Quatro primeiros volumes da ‘Coleção ensaios brasileiros contemporâneos’ reúnem 120 textos de mais de 100 autores brasileiros
O crítico Antonio Candido diz que, desde o Arcadismo, o Brasil possui um “sistema literário”: autores conseguem publicar suas obras, que por sua vez chegam a um público leitor. Da mesma forma, para Francisco Bosco, já se consolidou no país um “sistema ensaístico”, com autores produzindo, editoras dedicadas ao gênero, publicações especializadas e até um espaço considerável na imprensa.
Mas uma das lacunas, segundo ele, sempre foi a falta de um olhar abrangente sobre a produção ensaística brasileira, especialmente sob a forma de antologias. Dessa percepção, nasceu o projeto Coleção ensaios brasileiros contemporâneos, idealizado por Bosco e publicado pela Fundação Nacional das Artes (Funarte). O lançamento dos quatro primeiros volumes acontece nesta quinta (9), no Espaço Cult, em São Paulo.
Os quatro volumes publicados agora são Música, Problemas de gênero, Cidades e Indisciplinares. Juntos, eles reúnem 120 ensaios de mais de 100 autores brasileiros de diversos campos do saber. Somados aos próximos cinco volumes da série, Artes visuais, Filosofia, Literatura, Política e Psicanálise – ainda sem data de lançamento -, a coleção deve reunir quase 300 autores e 28 editores em quatro mil páginas que apresentam ao leitor uma ampla perspectiva da produção ensaística brasileira das últimas décadas.
Segundo Bosco, a intenção é dar ao leitor não-especializado acesso às mais recentes teorias interpretativas da realidade brasileira produzidas nas últimas décadas, além de contribuir para a formação de um público leitor e propiciar uma compreensão mais precisa sobre o valor da produção ensaística brasileira, em seus diversos campos.
“Num país de baixo letramento e onde há uma distância grande entre a produção acadêmica e a cultura, o ensaio parece ser o gênero mais apropriado para tornar acessível a um público mais amplo uma dimensão crítica da realidade, pois ele costuma reunir traços como leveza, elegância, concisão, concretude e compromisso com o prazer da leitura”, afirma o organizador.
Ensaio, espelho do mundo
A coleção foi seu último projeto de Francisco Bosco na presidência da Funarte, órgão do qual se demitiu em maio de 2016, quando Michel Temer assumiu a Presidência da República. “Os presidentes que me sucederam não interferiram no andamento dos trabalhos [da publicação]. A se lamentar, somente a folha de rosto dos livros, que teve de sair com os nomes do presidente golpista e seu ex-ministro golpista.”
Para ele, o ensaio tem se revelado um gênero capaz de aliar profundidade, perspicácia e velocidade, motivo pelo qual muitas das melhores interpretações da realidade instável do Brasil – principalmente no âmbito político – tenham se dado por meio dele.
“A erosão das fronteiras discursivas, a democratização do conhecimento, e até mesmo a maior velocidade de produção, circulação e consumo das ideias (para o bem e para o mal) – tudo isso contribui para que o ensaio seja um gênero bastante contemporâneo, em um sentido menos complexo dessa palavra.”
(Publicado originalmente no site da Revista Cult)
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