segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Editorial: Ou o PT muda ou entrará num estágio de suicídio político assistido.

 


O PT ainda se encontra aturdido com o resultado das últimas eleições municipais, não se sabendo, portanto, qual o rumo tomará daqui para frente. As opiniões, conforme enfatizamos pela manhã, se dividem em torno deste assunto. Algo parece provável. O PT, depois de um determinado momento de sua história, passou a priorizar a luta pelo poder. Estamos aqui diante de um indicativo forte de que medidas serão adotadas no sentido de mantê-lo com este perfil, o que significa, na atual conjuntura de correlação de forças políticas, possivelmente mais um ônus a ser pago junto às suas bases históricas de apoio, uma vez que o partido deverá se aproximar mais do centro político, como única alternativa possível para se contrapor à força da direita e da extrema-direita. 

Vai precisar ceder, um verbo muito utilizado pelo companheiro Gabriel Boric, do Chile. O problema é que, além de comprometer-se com as suas bases orgânicas de apoio, essa turma de centro-direita nunca está satisfeita. Vão sempre pedir mais e os dirigentes da legenda precisam estabelecer qual é o limite. Primeiro é preciso que se faça um diagnóstico preciso sobre onde reside o problema. Prevê-se grandes investimentos em comunicação institucional, mas não vai resolver o problema, uma vez que a questão não é comunicar-se apenas, mas o que comunicar. Amplos setores da população está fazendo ouvidos de moucos ao já surrado discurso petista. 

Correndo solta nas redes sociais, ancorada através da economia da atenção, a direita avançou perigosamente neste terreno, conquistando mentes e corações de amplos segmentos sociais. O vereador mais votado no país, Lucas Pavanato, foi eleito através das redes sociais, defendendo teses como homem é homem, mulher é mulher.  O mais votado de Belo Horizonte, com 40 mil votos - talvez o mais bem votado na história da cidade - foi nesta mesma plataforma, apoiado por Nikolas Ferreira, de quem foi chefe-de-gabinete. O governador Ronaldo Caiado já afirmou que irá se contrapor à PEC da Segurança Pública e o líder da Bancada da Bala já afirmou que ela não passa na Câmara dos Deputados. O prefeito que obteve o maior percentual de votos no país, eleito no primeiro turno com 97% dos votos válidos, armou sua guarda civil até os dentes.

Nós temos no Ministério da Justiça um cidadão sério, honrado, com um excelente currículo, com uma proposta republicana, civilizatória e humanitária para enfrentar o problema da segurança pública no país, mas, por outro lado, grupos conservadores já convenceram amplos segmentos da população que a solução para o problema é outra. Nós somos um dos países que mais encarceram sua população. Já somos a terceira população carcerária do mundo, onde detentos são mantidos em presídios abarrotados, em sua maioria negros e analfabetos, convivendo em ambientes onde os mais elementares dos direitos humanos são violados. Se o Ministério da Justiça levantar a narrativa de combater essa cultura do encarceramento, talvez o Ministro Ricardo Lewandowski não consiga, sequer, se pronunciar numa sessão da Bancada da Bala.  Tempos difíceis, meu caro Luiz Inácio Lula da Silva. 


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