Há alguns anos atrás, o professor emérito da Universidade de Munique e da prestigiada London School of Economic, Ulrick Beck, esteve em visita ao Brasil. Estudioso das mudanças no mundo do trabalho, chegou num momento bastante emblemático no país, em plena expansão do mercado informal, como consequência do agravamento do desemprego, principalmente os de carteira assinada. Observando a expansão dessa modalidade de sobrevivência eocnômica nas grandes metrópolis brasileiras, ele cunhou uma expressão que se tornaria uma espécie de colírio teórico para os estudiosos identificados com o pensamento do sociólogo pernambucano Gilberto Fryere.
Em seu entusiasmo inicial, logo contestado pelos próprios pares da London School, Beck cunhou a expressão "Brasilização do Ocidente', ou seja, na percepção do professor alemão, o Brasil se tornava um modelo a ser observado e analisado quando estivesse em discussão a questão das mudanças ou precarização do mundo do trabalho. Mais que, isso, sugeriu que o nosso processo de formação, marcado pela miscigenizaçao, seria um ponto forte, uma vez que, somente aqui, seria possivel irmanar todos - mulheres, homens, idosos, crianças, católicos, protestiantes, umbandistas, brancos, pardos, negros - num projeto similiar de luta pela sobrevivência. Em alguns países europeus isso não seria possível.
Mesmo academicamente desautorizado, a reflexão do professor alemão nos entusiasmou bastante, no início, chegando este editor a produzir alguns ensaios tratando dessa questão, embora muito mais motivado, confesso, pelos estudos do decano da Universidade de Campinas, Ricardo Antunes, este sim, com muito mais intimidade para se pronunciar sobre o que estava se passando com o mercado de trabalho no país.
Hoje, me deparei com uma outra adjetivação interessane, esta sobre o nosso processo de erosão de experiência democrática, formulado ou reproduzido por uma professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, durante um encontro organizado pelo jornal Folha de São Paulo, para discutir o futuro de nossa democracia. Durante a sua fala, a professora Celi Pinto, enfatizou que o futuro de nossa democracia seria uma espécie de "hungrialização", numa referência ao regime implantando por Victor Orban, na Hungria, que mina a democracia por baixo, em seus alicerces, mas conserva o arcabouço institucional - de forma quase cosmética - para salvar as aparências, sem o emprego de mecanismos autoritários tradicionais. A proposta, por exemplo, de ampliar o número de ministro do STF seria um desses mecanimos, com o propósito de transpor um dos últimos obstáculos de resistência a essa degenerescência democrática. O STF não seria extinto, mas ficaria com maioria favorável ao executivo. Volto a tratar deste tema quando passarem as eleições, mas já fica a lição: o problema maior é a Hungria. Nunca a Venezuela.
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