pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: Marielle Franco: um mês depois do assassinato.
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segunda-feira, 16 de abril de 2018

Editorial: Marielle Franco: um mês depois do assassinato.

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Na juventude, confesso, gostava de ler bastante sobre temas que envolviam a teoria da conspiração. Nos meus arquivos pessoais, ainda guardo alguns documentos sobre o assunto, notadamente sobre a crise dos mísseis soviéticos instalados em Cuba, assim como documentos sobre a Operação Condor, cujas vivandeiras já andam se sentido à vontade em ameaçar aqueles atores que se colocam do lado da justiça e do Estado Democrático de Direito. Os tempos passaram e nos tornamos mas reticentes a tal teoria. Hoje, no entanto, à medida que o golpe institucional de 2016 avança, com seus tentáculos asfixiando o Estado de Direito, começam a surgir no horizonte alguns cenários  curiosos, como chacinas envolvendo jovens sem nenhuma vinculação a atos criminosos ou delituosos; prisões em massa; "suicídios" suspeitos, como o que ocorreu recentemente com um médico do Estado do Maranhão, acusado de envolvimento com práticas de caráter pouco republicanas na administração pública daquele Estado. Se continuarmos nesse diapasão, não duvido que logo comecem a surgir os "desaparecidos", aqueles cidadãos que saíam de suas casas para as suas atividades cotidianas e não mais voltavam para o aconchego dos seus lares. O jornalista Vladimir Herzog, por exemplo, foi "convidado" a deixar seu gabinete de trabalho para prestar um depoimento. Teria dito aos seus familiares que logo voltaria. Nunca mais voltou. Suicidaram-no.  
 
O caso envolvendo o assassinato da vereadora Marielle Franco se encaixa numa dessas situações pouco usuais, com alguns componentes "políticos" que o remete à possibilidade de envolvimento de agentes do Estado, que teriam a obrigação legal de proteger cidadãos e cidadãs. Agentes do Estado ligado ao aparato de Segurança Pública, com ramificações que podem incluir vereadores do braço político das milícias que atual no Estado, que se dedicam a extorquir comerciantes e trabalhadores das favelas cariocas. Hoje, conforme admite a própria Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro - de acordo com a imprensa - essas são as duas linhas de investigações em curso. Dois executores profissionais dessas milícias - recentemente assassinados como "queima de arquivo" - passaram a integrar a lista de possíveis suspeitos de terem participado do assassinato da vereadora Marielle Franco. Se os exames das digitais encontrados nas cápsulas coincidiram com as digitais dos mortos, teremos dois defuntos para se pronunciarem, por exemplo, sobre os mandantes desse crime de natureza eminentemente política. A princípio, para alguns setores, uma boa "solução". Se daria uma satisfação à opinião pública e o caso seria encerrado. Até onde se sabe, mortos não falam.

Um amigo museólogo nos informou que alguns pertences da ex-vereadora Marielle Franco serão expostos no Museu da Maré, localizado na favela da Maré, onde ela nasceu e construiu sua trajetória política. Nada mais justo. Assim como são justas todas as homenagens que a vereadora carioca continua recebendo por todo o país, como uma forma de reconhecimento à sua luta, às suas bandeiras. Desaprovados aqui estão seus detratadores, que deverão enfrentar as barras da justiça, por suas ilações, calúnias e difamações. Numa leitura mais abrangente sobre a justiça no país, certamente ficaremos decepcionados com o número de homicídios devidamente esclarecidos, o que significa, em última análise, um alto índice de impunidade. Aqui em Pernambuco, por exemplo, apenas para ficarmos num caso, o estupro e assassinato de duas adolescentes em Serrambi, litoral sul do Estado, que continua num grande impasse, sem solução. Isso apenas para mencionar os casos que ganham repercussão na imprensa. Todo nosso apoio às mobilizações no sentido de exigir o esclarecimento e as circunstâncias da morte da vereadora Marielle Franco. Mais ainda se esses grupos se mantiveram mobilizados no sentido de que mais assassinatos sejam esclarecidos no país. Esta, aliás, era uma das suas bandeiras. Uma luta que pode estar no raiz das motivações de seu assassinato. 

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