pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Michel Zaidan Filho: Qual é o papel do cientista político?



Indagados sobre a discrepância de resultados, no primeiro turno das eleições no Brasil, os  responsáveis pelos principais institutos de pesquisa do país (Ibope e Datafolha) responderam que o contingente de eleitores indecisos teria subido para 30% durante a campanha eleitoral. E que eles medem não a preferência decisiva do eleitor na urna, mas tão-só as intenções de voto, que podem mudar até o último minuto da votação. Com margens de erro tão pequenas (5%) e amostras tão grandes (14.000 entrevistas), como é possível usar essas pesquisas como forma de conhecimento do comportamento eleitoral, em momentos decisivos das competições políticas? 
                        
                     Mais anti-climáticas e pouco críticas são as "análises" dos cientistas políticos, que se limitam a justificar, com base numa sofisticada linguagem acadêmica, os resultados eleitorais (sejam eles quais forem) afirmando que "foram assim", porque "tinham que ser assim" (como "podiam ser de outro jeito"",se fossem de outro jeito"). Ciência precária, que atua através da racionalização dos acontecimentos, oferecendo explicações - a posteriori - dos fatos. 0 papel da Ciência Social não é defender ou justificar "o status quo", por mais lucrativo e prestigioso que seja essa atividade de comentarista político-esportivo,  dizendo o óbvio, descrevendo a realidade, a título de análise ou estudo. O papel da Ciência é desmistificar a aparência das coisas e atingir a essência da realidade. E só se faz isso, sem o compromisso de agradar ou atender certos interesses predominantes na sociedade. O cientista político não busca respeitabilidade e aceitação social (com tudo o que isso significa). Busca entender as contradições da sociedade e  procurar ajudar a solucioná-las com suas teorias e  métodos.
                       Todo esse introito tem como objetivo analisar as "análises" produzidas- em nome da Ciência Política - sobre o resultado das eleições. A primeira análise de um conhecido sociólogo afirma que não temos hoje em Pernambuco uma nova oligarquia política (e familiar) por que "Eduardo trouxe caras novas" para o proscênio da política estadual. Geraldo Júlio, Tadeu Alencar, Paulo Câmara etc. Nomes e caras novas. Mas será esse o critério para avaliar se há ou não uma oligarquia política em Pernambuco? - Caras novas? - Ora, o problema não é a cara, nem a idade, nem a geração. O problema é a engenharia política responsáveis por uma continuidade administrativa (já vai para 12 anos) do mesmo grupo político e ideológico no poder. Que agora quer lançar na política novas caras novas: a mulher do ex-governador, o filho do ex-governador, o filho da governanta do ex-governador, o primo, o cunhado, o con-cunhado, o tio etc. Se isso não for uma oligarquia política, deve ser uma variante do familismo amoral, de  que fala o sociólogo americano Banfield, típico de países de baixa socialização política, como a Itália, Portugal, Brasil etc.
                       E não venham dizer que ganhou a eleição pelos méritos, a qualidade, a competência administrativo e coisas do gênero. Certamente, se não fosse pelo apoio do chefe (e sua família) e a "caixinha", incluindo o uso da máquina pública, nem o melhor e mais perfeito administrador do Brasil ganharia esta eleição.

                       A segunda análise é mais problemática ainda. Discutindo-se a ampla coligação partidária que deu suporte à eleição do candidato governista (coligação que inclui o DEM, o PMDB, o PPS, o PSDB, o PROS, O PSD  e outros partidos), a junção de tantas letrinhas díspares ou contrárias foi justificada, num debate, pela mudança de correlação local de forças. Alegava o analista que, com a saída do PT e do PTB da base aliada do ex-governador, era natural que a recomposição da aliança se desse com esses partidos, configurando uma nova "hegemonia" política em Pernambuco: de direita ou centro-direita. É mesmo? - Mas como é possível tal aliança se, no âmbito  municipal, estadual e federal, esses partidos  farão oposição ao governador eleito? Seria essa uma aliança de Polichinelo? - De manhã, são oposição, de tarde, situação. E de noite, tanto faz....
                      Por que não admitir a fragilidade do sistema partidário brasileiro?  Por que não dizer que muitos desses partidos são de aluguel, de quem dá mais, ou de quem tem algo a oferecer? - 0 processo de aliciamento, corrupção, compra de legendas para a viabilização de candidaturas e mandatos é crime, crime eleitoral. E não é porque trai, falseia a vontade do eleitor (que vota num e vê outro eleito). É crime porque muitas vezes esses recursos são "dinheiro não contabilizado", "caixa dois", "recursos públicos desviados" para essa operação  de compra-e-venda de apoios políticos. Justificar uma coisas dessas, só se o analista apoia algum candidato que se beneficie dessa fabulosa coligação ou trabalhe para ele.
                      A propósito, a Justiça Eleitoral não vai investigar nenhum dos indícios de uma milionária "caixa 2" nessas eleições? Vai ficar o dito pelo não dito? Tudo o que   foi noticiado pela imprensa e consta de autos de processos investigativos na Justiça Federal? Cadê a lei da ficha limpa? - Onde anda (se anda) a reforma política? - Onde está a campanha pela moralização das eleições?
                      Tudo "dantes, como no quartel de Abrantes"? - Até a próxima eleição.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A necessária renovação do PT e o vexame em São Paulo

