segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Editorial: Os cuidados de se falar de improviso em tempos de identitarismo.


Crédito da Foto: Vila da Pedra, Acervo Delmiro Gouveia\Fundação Joaquim Nabuco. 

Em nossa época de criança, haviam vários termos empregados para se referir às pessoas muito magras. Curioso que as pessoas mais atingidas naquele anos não seriam aquelas que  com sobrepeso(seria este o termo correto?), mas os magricelas, que eram tratados entre o grupo como  Cibitos, Cambitos ou Zig Zig.  Eram esses os termos empregados até então para se referir a esses meninos, conforme observou corretamente Argemiro Pereira, um colaborar assíduo de um grupo no Facebook, que este editor acompanha.  Cibito é um passarinho, Cambito é uma armação de madeira fina usado para por cima da cela do cavalo e Zig Zig é uma referência às libélulas. Pedimos perdão se cometemos algum equívoco por aqui. Não é bem a nossa praia.  

Num momento de indentitarismo militante, possivelmente, nenhum desses termos poderia voltar a ser usado. Até livros de escritores consagrados de nossa literatura estão passando pelo crivo do politicamente correto. Em tempos assim, falar de improviso pode trazer algumas dores de cabeça, como a fala do presidente Lula sobre uma jovem afrodescendente durante um encontro na Volkswagen. A situação se tornou tão séria que um colega nosso, que escreve muito bem por sinal, acabou se aborrecendo outro dia nas redes sociais por usar o termo "gordinha", sendo logo taxado de cometer gordofobia. Embora tenha sido infeliz, não houve por parte dele qualquer motivação de cometer alguma ofensa. 

Confesso aos leitores que não encontrei nada que justificasse tanta polêmica na fala do presidente Lula, durante o evento referido, conforme já esclarecu a Secretaria de Comunicação do Governo Federal. Nesses tempos bicudos, porém, é preciso acrescentar outros cuidados. É como se estivéssemos caminhado sobre ovos. A Oposição, que está tão preocupada com a fala do presidente, deveria se preocupar mesmo é com a a fala do capitão, que entusiasmado pelas audiências de suas falas, já andou dizendo que o TSE ajudou na eleição de Lula, o que pode ser enquadrado como uma afirmação que pode passar pelo crivo de mais um processo. 

O TSE não tem lado. É um órgão que arbitra o processo eleitoral ou seja, estabelece as regras, zela pelo seu cumprimento, homologa os vencedores da disputa eleitoral, com a isenção preconizada pela Constituição Federal. O Ministro Alexandre de Moraes, inclusive, promete ser mais rigoroso ainda em relação às próximas eleições, propondo um grupo de trabalho com o propósito de ficar atento sobre pessoas e instituições que atentem contra o arcabouço das instituições democráticas do país.  

P.S.: Contexto Político: A foto acima é de uma criança brincando na Vila da Pedra, Vila Operária construída pela fábrica que Delmiro Gouveia mantinha na cidade. Poderia ter ilustrado a capa do primeiro romance premiado deste editor, mas a capa produzida pelo pessoal da editora traduzia, igualmente, o mesmo espírito daquilo que gostaríamos de ver exposto como síntese do conteúdo tratado no livro. De qualquer forma, ainda somos apaixonados por essa foto, que, emobra seja sobre a Vila da Pedra, sintetiza bem os nossos bons tempos de libertinagem na vila operária mantida pela família Lundgren, em Paulista.    

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