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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Antonio Cândido indica 10 livros para conhecer o Brasil

Antonio Cândido indica 10 livros para conhecer o Brasil

maio 17, 2013 20:08
Antonio Cândido indica 10 livros para conhecer o Brasil
Por Antonio Candido*, no blog da Boitempo 
Quando nos pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei mais perto da segunda hipótese.
Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da valia de ambos.
Por isso, é sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita coisa boa fica de fora.
São fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.
Entre parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.
Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”.
Em relação às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução:História dos índios do Brasil (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida e abrangente.
Seria bom se houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de desequilíbrio em nossa sociedade.
Esses três elementos formadores (português, índio, negro) aparecem inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance de alto voo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça (que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela fusão inevitável de raças e culturas.
Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler tambémFormação do Brasil contemporâneo, Colônia (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação muito coerente, que privilegia a dimensão material.
Caracterizada a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) eO movimento da Independência (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora do assunto: A América Latina, Males de origem (1905), de Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).
Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império(1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime: Do Império à República(1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira, dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de Pedro II.
A seguir, abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida para alargar as leituras.
Um tópico de grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao ponto de se poder falar em “dois Brasis”, quase alheios um ao outro. As consequências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas.
Da Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação dos chefes políticos locais, os “coronéis”. Um livro que se recomenda por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado do país) éCoronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da chamada República Velha (1889-1930).
O último tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes,A revolução burguesa no Brasil (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política.
Chegando aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores (português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio Buarque de Holanda denominou “americana” da nossa história contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.
No fim de tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc.
* Artigo publicado na edição 41 da revista Teoria e Debate – em 30/09/2000
Antonio Candido é sociólogo, crítico literário e ensaísta.
(Revista Fórum)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Último tijolinho do Jolugue do ano: "Não gosto de você, papai Noel"


Aldemar Paiva morreu aos 89 anos de idade. Alagoano, era um cidadão múltiplo. Poeta, cordelista, jornalista, radialista, cronista. Um dos seus poemas mais conhecidos faz referência ao Natal e, nessa época do ano e por razões óbvias, é bastante invocado: "Não gosto de você, papai Noel". Ainda tive a oportunidade de vê-lo recitar esse poema num dos auditórios da Fundação Joaquim Nabuco. Emotivo, não contive as lágrimas. Curiosamente, até o momento - entre os meus amigo@s - ninguém o citou por aqui. Hoje, com a família, tive a oportunidade de acompanhar a programação infantil que a minha filha caçula acompanha pela TV. Nesse período, há um festival de programação toda voltada para o tema, sobretudo na TV paga. Pois bem. Em todos os programas, invariavelmente, a mensagem (ideologia) que se passa sobre o "não receber presente" está relacionada ao mal comportamento, ou seja, a criança não recebe o presente porque se comportou mal, foi uma criança rebelde, desobediente, mal-educada e outros adjetivos do gênero. No poema de Aldemar Paiva fica evidente as agruras de um pai empobrecido, incapaz de proporcionar um presente ao seu filho. Fiquei imaginando a lógica perversa de um sistema que é capaz de provocar uma maldade tão atroz. Quer dizer, então, que todas as crianças pobres - aquelas cujos pais não reúnem condições de presenteá-las - são crianças ruins, más, indolentes, que não fazem jus ao "sistema de recompensas"? Uma perversidade do sistema capitalista que, certamente, produzirá traumas às crianças que não participam desse "orgasmo" consumista imposto pelo capital. Não gosto de você, papai Noel. Depois dessa e do anúncio do Ministério do Governo Dilma Rousseff, estou me despedindo de vocês para uma vida sem os engarrafamentos do trânsito do Recife, sem Wi-FI e sem TV. Um Feliz Natal para todos os meus amig@s.

Foto de Sebastião Salgado

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"NUNCA É ALTO O PREÇO A SE PAGAR PELO PRIVILÉGIO DE PERTENCER A SI MESMO".
Em razão de felicitá-lo pelo aniversário, visitamos o perfil do italiano Cesare Battisti. Ali encontramos uma citação do filósofo Friedrich Nietzsche sobre as agruras e os prazeres de se manter os princípios, sobretudo numa sociedade como a nossa, de cidadãos-consumidores, da erosão de valores, do desrespeito e indiferença ao ser humano, da destruição do meio ambiente. Identifico-me com as pessoas muito mais pelos princípios que orientam suas vidas, as ideias que abraçam e a coerência com que as defendem. Aproveito essa oportunidade para desejar um feliz natal aos amig@s.