A necessária renovação do PT e o vexame em São Paulo

outubro 6, 2014 18:15


Por Laura Capriglioni, no Yahoo
A eleição de Geraldo Alckmin (PSDB) em primeiro turno, a vitória acachapante de José Serra sobre Eduardo Suplicy, o inchaço da “bancada da bala”. É fácil falar sobre o conservadorismo dos paulistas. Acabo de pescar na rede essa análise: “Os paulistas ainda choram a derrota de suas oligarquias no movimento constitucionalista de 1932. Desde então, votaram contra Getúlio, ajudaram a derrubar Jango, votaram contra Lula e Dilma e continuarão votando contra qualquer candidatura progressista”.
Pois eu acho que o problema não são “eles”.
É preciso reconhecer. O Partido dos Trabalhadores jogou mal em SP. Fez um joguinho indigno naquele que é o seu berço histórico. Não se deve nunca esquecer que a mesma terra bandeirante que se bateu contra Getúlio foi onde renasceu o movimento estudantil que ajudou a por a pique a Ditadura Militar e foi onde surgiram as grandes greves operárias que criaram Lula e o próprio PT, além de um imenso cordão de movimentos sociais.
Se fosse um atavismo de São Paulo ser esse matadouro de utopias, não seria neste solo que nasceria o sonho de um país de todos, sem miséria. Nem Fernando Haddad teria sido eleito. Nem Marta ou Erundina teriam se criado.
No entanto, o PT, nesta eleição, teve a sua pior performance em anos.
E não foi no interior conservador que aconteceu a debacle. Foi no chamado cinturão vermelho da cidade de São Paulo.
Bairros pobres e históricos redutos do PT, como o Campo Limpo, na zona Sul, terra onde vive Mano Brown, por exemplo, ou Itaquera e São Miguel Paulista, na zona leste, sufragaram mais Aécio do que Dilma. Capela do Socorro, lar do sarau da Cooperifa, do poeta Sergio Vaz, também. E a Pedreira, Ermelino Matarazzo e Cangaíba.
Vai falar lá que aquela gente morena, parda e preta, que eles são a elite branca, fascista, oligarca ou coisa que o valha.
Quem errou foi o PT vacilão paulista.
Que, durante os últimos quatro anos, deixou o tucano Alckmin mais do que à vontade, mesmo sendo o governo dele um desastre completo. Veja a Suíça revelando as contas secretas dos operadores do escândalo do metrô; a Cetesb (estatal do próprio governo paulista) mostrando que a USP Leste foi implantada sobre um lixão tóxico; o Estado perdendo a guerra com o crime; as universidades estaduais falidas (o reitor imposto por Serra conseguiu o impossível: destruir a economia milionária da maior universidade paulista); as torneiras secas…
E cadê os deputados estaduais do PT para denunciar tantas mazelas e apresentar alternativas? Na maior parte dos casos, serviram apenas para reclamar que a base de apoio de Alckmin não deixa instalar nenhuma CPI. Queriam o quê?
O PT não disse a que veio. Mas o pior foi ter-se desplugado dos movimentos sociais. O PT de São Paulo, que sempre se aliou aos movimentos sociais, passou a ter medo deles… Por que é que até agora não foi usada a cláusula do Estatuto das Cidades que permite taxar até a quase expropriação os imóveis vazios por anos?
E o PT sem os movimentos sociais é como avião sem asa, Piu-piu sem Frajola, Romeu sem Julieta, Claudinho sem Buchecha.
O problema não é o PT dançar. O problema é o que vem junto. Para ficar em um exemplo: cresceu a chamada “bancada da bala”, aquele grupo dos deputados identificados com o slogan “Bandido Bom é Bandido Morto!”
O medo é sempre um mau conselheiro. Mas, sem alternativas, até mesmo um mau conselho é melhor do que nenhum. Quando a “Revista da Folha” perguntou ao candidato petista Alexandre Padilha como ele pretendia combater o crime organizado, a resposta foi pífia. “Não pode permitir que facções tomem conta das penitenciárias e as transformem em escritório, com celulares à solta.”
Sabe de nada, inocente.
O PT fez uma campanha coxinha em São Paulo, para não assustar o eleitor tucano. Como resultado, ficou sem o eleitor tucano e sem o eleitor petista. E o entregou para um aventureiro como Paulo Skaf.
Até o Aloízio “Carisma Zero” Mercadante, em 2010, teve mais votos para o governo do Estado do que Padilha. Quase o dobro. 35,23% contra 18,20% do total de votos válidos.
Agora, é juntar os cacos e apostar na renovação dos quadros partidários, que terão de vir, como sempre foi, dos movimentos sociais. Um partido que substituiu José Dirceu, José Paulo Cunha e José Genoino, dirigentes históricos, como seus principais puxadores de votos para deputado, por um cara como o Andrés Sánchez, dirigente do Corinthians, não é muito diferente de outro, que tem o Tiririca. Puro oportunismo.
Sem essa renovação, o PT pode até ganhar a eleição presidencial, mas as dores de cabeça e os sustos ainda estarão logo ali na frente, esperando. Búúúú!

Michel Zaidan Filho: Aos vencedores, as batatas II

 

 
                                     Segundo Rosa Luxemburgo, o maior erro que um estudioso dos fatos sociais pode cometer é "transformar a necessidade em virtude". Os fatos ocorridos querem do historiador uma análise ou explicação, não uma racionalização indulgente pelo estudioso do presente. Ontem, em debate na TV Universitária sobre os resultados da última eleição, senti como é verdadeira  a frase da revolucionária polonesa, assassinada a mando do Partido da Social-Democracia. Os chamados cientistas políticos não podem  se limitar a justificar - a posteriori - os eventos eleitorais, sob pena de engrossarem  a fila dos que tomam carona na carruagem dos vencedores de ocasião. Não é este o papel que se espera dos especialistas em eleições, comportamento eleitoral, pesquisas de intenção de voto etc.
 
                                     0  primeiro ponto a destacar é que o vencedor nem sempre está com a razão. Há muitas formas de vencer e não convencer. E há muitos meios (não necessariamente republicanos) de se chegar a uma vitória, num pleito eleitoral.  O sucesso não é o critério de verdade das ações humanas. pode ser, sim, a chave explicativa da história dos vencedores, a qualquer custo, por qualquer meio. Há muita vitória de "Pirro", que se esvanece muito rapidamente, como uma mentira de pernas curta. Não vai muito longe. Valeria lembrar a frase de um atual vereador do PSDB, dublê de cientista político: "política e eleição, nada a ver".
 
                                     É o que estamos vendo nesse final do primeiro turno das eleições em Pernambuco. 0 velho, muito velho, com cara de novo, muito novo. Respondendo ao sociólogo José Arlindo Soares, no debate da Radio Jornal, que apesar de o ex-governador ter promovido o concurso de várias caras novas no governo municipal e estadual, isso não tira ou apaga o caráter oligárquico, quase familiar do método de escolha dos "eleitos" pelo sufrágio popular. Há um inegável sabor continuísta nessa política estadual. Se o procedimento legitima as escolhas, como diz o pensador alemão, então essas escolhas eleitorais estão deslegitimizadas, apesar da vitória eleitoral. É uma questão de método, não de nomes, caras e números.
 
                                     Independentemente das novas caras - e graus de parentesco com o chefe ou a sua família - é  possível dizer que nós temos em Pernambuco uma nova oligarquia política que vai para terceira gestão. Nenhuma oligarquia é preferível a outra. Toda ela é  nociva ao interesse público. Existe o risco real de que seus membros confundam facilmente o erário público com o erário de seu grupo, e queiram fazer dele o que bem quiser. Essa campanha mostrou os riscos que corre  a chamada vontade política do eleitor (e sua real expressão) quando não se fiscaliza com rigor o financiamento privado das campanhas eleitorais. O abuso (e ponha abuso nisso) do poder econômico vicia, desvirtua, falseia o resultado das eleições, fazendo da vitória do vencedor uma fato consumado e festejado pela mídia e os correligionários do candidato.
 
                                     A não se fiscalizar e apurar indícios de irregularidade no financiamento dos candidatos, é melhor se institucionalizar a "bandalheira" e não fazer o jogo da hipocrisia, conforme a imagem dos três macaquinhos: "não vi,  não ouvi, e não falei". Seria mais honesto e mais pedagógico para o eleitor que ainda acredita na  lei e nos rigores da Justiça.
 
                                     Não podemos continuar a crer que a morte - como a vitória - redime todos os pecados cometidos pelos nossos políticos. Mesmo aqueles que já foram gestores, são puxadores de voto ou membros de família ilustre. Todos estão submetidos ao rigor da lei. Ninguém possui imunidade ou passaporte para inimputabilidade eleitoral.
 
