José Luiz Gomes
Há um livro que tenho imenso carinho por ele. Um carinho muito especial, bem acima do carinho devotado aos demais. Trata-se de um livro do escritor tcheco, Franz Kafka. É precisamente o seu diário, uma raridade adquirida ainda nos tempos das batidas de maracujá, do Tarcísio, na Livro Sete, sempre aos sábados, numa mesa ao centro. O livro já se encontra envelhecido, amarelado, exalando aquele cheirinho gostoso que os e-books não conseguem transmitir. Não preciso dizer para vocês que gosto mesmo é das traças, das páginas rasgadas, das letras envelhecidas. Nada mais abominável do que ficar com aquela setinha para cima e para baixo, numa relação fria, sem a menor intimidade. Afinal, sou um homem de "pegada".
Embora toda a obra do escritor tcheco mantenha algum traço autobiográfico - notadamente aspectos relacionados à alienação ou torturas físicas e psicológicas -esse diário, em especial, vai fundo na alma, creio que até mais do que a Carta ao Pai. Há, ali, alguns trechos manchados de tinta pelas minhas constantes marcações, como aquela sua impagável narrativa sobre um período em que trabalhou numa estação ferroviária e, não raro, recebia a visita de um rato, pelas fendas da parede de sua guarita. Um roedor se esguichando, se esguichando, procurando sabe-se lá o que, talvez algum resto de comida ou, simplesmente, a sua companhia naquelas noites solitárias e frias. Kafka é uma fonte inesgotável de inspiração. A primeira estante que procurava quando chegava a Livro Sete, ali na 07 de setembro, hoje uma rua bastante descaracterizada. Uma pena mesmo. Nem a "galega" por quem me apaixonei - que trabalhava no caixa - tive outra oportunidade de encontrá-la.
Por essa época, minha praia era a literatura. Fazia Letras no CAC/UFPE, lia bastante, conversava com homens de letras, como o sisudo Gilvan Lemos, que também frequentava as rodas organizadas espontaneamente por Tarcísio, em torno de sua batida de maracujá. Uma celebridade de São Bento do Una, depois que um conto seu ganhou o primeiro lugar num concurso literário da revista Alterosa, de Minas Gerais. Ah, como ele se orgulhava dessa proeza. Não lembro ter lido uma única entrevista dele onde este assunto não é mencionado. Depois, com vários livros publicados, tornou-se um escritor reconhecido nacionalmente. Mas, esse primeiro "impulso" ele jamais esqueceria. Como diria Jorge Luis Borges, essas misérias são os bens que o precipitado tempo nos deixa. Espelhos rotos.
Uma fase em que eram mais comuns os "cadernos literários". O Diário de Pernambuco mantinha um, assinado pelo poeta César Leal. Era um suplemento literário muito bom, comparável aos melhores publicados no Brasil naquele momento. As contingências me obrigaram a se desfazer de uma coleção que guardava até recentemente. Em literatura, um escritor leva ao outro. Ao folhear uma de minhas agendas antigas, eis que me deparo com a citação de um escritor que é tido pelos críticos literários como um precursor de Franz Kafka. Incrível como os estilos são semelhantes.
César Leal considerava Borges um dos escritores mais representativos deste século.Fiz um caminho tortuoso para chegar até ao Labirinto de Jorge Luis Borges, que nos foi apresentado através de um amigo poeta. Mas, como disse, um escritor leva ao outro. Na estante de Borges, eis que encontro, como referências do poeta, um Césares Rafael, um Macedônio Fernandes. Estávamos, então, em boa companhia com o intelectual argentino, que passou parte de sua vida enfurnado numa biblioteca. Que castigo! Afinal, "Que outros se fartem das palavras que escreveram. A mim me orgulham os que tenho lido."
Por essa época, minha praia era a literatura. Fazia Letras no CAC/UFPE, lia bastante, conversava com homens de letras, como o sisudo Gilvan Lemos, que também frequentava as rodas organizadas espontaneamente por Tarcísio, em torno de sua batida de maracujá. Uma celebridade de São Bento do Una, depois que um conto seu ganhou o primeiro lugar num concurso literário da revista Alterosa, de Minas Gerais. Ah, como ele se orgulhava dessa proeza. Não lembro ter lido uma única entrevista dele onde este assunto não é mencionado. Depois, com vários livros publicados, tornou-se um escritor reconhecido nacionalmente. Mas, esse primeiro "impulso" ele jamais esqueceria. Como diria Jorge Luis Borges, essas misérias são os bens que o precipitado tempo nos deixa. Espelhos rotos.
Uma fase em que eram mais comuns os "cadernos literários". O Diário de Pernambuco mantinha um, assinado pelo poeta César Leal. Era um suplemento literário muito bom, comparável aos melhores publicados no Brasil naquele momento. As contingências me obrigaram a se desfazer de uma coleção que guardava até recentemente. Em literatura, um escritor leva ao outro. Ao folhear uma de minhas agendas antigas, eis que me deparo com a citação de um escritor que é tido pelos críticos literários como um precursor de Franz Kafka. Incrível como os estilos são semelhantes.
César Leal considerava Borges um dos escritores mais representativos deste século.Fiz um caminho tortuoso para chegar até ao Labirinto de Jorge Luis Borges, que nos foi apresentado através de um amigo poeta. Mas, como disse, um escritor leva ao outro. Na estante de Borges, eis que encontro, como referências do poeta, um Césares Rafael, um Macedônio Fernandes. Estávamos, então, em boa companhia com o intelectual argentino, que passou parte de sua vida enfurnado numa biblioteca. Que castigo! Afinal, "Que outros se fartem das palavras que escreveram. A mim me orgulham os que tenho lido."
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