Professor de Oxford traça perfil da "Nova Direita" no Brasil

direita politica brasil facismo
Perfil da “nova direita” no Brasil (Imagem: Pragmatismo Político)
Faixas “Fora, Dilma” e “Fora, comunistas” em meio a gritos de “Somos coxinhas”. Assim, cerca de 500 manifestantes pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff no fim de semana passado, em São Paulo.
As manifestações de grupos de direita esquerda têm se intensificado no país desde as eleições presidenciais. Em novembro, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fez uma marcha na Avenida Paulista contra o ato de eleitores anti-PT descontentes com o resultado das urnas.
Mesmo diante da divisão política expressada nas ruas, especialistas argumentam que o Brasil não vive uma polarização nos moldes de Estados Unidos e Venezuela. A divisão, afirmam, é apenas passageira.
O país vive, na verdade, uma ressaca política depois de uma eleição muito apertada. As pessoas estão usando a palavra ‘polarização’ de uma maneira bastante equivocada”, avalia Timothy Power, diretor do Programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford.
Para o filósofo Paulo Eduardo Arantes, professor aposentado da USP, a disputa entre PT e PSDB foi apenas eleitoral e não representa uma divisão profunda da sociedade.
A polarização da campanha, o ‘nós’ contra ‘eles’, era muito rasa. Com o tempo isso vai desaparecer com as composições que serão feitas no governo”, explica ele, citando a nomeação da senadora Kátia Abreu (PMDB), ligada ao agronegócio, para o Ministério da Agricultura.
Para Power, o descontentamento de uma pequena parte da população se concentra na escolha para presidente, por causa dos programas sociais criados pelos governos petistas desde 2002.
Para outros pleitos, como governos estaduais e prefeituras, o Brasil não apresenta um quadro tão polarizado”, diz o brasilianista.
Nos Estados Unidos, a bipolarização partidária permeia todos os níveis da esfera política, dos estados ao Congresso, com eleições permanentemente apertadas. Apesar de no Brasil a eleição presidencial ser majoritária, o Congresso Nacional apresenta, segundo Power, uma fragmentação muito grande.
As pessoas que estão protestando contra o PT nas ruas devem perceber que a representação do partido no Congresso é hoje menor do que em 2002″, avalia. “O avanço da legenda no Brasil é um fenômeno presidencial. Não tem muito a ver com outras esferas de governo.”
“Nova direita”
Arantes acredita que há uma polarização assimétrica entre uma “nova direita”, surgida após as manifestações de junho de 2013, e a “esquerda oficial”. “Nos protestos, apareceu uma direita social e insurgente, que foi para as ruas em grande número para se contrapor ao status quo de um ponto de vista conservador”, analisa.
O filósofo argumenta que já existia no Brasil uma “direita residual”, que tende a propor intervenções militares. Enquanto este é um segmento minoritário, a “nova direita” tem um maior apelo popular.
Para ele, a assimetria se deve a uma radicalização da direita, que, no entanto, não foi acompanhada pela esquerda. “Uma polarização supõe dois termos antagônicos e extremos, só que um dos polos está em falta. A esquerda institucional, de governo no Brasil, é muito moderada, muito propensa à negociação”, aponta.
Arantes alerta que esse segmento não busca fazer alianças para compor maiorias, mas visa unicamente dificultar o governo do PT. “No Brasil, Jair Bolsonaro [deputado federal], por exemplo, não têm a pretensão de criar um governo de coalizão”, diz. “O Brasil se aproxima do que acontece nos EUA, em que a direita existe para impedir o Obama de governar.”
As redes sociais são o principal instrumento de mobilização desses grupos, segundo Power. Para o professor da Universidade de Oxford, os manifestantes que pedem o impeachment de Dilma se aproveitam da atenção midiática no período de ressaca pós-eleições. O grupo é minoritário e tem uma posição política que não é compartilhada pelos grandes partidos de oposição.
Pedir impeachment é pura fantasia. Esse não é o mesmo cenário de 1992, quando as alegações contra Fernando Collor eram muito fortes e ele tinha pouquíssimo apoio do Congresso”, considera.
Os protestos recentes representam um movimento anti-PT, “até antissistêmico, de certa forma”, diz Power. Ele avalia que a facilidade de mobilização pelas redes sociais ajuda os pequenos movimentos de direita, que nunca tiveram muita penetração na sociedade. “Isso é assimétrico em relação à esquerda, que sempre teve boa capacidade de mobilização popular nos sindicatos e movimentos sociais.”
Power acredita que a internet “equilibra o jogo”, mas de uma maneira superficial. “Hoje, a direita acha que uma conta no Twitter vale mais do que uma CUT, por exemplo, mas não é exatamente assim. Atrás do poder de mobilização das redes sociais, a direita não conta com movimentos organizados”, afirma.
Karina Gomes e Marina Estarque, DW
(Publicado originalmente no Pragmatismo Político)

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Tijolinho do Jolugue: Fiquem de fora da Petrobras, Zumbis.


