pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Crônica: A Sorbonne da Rua da Aurora
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sexta-feira, 6 de julho de 2018

Crônica: A Sorbonne da Rua da Aurora

 
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José Luiz Gomes

Por razões óbvias, em regimes autoritários, chefes de polícia ou de órgãos de informação do Estado exercem um poder estratégico. Isso sempre foi assim, seja em governos assumidamente autoritário ou mesmo entre aqueles que flertam com o autoritarismo, mas que se envergonham de mostrar sua verdadeira face. Mas, nesses tempos bicudos, leitores, melhor não descer aos porões (ops!) às minúcias. Vamos fazer um recuo no tempo e nos remetermos à quadra politica autoritária do Estado Novo, ali pelas décadas de 30/40. Na realidade a ideia desta crônica surgiu ontem, ao escrevermos sobre a passagem do sabiá Rubem Braga pelo Recife, onde atuou no Diário de Pernambuco -  como responsável pela editoria de polícia -  e na Hora do Povo, como fundador e redator-chefe. Este último, um jornal ligado ao PCB. O jornal, como informado na crônica de ontem, vive aos cuidados das traças no Arquivo Público Estadual. 
Durante o período nebuloso do Estado Novo aqui no Estado, o interventor era Agamenon Magalhães, um ilustre representante das oligarquias pecuarista e algodoeira. Um rebento de Serra Talhada, assim como Virgulino Ferreira da Silva, o lampião. O que pouca gente sabe, exceção, naturalmente, para a pesquisadora Dulci Pandolfi, é que o China Gordo, como ficou conhecido, cumpriu todos os ritos acadêmicos, da graduação ao doutorado. Foi professor catedrático do Ginásio Pernambucano. Como currículo é discurso, Foucault, Agamenon ficaria mais conhecido, na realidade, em razão de sua atuação política. Getúlio Vargas se referia a ele carinhosamente como "O meu carrasco no Estado".
 
Que o diga os comunistas, os evangélicos, os praticantes dos cultos de origem afro, os moradores das palafitas dos manguezais do Recife, personalidades como Gilberto Freyre, Rubem Braga - em sua curta passagem pelo Recife - Aníbal Fernandes. Agamenon era, por assim dizer, um déspota esclarecido. Aníbal Fernandes possuía uma ampla formação, mas gostava mesmo era do jornalismo. Jornalista que exercia sua atividade profissional com competência, altivez e independência, o que, por se só, já se constitui um gravíssimo problema aqui na província, desde sempre. Até recentemente mais um jornalista foi para a degola em razão de matéria publicada, onde apontava casos de nepotismo cruzado entre órgãos da administração pública estadual. Aqui se pratica uma espécie de jornalismo da subserviência.
 
 
De sua trincheira de resistência da Pracinha do Diário, Aníbal Fernandes combateu as atrocidades praticadas pelo Estado Novo. Isso, naturalmente, não ficou barato. Foi espancado quando chagava em sua residência, em Boa Viagem, e presenciou um atentado naquela mesma pracinha, onde morreu o estudante Demócrito de Souza. Há rumores de que o alvo, na realidade, seria o sociólogo Gilberto Freyre, outro ferrenho opositor do regime. Através daquele vespertino, Aníbal Fernandes culpou diretamente o chefe de polícia à época, Etelvino Lins, pelo atentado. O jornal foi fechado e Aníbal Fernandes preso. 

O Departamento Estadual de Ordem Política e Social funcionava ali na rua da Aurora. Aníbal se referia ao DOPS como a Sorbonne da Rua da Aurora. Pesquisando sobre esses personagens, acabamos encontrando alguns fatos interessantes, que acabam alimentando novas crônicas. Uma delas, prometo, será sobre alguns locais curiosos do Recife, como o Beco da Fome, Beco do Veado, Beco da Facada. Acaso os leitores conhecem? Além da Sorbonne da Rua da Aurora, já encontramos, por exemplo, uma referência a um presídio, desta mesma fase, denominado de Brasil Novo. Outra referência é uma citação do biógrafo do Sabiá da crônica, Rubem Braga,  sobre um tal Mercado do Bacurau, no Recife, que ele possivelmente frequentava, para comer sarapatel com cachaça.




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