                                     É preciso dizer que este resultado foi precedido cuidadosamente por uma medida cirúrgica, a quebra e a divisão do Partido dos Trabalhadores.  Era necessário à estratégia governista eliminar, com a antecedência de 2 anos, um possível competidor que viesse ameaçar essa hegemonia política da família Campos. Isso foi feito  com perfeição cirúrgica pelo  menino de ouro que coordenou a campanha de Marina Silva. A derrota eleitoral do PT em Pernambuco nessas eleições é fruto dessa estratégia deliberada de retirar o aliado de cena. A aliança com o PTB de Armando Monteiro - por interferência do comando nacional do petismo - só contribuiu para o estrago.
 
                                      E a oposição ao governo estadual, alguém ouviu falar dela?  Onde se encontra? - no palanque (e apoiada nas benesses eleitorais) do ex-governador. Então, "tá". De manhã (na câmara municipal) é oposição. De tarde (na Assembléia Legislativa) é situação!  Essa é a verdadeira dialética da malandragem política. Valeu ter vendido a honra ao diabo?  Quem vai acreditar em tal  oposição de polichinelo?  - Só os idiotas e seus cientistas sociais, no exercício de racionalizarem os seus próprios empregos  junto a tais políticos.
 
                                      Pernambuco (ou uma parte dele) pelo visto será o berço, a fonte prístina da oposição a Dilma. A oligarquia pessebista deve recomendar o voto  na candidatura do amigo e parceiro Aécio Neves, contra a reeleição da presidenta. Afinal, a Dilma perdeu para  Marina Silva no nosso Estado. Não se surpreenda se, no caso de vitória da Presidenta, o governo estadual vá acusar a nosso dirigente petista de querer retalhar o povo pernambucano. É que ele pensa que todo mundo é como FHC, que deixou morrer à míngua o velho Arraes, quando era governador de Pernambuco!
 
 
                                     E para terminar, uma notícia boa: foi eleito pela primeira vez no nosso Estado um deputado do PSOL para Assembléia Legislativa: teremos, então, uma oposição de verdade!

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco.

domingo, 5 de outubro de 2014

Michel Zaidan Filho: Aos vencedores, as batatas.




A família Campos, de literatos como o escritor Maximiliano e o sociólogo Renato Carneiro Campos e o dublê de literato e político Antonio de Campos, acaba de produzir o fundador de uma nova oligarquia política - Eduardo Accioly Campos. 0 festim macabro  realizado por ocasião da morte (nunca esclarecida) do ex-governador de Pernambuco, com apoio da mídia e do governo do Estado, pode não eleger a irmã Marina Presidenta do Brasil, mas pode eleger o preposto - primo em 5. grau e esposo da prima de Eduardo. Nesta véspera de eleição, gostaria de aplicar à campanha e a candidatura do primo - secretário, as categorias da "dialética da Malandragem", conforme se depreende da obra do tio sociólogo, "A ideologia da literatura de cordel", e seu principal personagem - "o amarelinho da Zona da Mata".
                          Como se sabe, a ideologia picaresca de "João Grilo"  se constitui da lábia, da pequena esperteza dos malandros rurais, da capacidade de ganhar de todos com a bazófia, a conversa mola ou fiada, como se diz no interior. Sem o refinamento literário seja da prosa do pai ou da análise social do tio, o processo de indicação do candidato, a forma de financiamento de sua campanha e a propaganda política de sua candidatura tem tudo para se constituir em um excelente tratado de política picaresca ou do picaresco na política. Uma leitura da expressão corporal do candidato, no guia eleitoral, sugere que se trata de um personagem apolítico, que se apresenta como um técnico ou especialista de  reconhecida competência  no trato das questões administrativas do Estado. Mas o detalhe revelador é o gesto de deslocamento com o pescoço, na afã de convencer o eleitor, que ele faz, como se  quisesse  corporificar  a tentativa de convencimento, através do gesto.
                          A  linguagem gestual é indicativa de uma postura de captura ou apresamento do leitor-espectador. Vestido numa camisa branca, com as mangas abotoadas nos punhos, a imagem poderia sugerir um pastor evangélico, num culto, procurando convencer os fiéis da verdade da palavra de Deus. Mas esta comparação seria ofensiva aos evangélicos. Ela estaria mais para o exemplo das artimanhas do "amarelinho da zona da Mata", João Grilo, e suas tentativas de "ganhar" o ouvinte-eleitor através da lábia, da pequena esperteza. Mas essa comparação também é desfavorável ao nosso pícaro ou herói picaresco. Nada se compara à formidável  "caixa de campanha" que acompanha as peripécias desse novo herói das eleições. 0 que faz dele uma cópia pobre do seu primo da literatura de cordel. As presepadas do personagem só podem ser entendidas, se partimos do princípio que o que elege o candidato é a "caixinha" e o "santo protetor". Assim, qualquer outro figurante, ator ou intérprete do papel de candidato ao governo do Estado poderia ter a performance deste, caso fossem mantidas as mesmas condições. 0 que quero afirmar é que o candidato é um ilustre desconhecido, um burocrata da secretaria da Fazenda, que nada fez para ganhar o voto do eleitor (a não ser renúncia fiscal). Desta maneira, fica a indagação: quem ganha ou ganhou a eleição? - 0 personagem ou a "entourage" familiar do santo protetor? A que interesses serve ou vai servir tal candidato?
                         Teremos a reprodução de mais uma oligarquia familiar, na política de Pernambuco, com a grande maioria de partidos a seus pés, comprada a peso de ouro (PMDB,PPS, PSDB, PC do B, DEM) e os pequenos partidos de esquerda, desunidos, incumbidos da crítica ideológica ao vencedor. A oligarquização do espaço político do nosso Estado tem a ver certamente com a fraqueza e o clientelismo das organizações partidárias. Pelo visto, ser oposição é não ser, no momento, situação. Não há propriamente essa palavra no dicionário político local. Sempre será possível comprar, cooptar, seduzir aquilo que, entre nós, se chama de oposição, a depender do que se pode oferecer, em cada pleito eleitoral: fundos de campanha, coligação, espaço na propaganda, legenda etc. E a situação é aquele  que pode comprar, corromper, financiar etc.
                          Não se busque ideais, programas, ideologias ou utopias nessas eleições, entre os principais contendores. A única coisa que move esses partidos é o puro e simples oportunismo.
                          Aos vencedores, as batatas!, como dizia Machado de Assis.

Michel Zaidan é filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco. 

sábado, 4 de outubro de 2014

Dilma será reeleita, mas Aécio Neves será um adversário mais difícil.