Não há dúvidas de que a situação da Petrobras é bastante delicada. A cada declaração de servidores da estatal envolvendo questões relativas à corrupção, o quadro fica mais negro. O montante de recursos desviados é algo que espanta. Outro dia, um funcionário dos menos graduados deu uma declaração sobre o quanto ele embolsava de propinas - algo em torno de milhões - o que dimensiona a gravidade da situação. Este mesmo funcionário informou que o problema de corrupção é endêmico naquela empresa. Acrescentaríamos que naquela empresa e no Brasil. Para ficarmos numa referência mais recente, segundo o delator Paulo Roberto Costa, há pelo menos quinze anos o propinoduto atua com todo o vapor na estatal, envolvendo agentes públicos, empreiteiras, partidos e políticos. Montou-se ali uma complexa rede de desvios de recursos públicos, num dos casos de corrupção mais emblemáticos do país. Outro aspecto nebuloso é este tal financiamento de campanhas políticas. Há elementos para se afirmar que a "caixinha dos partidos" era um processo quase que institucionalizado na empresa. Num quadro como este, entende-se a situação de vulnerabilidade da atual presidente da empresa, Graça Foster. Assim como Dilma Rousseff, Graça não transige com malfeitos. Sua vulnerabilidade está diretamente relacionada - e tão somente - às repercussões políticas do problema. Nada a compromete, salvo o fato do "desconhecimento" desse mar de lama. Mas, se como dizem, foi indicada para aquela empresa para "por ordem na casa", possivelmente, o Planalto sabia da encrenca em que ele estava se metendo. O que não se entende é essa grita de vestais e arautos da oposição no sentido de pedir a cabeça da presidente da estatal. A começar pelo fato de que eles participavam ativamente do tal 'banquete' com uma voracidade e apetite até maiores do que o PT, se confirmada a versão de que o Partidos dos Trabalhadores recebeu dinheiro da tal 'caixinha". Outro fato que nos preocupa é a desenvoltura e ingerência dessa gente no sentido de interferir nos rumos do Governo Dilma. Se, de fato, eles querem contribuir que contribuam, por exemplo, com propostas para minimizar esses problemas de corrupção no Brasil, fortalecendo os instrumentos de controle do Estado, ampliando o rigor das leis, algo para o qual o Governo Dilma tem se mostrado francamente receptivo. É um discurso de quem deseja - imaginem - nomear o presidente da estatal. Algo fora de propósito, se entendermos de que quem foi eleita foi a presidente Dilma Rousseff. Embora Dilma tenha adotado - por força das circunstâncias - uma postura conciliadora e transitiva - não raro, a oposição exagera. Isso dá margem há muitas especulações, como um possível diálogo entre Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais nas últimas eleições, e o nosso aprendiz de Carlos Lacerda, Aécio Neves. Num encontro entre ambos, segundo se especulava ontem, no seu apartamento do Leblon, Pimentel, reproduzindo o brasilianista Kenneth Maxwell , que fez uma devassa nos autos da Inconfidência Mineira - encontrando fatos que mudaram significativamente a leitura sobre aqueles acontecimentos históricos - teria pedido para o mineiro baixar a bola, sob pena de mais uma devassa, desta vez nas contas do seu governo.
Fiquem de fora da Petrobras, Zumbis. 

