pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Michel Zaidan Filho: Apresentação do livro do prof. Evson Malaquias
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sábado, 7 de julho de 2018

Michel Zaidan Filho: Apresentação do livro do prof. Evson Malaquias




Recebi o honroso convite do professor Dr. Evson Malaquias, do Centro de Educação, da UFPE,para prefaciar/apresentar o seu mais novo livro: "Sentidos, investimentos e afetos de O Globo acerca do assassinato de Vladimir Herzog em outubro de 1975", resultante de um projeto de pesquisa que buscar estudar o imaginario dos inimigos e das manifestações de junho de 2013. O trabalho é fruto de um esforço coletivo de uma equipe de pesquisadores composta por professores e alunos. É digno de nota e  louvor essa arqueologia histórica da memória de  eventos tão trágicos na  história contemporanea,  sobretudo quando ela teima em se repetir e os atores se metamorfoseam a   todo  instante para escapar do crivo  da  posteridade e do juizo dos historiadores. O tema, oportuno e de grande relevância, encontrou em Evson e sua equipe um  estudioso preparado na interdisciplinaridade acadêmica.

O professor Malaquias agrega uma formação acadêmica multidisciplinar que conta com a História, a Ciência Política, a Sociologia Clínica de Henriquez e, de certa forma, Castoriadis, além dos clássicos da Antropologia Brasileira, e além disso, se muniu de um instrumento metodológico das ciências da comunicação.  O resultado não poderia deixar  de ser estimulante: a análise    criteriosa   do  discurso de três dos principais jornais brasileiros (O GLOBO, O ESTADÃO e a FOLHA de SÃO PAULO)  sobre a ditadura militar e o assassinato do jornalista judeu-yoguslavio Vladimir Herzog, então ligado ao Partido Comunista Brasileiro.

O estudo de Evson é tanto mais interessante porque ele conjuga- com felicidade - o melhor da Antropologia Histórica do Brasil (Roberto  da Matta, Sérgio Buarque de Holanda, Marilena Chaui, José Murilo de Carvalho) com o instrumental analítico das  ciências da comunicação,na análise dos discursos jornalísticos sobre o regime militar e seus perseguidos, sobretudo entre os jornalistas. Daí sai a tese de que a posição da mídia impressa e televisiva é guiada por uma  "mentalidade"  (para usar  uma expressão dos franceses)messianica e naturalista, com uma    pitaca do amoralismo familiar, típico do regime da Casa Grande (a   familia   patriarcal). Neste sentido, diz    ele, as idéias-guias da "mentalidade" do brasileiro são as palavras-chaves: Deus, Natureza e Família. A desqualificação do  discurso jornalistico dos desafetos e desinvestidos dos grandes jornais não têm família (brasileira), não são cristãos e nem fazem parte desta "maravilhosa" natureza pátria.

Torna-se assim fácil apagá-los e demoniza-los como ateus, comunistas, sem família e o ufanismo típico de um certo nacionalismo ingênuo que fetichiza  as belezas naturais  do país. O resultado é altamente esclarecedor: os jornalões da república brasileira não só coonestaram com o golpe militar-civil de 1964, como absorveram ou justificaram as violações dos  direitos humanos   cometidos pelos   agentes do Estado militar. Com uma variação que vai de uma certa reserva liberal do Estado de São Paulo ao total adesismo da Rede Globo, beneficiária do regime militar, a posição da   mídia impressa foi de cúmplice a omissão diante dos graves crimes perpetrados pelo regime. Tese exemplificada pela cobertura dada ao assassinato  de Vladimir Herzog, em nas dependências do DOI/CODI em São Paulo. O jornal dos Marinho silenciou- acumplicidamente - em relação  as  inúmeras  notas produzidas pelos sindicatos  e  entidades  corporativas. Outros   preferiram   dar  atenção ao turismo, as  belezas  naturais e as questões familiares comezinhas. Deixando  no silêncio  as  questões  politicas e de direitos  humanos.

 
Essa pesquisa é  tão mais oportuna porque  a Rede GLOBO  foi  diretamente interpelado pelos movimentos de rua de 2013. E resolveu fazer UMA "MEA CULPA" por ter apoiado a ditadura militar. Logo ela que, reiteradamente, criminaliza os movimentos sociais,   sobretudo quando algum profissional da imprensa é atingido por alguma bala   ou projetil no  meio da multidão. A pesquisa de Evson Malaquias e sua brilhante equipe não se encerrou. Ela continua. Brevemente teremos  novos resultados atinentes aos movimentos de 2013  e sua cobertura criminalizante feita pelos meios de comunicação. Parabéns a toda  equipe e, especialmente, ao professor Evson Malaquias.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE
 


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