Superadas alguns condições - como uma boa boca de urna do PT e o voto útil - Aécio Neves(PSDB) deve mesmo ir para um segundo turno com a presidente Dilma Rousseff (PT). A pesquisa da CNT já traduz isso em números. Há quem afirme que a volta da polarização PT/PSDB seria melhor trabalhada pelo coordenação de campanha do PT. Não é o que eles pensam. Como Marina Silva estava "derretendo no gelo", se ela fosse para um segundo turno com Dilma, seria necessário apenas reforçar a estratégia utilizada para a sua desconstrução. Diga-se, bem-sucedida. Incrivelmente, com Aécio, as coisas mudam de configuração, impondo uma preocupação maior. E isso por diversos motivos. Embora represente um retrocesso - até mil vezes pior - Aécio está expondo para os eleitores alguns aspectos nevrálgicos e sensíveis do Governo Dilma, como os problemas na condução da política econômica e os escândalos de corrupção recente, como o da Petrobras. Enquanto Marina Silva declinava, Aécio Neves vinha se recuperando nas pesquisas de intenção de voto. Encontra-se em curva ascendente. Venceu o último debate. Vive um bom momento. Até uma resposta pronta ele já formulou em relação ao "calo" das privatizações do Governo FHC. Quando indagado sobre uma possível "privatização" da Petrobras, sai-se com uma pérola. Na realidade, a Petrobras será reestatizada, numa alusão clara às denúncias de corrupção na estatal. é neste aspecto que ele será um adversário mais difícil de ser enfrentado no segundo turno. Dilma será reeleita. o eleitorado não cometeria a sandice de permitir a volta dos tucanos ao Planalto. A vitória, no entanto, será mais difícil.

Pernambuco: Uma monarquia tupiniquim?

Estava conversando online com um colega sobre a elite pernambucana. Se o sociólogo Pareto viesse nos fazer uma visita, certamente, teria bons motivos para estudar a circularidade das elites pernambucanas, um dos seus objetos de estudos. Isso se ele não se embriagasse com os tradicionais licores de pitanga servidos no aprazível bairro de Apipucos. Tanto o bairro de Casa Forte quanto Apipucos sempre concentraram uma elite influente política e culturalmente no Estado. O bairro de Dois Irmãos, nem tanto, salvo melhor juízo. Agora, no entanto, está surgindo naquele bairro uma espécie de "Principado". Caso não prevaleça o bom-senso nas eleições de amanhã, corremos um sério risco de elegermos um regente que cumpriria o papel de preparar o terreno para uma possível monarquia tupiniquim.

Como se escreve a História?

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Distrito Federal: Novela mexicana ou "Nova Política"?

Distrito Federal: novela mexicana ou ‘nova política’?

publicada quarta-feira, 01/10/2014 às 10:09 e atualizada quarta-feira, 01/10/2014 às 13:13
Por Maria Mello, de Brasília, especial para Escrevinhador
Uma novela mexicana, com capítulos dramáticos e personagens clichês. As eleições para o governo do Distrito Federal (DF) são permeadas por narrativas de fazer inveja a qualquer roteirista de folhetim, dadas as suas espetaculares reviravoltas e arranjos que podem ser considerados pouco ortodoxos para processos políticos.
Menos de um mês antes das eleições, José Roberto Arruda (PR), então franco favorito nas pesquisas, teve o registro de sua candidatura negado pela Justiça Eleitoral, com base na Lei da Ficha Limpa. Em 2010, quando era governador, foi preso após a divulgação de um vídeo em que recebia maços de dinheiro a serem distribuídos a correligionários, na operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal.
Naquele ano mesmo ano de 2010, Joaquim Roriz (PSC) também teve o registro da sua candidatura negado pela Justiça. Em 2007, renunciara ao cargo de senador para evitar a sua cassação, após a divulgação da ligação telefônica em que negociava a partilha de um cheque de dois milhões de reais, de Nenê Constantino, dono da Gol, na esteira da Operação Aquarela, da Polícia Civil do Distrito Federal. No momento em que desistiu de sua candidatura ao governo do DF, as pesquisas o colocavam logo atrás do primeiro colocado, em um cenário simulado da disputa do segundo turno.
A alternativa de Roriz, à época, foi lançar a candidatura de sua esposa, Weslian, que seria derrotada por Agnelo Queiroz (PT) no segundo turno. Antes, ela havia obtido notoriedade nacional pela sua absoluta falta de traquejo para debater política, como no debate em que declarou querer defender “toda aquela corrupção”.
Ao sair da disputa em 2014, Arruda deixou no seu lugar Jofran Frejat (PR), seu vice, político experiente que participara da Constituinte e colaborara em muitos governos de Joaquim Roriz. Como vice, foi indicada a esposa de Arruda, Flávia, sem experiência anterior em eleições. Assim como no caso de Weslian, sua presença visa garantir o poder do marido num eventual governo, caso a sua coligação saia vitoriosa nos pleitos de outubro.PSB cresce na esteira de Marina
A saída de Arruda da cena eleitoral pulverizou as intenções de voto entre as candidaturas de Rodrigo Rollemberg (PSB) e de Jofran Frejat. O candidato do PSB, que tinha 18% no dia 10, pulou para 31%, segundo pesquisa Ibope divulgada no último dia 24. Frejat ocupa o segundo lugar, com 21%.
Se a pesquisa da última semana estiver certa (a disparidade entre os números apresentados pelas diferentes empresas de pesquisa nos últimos dias também contribui para compor o quadro sui generis da disputa no DF), Agnelo estaria fora do páreo, em terceiro lugar, com 19% dos votos.
Rollemberg, que já foi deputado distrital e atualmente é senador por Brasília, parece crescer na esteira da adesão dos brasilienses à candidatura nacional de Marina Silva – que chega a 34% das intenções do eleitorado local. Agarrado a um discurso de portador do “novo”, o aliado histórico do PT no Distrito Federal se afastou da legenda em 2012, seguindo a diretriz nacional de fortalecimento do PSB nos estados e da figura de Eduardo Campos para a disputa presidencial, o que conferiu ao candidato pessebista a pecha, justificável, de oportunista.
Rejeição ao PT
Também salta aos olhos o altíssimo índice de rejeição ao candidato petista, que chega aos 44 pontos percentuais entre a população – o maior entre todas as candidaturas do Brasil. Embora responsável por feitos importantes para o DF, como o enfrentamento à máfia dos ônibus, que sinalizou a possibilidade de retomada da construção de uma política pública de transporte coletivo adequada às grandes necessidades da população, e o reconhecimento de Brasília, pela Unesco, como “Território Livre do Analfabetismo”, a comunicação levada a cabo durante o mandato de Agnelo Queiroz teria privilegiado relações com os jornalões locais em detrimento da estruturação de uma política que permitisse o diálogo mais direto com a população, criando um fosso de difícil superação. A rejeição ao petismo por parte das classes médias e altas, além de denúncias de superfaturamento em obras como a do estádio Mané Garrincha, antes da Copa, também podem ter influenciado a composição da assombrosa estatística.
Embora herdeira (e, em vários aspectos, mantenedora) de uma cultura política eivada de vícios e ainda em consolidação – Brasília tem 54 anos e é território de disputas fortemente marcadas, de um lado, pela relação com a terra, e, de outro, pela especulação imobiliária -, a candidatura de Queiroz é, ao menos dentre os candidatos com alguma chance de vitória, a que mais se aproxima de um projeto progressista, mas corre o grande risco de ser suplantada pela onda Rollemberg.
Ainda que o petista supere Frejat no pleito do próximo domingo, o eleitorado de Arruda (quer dizer, de Jofran), mais à direita, enxergaria em Rollemberg, no segundo turno, um governante capaz de empreender aquela política que, de nova, não tem nem a roupa. Ao contrário das tramas mexicanas, essa história, aparentemente, não vai ter final feliz.