Não há dúvidas de que a situação da Petrobras é bastante delicada. A cada declaração de servidores da estatal envolvendo questões relativas à corrupção, o quadro fica mais negro. O montante de recursos desviados é algo que espanta. Outro dia, um funcionário dos menos graduados deu uma declaração sobre o quanto ele embolsava de propinas - algo em torno de milhões - o que dimensiona a gravidade da situação. Este mesmo funcionário informou que o problema de corrupção é endêmico naquela empresa. Acrescentaríamos que naquela empresa e no Brasil. Para ficarmos numa referência mais recente, segundo o delator Paulo Roberto Costa, há pelo menos quinze anos o propinoduto atua com todo o vapor na estatal, envolvendo agentes públicos, empreiteiras, partidos e políticos. Montou-se ali uma complexa rede de desvios de recursos públicos, num dos casos de corrupção mais emblemáticos do país. Outro aspecto nebuloso é este tal financiamento de campanhas políticas. Há elementos para se afirmar que a "caixinha dos partidos" era um processo quase que institucionalizado na empresa. Num quadro como este, entende-se a situação de vulnerabilidade da atual presidente da empresa, Graça Foster. Assim como Dilma Rousseff, Graça não transige com malfeitos. Sua vulnerabilidade está diretamente relacionada - e tão somente - às repercussões políticas do problema. Nada a compromete, salvo o fato do "desconhecimento" desse mar de lama. Mas, se como dizem, foi indicada para aquela empresa para "por ordem na casa", possivelmente, o Planalto sabia da encrenca em que ele estava se metendo. O que não se entende é essa grita de vestais e arautos da oposição no sentido de pedir a cabeça da presidente da estatal. A começar pelo fato de que eles participavam ativamente do tal 'banquete' com uma voracidade e apetite até maiores do que o PT, se confirmada a versão de que o Partidos dos Trabalhadores recebeu dinheiro da tal 'caixinha". Outro fato que nos preocupa é a desenvoltura e ingerência dessa gente no sentido de interferir nos rumos do Governo Dilma. Se, de fato, eles querem contribuir que contribuam, por exemplo, com propostas para minimizar esses problemas de corrupção no Brasil, fortalecendo os instrumentos de controle do Estado, ampliando o rigor das leis, algo para o qual o Governo Dilma tem se mostrado francamente receptivo. É um discurso de quem deseja - imaginem - nomear o presidente da estatal. Algo fora de propósito, se entendermos de que quem foi eleita foi a presidente Dilma Rousseff. Embora Dilma tenha adotado - por força das circunstâncias - uma postura conciliadora e transitiva - não raro, a oposição exagera. Isso dá margem há muitas especulações, como um possível diálogo entre Fernando Pimentel, eleito governador de Minas Gerais nas últimas eleições, e o nosso aprendiz de Carlos Lacerda, Aécio Neves. Num encontro entre ambos, segundo se especulava ontem, no seu apartamento do Leblon, Pimentel, reproduzindo o brasilianista Kenneth Maxwell , que fez uma devassa nos autos da Inconfidência Mineira - encontrando fatos que mudaram significativamente a leitura sobre aqueles acontecimentos históricos - teria pedido para o mineiro baixar a bola, sob pena de mais uma devassa, desta vez nas contas do seu governo.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tijolinho do Jolugue: Uma relação perigosa entre o Governo do Estado e o TCE




Já comentamos sobre isso aqui antes, mas torna-se inevitável voltarmos ao assunto. A relação entre os neo-socialistas locais e o Tribunal de Contas do Estado é algo que me incomoda e possivelmente deve incomodar a muita gente. Em artigo analisando o Governo do Estado, o professor Michel Zaidan, com muita propriedade, informa que esse fato caracteriza o próprio perfil da gestão pública pernambucana nos governos neo-socialistas. É, antes de tudo, uma prática de corte nada republicano. Vários técnicos daquele órgão integram a gestão estadual, assim como a gestão da capital, a começar pelo próprio Geraldo Júlio, que chegou a cometer aquela lambança de acumular os dois salários, a partir de um precedente na legislação municipal. Podia ser até legal, mas saltava aos olhos a imoralidade. Tanto é assim que ele acabou por renunciar aos seus proventos de técnico daquele órgão. Não faz muito tempo, as contas da Secretaria Municipal de Educação do Recife foram rejeitadas por aquele e órgão. Como era previsível, isso causou um enorme transtorno junto ao alunado, com a impossibilidade de recebimento, inclusive, do fardamento. Logo em seguida, um técnico do TCE passou a gerir aquela secretaria. Curioso, não? Ninguém, em sua sã consciência, poderia imaginar que a gestão do senhor Paulo Câmara - que se inicia no próximo ano - pudesse trazer alguma novidade em relação aos governos anteriores, do seu padrinho político. Longe disso. Por outro lado, essa relação entre o Governo do Estado e o TCE não nos parece algo, digamos assim, suficientemente transparente. O danado é que, quando postamos algo a esse respeito, alguém se antecipou em informar que a "recíproca é verdadeira", ou seja, há alguns nomes do staff neo-socialista estadual naquele órgão de fiscalização das contas públicas e não são aqueles nomes já conhecidos, figuras de proa do neo-socialismo tupiniquim. Pois bem. Não se poderia esperar de Paulo Câmara, ele mesmo um técnico do TCE, produzisse mudanças significativas na condução do Governo Estadual. Não foi eleito para isso. É o homem da continuidade. Mas seria bastante razoável que ele ponderasse sobre possíveis equívocos na condução da máquina pública estadual, minimizando as fontes de arestas e desgastes com a população. Poderia ser uma marca pessoal de sua gestão, já que ele se encontra engessado por alguns constrangimentos. Hoje, ao ler os jornais locais, para nosso espanto, somos informados de que o futuro governador seguirá os mesmos critérios na escolha do seu secretariado, inclusive, ampliando essa parceria com servidores daquele órgão. Governador, isso não fica bem.

