pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônica: Senhor Kafka
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segunda-feira, 11 de junho de 2018

Crônica: Senhor Kafka


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José Luiz Gomes


Se não disse, os leitores mais perspicazes devem ter desconfiado. Franz Kafka é o meu escritor de cabeceira. A crônica de hoje seria sobre o filósofo francês Michel Foucault, sobretudo em razão de uma pesquisa abordando estudos sobre sua produção teórica à luz do direito. Alguns dos seus trabalhos - pouco conhecidos do público brasileiro porque sequer publicados em português - lança olhares curiosos e densos sobre o tema, em algumas situações, até mais relevantes do que os clássicos, como Vigiar e Punir, por exemplo. Há muitas referências sobre o assunto, mas deixo para comentá-las numa outra oportunidade, se os poucos leitores do campo do direito que nos leem permitirem. De nossa parte, fica a promessa, a palavra empenhada. Por outro lado, embora O Processo seja um livro bastante comentado quando se está em discussão decisões jurídicas arbitrárias, inconsequentes e inconsistentes, desconheço bons trabalhos articulando o romance de Kafka há estudos mais sistemáticos. Já antecipo um pedido de perdão aos leitores se estiver fazendo alguma afirmação equivocada. As motivações maiores para os estudos do escritor tcheco parecem se concentrar predominantemente nas academias de letras, ao passo em que Foucault, por razões óbvias, se afina mais com o campo jurídico.  
 
Leio Kafka desde a adolescência. Quando ainda existia a Livro 7, ali na 7 de Setembro, hoje uma rua dos crentes e de camelôs, recordo que havia uma estante exclusivamente dedicada às obras do escritor. Ficava estrategicamente localizada, bem próxima à batida de maracujá preparada pelo Tarcísio, que se transformava numa roda literária aos sábados, pela manhã. Sem querer fui me lembrar, Tavito, do Gilvan Lemos, do Acioly... quantas saudades! Gilvan Lemos, que morava sozinho num apartamento ali nas imediações, era o mais assíduo. Nem tanto pela batida de maracujá - que, por sinal, era uma delícia - mas porque era o momento em que o autor de Os Pardais Estão Voltando agendava os encontros com os estudantes universitários que desejavam entrevistá-lo. Incontáveis vezes tivemos que ouvir como ele se tornou uma celebridade na sua querida São Bento do Una, ao vencer um concurso literário organizado por uma revista mineira.
 
Em alguma medida, não se constitui nenhum exagero afirmar que o senhor K enfrentou muitas agruras na vida. Elas estão presentes em obras como a Carta ao Pai, assim como em outros textos do escritor. Ele começa o seu diário falando de uma vida miserável. Os críticos literários poderiam dizer que se trata de um "bom começo", mas vejo outras possibilidades. Ao longo do texto ele se refere, por exemplo, sobre as suas noites solitárias numa estação de trem, tendo como única companhia um rato que se esguincha - ou esgueira-se? - por uma minúscula fenda, tentando fazer-lhes companhia. Sua descrição sobre as manobras do roedor são impagáveis. Kafka tentou atear fogo aos seus escritos, salvos por um providencial editor. Sua relação com o sistema formal de ensino também não era das melhores. Estudou numa escola que, no passado havia sido uma unidade prisional, Foucault.  

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