É preciso tomar alguns cuidados quanto se tenta encontrar um perfil ideal de candidato, consoante as expectativas formadas pelo eleitorado ou, mais precisamente uma parcela desse eleitorado. Este, aliás, é um dos grandes filões explorados por institutos e empresas especializadas no assunto, que chegam a esses perfis através das pesquisas qualitativas, aplicadas a um número reduzido de pessoas, mas representativo do eleitorado. As aparições e os discursos dos candidatos são milimetricamente planejados para atender a essas expectativas. Não deve ser obra do acaso que um candidato como Jair Bolsonaro(PSC), por exemplo, assuma posições tão radicais em relação a temas polêmicos como sexualidade, liberação do uso de armas, entre outros. O mesmo raciocínio se aplica a um candidato como João Dória(PSDB), que não passa de um grande personagem, um personagem que, investido da condição de candidato, se sobrepôs à sua real condição de prefeito de São Paulo.
Desempenha excepcionalmente bem o papel de anti-petista, anti-corrupção, anti-político. O establishment conservador - e porque não dizê-lo, também golpista - passou a creditar nesse personagem a encarnação de um legítimo representante dos seus interesses, não lhes poupando afagos, estímulos, viagens, grandes recepções em eventos espalhados por todo o Brasil. O fato concreto é que, empolgado, ele esqueceu que, antes de mais nada, era prefeito de uma grande capital, repleta de problemas, com uma população ansiosa para ver suas demandas atendidas. Isso explica, em parte, a sua queda vertiginosa de popularidade, como reflexo direto da insatisfação da população com a sua gestão, traduzida em pirotecnia, privatização do patrimônio público e viagens! Muitas viagens!
A crônica política publicada hoje no blog do jornalista Josias de Souza, no portal UOL, traduz bem esta situação. Alberto Goldman(PSDB), um tucano de bico longo, até recentemente, deu uma dura bronca nessa ave que, mal chegou no ninho e já alça voos assim tão audaciosos, pouco se lixando para os velhos companheiros - como é o caso do governador Geraldo Alckmin(PSDB), que foi quem o apresentou ao campo político. As juras de fidelidade ao padrinho já viraram chacota no meio político. O fato concreto é que, antes mesmo de ser prefeito, o rapaz que ser Presidente da República, negligenciado as promessas de campanha, negligenciando os acordos firmados com o seu padrinho político.Como a política tem umas nuances curiosas, essa sua ousadia pode reforçar, como informa o jornalista Josias de Souza, na convicção, por parte desse status quo, que talvez seja mesmo mais prudente e confiável caminhar com Geraldo Alckmin. O prefeito ainda não nasceu - como afirmou Goldman - e pode inviabilizar os planos do candidato presidencial.
Os petistas vão me perdoar, mas é muito pouco provável a possibilidade de uma viabilidade política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Candidatura, então, nem pensar. Até para conceder maior legitimidade ao processo, como observou recentemente o pernambucano José Múcio Monteiro, ministro do Tribunal de Contas da União, seria interessante ter Lula na disputa. O custo de se retirar da disputa, arbitrariamente, o candidato mais bem ranqueado não é pequeno. Mantê-lo, no entanto, não é um risco que o sistema pretenda correr. Alguns analistas observam que essa performance de Lula não resistiria até o dia final das eleições, mas convém não arriscar. É possivelmente neste sentido que o ator João Dória(PSDB) já ensaia a construção de um contraponto ao nome de Jair Bolsonaro(PSC), que aparece nas últimas pesquisas consolidado em segundo lugar, marcando entre 15% e 16% em todos os cenários apresentados. Antes de se preocupar com isso, porém, ele precisa fazer o dever de casa: governar a cidade para a qual foi eleito prefeito.
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