A edição desta terça-feira (20) da Carta de Formulação e Mobilização Política do Instituto Teotônio Vilela faz o alerta: é com o famoso “jeitinho brasileiro” que o governo Dilma Rousseff pretende enfrentar os problemas e desafios advindos da Copa de 2014. “Para driblar a ausência de obras de mobilidade urbana, que até hoje ainda estão no papel, a saída foi decretar feriados nas datas dos jogos. É na base de remendos e da cultura do improviso que o Brasil do PT vai se aprontando para o Mundial, e sem saber sequer quanto terá que gastar”, reprova o órgão de estudos políticos do PSDB. Confira a íntegra abaixo:
É com o famoso “jeitinho brasileiro” que o governo Dilma Rousseff pretende enfrentar os problemas e desafios advindos do Mundial de 2014. A divulgação da Lei Geral da Copa, ocorrida ontem, cinco meses após o prazo inicialmente previsto, indica que o improviso mantém-se como a principal marca dos preparativos oficiais para o torneio de futebol.
O governo petista arrumou uma forma de driblar os contratempos que a realização dos jogos deve causar a metrópoles insuficientemente preparadas para grandes eventos: decretar feriados nas datas dos jogos.
A medida visa compensar o atraso nas obras de mobilidade urbana previstas para a Copa e que, ao que tudo indica, não sairão do papel a tempo. Será uma forma de esvaziar as ruas e tentar evitar o caos no trânsito.
É assim, na base de remendos, que o Brasil do PT vai se aprontando para um evento para o qual teve quase oito anos para se preparar, mas, passados quatro anos, quase nada fez até agora. É a cultura da improvisação.
Encarregada de “planejar” os investimentos com vistas à Copa, a ministra Miriam Belchior não vê problema algum em as obras relacionadas à melhoria e expansão de linhas de trens, monotrilhos, metrôs, corredores de ônibus e vias urbanas não estarem prontas a tempo para o torneio.
“As obras de mobilidade são importantes, mas como legado. Não são essenciais para o funcionamento da Copa do Mundo. Se eu der feriado no dia do jogo, a cidade vai estar em condições de não ter trânsito para a locomoção dos torcedores”, justificou ela, em sua peculiar visão do que é fazer planejamento.
Belchior diz que o importante é garantir os estádios e os hotéis, bem como os aeroportos e os portos (onde as obras hoje são também uma miragem). Ela só não explica como um visitante que eventualmente desembarque e se hospede sem problemas no país vai se locomover aos estádios sem as obras de mobilidade. Só dando feriado para o planejamento.
Conforme balanço oficial divulgado na semana passada, de um total de 49 obras de mobilidade urbana, só nove foram iniciadas até agora, o que dá menos de 20%. Das 40 restantes, três estão em fase de projeto, 27 por licitar e três encontram-se em licitação. Ou seja, o que a Copa de 2014 poderia trazer de herança bendita para os brasileiros provavelmente ficará para as calendas.
Em seus 46 artigos, a Lei Geral da Copa também traz outros pontos polêmicos. A meia entrada para idosos foi assegurada, mas para estudantes não. A venda de bebidas alcóolicas – cujos efeitos benéficos em termos de diminuição da violência em estádios são evidentes – será permitida nos jogos do torneio. A atividade de ambulantes nas proximidades das arenas será proibida. Tudo no intuito de satisfazer a Fifa.
Não é só na parte legal que os organizadores oficiais da Copa exibem improviso. Na financeira a situação é muito pior. Ninguém no governo federal sabe ao certo quanto a realização do evento vai custar ao país: as estimativas variam de R$ 23,4 bilhões a R$ 112 bilhões. Disse ontem a ministra do Planejamento a respeito: “Eu desconheço qual é o valor que vai custar a Copa do Mundo no Brasil. Não há nenhum estudo que diga isso.”
A justificativa oficial para o alto grau de improvisação é que apenas em 2009 as cidades-sede da Copa foram definidas. Sim, mas era pule de dez que metrópoles como São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza e Brasília não teriam como ficar fora da lista. Havia, portanto, margem suficiente para a ação preventiva do governo.
Se para a Copa, que está logo ali, a menos de mil dias, já há um rosário de demonstrações de má gestão, para as Olimpíadas de 2016 não é diferente. Mostra “O Globo” hoje que uma das empresas estatais criadas especialmente para o evento – a surreal “Empresa Brasileira de Legado Esportivo Brasil 2016” – será extinta antes mesmo de ver a luz do sol. Mas não sem antes pagar meses de jetons aos integrantes de seu conselho administrativo, entre eles a notável planejadora Miriam Belchior.
(Fonte: ITV)
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