sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Editorial: Já temos o nosso Javier Milei por aqui? Parece que sim.


Impressiona a convergência de ideias entre o futuro presidente da Argentina, Javier Milei, e alguns atores políticos brasileiros identificados com o bolsonarismo. Já discutimos isso por aqui, mas vale sempre a referência. Colocado diante dos ministérios do Governo de Alberto Fernández, a quem deve substituir a partir de janeiro, Milei foi instado por um repórter a se colocar sobre quais ministérios manteria e quais ele estava disposto a descartar. Qual não foi nossa surpresa (ou não?) quando o futuro mandatário do país andino informou que estava extinto o Ministério da Educação, segundo ele um antro de doutrinação, mais ou menos na mesma linha do bolsonrismo, que tem ojeriza pela academia. Um dos ministros da pasta afirmou que sentia urticária todas as vezes em que cruzava com o painel em homenagem ao educador Paulo Freire.  

Naquela postagem fazíamos referência a quem assumiria a condição de representar o argentino nas eleições presidenciais brasileiras, em 2026, já que o presidente Jair Bolsonaro está fora do páreo, em razão da inelegibilidade. Pelo andar da caruagem política, o que não faltarão por aqui são os Javier Milei tupiniquins, dispostos a encamparem sua plataforma e, quem sabe, até os seus símbolos. Assim que Lula assumiu a Presidência da Repubica, houve um momento de arrefecimento do bolsonarismo. Jair Bolsonaro, na avaliação de próprio Valdemar da Costa Neto, não assumia o papel de líder da oposição e, de alguma forma, alguns bolsonaristas até consideraram prudente manter um certo distanciamanto do ex-presidente. Para completar, ainda haviam as encrencas jurídicas que o capitão enfrenta até hoje.  

Hoje, não mais. Com o Governo enfrentando algumas dificuldades iniciais na condução da política econômica - o déficit público já é superior a R$ 120 bilhões -  momentos complicados na articulação política, o ex-presidente Bolsonaro voltou a fazer suas caminhadas pelo Brasil, orientar a orquestra da bancada de Oposição no Legislativo e reaproximar-se dos seus apoiadores pelo Brasil Afora. Seus aliados não escondem o desejo de ir às ruas defender ao seu legado e as suas bandeiras. A radicalização bolsonarista passou, então, por um momento de renovação. A aprovação da PEC do STF, por exemplo, está sendo classificada por um experiente jornalista e blogueiro, como um gol de placa do capitão. 

Assim, uma das condições impostas pelo PL para apoiar o projeto de reeleição de Ricardo Nunes em São Paulo é exatamente colocar na vice uma bolsonarista raiz, a Secretária da Mulher do Governo de Tarcísio de Freitas. Hoje, durante um encontro com auditório lotado, o Secretário de Justiça de Cidadania do Governo de Estado, Fábio Pietro, numa infeliz estocada nas lideranças sindicais, informou que eles davam aulas vagabunda de Filosofia e Sociologia. Foi vaiado pelo auditório lotado, mas, embora reprovável, seu discurso é a média do bolsonarismo radical neste momento. 

Não esperem nenuma medida de repreensão de sua fala. Não é nosso propósito estabelecer uma comparação entre o presidente argentino, Javier Milei, e o Secretário de Justiça e Cidadania de São Paulo, Fábio Pietro.  O que desejamos enfatizar por aqui é que o solo do bolsonarismo radical está úmido, bem adubado, propício para vicejar atores políticos com as similaridades do futuro presidente da Argentina.    

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