A mídia
internacional e suas filiadas pelo mundo inteiro tem dado uma
inestimável colaboração para a mistificação do chamado sistema legal
norte-americano. Aliás, não só ela, os filmes americanos ajudam - e muito
- a ficção legal que aparenta governar a sociedade americano. É
verdade que uns poucos filmes ousam questionar essa aparência, ao
mostrar "os podres", as contradições do devido processo legal nos EUA.
Quando se trata de julgar cidadãos americanos, a justiça é uma. Quando
se trata de julgar pessoas do resto do mundo, é outra. Os americanos do
Norte têm uma crença mágica na integridade territorial dos EUA. Eles
acreditam que lá estão protegidos e que nada os ameaça de fora. Só a
guerra da secessão, o movimento por direitos civis e contra a guerra e,
last but no least, o 11 de setembro constituíram exceção a essa regra. A
praxe continua sendo: os cidadãos americanos só serão julgados pela
justiça norte-americana. Jamais por instituições estrangeiras ou
internacionais (como o TPI). Quanto aos demais cidadãos do mundo, aí a
conversa muda. É invasão, guerra, sequestro, prisões, assassinato,
espionagem etc. Tudo vale, segundo a jurisprudência do Pentágono, na
guerra contra o terror e os EUA. A favor dessa lei, só os judeus, que não
respeitam nenhuma lei internacional contra sua agressão cotidiana aos
territórios palestinos.
Recentemente, tivemos o episódio
do assassinato de Bin Laden, a espionagem das telecomunicações e,
agora, as prisões da alta cúpula da FIFA, comandadas por uma procuradora
de Justiça americana, baseadas - segundo ela - em crimes de lavagem de
dinheiro cometido em solo americano. É interessante a justificativa.
Quando o juiz Balthazar Garzon intimou Henry Kissinger a prestar
declarações sobre os mortos e desaparecidos no Chile, ele não só não foi à
Espanha como ironizou a ordem judicial. Infelizmente, o devido processo
legal das cortes espanholas não permitem invadir os EUA e coagi-lo a
obedecer a ordem judicial. O mesmo não ocorre com os cidadãos do resto
do mundo. Gostando ou não, eles são obrigados a aceitar as ordens da
Justiça americana, mesmo sem serem americanos ou estarem nos EUA. Podem
está confortavelmente em suas casas, mesmo assim serão surpreendidos
pela polícia ou uma ordem judicial de prisão.
Sempre se poderá alegar os acordos internacionais de cooperação
entre países para justificar tais medidas. Mais uma coisa é certa: a
ampliação da jurisdição norte-americana nem sempre se baseia na lei
(menos ainda na lei internacional) e quase sempre tem motivações
geopolíticas e estratégicas inconfessáveis. Ninguém pede autorização
para invadir o país do outro, porque cobiça o seu petróleo ou gás ou
vislumbra a possibilidade de negócios milionários com a invasão.
Invade-se e depois se busca uma justificação legal. Quem não gostou e se
queixe ao bispo ou a ONU ou ao TIP.É a justiça do porrete (big strike). Quem pode manda e faz: quem não pode reclama e se sacode (de dor ou de raiva).
Não há como concordar com um
famoso advogado americano que aponta a ilegalidade dessa ampliação
jurisdicional da procuradora americana. Ela pode está animada por outros
propósitos que nada tem a ver com "o devido processo legal". Sobretudo,
em relação à Rússia de Wladimir Putin, o déspota asiático. Moscou deve
sediar a próxima Copa do Mundo, que é em si mesma um grande evento
político internacional. Putin deseja extrair desse evento esportivo
dividendos políticos para a imagem externa da Rússia. E a depender da
grandiosidade do evento (um mega-espetáculo), pode sim obter grandes
resultados (que infelizmente não beneficiará os cidadãos russos). Se a
polícia americana e a justiça conseguirem "melar" a realização da Copa,
certamente prejudicaram muito ao atual governo russo.
Já a situação dos países periféricos, é muito lamentável e não começou ontem. Já vem de muito tempo atrás. 0 futebol é usado aqui como um dos principais ativos políticos dos governos nacionais para se legitimarem perante a opinião pública. E sua gestão tornou-se uma caixa fosca, intransparente, causa de toda imoralidade, corrupção, roubo, enriquecimento ilícito de seus dirigentes, que são mais blindados do que os presidentes da República. Verdadeiro negócio da China, a gestão do futebol virou uma caixinha milionária para cartolas, jogadores, técnicos, políticos, empresas de mídia, empresas de marketing e patrocinadores privados. Ninguém mexe, ou pode mexer.
Já a situação dos países periféricos, é muito lamentável e não começou ontem. Já vem de muito tempo atrás. 0 futebol é usado aqui como um dos principais ativos políticos dos governos nacionais para se legitimarem perante a opinião pública. E sua gestão tornou-se uma caixa fosca, intransparente, causa de toda imoralidade, corrupção, roubo, enriquecimento ilícito de seus dirigentes, que são mais blindados do que os presidentes da República. Verdadeiro negócio da China, a gestão do futebol virou uma caixinha milionária para cartolas, jogadores, técnicos, políticos, empresas de mídia, empresas de marketing e patrocinadores privados. Ninguém mexe, ou pode mexer.
Quando o cidadão público-privado
chamado Pelé, conhecido como o rei de futebol e principal símbolo do
futebol brasileiro diz que sempre apoio o ex-dirigente da FIFA e que não
tem nada que ver com a corrupção no futebol brasileiro, foi dado o
sinal verde para uma ampla e irrestrita investigação nacional
(brasileira) sobre esse escândalo que parece ser pior do que o da
Petrobras.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.
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