sexta-feira, 26 de julho de 2024

Editorial: Uma aliança inusitada entre bolsonaristas e petistas em Olinda?



Os chamados partidos de esquerda no Brasil sofreram uma decomposição ideológica imensa nos últimos anos. Exceção apenas para o Partido da Causa Operária e talvez o PSTU, que ainda continua resistente ao processo de institucionalização política em alguns estados, mas já se apresenta com candidaturas disputando pleitos em diversas praças do país.  Um fenômeno eleitoral curioso é que esses partidos de extrema-esquerda estão ampliando seus coeficientes eleitorais nos últimos anos, o que se constitui em mais um incentivo para serem engolidos pela bacia semântica. Existe um deles que se apresenta como radical, mas, a rigor, seus críticos tem alguma razão quando apontam sua origem na esquerda caviar do Leblon. 

Aqui em Pernambuco, conforme comentamos no dia de ontem, existe uma espécie de esquerda pé na jaca, ou seja, um agrupamento de classe média vinculados a agremiações políticas de esquerda apenas para atenderem às suas conveniências de manterem suas boquinhas na máquina quando esses partidos estão no poder. Quando é a direita que ocupa esses espaços de poder, por razões de uma identificação social e de classe, eles também não perdem a boquinha. A clivagem aqui não é ideológica, mas orientada pela condição social que o indivíduo ocupa na pirâmide social, reproduzindo-se uma hierarquização histórica  e o controle do espaço público por nucleações familiares conhecidas e seus agregados, confirmando a tese do historiador Sérgio Buarque de Holanda, sobre a indistinção entre o público e o privado. Há até um grupo que se congrega em torno das pautas educativas, que reúne de macielistas a paulofreirianos, passando por aqueles que lutaram contra a ditadura militar no país.   

Esses atores, embora professem, por vezes, narrativas discursivas de uma preocupação social como bandeira, estão, na realidade, muito mais preocupados em atenderem suas demandas individuais. Esta aqui uma das causas da degradação de uma conhecida agremiação política pernambucana, onde apenas uma burocracia partidária dita as regras, consoante tais interesses, abdicando dos projetos coletivos, que são mantidos apenas nas falácias discursivas.  Neste sentido, não chega a ser uma surpresa o que está ocorrendo em Olinda, quando o candidato do PT, Vinícius Castello, celebra uma aliança com o empresário bolsonarista Celso Muniz para concorrer à Prefeitura da Marim dos Caetés.  A cereja do bolo é que o empresário foi indicado pelo PCdoB. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário