quinta-feira, 8 de março de 2012

Aos leitores que solicitaram maiores informações, José do Nascimento, o homem caranguejo.



Já escrevemos muito sobre a comunidade quilombola de São Lourenço, que costumamos visitar, com os nossos alunos, com certa frequência. Chegamos até a produzir artigos científicos sobre o assunto, que foram publicados em periódicos. Sempre que falamos sobre o assunto, aguçamos a curiosidade de muita gente. As visitas são extremamente concorridas. Alunos de outras turmas e até os pais dos alunos querem nos acompanhar. Conheci José do Nascimento, o Jipe, numa reportagem da Revista Época, por sinal, com muitos erros. As repórteres da revista passaram uma semana na comunidade para uma grande matéria sobre a vida de José do Nascimento, o homem caranguejo. A matéria fazia alusão ao relançamento da obra do sociólogo Josué de Castro. Apaixonado pelo trabalho de Josué, enxergamos aí uma grande oportunidade de aula de campo quando estivéssemos discutindo a obra do sociólogo que escolheu a fome como núcleo mais importante de suas pesquisas. Josué passou a estudar o tema desde o início de sua vida acadêmica. Seu Jipe e dona Sebastiana são pessoas bastante humildes, que sobrevivem através da captura do caranguejo uçá, hoje escasso na região, sobretudo depois da instalação de fazendas de criação de camarão em cativeiro, que destruiu um manancial incomensurável de manguezais, comprometendo a cadeia de sobrevivência da comunidade remanescente de quilombo. Nas visitas que fizemos às mais importantes comunidades quilombolas de Alcântara, no Maranhão, sentimos o mesmo drama. Um líder quilombola nos relatou que a Aeronáutica os afastou tanto de suas fontes de sobrevivência, que, não raro, quando eles conseguiam chegar às suas comunidades, depois do trabalho no mar, o pescado já estava estragado. Sempre arrecadamos quantidade razoável de alimentos de levamos para a comunidade. Somos muito bem recebidos. Os alunos(as), quase todos oriundos da classe média tradicional, ficam assustados ao saberem que os rebentos da comunidades são criados com “leite de caranguejo”, ou seja, com o caldo do cozimento do crustáceo, de onde se obtém, igualmente, um delicioso pirão. Qualquer dia, em nossas dicas de gastronomia, trago a receita para vocês. Aos leitores mais curiosos, informo que aquela comunidade sempre foi fulcro de nossas preocupações. Vem comigo!




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