pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 NO RECIFE: A " eduardolização" da política pernambucana.
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quarta-feira, 27 de junho de 2012

O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 NO RECIFE: A " eduardolização" da política pernambucana.


O XADREZ POLÍTICO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012 NO RECIFE: A “eduardolização” da política pernambucana.


José Luiz Gomes escreve:

                                   O ex-presidente da Coca-Cola para a América Latina, Vicente Fox, venceu as eleições para a Presidência do México, em 2000, desbancando uma hegemonia de mais de 71 anos de controle da máquina pública mexicana pelo PRI, Partido da Revolução Institucional. Os “enclaves” patrimonialistas se faziam presente em todos os setores da administração pública daquele país, exalando sua “inhaca” característica. A situação era tão complexa no que concerne à tecnologia de gerenciamento da máquina que, ao anunciar o seu ministério, Vicente Fox causou uma grande surpresa à sociedade mexicana, ávida por corrigir essas distorções entre interesse público e negócios privados. Havia mais gente do PRI do que do PAN, Partido Ação Nacional, o seu partido. Com a sua experiência de administrador, ele teria percebido as dificuldades de “tocar” uma máquina pública complexa, sem o “azeite” dos atores que foram treinados para fazê-lo.

                                   Esse fenômeno político ficou conhecido como “mexicanização da política”. Sempre que alguma coligação ou partido permanece muito tempo no poder, ele é invocado. Até recentemente, o ex-governador Roberto Magalhães se referia ao mesmo, ao comentar sobre a fragilização da oposição no Brasil, “encilhada” diante da hegemonia de poder que se construiu em torno da coligação que dá sustentação aos governos do PT. As fotos onde o ex-presidente Lula aparece apertando a mão de Paulo Maluf, certamente, não surpreenderam o ex-governador.

                                   Na província, em razão das intensas movimentações do governador Eduardo Campos sobre os redutos da “oposição”, inspirou-nos a cunhar um adjetivo para explicar o fenômeno, o da “eduardolização da política pernambucana”, numa referência à hegemonia de poder que o governador trabalha para consolidar no Estado. No nosso Blog do Jolugue, fizemos várias postagens sobre o assunto. Esse fenômeno ficava ainda mais claro quando o governador ainda mantinha o PT como um aliado, isolando ou cooptando setores conservadores da política pernambucana – caso de antigos membros do DEM – para o seu projeto. Sua última conquista foi o senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, ancorada, sobretudo, nos seus planos presidenciais, até então um ferrenho opositor tanto no plano estadual quanto no federal, não poupando críticas à gestão de Lula e Dilma Rousseff.  

                                   Em Pernambuco, fomos os primeiros a alertar, através de artigos publicados no Blog, sobre uma incipiente aproximação entre o PMDB e o PSB, até então no plano nacional, com o aval de suas principais lideranças, construindo uma nova correlação de forças políticas, visando, evidentemente, o jogo das eleições presidenciais de 2014 e seguintes. O PMDB, todos sabem, é aquele amigo indesejável, mas fundamental para quem aspira a Presidência da República, em razão de seus tentáculos  presentes em todos os rincões do país, conferindo-lhes uma moeda de capilaridade política estratégica.  

                                   Até recentemente, o discurso de Eduardo Campos, além de invocar o modelo inovador de gestão da máquina pública – reconhecidas e premiados pela ONU – também enfatizava a necessidade de mudança de costumes políticos arraigados na sociedade brasileira, comandados por elites políticas carcomidas, que se apropriam da máquina pública e as gerenciam consoante seus interesses, nomeando cargos de confiança e, não raro, desviando recursos públicos. O governador, inclusive, era um entusiasta dos chamados “comitês de busca”, um mecanismo que - apesar de exigir alguns aperfeiçoamentos – trata-se de um dispositivo mais republicano de escolha de gestores públicos. Alinhavado com o PMDB, esse discurso soa absolutamente inócuo. Aquele encontro entre ele e Sarney, sugerido pelo Blog do Jolugue, se houver, será para assegurar que os interesses feudais do coronel não serão atingidos no seu Governo.

