácio do Campo das Princesas, em Pernambuco, passava pelo Departamento de Ordem Política e Social. Lula talvez não tenha dimensionado corretamente o tamanho da encrenca que isso representa. 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Editorial: Os tucanos não estão mortos.



Quando se discutiu uma eventual federação ou fusão do PSD com o PSDB, um dos problemas levantados foram os projetos políticos de Aécio Neves em Minas Gerais. Lula tem levantado a bola do ex-Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, naquele estado, desde já peitando o governador Romeu Zema. Lula tem tratado Pacheco como governador nos momentos em que vai a Minas entregar obras de sua gestão. Numa dessas ocasiões, em público, desafiou o governador a apresentar alguma obra executada ali pelo seu antecessor na Presidência da República, Jair Bolsonaro. Até recentemente, os tucanos se recusaram a compor uma federação com o Podemos, uma vez que não chegaram a um acordo sobre quem indicaria o nome do presidente da futura federação. 

Não precisamos informar aos leitores que, de uma maneira geral, a situação dos tucanos não é das melhores em todo o país. Perderam dois governadores de Estado, caso de Pernambuco e Rio Grande do Sul, e não se saíram bem nas últimas eleições, principalmente em São Paulo, onde tentaram se posicionar com o apresentador José Luiz Datena. Eles investiram tudo em São Paulo, até como uma forma de compensar os percalços pelo país afora. Ali também não deu certo. Mas, em todo caso, como eles dizem, há vida inteligente fora da polarização entre petistas e bolsonaristas. O que se especula, pelo menos a partir de uma reaproximação entre Tasso Jereissati e Ciro Gomes, é que aventa-se a possibilidade de Ciro tornar-se tucano e habilitar-se a uma candidatura ao estado do Ceará e, quem sabe, até à Presidência da República, sobretudo se Tarcísio de Freitas não confirmar sua candidatura, quando o cearense poderá se apresentar como o candidato da Faria Lima, contrapondo-se ao bolsonarismo e ao lulismo. 

Ciro Gomes tem reiterado que não pretende mais disputar alguma eleição presidencial, mas, como dizia o governador Paulo Guerra, lá atrás, em política não existem "nunca" nem "jamais". São palavras que não existem no dicionário da política. Por enquanto, ele se coloca como um contraponto entre o petismo e o bolsonarismo no estado. Não subestimem essas articulações entre Ciro e Jereissati.  Eles já mostraram do que são capazes no passado, quando derrotaram velhos coronéis encastelados no Palácio da Abolição.  

Editorial: A CPMI do INSS será instalada.



O Presidente do Senado Federal, David Alcolumbre, finalmente, leu o relatório da CPMI do INSS. Estima-se que os trabalhos devem começar no segundo semestre, provavelmente em agosto. Trata-se de uma derrota do Governo Lula 3, que não desejava a instalação da CPMI. Agora o Governo corre atrás do prejuízo, escalando um time de senadores que possa equilibrar o jogo dos debates de narrativas, definir convocações de A ou B, influir sobre o relatório final, enfim, ter um mínimo de controle sobre o andamento dos trabalhos. O presidente da Comissão deverá ser o senador do PSD do Amazonas,  Omar Aziz, que já esteve mais alinhado com o Governo no passado. 

O relator será indicado pelo PL e poderá ser o deputado federal Coronel Chrisostomo. Não se trata de uma boa composição, como os leitores podem perceber. Ambos possuem pavio curto, sugerindo que a CPMI já começa com imanente potencial de atritos, mas isso faz parte do jogo. A CPMI do INSS, quando os velhinhos estiverem presentes ao plenário externando suas agruras, tem o potencial de provocar um desgaste imenso em qualquer que seja o governo de turno. As narrativas do Governo Lula 3 no sentido de eximir-se completamente das responsabilidades sobre aqueles fatos se mostraram insuficientes para conter o desgaste da imagem do governo junto à opinião pública. 

Não vamos aqui entrar no mérito de quando começaram essas fraudes, que medidas poderiam ter facilitados o trabalho dos gatunos ou coisas do gênero. A questão é que o escândalo estourou durante o Governo Lula. Neste contexto, a narrativa, talvez concebida pela SECOM, de jogar a responsabilidade sobre o Governo de Jair Bolsonaro soou esquizofrênica, vazia, insustentável. Não colou. Que seja bem-vinda a CPMI do INSS, que ela possa ser suficiente para esclarecer a população a engrenagem nebulosa que funcionou durante anos com o objetivo abjeto de roubar pensionistas e aposentados.