pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Marília Arraes deixa o PSB
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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Marília Arraes deixa o PSB


Publicamos, abaixo, a carta onde a vereadora do Recife, Marília Arraes, pede seu desligamento do PSB. Antes, havíamos publicado um post onde se informa que ela já estaria de malas prontas para desembarcar no Partido dos Trabalhadores, fato que já teria sido até antecipado por integrantes da legenda, como é o caso do Superintendente da SUDENE, João Paulo. Vamos aguardar.  

Ilmo. Sr.
SILENO GUEDES
Presidente Estadual do PSB

Prezado Senhor,

Como é do conhecimento de todos, possuo uma identidade histórica com o PSB e sempre defendi de forma aguerrida e corajosa os objetivos e os princípios do partido. Identifico-me integralmente com a luta socialista e faço dela o meu objetivo diário na política e na vida pessoal. Acredito na liberdade, na democracia, na participação popular, na socialização dos meios de produção estratégicos e fundamentais ao desenvolvimento do país, na criação de novas formas e sistemas de produção e na perspectiva de um desenvolvimento sustentável. Não admito qualquer forma de preconceito, de opressão, de marginalização de pessoas e luto para combater os antagonismos de classe e a exploração.



Firme nessa convicção, sempre contribui com o PSB no diálogo com a sociedade e nas disputas eleitorais. Desde muito cedo, acompanhei Dr. Miguel Arraes em sua atividade política, participando e aprendendo com o seu modo sério, democrático e socialista de se posicionar. Em 2008 e em 2012, fui eleita vereadora do Recife, em campanhas vitoriosas que contribuíram para o crescimento do partido e para a sua consolidação nos cenários municipal, estadual e nacional.



Em meio a este contexto de crescimento meteórico, foi-se criando uma espécie de atmosfera, por parte de um núcleo duro da legenda, para o controle à mão-de-ferro, tanto do próprio PSB quanto da política de Pernambuco em toda a sua estrutura, em busca da ocupação completa de todas as instâncias de poder existentes, nas esferas estadual e municipal: Executivo e Legislativos Municipais, Judiciário e Tribunais de Contas, utilizando-se dessas últimas instituições, inclusive, como "polícia política". A cúpula dos que mandam no partido passou a querer comandar desde simples decisões internas partidárias, que coubessem a escolhas democráticas e colegiadas, até o desenrolar de toda a cena e atores políticos do Estado. Desta maneira, os militantes, foram alijados de qualquer participação na construção democrática, já que a nós cabia não só homologar todas as decisões que vinham "de cima", mas também aplaudi-las de pé. Atitudes bajulatórias, principalmente para com a família Campos e os que gravitam em torno dela, tornaram-se praxe entre os integrantes do PSB.



Posso exemplificar e provar o que digo. Durante o ano de 2014, houve a tentativa descabida de se impor uma verdadeira intervenção na juventude do partido. Quando todos esperavam que houvesse uma disputa e diálogo saudáveis dentro do segmento - que, diga-se de passagem, é a base da formação de quadros partidários - de repente, somos surpreendidos com a notícia de que a JSB/PE seria comandada por João Campos, filho de Eduardo Campos, que dias antes, em visita à sede do PSB, havia singelamente conversado com os jovens das chapas postulantes ao congresso estadual do partido, dizendo que queria conhecer sobre o funcionamento da Juventude Socialista. Sem nenhuma militância, construção deste caminho, nem justificativa política. Aliás, para muitos, era algo plenamente justificável: "A ordem veio de cima".



Partindo para a política macro, acompanhamos com muito pesar a formação das alianças celebradas pelo PSB para eleições de 2014. Como uma verdadeira reedição da retrógrada e extinta "União por Pernambuco", numa atitude cheia de pragmatismo, contradição e com zero preocupação ideológica, o PSB-PE aliou-se a DEM, PSDB, PMDB e PPS, adversários históricos, não somente do ponto de vista eleitoral, mas principalmente em relação aos ideais e às lutas encampadas pelo PSB. Partidos reacionários, muitos que sempre representaram a violência, a ditadura e a opressão em nosso país. Tudo isso reflete uma mudança substancial do programa e dos objetivos basilares do PSB, partido nascido na luta pela democracia e pela liberdade.