(Publicado originalmente no site O Escrevinhador)

NaMaria: Veja dirigiu a educação pública brasileira nos gorvernos tucanos; a de São Paulo, até hoje. Descubra como

publicado em 1 de outubro de 2014 às 11:51

2 - CAPA-VEJA-NOV1991
por Conceição Lemes 
Nesse domingo 28, após ler no Viomundo a matéria “Melancólico fim da revista “Veja”, de Mino a Barbosa”, de Ricardo Kotscho, publicada originalmente no R7, NaMaria, do blog NaMaria News, nos mandou esta mensagem:
Interessantíssima a matéria do Kotscho. Fiquei até com pena do senhor Roberto Civita, dono/herdeiro da Abril, da sua Fundação V. Civita, de Veja, Exame, Nova Escola (que ganhou até prêmio da Universidade de Navarra), Guia do EstudanteRecreioVeja na Sala de Aula etc..
Ele não é mantenedor, patrocinador e parceiro do Instituto Millenium, que tem entre seus “especialistas” o autor da matéria denunciada por Kotscho, Agamenon Mendes Pedreira – vulgo Marcelo Madureira?
Um verdadeiro “coitadinho”, esse Civita, “tadinha” da Abril. Ai, meus sais.
Tudo porque o “malvado” do Lula resolveu fazer um tipo de “reforma agrária” nas verbas da Comunicação e, de quebra, nas compras dos livros didáticos, pelo MEC [Ministério da Educação], que incluíam publicações da Fundação Civita/Abril?
Te juro. Deu peninha. Ódio é um sentimento tão sentimental… Estou quase chorando aqui.
Você sabe que sou uma boa alma, mas tenho de te perguntar: será que os mais de 52 milhões dados pela Secretaria de Educação de São Paulo (2004-2010) não ajudaram em nada a Abril/Veja?
Sei. Aí tem coisa, Conceição Lemes, tem muita história ainda não sabida sobre a Veja e a Educação nacional e suas redes, tem muito fio sem nó. Se você quiser eu te conto um pouco, quer?
NaMaria é provavelmente a pessoa que mais conhece e mais denunciou os caminhos tortuosos dos negócios e desmandos dos tucanos na área educacional e suas ligações perigosas com a nossa grande mídia. É uma web pesquisadora com faro finíssimo.
Em entrevista ao Viomundo em 2010, NaMaria revelou que desde 2004 até aquele ano, o PSDB havia gasto mais de R$ 250 milhões com a mídia (quase tudo sem licitação) em nome da Educação Pública de São Paulo. Ali, NaMaria mostrou a estratégia de muitas empresas que negociam a Educação em SP, entre elas as de Roberto Civita:
Se pegarmos as compras feitas pela FDE [Fundação para o Desenvolvimento da Educação] à Abril (Guia do Estudante Vestibular, Atlas Nacional Geographic, Revista Recreio e Veja) e Fundação Victor Civita (Revista Nova Escola), em contratos sem licitação que o DO [Diário Oficial do Estado de São Paulo] aponta desde 2004 até agora [2010], teríamos a quantia de R$52.014.101,20.
Com o mesmo dinheiro entregue à Abril/Civita, sem qualquer percalço licitatório, em troca de papel, poderíamos construir quase 13 novas escolas ou cerca de 152 salas de aula, com capacidade para mais de 15 mil alunos nos três períodos (manhã, tarde e noite). Desafogaríamos as escolas existentes e atenderíamos dignamente os alunos e comunidades.”
Aceitamos, claro, a proposta da NaMaria. Mas antes, é necessário recolocar a tabela dos gastos públicos da Educação de São Paulo com a Abril e Fundação Victor Civita, para que vocês se localizem.
ED. ABRIL / FUND. CIVITACONTRATO / LINK D.O.VALOR
18.160 assinaturas (renovação) Revista Nova Escola (DE’s/Ofs.Pedags/Escolas) SÓ HÁ 2 REGISTROS EM DO – onde e quando o contrato inicial?~ 42/2199/04/04 (ver DO 29/12/04) ~14/jan/05326.880,00
18.160 assinaturas (renovação) Revista Nova Escola~ 15/1063/07/04 ~23/out/2007408.600,00
220.000 assinaturas da Revista Nova Escola – edições 216 a 225 – solicitado pela CENP para o “Ler e Escrever”~ 15/1165/08/04
(ver DO 1/10/2008 ) ~ 25/out/2008
3.740.000,00
415.000 exemplares Guia do Estudante Atualidades Vestibular 2008~ 15/0543/08/04 ~23/abr/20082.437.918,00
430.000 exemplares Edições nº 7 e 8 do Guia do Estudante Atualidades Vestibular~ 15/1104/08/04 ~22/out/20084.363.425,00
430.000 Guia do Estudante Atualidades Vestibular Ed.08 +20.000 Revista do Professor~ 15/0063/09/04 ~11/fev/20092.498.838,00
540.000 Guia do Estudante Atualidades Vestibular Ed. 09 +25.000 Revista do Professor~ 15/0238/09/04 ~16/jun/20093.143.120,00
540.000 Guia do Estudante Atualidades Vestibular Ed.10 +27.500 Revista do Professor~ 15/0614/09/04 ~29/ago/20093.249.760,00
540.000 Guia do Estudante Atualidades Vestibular 2º sem 2009 + 27.500 Revista do Professor~ 15/00024/10/04 ~2/abr/20103.177.400,00
540.000 Guia do Estudante Atualidades Vestibular Ed.11-2º sem 2010 + 27.500 Revista do Professor Nº5~ 15/00473/10/04 ~15/jun/20103.328.600,00
540.000 Guia do Estudante Atualidades Vestibular Ed. 12-2º sem 2010 + 27.500 Revista do Professor Nº6~15/00762/10/04 ~17/ago/20103.328.600,00
PARCIAL25.527.661,00
3.000 assinaturas Revista Recreio~15/0181/08/04 ~29/mar/20081.071.000,00
6.000 assinaturas Revista Recreio~15/0182/08/04 ~29/mar/20082.142.000,00
5.155 assinaturas Revista Recreio~15/0670/08/04 ~12/ago/20081.840.335,00
25.702 assinaturas Revista Recreio~15/0149/09/04 ~17/abr/200912.963.060,72
2.259 assinaturas Revista Recreio~ 15/0528/09/04 ~1/set/2009891.220,68
PARCIAL18.907.616,40
95.316 Atlas Nacional Geographic vols. 1 ao 26, sendo 3.666 exemplares de cada volume~ 15/00273/09/04 ~28/mai/2010733.200,00
5.200 assinaturas da Revista Veja – (Sala de Leitura)~ 15/00547/10/04 ~29/mai/20101.202.968,00
5.449 assinaturas da Revista Veja – (Sala de Leitura)~ 15/0355/09/04 ~20/mai/20091.167.175,80
TOTAL52.014.101,20

Viomundo – Explique melhor a “reforma agrária” de Lula nas verbas de publicidade do governo federal e nas compras dos livros pedagógicos.

