domingo, 22 de maio de 2016

Contra os "blogueiros sujos"

Com o corte de publicidade governamental pune-se um importante setor de comunicação via internet sem esconder o verdadeiro alvo da medida
por Mauricio Dias — publicado 21/05/2016 05h52


Lula Marques/ Agência PT
Ao entrar no quinto dia útil de exercício do poder, excluído o primeiro fim de semana, o presidente provisório Michel Temer aplicou um golpe duro na liberdade de expressão.
Naquele dia, 18 de maio, a Secretaria de Comunicação do governo provisório enviou aos blogueiros, hoje influentes porta-vozes de setores da opinião pública, um comunicado oficial de que os contratos de publicidade com os órgãos do governo estavam interrompidos. Triste novidade para eles e para os que vierem depois.
Embora não seja aqui o primeiro lugar, ou o único, a badalar os sinos, é possível anunciar o risco da emergência do obscurantismo no País. Isso ocorre pouco mais de 30 anos após o derradeiro suspiro da ditadura de 21 anos. Grave demais? Talvez.
Que restrição é essa? Prenúncio do governo provisório de Temer? De fato, a medida reflete a consolidação de umpensamento único imposto no País. Quem pensar diferente pode perder a cabeça, sem necessidade de invocar a presença do monsieur Guillotin.
Transposto do plural para o singular, o governo destruiu um modesto contrato financeiro, no mundo virtual, incapaz de comprometer o desventurado déficit fiscal. É importante, no entanto, para os blogs e para o exercício democrático da liberdade de expressão.
Embora em outro plano, serve como referência, neste caso, a situação excepcional de José Catalão, que servia café no Palácio do Planalto e foi demitido por suspeição de ser petista. Ele se orgulha de ter servido a Temer como vice-presidente.
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Tu quoque, Catalão
Catalão, garçom solícito, pode tornar-se o ícone do trabalhador exonerado no projeto econômico arquitetado agora por Henrique Meirelles, ministro da Fazenda.
A ausência da publicidade tem condições de sufocar os blogueiros. Assim como pode frear o ímpeto do restrito círculo monopolista dos barões da imprensa. Este não é assunto, porém, para o presidente provisório. A imprensa ainda é um setor da economia dependente da publicidade governamental.
No mundo novo da internet, a veiculação da publicidade ainda se guia pela discutível relação utilizada para a mídia impressa. Ou seja, a aplicação da mídia técnica que sobrepõe a potencial circulação do veículo à qualidade do conteúdo veiculado. Usa-se um conceito velho neste mundo novo, ainda mal avaliado,  invadido, sem permissão, pelos blogueiros.
A decisão repercute no mundo virtual. Mas não se daria não fosse, objetivamente, a vingança contra os chamados “blogueiros sujos”. Ou seja, aqueles que não engoliam o prato que a mídia conservadora oferecia diariamente. Com raras exceções na mídia impressa, falada e televisada, eles atacaram com vigor, na batalha contra o golpe, as deturpações disseminadas diariamente pela oposição ao governo de Dilma Rousseff.
Em outras palavras, combateram a manobra golpista que, ao fim e ao cabo, não foi contida. 
A decisão restritiva, punitiva, imposta pelo governo Temer talvez seja apenas o recomeço de uma velha história.
(Publicado originalmente no site da revista Carta Capital)

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