Votação entre filiados deve consagrar José Serra candidato a prefeito. Ele terá a missão de se opor a hegemonia que o PT tenta impingir ao Brasil
Carolina Freitas
O pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo José Serra em encontro com militantes na última semana (Tiago Queiroz/AE)
Neste domingo, os filiados do PSDB devem consagrar pelo voto José Serra candidato à prefeitura de São Paulo pelo partido, em uma disputa entre o ex-governador, o deputado federal Ricardo Tripoli e o secretário estadual de Energia, José Aníbal. A escolha decorre de um processo de prévias que ficou longe de ser um mecanismo de real fortalecimento do partido e de reativação das bases do PSDB, como se pretendia. As questões sobre o futuro do maior partido de oposição do Brasil continuarão em aberto. É uma tarefa pendente da qual a cúpula tucana terá de se ocupar em algum momento se quiser garantir a longo prazo o protagonismo da legenda no cenário nacional. Para além do partido, contudo, a provável decisão pelo nome de Serra agrega às eleições municipais deste ano um elemento fundamental: um candidato de oposição viável e forte. O tucano ostenta uma longa ficha de serviços prestados como parlamentar, ministro, governador e prefeito. No momento em que PT trabalha para obter uma perigosa hegemonia política e ideológica no Brasil, o antagonismo é mais do que bem-vindo. São Paulo é o palco ideal para esse debate.
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Maior colégio eleitoral do país, a capital paulista tem por tradição sediar disputas polarizadas e nacionalizadas, mesmo na corrida municipal. Em 2012, serão evocadas as vitórias e derrotas das eleições presidenciais de 2010 e os êxitos e deméritos dos candidatos e de seus padrinhos nos cargos de presidente, ministro e governador. “Para o PT, será um ensaio geral para a disputa pelo governo de São Paulo, em 2014”, afirma o historiador Marco Antonio Villa, professor do Departamento de Ciências Sociais e da Pós-graduação em Ciência Política da Universidade de São Carlos. O estado de São Paulo é comandado há dezoito anos pelos tucanos.
O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, vê como estratégica a conquista da capital paulista. “A vitória em São Paulo não é importante só para a cidade ou para o estado, mas para o Brasil”, diz o líder tucano. “Se tivermos um resultado muito bom no Brasil inteiro e não tivermos a vitória em São Paulo será algo difícil de explicar.” E aproveita para alfinetar o pré-candidato petista, Fernando Haddad. “O PSDB tem uma figura com o peso de Serra disputando uma prévia, enquanto o PT escolheu um candidato sem peso nenhum e sem ouvir ninguém.”
Reprodução de cédula de votação das prévias
José Serra entrou nas prévias fora do prazo estabelecido pelo partido e, para apoia-lo, os pré-candidatos Bruno Covas e Andrea Matarazzo retiraram-se da disputa. Em meio à reviravolta, a Executiva municipal adiou a data das prévias de 4 para 25 de março.
“Desde que anunciou sua entrada na disputa, Serra já é o candidato do PSDB. Houve uma compreensão do partido de que ele é uma boa escolha para fazer com que a legenda chegue à vitória nas eleições de outubro”, afirma o cientista político Humberto Dantas, doutor pela Universidade de São Paulo.
“Serra participou do processo para que o PSDB desse um semblante de democracia às prévias. Se quisesse, ele tinha força política para costurar um acordo e dispensar as prévias”, diz Dantas.
Assim que anunciou seu ingresso na disputa interna, Serra fez questão de esclarecer que o sonho de disputar a Presidência da República estava adormecido. Interlocutores do tucano atestam o mesmo. A conquista de um cargo eletivo seria o passo necessário para aumentar sua influência no partido até as eleições presidenciais de 2014, nas quais ele seria um grande articulador.
Mobilização - Apesar das falhas, as prévias tiveram seus méritos. Quando o presidente municipal do PSDB em São Paulo, Júlio Semeghini, anunciar na tarde deste domingo o nome do candidato do partido à prefeitura, estará concluído um processo inédito para a legenda. “Em São Paulo será difícil, daqui em diante, deixar uma decisão como essa para a cúpula”, diz Semeghini. “A militância percebeu a importância de seu papel. As pessoas estavam ficando descrentes, pois não eram ouvidas.”
Ricardo Tripoli defende desde o início do ano passado as prévias e, há seis meses, tem reuniões diárias nos bairros de São Paulo para levar suas propostas aos filiados. Nas últimas semanas, chegou a fazer três visitas a filiados por dia. “Era preciso tirar o pó do partido. A falta de interlocução com a base fez, nos últimos anos, o partido estagnar”, diz Tripoli. “As prévias são uma demonstração para a cúpula do partido de que, seja quem for, vai ter agora que se submeter ao crivo da base.”
José Aníbal também cumpriu uma agenda extensa pelos bairros, com até oito visitas a grupos de filiados a cada fim de semana e agendas diárias na cidade. “Há um anseio por parte dos filiados por mudança e renovação”, diz o pré-candidato.
A experiência de São Paulo está sendo observada pela cúpula do partido. O presidente Sérgio Guerra deu início na semana passada a um processo de recadastramento dos filiados em oito cidades no Ceará e Pernambuco. O próximo estado a entrar no processo é o Espírito Santo e a intenção é estendê-lo para o Brasil. “Essa é a base para realização de prévias. O partido já decidiu que elas são adequadas ao PSDB quando não houver entendimento”, afirma Guerra. O raciocínio vale para escolher o candidato a presidente? “Se não houver um ajuste consensual, as prévias são perfeitamente razoáveis também nesse caso.”
O discurso dos tucanos é otimista, mas o cientista político Humberto Dantas avalia que é necessário um amadurecimento político para legitimar as prévias partidárias no Brasil. “Os brasileiros têm uma crença muito grande no poder político das personalidades”, afirma Dantas. “Precisamos de maturidade para valorizar uma escolha por prévias.” Até lá, a personalidade José Serra entra em cena para garantir o debate democrático neste ano eleitoral.
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