pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Michel Zaidan Silva: O julgamento do mito
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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Michel Zaidan Silva: O julgamento do mito





 
Nos idos dos anos 90 do século passado, quando ainda era coordenador da Pós-graduação de Ciência Política, o hoje vereador André Régis (PSDB) foi nosso aluno de Mestrado. Depois, tive o prazer de participar da banca examinadora de seu doutorado em Direito, na Universidade Federal de Pernambuco. Voltei a encontrá-lo quando de seu retorno dos EUA, nas andanças de entrevistas e debates políticos nas emissoras de TV aqui em Pernambuco. Nessa época, Régis era muito próximo ao deputado (menudo) Bruno Araujo (PSDB), que às vezes convidava para os nossos debates na Universidade Federal. Já era uma pessoa de centro-direita, sempre crítico da política e do pensamento de esquerda. Mas sempre me teve muita consideração. 

Foi exatamente durante este período, que ele escreveu o artigo, publicado no Jornal do Comércio, sobre a trajetória política de Miguel Arraes, vaticinando como seria conhecida pela posteridade a biografia do ex-governador. Foi também a época do escândalo dos precatórios que arrastou não só o nome do velho chefe político, mas também o do neto, apontado como principal responsável pela operação intermediada pelo ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta.
 
Do que mais me lembro era a atitude acrimoniosa de André em relação ao clã da família Arraes, contraposta à política da Frente por Pernambuco, liderada pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos. De um lado, o atraso. Do outro, a modernidade. De um lado, a oligarquia atrasada; do outro o perfil gerencial, competente para tirar o Estado do isolamento e da decadência econômica. Quando disse ao meu antigo aluno - retornado dos EUA, que o seu candidato moderno estava me processando por críticas à sua gestão, ele se horrorizou e disse: "isso não é possível", é uma demonstração de autoritarismo insuportável. Voltei a participar de outros debates com Régis e ele sempre manifestou suas críticas ao grupo político de Arraes, pelo menos até a última eleição, quando o PSDB aliou-se ao PSB e foi comer na mão da oligarquia tão criticada. Na época, me perguntava como iria se comportar o já vereador tucano, amigo do deputado Bruno Araujo, assim como Priscila Krause, Mendocinha e outros.
 
Qual não foi minha surpresa quando li no Blog do Jamildo que a proposta de moção de desagravo apresentada pela vereadora Marília Arraes (PSB) tinha sido questionada por André Régis, em nome do "contraditório", de "ouvir o outro lado"! Ora, se essa atitude não é uma mera atitude de proteger o senhor governador das críticas (que o vereador fazia antes ao grupo político de Arraes) é de uma incoerência moral e política a toda prova. 

Quem precisa de proteger a liberdade de expressão e de crítica aos políticos em Pernambuco, por não concordar com a sua calamitosa gestão, é a Justiça, os operadores do Direito, a imprensa (não calada), os partidos democráticos (que não comem na mão do governador), e os políticos que têm um pingo de vergonha, os que não vão mudar de opinião ou de princípios porque o seu partido se tornou aliado do Poder que tanto nos infelicita.Lamento muito que o parlamentar que tinha tudo para ser diferente dos políticos fisiológicos, clientelistas ou transformistas, como o senhor Raul Jungmann, tenha cedido à tentação de agradar, ajudar, contribuir para o silenciamento da crítica em nosso Estado.
 
Quer ele saber os motivos da atitude autoritária e intolerante do senhor Paulo Saraiva Câmara, basta ler os artigos publicados nesse mesmo blog sobre os malfeitos, a situação falimentar da administração pública (no IML, nas escola públicas, nas UPAS, na segurança pública, nos imensos buracos), as denúncias da Polícia Federal sobre a construção da malfadada Arena Pernambuco. Quem sabe, ele volta a ser o crítico dessa oligarquia política em nosso Estado.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

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