sexta-feira, 11 de julho de 2014

É assim que se faz política na cidade das chaminés

 


É do negócio, meu filho. Normalmente essa é a resposta dos capitalistas em transações que envolvem dinheiro. A frieza do capital não conhece emoções. Outro dia fiz um longo comentário aqui sobre as práticas políticas na minha cidade, Paulista, onde nasci, cresci junto aos rios e matas ainda virgens, de uma infância inesquecível. Nunca transferi meu título de eleitor da cidade. Em todas as eleições, cumpro aquele ritual conhecido, acordo, tomo aquele banho, troco de roupa, pego o título e dirijo-me à cidade para votar. Voto sempre numa zona que fica localizada no antigo politécnico, próximo ao terminal de integração, onde aproveito para matar as saudades das frondosas paineiras preservadas. Em todos esses anos, salvo em relação aos candidatos majoritários que disputavam a Presidência da República ou o Governo do Estado, nunca dei um voto com muita convicção. Na contingência de não anular o voto, indicava aquele que pudesse ser menos ruim para gerir os destinos do município. Nas últimas eleições, disposto a participar ativamente do debate sucessório, abrimos um grupo de discussão no Facebook com esse propósito. Cobramos insistentemente pelos programas de Governo dos candidatos, abrindo links para propostas de educação, saúde, moradia, mobilidade, intervenções urbanas, meio-ambiente etc. Não tornou-se possível darmos continuidade ao debate porque não havia o que debater, ou seja, os postulantes, de todos os quadrantes ideológicos, ignoraram o espaço, aberto num dos mais eficientes e atuais meios de diálogo com o eleitorado, as mídias sociais.São por esses e outros motivos que as coisas nunca mudam. No caso do selecionado brasileiro, por exemplo, há quem esteja sugerindo uma ruptura completa, uma tragédia, do tipo uma não classificação para a Copa de 2018, algo suficiente para varrer de uma vez todos os enclaves de interesses escusos que orientam as decisões sobre a seleção brasileira. No caso de uma cidade com práticas políticas como a nossa, já não sei mais o que propor. Outro dia se especulou uma decisão das autoridades do judiciário eleitoral indicando a cassação do atual prefeito. Pela primeira vez, saí em sua defesa. Trata-se apenas de uma peça da engrenagem enferrujada, corrupta, obsoleta, patrimonialista, clientelista, entranhada na máquina pública do município desde de sempre. Antes que nos condenem, quero afirmar que esse não é um problema exclusivo da minha cidade. Não custa lutar, entretanto, para que ela se torne, de fato, uma cidade, um espaço público, de corte republicano, cuja gestão esteja a serviço do atendimento das demandas do cidadão e não de grupos de interesses. Os últimos episódios são hilariantes. a) Uma firma contratada pela Prefeitura da Cidade para prestar serviços de limpeza pública entregou uma frota de caminhões, apresentados como se fosse uma aquisição da própria edilidade municipal. Houve uma licitação de prestação de serviços públicos. Os caminhões não são da frota da Prefeitura; b) Há muito tempo se reclamava sobre a ausência de fardamentos do alunado da rede municipal de ensino. Um problema que 10 anos de gestão neo-socialista - mesmo com a sua decantada eficiência - não conseguiu equacionar. Estamos entrando no segundo semestre do ano e só agora o problema teria sido resolvido, com algumas entregas simbólicas, realizadas em escolas escolhidas sob medida. Mas o enredo ainda pode ficar pior. O prefeito fez questão de fazer a entrega ladeado de um ex-secretário, hoje vereador, e possível candidato a Deputado Estadual. Mesmo considerando-se a passagem do dito vereador pela Secretaria Municipal de Educação, vejo nisso alguns problemas. Uso da máquina em favor de candidato do seu grupo político; É assim que se faz política na cidade das chaminés. Infelizmente.

 

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