terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Coleção apresenta panorama da produção ensaística nacional


Coleção apresenta panorama da produção ensaística nacional

Quatro primeiros volumes da ‘Coleção ensaios brasileiros contemporâneos’ reúnem 120 textos de mais de 100 autores brasileiros


O crítico Antonio Candido diz que, desde o Arcadismo, o Brasil possui um “sistema literário”: autores conseguem publicar suas obras, que por sua vez chegam a um público leitor. Da mesma forma, para Francisco Bosco, já se consolidou no país um “sistema ensaístico”, com autores produzindo, editoras dedicadas ao gênero, publicações especializadas e até um espaço considerável na imprensa.
Mas uma das lacunas, segundo ele, sempre foi a falta de um olhar abrangente sobre a produção ensaística brasileira, especialmente sob a forma de antologias.  Dessa percepção, nasceu o projeto Coleção ensaios brasileiros contemporâneos, idealizado por Bosco e publicado pela Fundação Nacional das Artes (Funarte). O lançamento dos quatro primeiros volumes acontece nesta quinta (9), no Espaço Cult, em São Paulo.
Os quatro volumes publicados agora são Música, Problemas de gênero, Cidades Indisciplinares. Juntos, eles reúnem 120 ensaios de mais de 100 autores brasileiros de diversos campos do saber. Somados aos próximos cinco volumes da série, Artes visuaisFilosofiaLiteraturaPolítica e Psicanálise – ainda sem data de lançamento -, a coleção deve reunir quase 300 autores e 28 editores em quatro mil páginas que apresentam ao leitor uma ampla perspectiva da produção ensaística brasileira das últimas décadas.
Segundo Bosco, a intenção é dar ao leitor não-especializado acesso às mais recentes teorias interpretativas da realidade brasileira produzidas nas últimas décadas, além de contribuir para a formação de um público leitor e propiciar uma compreensão mais precisa sobre o valor da produção ensaística brasileira, em seus diversos campos.
“Num país de baixo letramento e onde há uma distância grande entre a produção acadêmica e a cultura, o ensaio parece ser o gênero mais apropriado para tornar acessível a um público mais amplo uma dimensão crítica da realidade, pois ele costuma reunir traços como leveza, elegância, concisão, concretude e compromisso com o prazer da leitura”, afirma o organizador.
Ensaio, espelho do mundo
A coleção foi seu último projeto de Francisco Bosco na presidência da Funarte, órgão do qual se demitiu em maio de 2016, quando Michel Temer assumiu a Presidência da República. “Os presidentes que me sucederam não interferiram no andamento dos trabalhos [da publicação]. A se lamentar, somente a folha de rosto dos livros, que teve de sair com os nomes do presidente golpista e seu ex-ministro golpista.”
Para ele, o ensaio tem se revelado um gênero capaz de aliar profundidade, perspicácia e velocidade, motivo pelo qual muitas das melhores interpretações da realidade instável do Brasil – principalmente no âmbito político – tenham se dado por meio dele.
“A erosão das fronteiras discursivas, a democratização do conhecimento, e até mesmo a maior velocidade de produção, circulação e consumo das ideias (para o bem e para o mal) – tudo isso contribui para que o ensaio seja um gênero bastante contemporâneo, em um sentido menos complexo dessa palavra.”

(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

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