terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Michel Zaidan Filho: Um ano politicamente perdido e com muitas incertezas na economia


 

Foi solicitado que se fizesse uma análise do ano político de 2015 e, se possível, algumas projeções para o ano de 2016. A primeira coisa a dizer é que o ano começou em 2014, ou seja, na campanha eleitoral de 2014. E segundo, o ano não acabou. Com ou sem recesso do Poder Legislativo, por causa da votação da LDO e do processo do "Impeachment", o fato é que prolongamos a agonia política e a incerteza econômica para dentro de 2016, com todas as consequências sociais, políticas e econômicas que essa constatação traz consigo.O primeiro ano do segundo mandato da Presidente Dilma Rousseff foi um cabo de guerra com o Presidente da Câmara dos Deputados, com os partidos de Oposição no Congresso e, pasmem, com próprios aliados.  

Ou seja, a Presidente teve sua agenda de governo ditada pelos adversários e mesmo assim não conseguiu o apoio que precisava para aprová-la. A começar do ex-presidente Lula, alijado da equipe de governo, desde o primeiro momento. Uma Presidenta sem os traquejos e meneios típicos de um bom articulador político, sem articulador político, e com um Congresso hostil a si, só podia produzir uma situação de impasse permanente, alimentado pelo revanchismo daqueles que nunca se conformaram com a derrota nas eleições de 2014.
 
A aliança com partidos como PTB, PR, PMDB, PRB teria que produzir os frutos nefastos que, cedo ou tarde, apareceriam: defecções, traições, chantagem, desagregação partidária e derrotas, muitas derrotas no Congresso. Nunca o tal "Presidencialismo de Coalizão" se mostrou tão fraco e duvidoso, como nessa legislatura. Talvez tenha alcançado o seu limite de validade; e os partidos não se deram conta disso. Aliado ao fato da péssima qualidade da composição atual do Legislativo: 75 evangélicos, 27 partidos, e uma aliança com mais de 10. Resultado: alto grau de fragmentação política e uma dificuldade ainda maior de se obter uma maioria parlamentar. Dificuldade com a progressiva desagregação da base aliada da Presidenta, incluindo aí os membros do próprio partido do governo. 
 
A frente econômica atuou como um agravante da crise política, sendo por ela também retroalimentada. Se a Presidenta gozasse do apoio dos agentes econômicos (internos e externos), um céu de brigadeiro no ambiente externo e uma alavancagem do setor privado através de subsídios, créditos facilitados e renúncia fiscal, haveria quase uma unanimidade em torno dela. Infelizmente, as consequências da política anti-cíclica adotada por ela no primeiro mandato contribuíram muito para acabar com o otimismo  e as expectativas desse setor, que de aliado - no primeiro mandato - passou a oposição. O presidente da FIESP, Paulo Skaf declarou o seu apoio ao processo de Impeachment. 

O pacote fiscal preparado para o enfrentamento da crise, bem como os ministros da área econômica, aumentando impostos, cortando direitos e benefícios, alongando o prazo para o gozo da aposentadoria produziram um efeito paradoxal: recessão e inflação. E uma alta taxa de juros, comemorada pelos setores especulativos e rentistas da economia brasileira. Quase nenhuma medida desse pacote mexeu com os privilégios e ganhos do andar de cima. Enquanto os eleitores da Dilma tiveram que arcar com o custo do ajuste. E preciso dizer também que o início do processo de Impeachment ajudou a piorar a situação dos indicadores econômicos do país, lançando uma dúvida no horizonte da economia brasileira. Sem apoio político, a Presidenta teria condições de enfrentar a crise?
 
De forma, quando olhamos para frente (2016), temos a angustiante impressão que os problemas de 2015 vão continuar no ano novo. Muitas das questões que poderiam ter sido resolvidas neste ano tumultuado e cheio de confusões, ficarão para o próximo ano. A crise econômica pode até arrefecer com o desfecho da crise política. Mas o "imbróglio" do sistema político brasileiro, a sua baixa e precária sustentabilidade, a falta de representatividade e a extrema fragmentação do campo político e a ausência de saudáveis relações entre os poderes vão continuar. Não há no horizonte próximo nenhum indício de que essas crises não voltem a se manifestar no cenário político brasileiro.
 
P.S.: DOIS FATOS RECENTES TRAZEM ALGUM ALENTO PARA A SOCIEDADE BRASILEIRA: A JUDICIALIZAÇÃO DA CRISE POLÍTICA E O DESFECHO DA REUNIÃO DO STF EM RELAÇÃO AO RITO DO IMPEACHMENT E AS MANIFESTAÇÕES DE RUA A FAVOR DO MANDATO DA PRESIDENTA DILMA. OS DOIS MOSTRAM À SACIEDADE QUE ESTE CONGRESSO NÃO MERECE A MENOR CONFIANÇA DA POPULAÇÃO.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD -UFPE. 

Um comentário:

  1. Parece que o nobre amigo Zaidan vive no planete Marte. A crise foi provocada pela esquerda no poder e no comando da economia com os chamados "heterodoxos". Desorganoizaram a economia e literalmente quebraram o país. A esquerda quer repetir a dose, mas o dinheiro acabou. E nunca tivemos uma corrupção sistemática envolvendo a cúpula do governo, incluindo o do ex presidente Lula. Até as pedras sabem disso. E cvhamar a presidente de presidenta, é o cúmulo do servilismo. É lamentável, Zaidan. É triste a mendicância e a desonestidade intelectual, aliás da grande maioria da chamada "academia". Enfim, é como diz o ditado popular, quando algo não tem solução, solucionado está. É a morte política e intelectual. Triste.

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