Durante um bom tempo, a coerência sempre foi um traço marcante do Partido dos Trabalhadores. Se fizermos uma análise de discurso, ela vai estar sendo empregada em todos os documentos oficiais do partido e, certamente, no conjunto de estudos acadâmicos realizados sobre a legenda, inclusive o nosso. Uma palavrinha emblemática, que cansamos de utilizar por ocasião de nossas participações nos famosos seminários promovidos pelo CFCH/UFPE. Ela, entre outras, era uma palavrinha utilizada para distinguir o PT no escopo do nosso sistema partidário. Certamente ela não vinha isoladamente, mas tinha um peso efetivo. Antes do processo crescente de oligarquização, as decisões no PT eram tomadas a partir de uma série de váriáveis, que envolviam suas diversas tendências, seus filiados, seus núcleos de inserção nos movimentos sindicais e sociais etc. Dava um trabalho danado, mas, no final, todos assumiam os riscos e consequências inerentes dessas decisões, depois de tantos debates, quase sempre marcadas por algum padrão de coerência programática da agremiação. As PED's ainda existem, mas não com a mesma organicidade de antes. No atual momento vivido pela legenda, as coisas já não se dão dessa forma, remetendo-se as decisões a um núcleo duro, fechado, composto por dirigentes desatrelados da base do partido, dando razão ao teórico Robert Michels, autor da inexorável Lei de Ferro das Oligarquias, onde afirma ser essa uma tendência inevitável às agremiações sindicais e partidárias. Outro dia, li uma tese de doutorado, defendida na Universidade de São Carlos, abordando justamente o desdobramento dessa questão em relação ao Partido dos Trabalhadores. Aqui em Pernambuco, o PT tomou a decisão de continuar no Governo de Eduardo Campos. Entre as suas grandes lideranças, salvo melhor juízo, apenas o Deputado Federal João Paulo manifestou-se a favor da saída. Quais foram as variáveis que estiveram em jogo? As eleições nacionais, onde ainda resiste a possibilidade de uma composição com Eduardo Campos, ainda que no segundo turno? A proximidade das consultas internas, que, certamernte, poderia levar alguns membros a filiarem-se ao PSB, cindindo ainda mais a legenda? Não sei. É muito complicado ficar especulando sobre o assunto, mas, além da coerência, o PT parece ter abdicado de constituir-se, no Estado, como uma alternativa política e se conformado com a condição de um mero puxadinho do Palácio do Campo das Princesas. Uma pena para um partido com a história política do PT no Estado.
24 de setembro de 2013 | 16:47
Quando a gente pensa o Brasil, não pode pensar nele como um país “normal”.
Porque não somos, em nenhum aspecto. Desde o tamanho, a riqueza natural, a cultura e tudo o que faz único, até a história escravagista, elitista e burra de nossas elites, que também é única no mundo, agora que os boers holandeses já se foram da África do Sul e da face da Terra.
Pensar o progresso do povo brasileiro, portanto, não pode se pautar, apenas, nos sentimentos de justiça e distributivismo da riqueza que essa elites sempre nos negaram.
Significa, sempre, reverter o retardo no desenvolvimento da riqueza que elas nos legaram.
As elites brasileiras sempre viveram das migalhas do que transferiam de nossa riqueza para o exterior. Do pau-brasil, à cana, ao ouro, ao café, ao ferro, à soja, nossa história foi transferir riqueza.
Natural, portanto, que desejem que o nosso país, internacionalmente, fale fino com os poderosos e, com os fracos, seja o menino de recados que leva a vontade do “sinhô” à senzala e ainda se ache “o máximo”, por poder frequentar a “casa-grande”.
A direita brasileira sempre se preocupou em manter essa postura. É famosa a frase do udenista Juraci Magalhães de que “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Por isso, ao analisar o comportamento de Dilma, acha que “isso não vai adiantar nada” e que se trata de um simples aproveitamento eleitoral interno.
É coerente com o mundo, tal como o enxergam e nele vêem o Brasil.
Eles não conseguem imaginar outro lugar para nós que não a gravitação em torno dos Estados Unidos e seu modelo de vida, riqueza e progresso. Tal como seus antepassados, há dois séculos, viam as metrópoles coloniais europeias.
Por isso mesmo, acham que até é admissível um certo palrar nacionalista, desde que seja para “inglês (ou americano) ver”.
Então, não percebe – parte delas, porque muitos percebem mas fingem que não – aquilo que eu disse no post anterior: que a diplomacia segue o rumo de todas as outras relações de troca entre países, especialmente as comerciais.
Nas exportações, que se multiplicaram por quatro em uma década, as compras norte-americanas no Brasil foram as que menos cresceram: 76,6%, passando de 15,6 para 26,8 bilhões de dólares.
Ou de um quarto do total de nossas exportações para 12% do total exportado.

Isso é uma decisão de não vender aos americanos? Ora, isso não passa pela cabeça de nenhum exportador, o que ocorre é a decisão de não comprar.
Compare isso com a Ásia, com a China em específico, com o Mercosul…aqui, inclusive com a fixação de barreiras comerciais nas quais os pregadores do liberalismo são mestres.
Nas importações, o quadro é bem parecido, e até um pouco mais desfavorável ao Brasil, que embora tenha ampliado as compras nos EUA bem mesmo que com qualquer outra parte do mundo ainda assim o fez num ritmo maior do que o de suas vendas para lá.
A visão americanófila que “fez a cabeça” das camadas conservadoras das elites brasileiras, de Juraci a Fernando Henrique cabe dentro das cabeças miúdas, mas não cabe mais na realidade econômica do país.
Portanto, caros e raros leitores e leitoras, essa é a visão que o nosso jornalismo econômico não lhes dá, para que possa ser compreendido nosso papel no jogo de forças mundial que, como ao longo de toda a história, é regido por dinheiro e poder.
É óbvio que não se toma aqui uma postura infantil de “yankees go home” até porque as boinas verdes vêm, com mais eficiência, na forma de notas verdes.
Mas, sim, de enxergar nossa polìtica externa, nossa diplomacia, como a projeção dos nossos princípios e dos nossos interesses.
Talvez agora fique mais fácil entender porque o Brasil pode ter tanto peso no jogo de forças mundial e porque não é a republica bananeira que as nossas elites pensam que somos.
Concluo o raciocínio com que abri este post. Para pensar o Brasil, é preciso pensar o nosso tamanho. E ver que somos, entre as nações de um mundo que se divide em hegemonias, uma das poucas que pode aspirar a um destino próprio.
Os que rastejam jamais serão capazes de ver horizontes.
Por: Fernando Brito



