pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Marcondes Secundino: Eleições e Alianças políticas.
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quinta-feira, 28 de julho de 2016

Marcondes Secundino: Eleições e Alianças políticas.





Marcondes de Araujo Secundino
Sociólogo, consultor e doutorando em Antropologia (UFPE)
E-mail: secundino.ma@gmail.com

Sem reforma política, os arranjos e as alianças continuam expressando mais pragmatismo e menos compromissos dos atores políticos com agendas públicas e conteúdo programático. Sinalizam para compromissos em torno de estrutura de campanha, distribuição de cargos e, como diria a opinião pública, acordos financeiros que divergem de práticas republicanas. Mas a legislação eleitoral atual privilegia esse pragmatismo e, ressalte-se, é de conhecimento de todos.
Nada de novo sobre a terra! O sociólogo alemão Max Weber desde o início do século passado analisou o Estado moderno e sua lógica de funcionamento. No ensaio “Política como Vocação” apresentou uma arguta crítica sobre as tramas que envolvem as ações dos atores políticos voltadas para a formação e a prática partidária, a relação desses representantes com as empresas privadas, bem como a relação dos agentes privados com os representantes dos partidos e do poder público. Um século depois parece não apresentar avanços!
Para exemplificar essa lógica pragmática de alianças políticas é só acompanhar o comportamento político dos atores envolvidos no processo eleitoral em qualquer município brasileiro. Destacaremos, neste momento, o município de Águas Belas que se localiza numa zona de transição entre o agreste e o sertão, detém um colégio eleitoral de 30.896 eleitores e é administrado pelo PT por duas gestões consecutivas.
O Prefeito Genivaldo Menezes (PT) perdeu, entre o ano passado e este ano, seis vereadores da sua base de apoio na Câmara. Alegando problemas na condução política do projeto em curso e para escapar da polarização local com a família Martins que milita no PSDB, esses vereadores aderiram a uma nova candidatura para o pleito municipal de 2016, a de Aureliano Pinto pelo PDT. Mas, na reta final para a realização das convenções com vistas a selar formalmente as alianças e definir as candidaturas, dois vereadores que haviam rompido com o prefeito retornaram ao grupo político para apoiar a candidatura do seu sucessor, o ex-superintendente do Incra-PE e ex-assessor da Fetape, Luiz Aroldo. São eles: Melchizedeck de Gueiros Malta Neto (Melk), atualmente no PRB; e Alan Roberto dos Santos Silva (Buda) do PSD.
Relevante ressaltar que na eleição de 2008 Melk foi eleito Vereador pelo DEM e pela coligação capitaneada pela família Martins (PSDB) e derrotada pelo atual prefeito (PT). Lembrar também que o mesmo já foi filiado a vários partidos. No início da legislatura elegeu-se Presidente da Câmara Municipal com apoio do prefeito que o apoiou novamente para o segundo mandato (2008-2010/2010-2012). Com a reeleição de Genivaldo Menezes para o executivo em 2012, Melk foi reeleito para um novo mandato de vereador e também de Presidente do Legislativo (2012-2014). Entretanto, mesmo recebendo apoio político incondicional do prefeito do PT durante este período, nas eleições de 2010 e 2014 apoiou para Deputado Estadual Claudiano Martins (PSDB), adversário político do prefeito. Em relação ao exercício de três mandatos consecutivos de Presidente do Legislativo Municipal é um fato inusitado, assemelha-se ao caso do Deputado Estadual Guilherme Uchoa à frente da Assembleia Legislativa de Pernambuco que, durante o Governo Eduardo Campos, foi até necessário mudar a Constituição Estadual para permitir tal feito. No pouco tempo em que esteve apoiando a candidatura de Aureliano Pinto (PDT), Melk não perdeu a oportunidade de anunciar que já tem compromisso com o Deputado Claudiano Martins para a eleição de 2018. E neste instante acaba de declinar do apoio à candidatura do PDT e se reintegra ao grupo político do prefeito. Trata-se de um fenômeno político municipal e expressão máxima do pragmatismo eleitoral. Transitou por todos os grupos políticos locais!
Comportamento parecido tem sido o do Vereador Buda eleito em 2012 pelo PSD e pela coligação do atual prefeito (PT). Rompeu com o mesmo para apoiar a candidatura de Aureliano Pinto (PDT) e anunciou compromisso com o Deputado Estadual Claudiano Martins (PSDB) para 2018. Agora, acaba de anunciar o apoio ao candidato do prefeito a sucessão e o seu desligamento do grupo liderado por Aureliano Pinto (PDT).

Tal habilidade e capacidade política desses atores políticos demonstram, de um lado, a falência do sistema político carcomido que se alimenta de regras lícitas, ilícitas e aparentemente tácitas e, por outro, a permissividade absoluta da atual legislação para acordos paradoxalmente explícitos, porém velados que definem os arranjos e alianças políticas no Brasil contemporâneo sem correspondência mínima com alinhamento ideológico, agendas públicas e programáticas. É jogo jogado na atual república com consciência e extrema tolerância dos representantes das empresas privadas e públicas, dos partidos políticos, dos eleitores cidadãos, do Ministério Público e da Justiça! Pergunta-se, qual a fonte que irriga esses canais? Qual o valor de um mandato de vereador, prefeito, deputado, senador, governador e de Presidente da República? Tem pessoas que conseguem fazer essa contabilidade!

4 comentários:

  1. Texto muito pertinente do professor Marcondes. Certamente que os casos narrados não devem ser singulares na política brasileira. Revelam que o sistema partidário atual é apenas para"inglês ver", para usar uma expressão empregada deste 1835, quando da aprovação da lei que determinava o fim do tráfico negreiro. Eis a nossa República desnuda.

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  2. Texto muito pertinente do professor Marcondes. Certamente que os casos narrados não devem ser singulares na política brasileira. Revelam que o sistema partidário atual é apenas para"inglês ver", para usar uma expressão empregada deste 1835, quando da aprovação da lei que determinava o fim do tráfico negreiro. Eis a nossa República desnuda.

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