NaMaria – Refletindo um pouco mais sobre a matéria do Kotscho, cheguei à conclusão de que Lula fez, sim, a primeira, embora pequena e humilde, reforma midiática do país. Usei o termo reforma agrária, porque naquela época não se falava tanto (ou nada) em reforma midiática – ambas necessárias no Brasil.
Lula resolveu investir melhor na Educação. E, em vez de continuar dando imensos quinhões da verba pública aos de sempre – que por sinal só metiam (e metem) o malho, obviamente como o próprio Civita disse –, ele resolveu repartir melhor o bolo.
Só que, ao optar pela redistribuição das compras de livros pedagógicos (incluindo outras editoras no roll do MEC), e pela aquisição de obras mais adequadas do que a Revista Nova EscolaRecreio ou Guia do Estudante, por exemplo, Lula atacou um vespeiro “das elites”.

Viomundo – Você se surpreendeu com a revelação de Kotscho de que Roberto Civita teria ido a Lula por se sentir prejudicado pela distribuição dos livros didáticos?

NaMaria – Nem um pouco.

Viomundo – Essa conduta de Civita mostra o quê?

NaMaria – Que Civita pensava poder fazer uso da mesma artimanha empregada por ele em São Paulo. Desde pelo menos 2004 (pode ser antes e com outros; o que falo sai do Diário Oficial), Roberto pedia ajuda a um amigo “auxiliar de almoxarifado”, na figura do então prefeito José Serra. E sempre foi atendido. Continuou a ser e ampliaram-se as benesses depois que Serra se tornou governador.
Aqui, vale ressaltar que Serra atendia prontamente não apenas aos Civita, como a toda Proba Imprensa Gloriosa – comprando-as como material pedagógico, paradidático etc.. Os tais mais de 250 milhões que mostrei na entrevista de 2010 entram nisso.
Mas é óbvio que a tonelada de dinheiro da Educação de SP não era suficiente para manter os negócios do Civita. Ter sido ignorado pelo “chefe geral da repartição”, Lula, foi demais para o dono da Abril. Levar um não de Lula deixou-o totalmente fulo da vida. Um horror – a vingança só poderia ser maligna.
Como se não bastasse, através de Serra, Civita teve acesso a milhares de endereços pessoais dos professores, que passaram a receber as revistas, inclusive em suas casas, sem que lhe tivessem dado permissão ou questionado se as queriam. Essas assinaturas são um absurdo antipedagógico completo, mas cumprem até hoje com as ameaças do senhor Civita ditas ao finado Eduardo Campos e reveladas por Kotscho:
 Esta é a única oposição de verdade que ainda existe ao PT no Brasil. O resto é bobagem. Só nós podemos acabar com esta gente e vamos até o fim.
Por outro lado, temos de dar razão ao Civita. Ele TINHA mesmo de procurar “o chefe geral da repartição”, em vez de ficar lidando com os “auxiliares de almoxarifado” (com todo respeito), para ter os seus pedidos atendidos. As verbas, como no caso da Educação do Estado de São Paulo, saíam da FDE direto para a Abril e afins, isso é sabido.
Mas para que isso acontecesse, a ordem precisava – e precisa! – ser autorizada pelo “chefe da repartição” paulista. Ou seja: Serra (e atualmente, Alckmin). A ordem inicial e final sempre vem de cima. Uma pena o Lula não ter compreendido a situação do “coitadinho” do Civita, né mesmo?
Viomundo – O esquema de São Paulo foi executado em outros Estados?
NaMaria – Não duvido. Basta que se interessem e procurem em seus Diários Oficiais, as provas estarão lá, salvo “lapsos” desses DOs.
Viomundo – Os mais de R$ 52 milhões recebidos pela Abril pelos livros didáticos expressam a realidade do que a empresa recebeu de benesses do governo paulista?
NaMaria – Certamente, não. Esses valores referem-se apenas aos que eu achei nas pesquisas no DOESP de 2004 até 2010.
Deve ter muita coisa em anos anteriores e posteriores à minha pesquisa (porque parei um tempo), em outros Estados, atendendo a outros esquemas e anseios. Sem contar as prefeituras e órgãos de tudo que é canto do país. As pessoas precisam se interessar e investigar, precisam mostrar esses fatos. Como se sabe, corrupção tem roupas lindas e diversas, muitas delas em tecidos invisíveis – como aquela capa mágica que deixa o Harry Potter invisível, sabe como? Tem muita gente usando capas do Potter por aí, mas elas podem e devem ser retiradas.
Viomundo – Esse esquema começou onde?
NaMaria – Sem dúvida, com Mário Covas, em São Paulo, com os bons ventos da democracia tucana.
A partir dele, dos consecutivos governos do PSDB e com Fernando Henrique na presidência, São Paulo tornou-se legalmente o latifúndio dos esquemas, o laboratório dos “programas-piloto” que seriam espalhados pelo Brasil. Obviamente grande parte desse pessoal se instalou em Brasília, em postos-chave. Depois eles iam e vinham carregando suas ideologias e negócios. É o famoso “tá tudo dominado” que continua até hoje. Um Cavalo de Tróia, tipo viral, sabe como?

Viomundo – Mas como foi parar na Educação?

NaMaria – É importante lembrar que antes e muito tempo após podermos votar de novo, o Brasil obedecia ordens do Banco Mundial em tudo, inclusive para a Educação nacional, afinal éramos escravos da dívida. E o Banco Mundial e o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento]queriam muita construção de escolas para liberar o dinheiro, queriam educação padrão em massa para essas coisas “boas”.
Só que o Brasil, de acordo com seu então ministro da Educação, José Goldemberg [agosto de 1991/agosto de 1992; era Fernando Collor], tinha salas de aula sobrando. Este senhor determinou que só seriam construídas escolas novas “depois de um estudo sobre a necessidade real daquela nova unidade”.
Quer dizer: “elas não seriam mais construídas segundo critérios políticos”, porque “foram construídas no lugar errado (…), as existentes podem receber muitos outros alunos”… Aí entra a Veja na parada.

Viomundo – A Veja?! Como assim?


