sábado, 15 de setembro de 2012

Em artigo, Numeriano protesta contra exclusão do debate da Rádio Jornal

Em artigo, Numeriano protesta contra exclusão do debate na Rádio Jornal


Flora Matos/ JC Imagem
O Império do Mal

Na manhã de hoje, dia 15, fomos expulsos do estúdio da Rádio Jornal do Commercio, na metade do debate que a emissora promovia com os candidatos "mais bem colocados" (um eufemismo politicamente hipócrita que as empresas estão usando para, na prática, cercear o direito de opinião e expressão). Estávamos lá, mais uma vez, por força de uma liminar concedida em primeira instância pela Justiça Eleitoral. Estávamos lá mas sabíamos que os donos da voz e da imagem (ou seja, os proprietários da empresa) estavam lutando, na segunda instância do TRE, para cassar a liminar. Conseguiram, é claro, baseados na mesma interpretação estúpida e reacionária de um desembargador que usou o argumento (falseado), alegando que o candidato do PCB, Roberto Numeriano, não poderia participar do debate porque seu partido não tem representação parlamentar em nível federal. Ocorre que essa decisão do mau Direito (e do Direito mal), assim como a do advogado da OAB que cassou a liminar, sub-repticiamente "esquece" que se trata de uma coligação de partidos, na qual esses entes deixam de existir individualmente para constituírem um novo ente que, enquanto durar o pleito, estará sob as regras e leis do pleito de modo absoluto, unificado na forma de frente ou outro nome que o individualize.

Faz tempo que a política está sendo judicializada por gente togada cheia de presunção, reacionária à crítica (sobretudo se esta for de esquerda), mas sempre muito próxima de palácios executivos. Faz tempo que a política está sendo reduzida a um jogo podre, autoritário, sob o domínio de grupos econômicos que, não contentes em submeter a cidadania social e política (por meio do domínio das máquinas públicas), cria nos laboratórios do mal que são esses grupos de marketing político seres estranhos - que aceitam mentiras ditas em seus nomes, que se submetem a imperadores e suas mistificações políticas e ideológicas.

Estou na política desde os 21 anos (não cai de gabinetes refrigerados supostamente competentes). Fiz carreira profissional como jornalista, professor de jornalismo e servidor público. Desde 84, ainda sob a ditadura militar, combati pela democracia, pelo voto direto para a Presidência, contra a censura etc. Mas nunca imaginei que, no Recife (uma terra de tradição libertária com nomes de vulto como Frei Caneca, Tobias Barreto e José Mariano), eu sofreria uma humilhação pública quando debatia, com os demais candidatos. Pois fui, de modo ostensivo, "convidado" a sair do estúdio por um funcionário que parecia estar especialmente incomodado com nossa presença (o dito cujo, que nem recordo o nome, deve possuir metade das ações do Grupo JCPM para tentar nos intimidar daquele jeito). Disse para ele ficar calmo, pois estava ali por força de um direito que me foi concedido, e que, como esse direito foi cassado (por essas venalidades a que se presta o Direito com suas tantas brechas que dão espaço, em geral, para decidir conforme o poder de quem manda), eu iria embora.

Quando saía, me lembrei do governador Miguel Arraes, que, tenho certeza, se ali estivesse como meu adversário, certamente, em solidariedade, sairia dessa "festa pobre que os homens armaram só pra me convencer". E lembrei, a seguir, do imperador de Pernambuco, o governador Eduardo Campos, que, certamente, do alto do seu Império do Mal, esfregou as mãos diante dessa arbitrariedade das "tecnicalidades jurídicas". Afinal, com a voz cerceada e amordaçada, sou menos um para criticar publicamente, sem rabo preso com esquemas ou papas na língua, as magias desse grande embuste social, político e econômico que é Pernambuco e seu governo, o Império do Mal. Certamente, se fosse um espaço público, eu jamais sairia (a não ser que me arrastassem preso). Trata-se de uma empresa privada, como qualquer outra que tem concessão pública (ou seja, minha e sua) para funcionar. Trata-se de uma empresa que usufrui de um direito e garantia fundamental pelo qual o meu Partido, o PCB, que tem 90 anos de história, lutou, sobretudo depois do golpe militar de 64. Centenas de militantes do PCB foram mortos, desaparecidos, torturados e perseguidos para conquistar um regime democrático. Hoje, o poder do capital privado impõe quem você deve ouvir. Discrimina, fascista e autoritariamente, quem merece cobertura igualitária, quem deve ficar no limbo político, quem vai ficar "invisível" na campanha.

Não bastasse isso, continuo recebendo denúncias sobre pesquisas eleitorais (feitas por dois grandes e famosos institutos), cujas perguntas por telefone são assim: "Se a eleição para prefeito fosse hoje, o senhor votaria em quais desses quatro candidatos mais bem colocados em pesquisas anteriores?" E então o "pesquisador" relaciona os nomes de Geraldo Júlio, Humberto Costa, Daniel Coelho e José Mendonça. É fato que temos baixa intenção de voto, mas é preciso denunciar as fraudes político-ideológicas e o poder arbitrário, seja na área jurídica, nas empresas privadas e por parte de políticos que, não contentes em governar imperialmente pernambuco, querem criar na prefeitura um feudo do qual nós, que dizemos não e combatemos esse Império do Mal, seremos vassalos. Sou o cidadão Numeriano. Sou um pernambucano livre. Sou da Frente de Esquerda PCB-PSOL. Vou lutar até o fim (pois, acho, "ainda existem juízes em Berlim") para ter meu espaço de candidato na Rádio Jornal. Também vou entrar com outro pedido de liminar para ter direito de participar do debate na TV Jornal. Não aceito que o poder econômico dos grupos privados (seja de quem for, possua ou não impérios de comunicação de mentalidade política provinciana), o poder das venalidades jurídicas e o poder de grupos políticos que estão transformando Pernambuco numa ditadura de arrabalde, queiram me transformar num vassalo. O Recife tem dono, o dono é o povo.

Roberto Numeriano é candidato da Frente de Esquerda PCB-PSOL à Prefeitura do Recife.

PS: Atenção: em reiteradas notas, no resto do debate do qual fui expulso, a emissora divulgou que cassou a liminar por questão de solidariedade aos outros candidatos não convidados (Edna Costa, Jair Pedro e Esteves Jacinto). Disparate puro. É o mesmo que dizer que "decidimos cassar a voz do Numeriano porque os outros já foram cassados antes". Poderiam ter poupado a si próprios desse argumento falacioso.
 
(Publicado originalmente no Blog de Jamildo, Jornal do Commércio)
 

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