pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônica: Doenças do mundo
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segunda-feira, 4 de março de 2019

Crônica: Doenças do mundo

 
 
 
 
 
José Luiz Gomes
 
 
 
Fazia algum tempo que não ia ao Mercado de São José, localizada no bairro do mesmo nome, no coração do Recife. Neste sábado, no entanto, depois de uma nova releitura do Menino de Engenho, do escritor paraibano José Lins do Rego, não contive a ansiedade de conhecer de perto algumas plantas medicinais abundantemente citadas no romance. Quem sabe, talvez apenas um pretexto para saborear aqueles pratos deliciosos da culinária pernambucana, que ali são servidos aos visitantes, como o sarapatel, a buchada, a galinha caipira à cabidela, entre outras iguarias.
 
No texto de Zé Lins ha várias plantas indicadas para o tratamento de doenças do mundo ou doenças venéreas. Neto do coronel Zé Paulino - cuja família possuía 19 engenhos na época do apogeu da economia da cana-de-açúcar na região, Carlinhos, ainda assim, não deve ter alcançado os tratamentos medicinais mais atualizados contra a doença. Era submetido aos tratamentos caseiros, derivados da experiência popular. O moleque Ricardo, que contraiu a moléstia na mesma época, ficou entrevado numa rede, tomando garrafadas de barbatimão com cachaça. A dele foi pior, uma gonorréia de cabresto - como se dizia - do tipo mais grave.
 
Carlinhos contraiu a doença aos doze anos de idade, depois de passar as manhãs, tardes e noites socado na casa de Zefa Cajá, apenas com ligeiros intervalos para as refeições. Cabrito dos bons, foi iniciado logo cedo nas coisas mundanas. Como todos sabem, o Mercado de São José era o reduto do folclorista e estudioso da cultura popular, Liedo Maranhão, que ganhou uma estátua em sua homenagem, numa pracinha local. Liedo escreveu vários livros sobre a cultura popular, alguns deles hoje raros, tratando dos mais diversos assuntos, como a linguagem dos camelôs, a cura pelas ervas medicinais, a literatura de cordel. Em sua passagem pelo Recife, o cineasta Orson Welles foi ciceroneado pelo folclorista pernambucano, que mostrou ao diretor de Cidadão Kane, os nossos "inferninhos".

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