domingo, 13 de outubro de 2024

Editorial: A batalha pela cidade das chaminés.


Nossos três primeiros romances foram concebidos no contexto da experiência da industrialização têxtil na cidade-fábrica de Paulista. Como tal experiência tornou-se emblemática e simultânea ao que ocorria no período em todo país, os três romances, Menino de Vila Operária, vencedor do Prêmio José Lins do Rego de Literatura, em 2022, Cidade das Chaminés e Chaminés Dormentes, abordam desde o surgimento até a decadência da indústria têxtil local, configurando-se como romances do ciclo da industrialização têxtil no país. Tudo começou quando o comendador sueco Herman Theodor Lundgren adquiriu uma fábrica de sacarias, em decadência, e a transformou na Companhia de Tecidos Paulista, um colosso industrial têxtil em seu período de apogeu, atingindo a surpreendente marca de dez mil operários e operárias. 

A família Lundgren possuía duas fábricas na cidade. Além da Companhia de Tecidos Paulista, havia a Fábrica Aurora. Paulista nasceu como uma quase-cidade, dada a ausência mínima de institucionalização naquele torrão, na realidade, uma espécie de fazenda sob o controle estrito da oligarquia industrial, que possuía uma milícia armada para impor sua autoridade e normalizar a vida social, cultural, econômica, religiosa e política dos operários e operárias que estavam sob a sua jurisdição. Contraditoriamente, dois líderes políticos ligados à Ditadura do Estado Novo foram os responsáveis diretos por assegurar a presença do aparelho de Estado no município: Agamenon Magalhães e Torres Galvão. Não se poderia nutrir grandes expectativas em torno de uma cidade que nasce sob este signo. 

A cidade passa por uma fase onde a política era controlada por duas oligarquias familiares e, depois, na ausência de representantes dessas oligarquias, passou ao controle de grupelhos políticos sem quaisquer pudores de espírito público, que passaram a estabelecer padrões de relações temerárias entre entes públicos e privados. Ficamos sabendo que a governadora Raquel Lira esteve recentemente na cidade, em passeata, acompanhada por seu afilhado político Ramos, ligado aos tucanos. O prefeito do Recife, João Campos, segundo sugere um blog local, teria alugado uma residência na cidade para apoiar o retorno de Júnior Matuto à gestão municipal. Está em jogo uma verdadeira batalha pela cidade das chaminés. Desejamos boa sorte a ambos. 

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