pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : A CULTURA DA VIOLÊNCIA NO BRASIL ( Corrupção, impunidade e cinismo governamental)
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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A CULTURA DA VIOLÊNCIA NO BRASIL ( Corrupção, impunidade e cinismo governamental)




Michel Zaidan Filho


Foi o alemão e criador da Psicanalise, Sigmund Freud, quem cunhou a famosa expressão “O mal-estar na Civilização” para designar uma patologia social grave que antecedeu e preparou o advento do Nazi-fascismo e a Segunda Guerra Mundial. Como médico, Freud diagnosticou a presença de uma neurose coletiva, na Alemanha, produzida pelos mecanismos civilizatórios. O trabalho, a família, a Igreja- numa sociedade luterana como a alemã - não oferecia na época contrapartida alguma à repressão da energia libidinal dos cidadãos e cidadãs alemãs. O resultado, como se sabe, foi a guerra. Os alemães, pelo menos, sempre foram introspectivos e dotados de grandes qualidades intelectuais. Produziram gênios para o bem, e gênios para a destruição da humanidade. A Alemanha reconstruída pelos aliados (e o dólar americano) depois da guerra é outro país: menos filosófico e cultural e mais econômico e pragmático.

O nosso País não foi influenciado pelo puritanismo luterano dos alemães. Pelo contrário. O imaginário da colonização portuguesa  apresentava a terra brasilis como um paraíso, onde não havia pecado. Ou seja, tudo era permitido. Pelo menos até a chegada  da Inquisição. A lenda é que já nascemos como uma sociedade de bandidos, malfeitores, criaturas sem fé e sem lei. Lugar da aventura, não do trabalho, segundo Sérgio Buarque de Holanda. Uma sociedade do desfrute, não da acumulação ou do sacrifício. O negócio que aqui se fez foi à base da escravidão africana, não da ética puritana do trabalho. Aqui, sempre se pensou mais no fruto ou no lucro, do que no sacrifício e na renúncia para se conseguir os frutos. Há muitas imagens consagradas pela Antropologia cultural sobre o povo brasileiro: Macunaíma, Jeca Tatu, Gerson etc. O único herói positivo que se tentou vender ao País foi a imagem de Airton Senna, depois de sua morte, num momento crucial de consolidação do Plano Real. A imagem ocidentalizada de uma pujante “sociedade civil” regeneradora dos nossos costumes não sobreviveu à chamada “Nova República”, com os seus malandros oficiais.

O ciclo da política de centro-esquerda e suas políticas redistributivas – com a inversão de prioridades do gasto público – nos deu alguma esperança. Mas a herança maldita de um velho sistema político carcomido pelo fisiologismo, o troca-troca e a corrupção dissipou prematuramente a nossa ilusão. Voltou a cena o que Freud chamava de o “retorno do reprimido”. Aquilo que julgávamos morto ou amortecido  voltou com força e tende a se espalhar como uma perigosa metástase  sobre um corpo enfermo e sem cuidados.

Como é possível, que no meio de uma violência generalizada, um “presidente” da república citado 40 vezes nas investigações da Operação Lava-Jato tem o despudor de nomear um ministro do Supremo Tribunal Federal, que será o revisor do relatório apresentado sobre a mesma operação no STF? - Como é possível que um delegado de polícia, responsável pela matança generalizada  de pessoas em São Paulo, seja investido do cargo de Ministro da Justiça e nomeado Ministro do STF, onde irá investigar exatamente as denúncias contra o seu superior   hierárquico e nomeador? – Como foi que o ministro Fachin adivinhou que seria sorteado relator da Operação Lava-a-Jato,  se candidatando ao cargo e mudando de  turma, para concorrer a ele? – Já a nomeação,  ora sob judice, de Moreira Franco –a chamada “eminência parda” do governo – para o recém-criado ministério das parcerias obedece a uma operação cruzada cuja inteligibilidade está na apoio que o genro de Moreira Franco dará  a Temer, reeleito Presidente da Câmara dos Deputados (Rodrigo Maia) e em troca o sogro ganha foro privilegiado para se defender das acusações da Operação-Lava-a-Jato.  É dando que se recebe, segundo a oração de São Francisco....

E para finalizar, a nota tragicômica: quem tem o direito a prisão especial, na República dos ladrões?

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

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