                                   As costuras envolvem, conforme já afirmamos a alta cúpula das duas agremiações. Michel Temer, que recentemente esteve no Recife para prestigiar a festa de aniversário de Raul Henry, pontuou, inclusive, a sua disposição de passar vaselina na relação, até então trincada, com o senador Jarbas Vasconcelos, solidarizando-se em relação  à sua aproximação com Eduardo Campos. Pontualmente, nos Estados, a vaselina política já vem trazendo seus resultados. No Ceará, os Ferreira Gomes conseguiram celebrar uma aliança com o senador Eunício Olivieira, do PMDB. Eunício apoia o nome do PSB às eleições municipais deste ano - concorrendo com o candidato da prefeita Luizianne Lins, do PT, Elmano Freitas. Em troca, Eunício terá o apoio do partido nas eleições de 2014, quando deverá disputar o Governo do Estado.

                                   Até mesmo no Estado da Paraíba, cuja movimentação política acompanhamos de perto, no início do ano, já se comentava sobre possíveis encontros secretos entre arqui-inimigos da política local, como o senador Cássio Cunha Lima - naquele Estado um aliado do governador Ricardo Coutinho, do PSB – e uma velha raposa da política no Estado, José Maranhão, cujo Governo foi duramente atacado pelo PSB durante a última campanha. As animosidades entre ambos teriam atingidos até a esfera federal. Comenta-se, nas coxias, que Ricardo Coutinho teria entregue a “ficha” de José Maranhão a Dilma Rousseff, levando a presidente a vetar seu nome para vários cargos no Governo Federal, indicado que fora pelos caciques da legenda.

                                   Não se pode afirmar que em Pernambuco as motivações entre Jarbas Vasconcelos e o governador Eduardo Campos tenham sido, exclusivamente, determinadas pelo contexto nacional. Há, evidentemente, alguns ingredientes de natureza local. Até recentemente, antes de anunciar o apoio do PMDB à candidatura de Geraldo Júlio – Jarbas fazia questão de anunciar que disputaria votos com o governador em diversas praças, inclusive no Recife. A candidatura de Geraldo Júlio,  entretanto, provocou uma profunda rearrumação na correlação de forças locais, isolando o PT, inviabilizando o chamado “Grupo Alternativo”, levando a oposição a revê suas estratégias.

                                   Diante desse novo cenário, surgiu a proposta de uma candidatura de consenso, construída entre o PPS, DEM, PSDB e PMDB, com o candidato Raul Henry propondo chegar a esse consenso, abdicando de encabeçar a chapa, em favor de algum aliado. Como isso não teria sido possível, seu padrinho político deu carta branca para que ele negociasse o apoio à candidatura de Geraldo Júlio, selando uma aliança formal entre o PMDB e o PSB, em reuniões com o próprio governador.

                                   As movimentações políticas dos últimos dias geraram muitas notas das agremiações políticas. A última delas, a de Raul Henry, parece-nos um revival de um debate acirrada que tivemos o prazer de acompanhar na Fundação Joaquim Nabuco, no momento das articulações em torno da construção da União por Pernambuco, entre jarbistas históricos e próceres representantes do PFL. Emblematicamente, é como se Raul estivesse comunicando a Mendonça Filho que Jarbas estivesse voltando para onde jamais deveria ter saído, depois de uma tumultuada convivência com o que há de mais retrógrado na política pernambucana. Raul é um gentleman, mas dessa vez não se conteve em externar algumas verdades inconvenientes.

                                   Afora José Arlindo – que se opôs ao apoio do candidato do PMDB ao candidato do PSB, sem que se entenda, ainda, seus argumentos – a consolidação da aliança entre Jarbas e Eduardo foi muito festejada por alguns atores políticos relevantes, como o ex-ministro da Justiça e ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Fernando Lyra, um observador arguto do nosso cenário político. Na opinião de Fernando Lyra, Jarbas estava apenas fazendo o caminho de volta, pois sempre esteve do lado de cá.  