NaMaria – Porque a Veja fez a trilha pioneira. Talvez pouca gente saiba, mas a Fundação Victor Civita [criada em 1985], a Revista Nova Escola [criada em 1986] e sobretudo a Veja tiveram papel sólido nessa “transformação educacional”.
O ataque “discreto e direto”, vamos dizer assim, da Veja, começou na edição de 20 de novembro de 1991 (tempo do ministro Goldemberg no MEC), em cuja capa lê-se: “Ensino Básico – As opções para resolver o problema que está na raiz do atraso brasileiro”.
A facada decisiva e norteadora, das páginas 46 a 58, foi a reportagem “A máquina que cospe crianças”,de Eurípedes Alcântara.
Ali, se apresentava o tenebroso estudo do ensino público brasileiro: o compara a outros países, mostra a falta de preparo das escolas e professores (tratados pelos governos como barnabés de sexta categoria), a falta de conscientização escolar para o vindouro século das novas tecnologias, a falta de metodologia/currículo e, principalmente, nos dá “as soluções para o ensino básico… sem projetos mirabolantes, de altos custos, como o CIEP, CIAC, Mobral…”
Só que em sua Carta ao Leitor, contrariamente, a Veja diz:
“Não é função da imprensa apontar os caminhos para solucionar os grandes males nacionais. A tarefa de revistas e jornais é noticiar o que está acontecendo, contribuindo,para que, através da informação e dos debates, a sociedade escolha as melhores opções… a educação não é uma tarefa apenas do governo…”
Tudo isto está disponível nos arquivos  de Veja. Creio ser de fundamental leitura para tentar entender os meandros do imbróglio.
Viomundo — Na época, que especialistas compartilhavam das opiniões de Goldenberg, Veja…? 
NaMaria – Não podem ser esquecidos, por exemplo, a então pesquisadora e pedagoga Guiomar Namo de Mello e Cláudio de Moura Castro, à época, prestando serviços para Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Suíça.
O tempo passa e Paulo Renato de Souza  entra no MEC e fica (1/janeiro/1995 a 1/janeiro/2003). Victor Civita havia morrido em 1990 e seu filho Roberto assumira. Em março de 1998, a Revista Veja na Sala de Aula. Em 2001, a Unesco diz que a Revista Nova Escola “é o melhor veículo de educação do País”.
A Veja, propriamente dita, passa a ser a marqueteira oficial das teorias educacionais, dos projetos e políticas públicas, das ONGs, Fundações e empresas que tratavam de “projetos não-mirabolantes” para uma “boa escola” e que trabalhavam para o MEC ou Secretarias, órgãos da Educação. Esses especialistas usam demais a palavra “mirabolante”, em tudo. É impressionante, mas é justamente a palavra que mais bem os define.
Viomundo – Isso pode ser comprovado? 
NaMaria – Pode, sim. E sem que tenhamos de ler — ainda bem! — todos os exemplares da Veja.
Há um livro magnífico, fruto de uma dissertação de mestrado na UNESP de Araraquara, do Geraldo Sabino Ricardo Filho, chamado A boa escola no discurso da mídia – Um exame das representações sobre educação na revista ‘Veja’ (1995-2001) – ou seja, cobre 7 dos 8 anos de FHC e Paulo Renato. Isso sim, uma obra de arte obrigatória de ser lida.
O livro prova que durante todo esse período Paulo Renato foi incensado pela Veja, sendo que na edição 1717, de 12/setembro/2001, páginas 106-109, a matéria “Isso é uma revolução” o coloca no mais alto pódio dentre todos os ministérios universais e cósmicos de toda Via-Láctea.
É apresentado como o desbravador, o construtor de novas políticas avaliativas, o licitador de 233 mil computadores (a Positivo ficou felicíssima assim como a Microsoft, aliás), o que manejava genialmente 5,7% do PIB, como “comandante de um transatlântico governamental” (sic), batendo todos os recordes em melhoria dos salários, condições etc e tal.
O ministro Paulo Renato era, para a Veja, O CARA. Tanto que ali diziam ser ele “um dos postulantes declarados do PSDB à vaga de candidato à Presidência da República”.
Ou seja, O CARA foi considerado tão bom exatamente porque fez tudo aquilo que a Veja prescreveu naquela matéria de 1991 (e seguintes), em termos de “solução para o caos educacional brasileiro”: avaliação (ENEM/Provão), combate à repetência criando o monstro de passar o aluno de ano mesmo sem condições (para ele “classes especiais”), Fundef (para o dinheiro fluir/entrar mais fácil – a descentralização da gestão escolar)…
O livro também comprova o que eu sempre falei sobre a formação de grupos de especialistas, que Geraldo Sabino denomina como “rede de legitimidade, que contribui para produzir o consenso em torno de uma boa escola”. Aquela  escola “que ensina”, “que deixa de ser um privilégio das elites… para ser a solução dos problemas do país”- solução essa que significa criação de mão-de-obra. Não por acaso a Abril é a mãe da Nova Escola, cujo pai foi a Veja – todos apadrinhados pelo Governo.

Viomundo – Que pessoas fariam parte dessa “rede de legitimidade”?

NaMaria – Uma delas eu já mencionei,  a Guiomar Namo de Mello, fundadora do PSDB em 1988. Ela é diretora executiva da Fundação Civita desde 1997,  diretora editorial da Revista Nova Escola e diretora da EBRAP – Escola Brasileira de Professores (que presta serviços ao governo). Mas a Guiomar já foi Secretária Municipal de Educação (governo Covas), deputada estadual eleita pelo PMDB (1987/1991), foi do Banco Mundial…
A Guiomar, na verdade, foi e é muita coisaao mesmo tempo em que também era e é da Secretaria de Estado da Educação de SP. Não é lindo isso? Dá uma olhada no Google e no DO de SP.
Outro integrante  dessa “rede de legitimidade” foi o Cláudio de Moura Castro. O mais importante e íntimo consultor de quase TODAS as matérias de educação de Veja, do qual era também colunista. Ele foi do BID, em Washington. Trabalhou no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP (vinculado ao MEC), no Banco Mundial, de tudo que se pode imaginar ao mesmo tempo agora. Busca o homem no Google para ver, é uma máquina…
Viomundo — Quem mais?
NaMaria –  Depois temos João Batista de Oliveira e o Sérgio Costa Ribeiro (foi coordenador de pesquisas da CAPES).
Segundo o livro de Geraldo Sabino, o João Batista, o Sérgio Costa e o Cláudio Castro “formaram o tripé da revolução silenciosa hoje em curso no ensino básico brasileiro”.
Nas Páginas Amarelas de 28/julho/1993, pode-se ler o que pensa Sérgio Costa sobre o “mito criado da evasão escolar” (como se não existisse de fato naquelas plagas), as pérolas sobre os CIEPs, CIACs e CAICs prevendo suas ruínas por serem “estigmatizadas como escolas para pobres… e por serem de tempo integral, inviabilizando o trabalho para muitos alunos”.
É um horror ler o que ele declarou ali. Mas bate perfeitamente com os ideais do Ministro, O CARA, consequentemente com os da Veja – ou vice-versa. O interessante é que Collor gentilmente o convidou a se retirar de seu gabinete porque Ribeiro só aceitaria trabalhar com Goldemberg se acabassem com o “mirabolante” projeto CIAC.
Viomundo – Quer dizer: eles servem ao governo e setor privado?
NaMaria – Sem dúvida. Mas não somente servem como criam suas próprias empresas, que acabavam prestando serviços ao Estado, ao mesmo tempo. Portanto são proprietários, conselheiros, assessores, sócios e amigos. É o caso do próprio Paulo Renato e sua empresa PRS Consultores, “sua” Avalia Assessoria Educacional, a Editora Moderna etc., fazendo negócios com o Estado e Governo Federal. Suas jogadas com a Santillana, Prisa, que já citei no NaMariaNews e por aí vai.
Com o tempo, a nova estrutura do MEC ajeitada por Paulo Renato, possibilitou que ele criasse sua própria rede de legitimidade, que depois chega na Educação em SP, em Institutos e Fundações e ONGs do país. Nomes como o da Guiomar Namo de Mello, são acompanhados por Iara Glória Areias Prado, Monica Messenberg Guimarães (essa é quente!), Rose Neubauer, Claudia Rosenberg Aratangy, e tantos outros que ja citei no meu blog. O modelo de negócios é tão amplo e variado que se lermos esta matéria do Ação Educativa atentamente, comprovamos os esquema, depois é só multiplicar por milhão.
Viomundo – Você disse que o Paulo Renato teve negócios com a Santillana e Prisa, como é isso?
NaMaria – Foi algo muito edificante do finado secretário. Publiquei no NaMariaNews, em 1/maio/2010, que a Secretaria estava comprando assinaturas do jornal espanhol El Pais, em 28 de abril, para os alunos dos CELs (Centros de Estudos de Línguas). Naquele tempo não havia o valor, mas chutei entre 700 mil e 1 milhão de reais. Fiquei aguardando a atualização no DO e nada. Até que ela veio, primeiro corrigindo o número do contrato. Depois, somente no DO de 12/maio/2010 veio a história toda, sem a quantidade de assinaturas, porém com o valor:

