pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônicas do cotidiano: Michel Maffesoli no Museu do Homem do Nordeste
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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Crônicas do cotidiano: Michel Maffesoli no Museu do Homem do Nordeste



José Luiz Gomes da Silva


No dia 05 de novembro de 2013, o sociólogo francês Michel Maffesoli esteve no Museu do Homem do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco, proferindo uma palestra intitulada: "Pós-modernidade e o retorno das emoções coletivas". Maffesoli elegeu o Brasil como um grande laboratório de suas pesquisas. Há quem afirme que, sem o Brasil, o sociólogo não teria atingido o status intelectual que ostenta dentro e fora da academia, daí a importância desse objeto de estudos para a sua sólida produção acadêmica. Maffesoli se insere dentre da mais conceituada estirpe de brasilianistas franceses. Na sua opinião, a cultura da sociedade brasileira sempre o colocou como um país pós-moderno, que não experimentou a transição das categorias da modernidade. 


Instigado a pronunciar-se sobre os movimentos de rua que sacudiram o país a partir de junho, que ficariam conhecidos como as "Jornadas de Junho", afirmou que se tratava de um "Maio de 1968 pós-moderno". "Coxinhas" "Black Bloc", "Mídia Ninja" "Partido Pirata" e todas as tribos estiveram presentes em sua palestra, como sempre. Numa conferência como a do professor, vários links poderiam ser gerados, como, de fato, pelo pronunciamento da platéia, isso foi verificado. Houve um momento em que o professor, perguntado como se mantém informado sobre o Brasil, disse que mantinha seus "espiões" aqui, que sempre o abastece com informações atualizadas sobre o que está ocorrendo com o país. 

Supõe-se que esses "espiões" estejam infiltrados na academia, onde os fundamentos teóricos do sociólogos são replicados através de núcleos de estudos, fundados, por vezes, por ex-orientandos seus. Como diria os cronistas esportivos, o estádio veio abaixo. Há duas razões para o riso. Um deles, naturalmente, diz respeito à onda de espionagem reinante, orquestrada sobretudo pelos EUA, envolvendo, inclusive, autoridades brasileiras, o que vem gerando alguns constrangimentos diplomáticos. Outra razão é que no dia de ontem, uma longa matéria de um jornal do Sudeste aponta a existência de um agente do serviço de espionagem francês em Alcântara, onde ocorreu aquele acidente com a plataforma de lançamento de foguetes, que matou dezenas de cientistas brasileiros que trabalhavam no projeto. Aliás, nossos mais bem-preparados cientistas no assunto. 

A possibilidade de sabotagem nunca foi totalmente descartada. Maffesoli, certamente, não lê uma das nossas mais comentadas revistas nacionais, mas a polêmica em torno de duas de suas reportagens desta semana, certamente o interessariam no contexto de suas abordagens. Uma delas diz respeito ao "coxinha" que está ganhando rios de dinheiros e gastando em baladas para a rapaziada bem-nascida, ostentando carrões e champanhes caríssimos, acompanhados de algumas beldades. É luxo só. É lixo só. Se existia algum fundo do poço, a publicação chegou lá. O sociólogo, durante a palestra, informou que teve a curiosidade de investigar a etimologia da palavra "luxo". 

O senso-comum, de imediato, associaria o termo à luxúria, ao prazer. Não é bem assim. A origem da palavra está associada à luxação, contusão, portanto, a uma situação disfuncional. Embasado nesse raciocínio ele vai observar a ampliação do fosso que separa a elite do povo, consolidando uma dicotomia que vem produzindo uma série de problemas sociais. Embora a abordagem da revista semanal à qual fizemos alusão parece desejar anunciar às elites que elas precisam tomar cuidado com o cerco da periferia pobre e marginalizada - bem ao estilo de sua linha editorial - o fato é que as atitudes de nossas elites e os "amortecedores sociais" têm sido insuficientes para "viabilizar" esses contingentes sociais, dotando-os de uma educação de boa qualidade para os seus objetivos e padrões, assistência médica, acesso à inclusão produtiva etc. Se medidas não forem adotadas para minimizar esse "fosso" - um problema histórico no país - corremos um sério risco do agravamento das convulsões sociais. 

As mobilizações de rua já expuseram isso, mas nada, absolutamente nada, é conduzido ou pensado avaliando concretamente essa situação, na observação do sociólogo, "disfuncional". São projetos de mobilidades pensados para quem tem carro, intervenções habitacionais do tipo "higienistas" - como lembrou um colega de trabalho - isolando os empobrecidos em conjuntos habitacionais longe dos grandes centros urbanos, corroendo suas possibilidades de "afetos sociais" e estratégias de sobrevivência etc. Eu não vou me alongar muito porque, nesses momentos, costumo escrever com o coração. O Brasil, no entanto, precisa de espiões com a agudeza de análise e a sensibilidade social de Maffesoli. 

Na década de 70/80 brasilianistas americanos que vinham estudar o Brasil foram "taxados" de espiões da CIA. Um dos mais reputados deles, Thomas Skidmore, quando questionado sobre o assunto, costumava afirmar que não havia sido a CIA que o matriculou na disciplina. Havia decidido estudar o Brasil, porque as outras disciplinas oferecidas não dispunham de vagas.

P.S.: Escrita logo após a exposição do sociólogo, peço perdão por alguns dados que podem não estar atualizados, assim como algumas referências hoje "caducas". 



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