Não posso esquecer de citar o episódio revoltante do inimaginável – até então - apoio dado ao PSDB de Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais, indo de encontro a tudo o que o PSB pregou, batendo de frente com aliados históricos e beneficiando toda uma curriola de direita que tudo fez para erradicar conquistas obtidas a muito custo. Mesmo antes da morte do ex-governador Eduardo Campos e da escolha da ex-ministra Marina Silva como candidata (e seu discurso disfarçadamente liberal), ficou mais evidente ainda a guinada à direita que o antigo Partido Socialista Brasileiro deu, contrariando seus princípios, seu estatuto e, principalmente, sua história.



Também não posso me furtar de salientar as repetidas ofensas e retaliações de que fui vítima desde 2014. De darem meu nome a uma cadela no comitê do então candidato a governador Paulo Câmara às criminosas pichações com ofensas à minha honra pelos muros do Recife, passando por tentativas ignóbeis de intimidação e cerceamento de minha voz e de meu mandato, por meio de manobras regimentais que me alijaram da titularidade de qualquer comissão na Casa de José Mariano, chegando até ao absurdo de cabos eleitorais travestidos de candidatos a conselheiro tutelar, incentivados pela cúpula do partido, me xingarem dentro da própria Câmara de Vereadores, num desrespeito flagrante às instituições e à democracia. Sempre fui uma militante disciplinada e, se minha discordância se tornou pública, foi porque as instâncias internas do partido jamais a levaram em consideração. Dia após dia, foi-se tornando insustentável a minha permanência neste simulacro de Partido Socialista Brasileiro.



Voltando às eleições de 2012 e 2014, a legitimidade política da escolha dos candidatos na última eleição foi democraticamente questionável. Não somente o candidato e atual governador, mas a maioria dos candidatos proporcionais ditos "prioritários" dentro do partido, não consolidaram sua candidatura por meio de militância política e reconhecimento de atuação. Como é de conhecimento geral, a indicação dos candidatos ocorreu de maneira impositiva, através da determinação de dirigentes que trataram os órgãos deliberativos do partido como simples homologadores de decisões já tomadas. O que avalio ser muito grave foi a naturalidade com que a imprensa e grande parte da sociedade encarou o desenrolar da unção dos escolhidos. Mais ainda: aqueles que internamente discordam não são ouvidos e, pior, são taxados de subversivos e sofrem uma perseguição digna de uma ditadura.



É essencial, entretanto, que eu faça um mea culpa - ou melhor, meu e de quadros históricos do PSB, mesmo os que não conseguem se pronunciar e romper com o atual sistema - acompanhado de uma profunda reflexão. Fomos excessivamente tolerantes com diversas, pequenas e isoladas, atitudes do comando partidário, em especial a partir do ano de 2011. Tolerância e complacência estas que, certamente, desaguaram na situação atual de extrema incoerência em que o Partido Socialista Brasileiro se encontra. De alguns anos pra cá, o pragmatismo descaradamente superou a ideologia e muitos de nós (entre os quais me incluo até o ano de 2014) subestimamos tais fatos ou calamos por disciplina partidária e, mais ainda, tínhamos esperança de que tratavam-se apenas de meios para se chegar aos objetivos principais, quais sejam, fazer que a máquina pública efetivamente funcionasse para o combate à desigualdade social.


Ao contrário do esperado, a condução política dos que hoje mandam no partido foi equivocada, ou, porque não dizer, de má-fé. Perdeu-se o controle das concessões ideológicas e prioridades pragmáticas. Quando se trata das diretrizes de gestão, aqui em Pernambuco, onde o Partido Socialista Brasileiro comanda o Estado e a capital, o que temos são governos cada vez mais à direita. Os governos do PSB - principalmente a Prefeitura do Recife, já que do Governo do Estado pouco se escuta falar - têm um claro desprezo pela população mais carente, típico das forças mais retrógradas e reacionárias que conhecemos. Para a classe média, disparam, sem o mínimo pudor, falácias que desrespeitam a inteligência dos cidadãos.

Estou certa de que muitos socialistas concordam plenamente tudo o que expus e, por receio da perseguição que podem sofrer por parte dos que hoje dominam Pernambuco, calam-se, aplaudindo, todavia, por debaixo da mesa.

De tal modo, venho comunicar, através desta, a minha desfiliação do Partido Socialista Brasileiro.

Atenciosamente,

MARILIA ARRAES
Vereadora do Recife

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