domingo, 14 de dezembro de 2014

No Maranhão, Flávio Dino terá rádio pública e internet para enfrentar reação dos Sarney à perda de provilégios

publicado em 12 de dezembro de 2014 às 23:15

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por Luiz Carlos Azenha
Em primeiro de janeiro um jovem de apenas 46 anos de idade, ex-juiz federal, ex-deputado e ex-presidente da Embratur, assume o governo do Maranhão com o compromisso de proclamar a República no Estado.
Trata-se de Flávio Dino, o primeiro governador eleito na história do Partido Comunista do Brasil.
As expectativas em torno de seu governo são imensas: depois de quase 50 anos de controle do Maranhão pela oligarquia do senador José Sarney — com breves interrupções aqui e ali –, metade da população maranhense não dispõe de saneamento básico. É um dado que diz tudo.
Mas há outros: embora esteja em décimo sexto lugar em Produto Interno Bruto, o Maranhão tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da federação, o que reflete uma desigualdade ainda maior que a do restante do país.
Flávio Dino defende o diálogo com todas as forças políticas a partir de convicções claras.
Diz que não vai fazer um governo de revanchismo contra os Sarney e seus associados.
Porém, sabe que ao implantar a impessoalidade nos negócios do Estado vai acabar atacando os privilégios da oligarquia, que se projetou nacionalmente justamente para preservar o completo domínio sobre os negócios locais.
Um domínio expresso muito além das rodovias, escolas, ruas, cidades, prédios públicos e monumentos que levam “Sarney” no nome. Um domínio que só se tornou possível graças a ferramentas como uma poderosa rede de comunicação que inclui a retransmissora da TV Globo e suas afiliadas, o maior jornal de São Luís, portal na internet e dezenas de emissoras de rádio.
Durante a campanha, esta rede foi usada descaradamente. A TV Difusora de Imperatriz, afiliada do SBT que pertence à família Lobão, subalterna dos Sarney na oligarquia, chegou a produzir uma série de cinco reportagens sobre o comunismo para sugerir aos telespectadores, em um importante colégio eleitoral do Estado, que Flávio Dino comeria criancinhas no café da manhã — conforme denunciou Renata Mielli em O Escandaloso antijornalismo dos Sarney.
Na entrevista dos candidatos ao governo na TV Mirante, retransmissora da Globo controlada pelos Sarney, quando foi a vez de Dino o apresentador parecia crente de que o candidato implantaria o comunismo expropriando as igrejas católicas.
A ironia é que, eleito em primeiro turno com mais de 63% dos votos, Flávio Dino diz que seu republicanismo será equivalente a uma “revolução burguesa”, a um “choque de capitalismo” no Maranhão.
Na entrevista exclusiva que concedeu ao Viomundo, na sede do PCdoB no centro de São Paulo, o governador eleito explicou como vai enfrentar o PIG local — PIG, Partido da Imprensa Golpista, na feliz definição do deputado Fernando Ferro para a mídia que se acredita dona de mandato divino para governar.
Também explicou o motivo pelo qual não buscará diálogo com os Sarney.
Veja abaixo os dois trechos iniciais de nossa entrevista. No pé do post, reprodução completa da conversa. No áudio, Dino começa avaliando a decisão da governadora Roseana Sarney de renunciar nos últimos dias do mandato, deixando assim de participar da transmissão do cargo ao comunista.

(Publicado originalmente no site Viomundo)


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Tijolinho do Jolugue: Maranhão: o comunista entrou no "jogo"?