                                   Candidaturas postas, alianças formalizadas, agora chega o momento de analisar alguns aspectos do cenário político das eleições de 2012. Várias questões estão em jogo, como o isolamento do PT da Frente Popular; a potencialidade da candidatura de Geraldo Júlio, muito mal avaliada pelo PT; as relações entre Eduardo Campos e Lula, após essas rusgas políticas entre PT e PSB; o momento delicado vivido pelo Partido dos Trabalhadores em Pernambuco, cindido, isolado, com uma avaliação temerária de sua gestão à frente do Palácio Antonio Farias.

                                   Em entrevista a uma rádio local, o Cientista Político Michel Zaidan alertou para um fenômeno que estava se desenhando nas eleições deste ano: o da “nacionalização” das decisões políticas sobre as quadras políticas locais. No Recife, por exemplo, a candidatura do senador Humberto Costa foi imposta pela Executiva Nacional da agremiação, sendo referendada pelo Diretório Nacional, que julgou improcedente o recurso de João da Costa, apesar de sua vitória nas disputas internas da agremiação.

                                   Comenta-se, à boca miúda, que a eminência parda do PT, José Dirceu, chegou a comemorar a indicação de Humberto Costa, considerando-o um nome que poderia se contrapor à hegemonia de Eduardo Campo, raciocinando, sobretudo, em termos dos cenários nacionais que se aproximam, onde o “Moleque” dos Jardins da Fundação Joaquim Nabuco apresenta-se como um potencial adversário. O PT conseguiu a proeza de desagradar a todo mundo com o seu processo arbitrário e intervencionista de decisão, desrespeitando as manifestações legítimas dos seus militantes.

                                   Mesmo num cenário de muito blefe, é possível acreditar que, de fato, durante um determinado momento, Eduardo Campos poderia emprestar apoio a um candidato do PT, fosse ele quem fosse. Dada as suas amarras à aliança com o PT – também não se pode elidir a condição de gratidão do governador – essa possibilidade seria perfeitamente possível. Durante a agudeza da crise entre as duas agremiações, o próprio senador Humberto Costa remontou aos momentos de grandes adversidades do governador, onde o PT nunca lhes faltou. O apoio do PT aos Arraes, aliás, vem de longas datas, conforme reafirmou o senador.

                                   Eduardo nunca pôs a mão na cumbuca petista, mas preparou-se para possíveis eventualidades, evitando ser pego de surpresa. Algumas alternativas construídas nos fornos do Campo das Princesas – como o nome do secretário de Governo Maurício Rands – poderia trazer a paz entre as duas legendas. Infelizmente, as circunstâncias políticas conduziram a um processo de agravamento da crise petista, aguçando o senso de oportunidade de Eduardo Campos de fincar uma estaca no PSB na capital pernambucana, antecipando as cisões na coalizão política da Frente Popular, previstas para 2014, quando Eduardo deveria enunciar a hipótese improvável de “ungir” algum petista para sucedê-lo no Campo das Princesas.

                                   Há quem perceba no ritmo de movimentações de Eduardo Campos o prenúncio de uma possível antecipação do seu projeto presidencial para 2014, o que não acreditamos. Nem os problemas com o potencial candidato do PSDB, Aécio Neves, nem a crise econômica ou o desgaste do julgamento do Mensalão seriam suficientes para turvar o “feeling” político de Eduardo Campos, como nos parece que vem ocorrendo com Lula. Acordos celebrados, inclusive com o ex-presidente, foram construídos dentro de outro prisma, trazendo-o, quem sabe, eventualmente, como vice dos próceres petistas. Não há indícios de que a centrífuga de forças antipetistas que gravitam em torno do governador teriam as condições, no momento, de afastá-lo dos projetos do partido no plano nacional. O que ocorreu em Pernambuco, portanto, não será suficiente para proporcionar uma ruptura entre ele, Lula e Dilma Rousseff, embora devam estar em palanques opostos no Recife. Ganhe Humberto Costa, um velho aliado de Lula, ou Geraldo Júlio, no plano da campanha presidencial, é perfeitamente possível que as forças hegemônicas hoje no poder continuem contando com o apoio do Estado. Agora, se o cenário mudar, Eduardo, como sempre, saca a carta que carrega na manga. É um ator político com uma das maiores margens de manobra no atual cenário da política brasileira. Afinal, como dizia uma velha raposa da política mineira, política é como as nuvens. Dificilmente olhamos duas vezes e contemplamos o mesmo cenário.

