terça-feira, 10 de outubro de 2017

Nobel de Literatura, Kazuo Ishiguro é "mistura de Austen, Proust e Kafka"

                                       


Nobel de Literatura, Kazuo Ishiguro é ‘mistura de Austen, Proust e Kafka’ O escritor Kazuo Ishiguro, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2017 (Foto Jeff Cottenden/Divulgação)
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Nesta quinta (5), o escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro foi anunciado vencedor do Prêmio Nobel de Literatura 2017. A honraria foi anunciada pela secretária-permanente da Academia Sueca, Sara Danius. Em seu discurso, ela afirmou que Ishiguro é “uma mistura de Jane Austen, comédia de costumes e Franz Kafka”. “Mas você precisa adicionar à mistura um pouco de Marcel Proust, e mexer, mas não muito, e aí você chegará à escrita dele”, disse. 
Danius disse, ainda, que a obra de Ishiguro “desvelou o abismo sob nossa sensação ilusória de conexão com o mundo”. Modesto, o autor disse à BBC que, em um contexto de incertezas políticas e sociais, espera que seu prêmio possa servir de “impulso a algo positivo no planeta”: “Ficaria profundamente emocionado se pudesse, de alguma forma, contribuir em algum nível com uma atmosfera positiva nestes tempos de incerteza”, continuou.
Nascido em 1954, em Nagasaki – uma das cidades japonesas devastadas pela bomba atômica, em 1945 -, Ishiguro mudou-se para a Inglaterra com a família aos cinco anos de idade. Embora sempre tenha escrito em inglês (chegando a receber, em 1995, a Ordem do Império Britânico pela sua colaboração com a literatura inglesa), suas origens japonesas renderam seus dois primeiros livros: Uma pálida visão dos montes (1982, Cia. das Letras) e An artist or the floating world (1986, sem tradução brasileira), que se passam em Nagasaki após a Segunda Guerra Mundial.
Ishiguro é também autor de cinco romances – Os vestígios do dia (de 1989, adaptado para o cinema e vencedor do Man Booker Prize), O inconsolável (1995), Quando éramos órfãos (2000), Não me abandone jamais (2005, também adaptado para o cinema) e O gigante enterrado (2015) – e uma coletânea de contos, intitulada Noturnos: histórias de música e anoitecer (2009), todos editados no Brasil pela Companhia das Letras. Já seu primeiro romance, Uma pálida visão dos montes, foi editado pela Rocco. 
 
No The Guardian, o poeta inglês Andrew Motion definiu a obra do novo Nobel como “ao mesmo tempo intensamente individual e profundamente familiar”. “Não sei como ele faz isso”, confessou o poeta, referindo-se não só à profundidade dos escritos de Ishiguro, como também à rapidez de sua produção literária.
À BBC britânica, o escritor demonstrou surpresa por ter sido selecionado, e caracterizou o prêmio como “uma honra magnífica”, digna “dos maiores autores que já viveram”. Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras e responsável pela obra de Ishiguro no Brasil, escreveu em seu blog, no site da editora, que “o primeiro a ligar para o autor teria sido V. S. Naipaul, a quem Ishiguro desdenhou, dizendo que a informação não podia ser verdade”.
Ishiguro, de fato, não estava entre os autores mais cotados para o prêmio – em vez dele, as apostas estavam no queniano Ngũgĩ wa Thiong’o (autor de Um grão de trigo e sonhos em tempo de guerra), o japonês Haruki Murakami (Kafka à beira mar) e a canadense Margaret Atwood (O conto da aia). Ao The Guardian, Danius afastou críticas: “Apenas escolhemos um romancista que julgamos absolutamente brilhante”.
Embora tenha se interessado por literatura ainda criança, através das aventuras de Sherlock Holmes, Ishiguro sonhava com uma carreira musical, ironicamente tendo como ídolo Bob Dylan – vencedor do Nobel de Literatura em 2016. Aos poucos, porém, o rapaz desanimou do mundo da música, dedicando-se à escrita. O escritor Salman Rushdie, amigo de Ishiguro e também vencedor do Booker, chegou a fazer piada: “Ele toca violão, canta e compõe músicas também! Atropelou Bob Dylan”.
 
(Publicado originalmente no site da Revista Cult)

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