quarta-feira, 4 de julho de 2018

Editorial: A isenção do plim plim

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Certamente, poucas são as pessoas que conseguem dimensionar corretamente os danos da censura para quem escreve. Violentamente perseguido e ameaçado aqui na província, pelos idos da década de 30, o grande cronista Rubem Braga, impedido de publicar suas crônicas políticas - sob a ameaça de prisão - acabou, segundo presume-se, relatando casos de suicídio nas crônicas policiais do Diário de Pernambuco. Diante das circunstâncias tão adversas enfrentadas pelo escritor capixaba aqui no Recife - salvo a amizade com Capiba e Gilberto Freyre, além das noitadas nos cabarés com Odorico Tavares, poucos registros ficaram se sua passagem pela Veneza brasileira. Regimes autoritários são, por natureza, medíocres e não suportam quem esboça autonomia de pensamento e orientam suas condutas com um mínimo de altivez e dignidade. Braga veio ao Recife depois de embates com Alceu Amoroso Lima, em razão das suas críticas a membros da Igreja Católica.  
 
Diante de tantas dificuldades enfrentadas pelos brasileiros depois do golpe institucional de 2016 - seja no aspecto econômico quanto no aspecto politico - assuntos é que não faltam para os nossos editoriais. Quatro milhões de brasileiros perderam o emprego formal nos últimos meses. Em conluio com a ANS, as entidades gestoras dos planos privados de saúde, depois das mensalidades extorsivas, agora ameaçam com a cobrança de franquia ou coparticipação. Deve ocorrer aqui o mesmo que ocorreu com as companhias aéreas, que passaram a cobrar pelas bagagens sob o argumento de que as tarifas seriam reduzidas. De concreto, além de pagarem pelo envio das bagagens, os usuários não tiveram a redução das tarifas, o que os contingenciou a andarem com bagagens de mão inusitadas, passíveis de serem acomodadas dentro das aeronaves, provocando aqueles tumultos corriqueiros e desagradáveis antes do voos.  


Mas, não me contive com um comunicado da emissora do plim plim para seus funcionários, orientando-os sobre como se comportarem na vida privada, consoante a isenção que caracteriza o padrão plim plim de atuação profissional. Há aqui, leitores, motivos para uma grande gargalhada. A motivação do comunicado teria sido em função de um posicionamento de um de seus repórteres, em perfil pessoal, numa dessas redes sociais, posicionando-se contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como pode um grupo que foi criado com as benesses e cevado nos estertores do regime militar falar de isenção? A quem esse pessoal sugere estar dando lições de jornalismo? Jornalista mesmo era o Rubem Braga, que deixou o Diário de Pernambuco e, por um salário bem menor, assumiu a editoria da Folha do Povo, onde, mesmo perseguido, exercia seu direito constitucional de livre expressão.   

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