                                   A candidatura de Geraldo Júlio nasce sob um signo político bastante positivo, apesar das ironias petistas ancoradas em uma longa matéria publicada pelo Diário de Pernambuco. Apoiada pelas duas maiores lideranças políticas do Estado, viabilizada politicamente pelos partidos que compõem a Frente Popular – com o concurso do PMDB – e com um grande potencial de crescimento eleitoral, consoante expectativas manifestadas pelo eleitorado recifense, aferidas em pesquisas encomendadas pelo próprio PSB.

                                   Após as medidas duras adotadas pelo Governador Eduardo Campos, o PT assumiu um tom mais conciliador, acreditando, inclusive, que a intervenção de Lula pudesse reverter o quadro político no Estado. Como o quadro dificilmente será revertido, o partido já se reuniu e dessa reunião é quase certo que saia a decisão de entregar as secretarias que ocupam no Governo de Eduardo, marcando, em definitivo, o rompimento entre as duas legendas no Estado.

                                   Originalmente um partido com uma forte inserção nos movimentos sociais organizados – portanto um partido orgânico, embora essa característica venha sendo subtraída em nome do interesse de uma aristocracia partidária – o PT ainda possui uma base social nada desprezível. Essa característica, aliada aos 12 anos no comando do Palácio Antonio Farias, pode explicar o desempenho do senador Humberto Costa na última pesquisa realizada pelo Instituto Maurício de Nassau, onde ele aparece com 35% das intenções de voto. Como afirmam alguns analistas, por baixo, o partido deve levar seu postulante a um segundo turno.

                                   O PT enfrenta um grande problema no Recife. A população parece exausta e nenhum pouco tolerante com essas brigas internas da agremiação. É complicado eleger alguém para “cuidar da cidade” e esse gestor ser fustigado constantemente pelo “fogo amigo”, não raro, bem mais cortante do que o dos adversários. O Recife é uma cidade com demandas urgentes e complexas para serem resolvidas e perde-se muito tempo com essas querelas. Há problemas com as intervenções urbanas, com a mobilidade, com a saúde, com a educação, segurança.

                                   Outra questão que se apresenta é a exaustão do “modo petista de governar”, um mote muito bem explorado pelo PSB, tanto aqui quanto em Fortaleza. Justificando uma candidatura própria em Fortaleza, Cid Gomes afirmou, com todas as tintas, que apoiar Elmano Freitas, o candidato de Luizianne Lins, seria referendar a continuidade de um modelo gerencial temerário da máquina pública. Torna-se necessário que o PT avalie com bastante objetividade essa questão, uma vez que é preciso construir um discurso convincente sobre o assunto. João Paulo chegou a fazer algumas críticas ao seu sucessor sobre uma possível ruptura do modelo de gestão; João da Costa reafirmava constantemente que deu sequência ao modelo; Humberto Costa, para fazer média com João da Costa, depois de escolhido como candidato, passou a defender a gestão do prefeito, apontando apenas motivações políticas para as divergências. Quem, afinal, tem razão?

                                   Diante do “inimigo externo”, que até recentemente dormia junto, a tendência é que o PT reavalie suas práticas, proporcionando a possibilidade de uma união na adversidade. Apesar das mágoas, é possível que o partido construa essa unidade, sob pena de jogar 12 anos de mandato no Rio Capibaribe, como afirmou Francisco Rocha da Silva, o Rochinha, recentemente. Eles que não tiveram nenhuma cerimônia em atirar o matuto naquelas águas.











           

                                  

                                    

                                  

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