terça-feira, 31 de maio de 2016

Editorial: Novo ministro da Transparência é flagrado em grampos nada "transparentes" com Renan Calheiro.






Sempre afirmamos por aqui que este golpe institucional foi muito bem engendrado. Se depender de algumas instituições, ele terá uma sobrevida. Há uma possibilidade concreta de que o pedido de impeachment do então vice-presidente Michel Temer - aceito pelo ministro Marco Aurélio Mello - seja arquivado por vontade dos seus pares. Afinal, como já havia dito Gilmar Mendes, onde é que já se viu impeachment de vice? Não se espere muito coisa, portanto, do STF. Por razões muito bem conhecidas por vocês. Mas, a notícia boa é que, se não podemos contar com o STF, por outro lado, ampliam-se os protestos contra o governo interino em diversos setores da sociedade. Desta vez foi na antiga Controladoria Geral da União, hoje transformada em  Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle.

O novo ministro, Fabiano Silveira, foi recebido na pasta sob o protesto dos servidores. Chefes de 22 regionais entregaram os seus cargos. Os servidores ameaçam uma paralisação, o que pode comprometer sensivelmente os trabalhos de órgãos como a PF, MP e o TCU, que trabalham em conjunto. Eles não concordam com as mudanças na CGU. Mas o problema não é só este. Fabiano Silveira, o novo ministro, além das fortes ligações com o Presidente do Senado Federal, Renan Calheiro, também teria sido "grampeado", onde conversas com o amigo, onde faz declarações nada transparentes sobre o andamento das investigações da Operação Lava-Jato. Passou a ser um ator politico "opaco", sem credibilidade, para o conjunto dos servidores do órgão. 

Na realidade, Fabiano Silveira perdeu as condições mínimas para continuar à frente do Ministério da Transparência. Não se sabe como um presidente interino - e também ilegítimo - reagirá a esta situação. Os problemas do governo interino se avolumam. A base parlamentar que deu apoio ao golpe institucional, formada por partidos como PP, PR, PRB, PTN - também conhecida como Centrão -começa a exigir o seu butim, notadamente no que concerne às nomeações do 2º escalão. Exigiram agilidade nas nomeações. Querem que até o final desta semana o imbróglio seja resolvido, sob pena de uma rebelião que poderá trazer sérias dores de cabeça para as votações dos projetos do governo na Câmara dos Deputados.

E, por falar em protestos, o senador Cristovam Buarque foi vítima de um protesto organizado pelas mulheres cearense, quando desembarcava no Aeroporto de Fortaleza. Foi tratado por elas como golpista. Ficou com cara de tacho, tentou ainda esboçar uma tentativa de resposta, mas foi aconselhado pelos assessores a se afastar do local. Pelo trajetória política do senador, ninguém jamais poderia imaginar que ele apoiasse essas manobras golpistas contra a presidente Dilma Rousseff. Muito menos que se juntasse a essa gente asquerosa que se agrupa num partido que já foi, num passado bem distante, uma dissidência do antigo partidão. 

Há quem afirme que ele já teria demonstrado sensibilidade no sentido de mudar o seu voto. Vamos esperar. Se ele assim proceder, será uma atitude importante para a saúde de nossas instituições democráticas, mas o nosso conceito sobre o senador está irremediavelmente definido. Tenho seus primeiros livros - ainda autografados por ele - quando ele começou sua trajetória política aqui no Recife. Assim como ocorreu com FHC, deve ter pedido para que esquecêssemos o que ele havia escrito. 





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