Depois da divulgação do
áudio com as conversas gravadas entre o ex-ministro do Planejamento, Romero
Jucá, e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, delator premiado na Operação Lava
Jato, seria de bom alvitre que a senhora ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, dispensasse o pedido de explicações, dirigido à presidente Dilma Rousseff, sobre o
uso do termo “golpe” quando se referia ao processo de impeachment que a afastou
da Presidência da República.Naquele diálogo, fica claro o caráter golpista e
conspiratório da trama urdida para afastá-la do poder. Já desconfiávamos disso, mas agora há uma prova material do delito.
Houve uma época em que ficávamos
enfurnados na Biblioteca Setorial do CFCH-UFPE, checando os calhamaços de teses
defendidas no PIMES, com o objetivo de identificar os assuntos ali tratados.
Numa dessas tardes, caiu em nossas mãos um livrinho que logo nos chamaria a
atenção: O País das Alianças, - elites e continuísmo no Brasil. Primeiro porque alianças políticas era um
dos fulcros de nossas preocupações de estudo. E, depois, o livro se mostrava
pretensioso no sentido de oferecer subsídios para entendermos melhor o país.
O livro do cientista político Marcel Bursztyn se tornaria
um dos nossos livros de cabeceira, uma vez que o autor explora todos os nossos
períodos históricos, enfatizando, em cada um deles, como o país nunca chegou a
uma ruptura, sempre empurrando, nas agudezas das crises, a bola para a rodada
seguinte, através de alianças espúrias entre o velho e o suposto “novo”, sempre com a liga da nossa elite. Foi
assim desde a Colônia até os dias de hoje. O país não consegue fazer uma
reforma agrária, o país não consegue fazer uma reforma política. Eis aqui dois
bons exemplos do país das alianças. Acabo de publicar, aqui no blog, um bom texto sobre o golpe institucional que se perpetrou no país, apontado como uma vingança da elite escravocrata do Nordeste.
A fala do ex-ministro
Romero Jucá dá bem a dimensão do que seja transferir os problemas para a “rodada seguinte”,
ou, como ele mesmo informa, “estancar a sangria”. A Lava Jato teria chegado a
um estágio onde era preferível subverter as instituições para impedir que ela
chegasse a encarcerar figuras de proa da política nacional, notadamente aqueles
atores políticos não-petistas, como o senador tucano Aécio Neves. E que se dane esse arremedo de rés pública.
Um desses grandes
jornalecos golpistas ouviu especialistas da área de ciência política sobre as
reformas prioritárias para país. A turma não era da USP – o pessoal dessa
universidade não mais concede entrevistas aos representantes da mídia golpista –
mas outros nobres pensadores chegaram à conclusão de que a reforma política é prioritária. Até o insuspeito senador Renan Calheiros, Presidente do Senado Federal, em pronunciamento, durante a sessão que culminou com o acatamento do pedido de impeachment da
presidente Dilma Rousseff, aparentemente, reconheceu o problema.
Creio que parte da culpa
pelo não avanço dessas discussões podem ser creditadas na conta do Partido dos
Trabalhadores, que perdeu algumas oportunidades políticas fundamentais. O “escândalo
Jucá” há poucos dias do Governo Michel Temer, expõe as entranhas da podridão em
que estão metidas instituições dos três poderes. Nada menos que seis dos ministros do governo interino têm
seus nomes envolvidos na Operação Lava Jato, inclusive Jucá, que foi conduzido
ao ministério já 'bichado'. Era um homem fortíssimo da engrenagem golpista. Tanto
é assim que nem a péssima repercussão, tão pouco a sua ficha suja, fizeram Temer
demover da ideia de nomeá-lo.
Na realidade, a bem da
verdade, como já externamos em outro editorial, é um governo “sujo”, em
princípio. Alguns nomes passaram a ser cotados para substituir Romero Jucá, no
ministério do Planejamento. Até a Globo tomou o cuidado de levantar suas
fichas. São sujos. Não há notáveis. Os partidos de oposição estão se mobilizando no sentido de
pedir uma punição severa ao ex-ministro, que assumiu sua cadeira no Senado Federal,
onde deverá continuar ajudando o governo interino. Os áudios dão margem para uma série de eventos ou ações jurídicas, até mesmo a cassação do mandato e sua prisão.
Pego em situação comprometedora,
ficou bastante ridícula a sua tentativa de explicação quando se referia à expressão “estancar a sangria”. Num contexto eminentemente político, ele tentou
remeter a questão ao campo da economia. A coalizão de forças montada para
derrubar a presidente Dilma Rousseff atende a inúmeros interesses, inclusive
salvar o pescoço da nau corrupta do país das alianças...espúrias.
A charge que ilustra esse editorial é do chargista e músico Renato Aroeira.
A charge que ilustra esse editorial é do chargista e músico Renato Aroeira.
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