quarta-feira, 16 de março de 2011

Aconteceu: As Mãos de Paulo Freire.


Quem teve um mínimo de contato com a teoria do educador pernambucano Paulo Freire, sabe o quanto o diálogo e a experiência de vida são importantes em suas formulações e reflexões. Menino humilde, nascido no país de Casa Amarela – como costuma afirmar o Padre Reginaldo Veloso – Paulo tornou-se um educador conhecido e respeitado mundialmente, não apenas pelo método de alfabetização revolucionário que concebeu, mas pelas posições políticas que assumiu em toda a sua vida. Durante a Ditadura Militar, foi duramente perseguido, tendo que procurar exílio noutro país. “Pedagogia do Oprimido” foi um dos primeiros livros que li, confesso que impressionado pelo título do livro, ainda não conhecia o pensador e o homem Paulo Freire. Numa visita ao México, Paulo conta que se sentiu extremamente desconfortável quando um professor colocou as mãos sobre os seus ombros. Numa outra ocasião, quando ministrava aula numa universidade africana, durante um passeio no campus, um professor entrelaçou suas mãos com as dele. A atitude do professor teria deixado Paulo absolutamente desconfortável – como ele mesmo confessou mais tarde. Oriundo de uma sociedade conservadora, machista, a única coisa que passava por sua cabeça era que alguém de Casa Amarela visse aquela cena. Ele estaria perdido. Na primeira oportunidade, colocou as mãos no bolso, de onde não mais tirou. Adoeceu durante essa viagem. Submetido a um tratamento rigoroso, com febre de 40 graus, suas mãos eram acariciadas sistematicamente por enfermeiros e médicos zelosos, preocupados com a sua saúde. Não precisava mais colocar as mãos no bolso. Talvez não pudesse colocar as mãos no bolso. De volta ao Recife, pensou: deve haver algo de errado com uma sociedade que se recusa a uma manifestação de afeto, em função de tanto preconceito.   




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