Viomundo – E por que assinar o El Pais e não outro jornal?
NaMaria – Foi justamente o que perguntei em meu texto. Como bom tucano, Paulo Renato era contra o Mercosul, porém muito íntimo da espanhola Santillana, do qual era conselheiro consultivo, assim como era ligado à Editora Moderna.
“O Grupo Prisa é a principal empresa de comunicação em língua espanhola (…) A Santillana começou seus negócios no Brasil em 2001 ao comprar as editoras Moderna e Salamandra (…). Em 2005, adquiriu 75% das ações da editora Objetiva…” Também é dona da Avalia e outros que tais. Quer dizer, tem poder de tiro e amizades sinceras com brasileiros ilustres.
Viomundo – Ou seja, é mais um tipo de modelo de negócios…
NaMaria – Sem dúvida. Só que tem uma coisa nessa história toda que é mais interessante ainda, babado forte…
Viomundo – Como assim? O quê pode ser pior do que isso?
NaMaria – Acontece que quase exatamente um ano após essa compra de R$ 690.336,00. Paulo Renato morre em 26 de junho de 2011 e o Ricardo Noblat noticia: Paulo Renato “estava em negociações para assumir a diretoria para a América Latina do grupo editorial espanhol Prisa, que publica o jornal El País, o mais importante da Europa”.
Daí, que a gente só pode juntar as pontas, concorda? Ou seja, será que o Sr. Paulo Renato Costa Souza aproveitou a boa intenção de introduzir a língua espanhola (da Espanha) para fazer mais um bom negócio, semelhante àqueles feitos com a Folha de SPEstadão, Civita, Abril, Nova Escola, Fundação Roberto Marinho e tais?
Longe de mim pensar em desonestidade, mas a coisa não parece ser na base de uma mão lavando a outra? Tipo assim, “Te compro os jornais numa boa – que são gratuitos pela internet, mas a gente nem liga pra isso – e você me garante um emprego com baita salário, viagens, cartão corporativo etc. e tal?” A função dessa gente é sempre a de se favorecer, acima de tudo? Será?
Mas é o que sempre digo: a função da verdade é aparecer, esta é a sua natureza. Pode demorar, mas aparece.
Portanto, o fato de o governo de São Paulo viver comprando e mantendo a grande imprensa tornou-se ato banal; faz isso há muito mais de 20 anos de PSDB, com maestria exemplar e sem restrições legais ou “pedagógicas”.
Viomundo – Por que isso acontece?
NaMaria – Falta de transparência. Onde ela ocorre, pode crer: há algo escuso, algo de falcatrua.
É dever do Estado, de qualquer Governo, mostrar claramente os seus gastos e a fundamentação deles, as fontes do dinheiro, o destino dado, e assim por diante. Somente com transparência absoluta e simples de ser consultada PELO POVO pode-se comprovar a desonestidade e desmascará-la.
Mas isso não acontece. É complicado, quando não impossível, encontrar essas informações. Como a pessoa precisa ter tempo e paciência gigantescos, acaba desistindo e os números podem ser torturados por qualquer um, em qualquer veículo, em qualquer propaganda política… já que ninguém pode (ou quer) correr atrás.
Sem contar que os Diários Oficiais não seguem uma norma padrão – sem ser o de SP, a maioria é tenebrosa na hora de se buscar informações.
Viomundo – O que você recomendaria à presidenta Dilma se for reeleita?
NaMaria – Para rebater e estraçalhar falsos argumentos de criaturas como os Civita da vida, o governo Dilma deveria escancarar imediatamente seus gastos com a imprensa, seja em qual veículo for.
A bem da verdade, o site do MEC tem os Gastos com Publicidade, de 2006 a 2014, mensais.Entretanto ainda sem tanta transparência, porque detalhes como a fonte dos recursos, unidade gestora, nomes dos veículos e o que vai dentro deles etc., não entram.
Mas, ao menos, tem alguma coisinha que faz a gente poder pensar. Só que “pensar, intuir” é perigoso e leva a erros, torturas de números, ataques, enganos.
É preciso o lema de São Tomé: mostrar, para ver e para crer. Além de não ser tão fácil de se encontrar a informação: você precisa ir na lateral esquerda em Despesas e depois ver o que tem dentro. Tudo vem em PDF: imagina a canseira abrir um por um, organizar… Poderiam melhorar isso. Confesso que não fui ver em outros ministérios, talvez sejam melhores ou piores.
De qualquer modo, deveria-se mostrar: “olha, para a Veja mandamos tantos milhões este mês por conta disso e daquilo, o dinheiro saiu daqui e dali; para a Folha mandamos tantos milhões porque tais e tais ministérios colocaram propaganda disso e daquilo; para a Globo e seus associados (abertos ou não) pagamos tantos milhões este mês porque fizemos tais e tais propagandas…”
Tudo mensalmente, em planilhas simples e claras, ao alcance de qualquer olho – publicadas, abertas, sem necessidade de download, transparentes de verdade.
Viomundo — É mesmo factível isso?
NaMaria  – Claro! O problema é que, atualmente, é missão impossível porque nem o Governo informa isso claramente nem a grande imprensa o faz, é óbvio (e por motivos igualmente óbvios).
Não dá para entender a Secom da Presidência não divulgar seus dados financeiros com qualquer veículo, por exemplo.
Por que os Estados, Municípios, Secretarias, Fundações, Santas Casas…  não divulgam seus gastos claramente? Seria muito mais fácil para os governos inclusive se defenderem, ou não?
Eu, como aranha [logomarca do NaMaria News]” ingênua, meiga e pura”, não consigo compreender os motivos. Se quiserem ajuda, podem me contratar, numa boa (risos).