A renúncia da governadora do Estado do Maranhão, Roseana Sarney, foi marcada por alguns simbolismos e muitas espertezas, além de um contingenciamento político que, hoje, nos parece ser sintomático da fragilidade de nosso sistema político/partidário. Precisou-se de muita diplomacia para viabilizar um jantar que o futuro governador, Arnaldo Melo, ofereceu a 300 convidados, na sede do Governo do Estado, O Palácio dos Leões. A transição não está sendo muito bem-conduzida. Flávio se queixa da ausência de informações, dos graves problemas com as finanças do Estado e, naturalmente, da incapacidade de o Governo de Roseana entender a natureza republicana da passagem de cargo. 

Com a manobra, o grupo já começa a criar os primeiros embaraços para o futuro governo. Como o vice de Roseana, Washington Luiz, também renunciou para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas do Estado, quem assume o cargo é o presidente da Assembléia Legislativa, Arnaldo Melo(PMDB). Naquele Estado, como de resto por todo o país, reproduz-se aquela máxima de Sérgio Buarque de Holanda sobre as nossas elites. Eles consideram a esfera pública apenas como uma extensão do seu quintal. A Constituição do Estado, feita sob medida para atender aos interesses do clã, prevê pensão vitalícia de ex-governador para quem assumir o cargo. Fica sub judice, portanto, os argumentos de que a senhora Roseana não desejava passar a faixa apenas por uma questão de birra ou até mesmo que a motivação para a renúncia tem algo a ver com a sua saúde fragilizada.

Talvez em nenhum outro Estado da federação se possa afirmar com tanta convicção que os problemas sociais estão diretamente relacionados ao obscurantismo político do grupo Sarney. O Maranhão é uma terra governada com mão de ferro, apenas para atender aos interesses do clã e dos seus asseclas. Mas, o mais engraçado ainda estava por vir. No seu discurso de despedida - com muito chororô dos apaniguados - Roseana comparou-se a um sol que se põe para o surgimento das trevas trazidas pela noite, numa analogia direta ao Governo do futuro sucessor, Flávio Dino.

Outro gravíssimo problema é o "fenômeno do PRI", que tende a se reproduzir naquele Estado, quiçá pela ausência de quadros que conheçam o azeite da máquina e pelos tentáculos construídos pelo clã nessas cinco décadas de hegemonia do controle político do Estado. Explico. O Partido Revolucionário Institucionalista passou 70 anos de poder no México. Quando, finalmente, foi desbancado, pelo PAN, do então ex-executivo da Coca-Cola, Vicente Fox, ao anunciar o seu "futuro" Governo, uma surpresa: tinha mais gente do "PRI" do que do PAN, o partido de Fox. 

A julgar pelos primeiros nomes cotados para assumir o secretariado do comunista Flávio Dino, o fenômeno tende a se reproduzir naquele Estado da Federação. Muitos desses nomes, conforme um amigo, dormiam com os Sarney ou participavam da cerimônia de beija mão do grupo. Esse fato vem começando a alimentar a descrença da população sobre o futuro governo.  

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Tijolinho do Jolugue: A SUDENE agora é em Cabo Branco, João Pessoa, PB.

O editor do blog recebeu um convite para participar da cerimônia de abertura do Centro de Convenções da Paraíba. Reeditando os antigos grandes encontros dos Governadores da Região Nordeste – que a antiga SUDENE realizava com regularidade – o Governo da Paraíba deu o pontapé inicial nas atividades daquele centro, um dos orgulhos da administração de Ricardo Coutinho. O Centro de Convenções da Paraíba foi projetado pela arquiteta mineira, Isabel Caminha - após vencer licitação pública - fica localizado no bairro de Cabo Branco, nos arredores da capital João Pessoa, um pouco depois do Planetário, um colosso que ainda marca as últimas digitais do arquiteto Oscar Niemeyer. Fica no meio de uma reserva florestal preservada. Mata densa, exuberante, com inúmeras nascentes, cortada pelo rodovia PB-008, que nos conduz ao litoral sul do Estado, onde estão suas mais belas praias. De fato, um equipamento que contribuirá bastante para alavancar o turismo no Estado, dotando-o de uma infraestrutura semelhante aos Estados de Pernambuco e Rio Grande do Norte. O auditório tem capacidade para receber 2.500 pessoas. Em quase tudo o evento se assemelha aos famosos encontros de governadores do Nordeste. Talvez pudéssemos notar ali a ausência do governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho(PP), sempre convidado para os encontros da SUDENE nessas ocasiões, sobretudo em razão do "Nordeste Mineiro", uma microrregião que a SUDENE considerava que guardava algumas semelhanças com a região Nordeste, sobretudo por integrar o polígono da seca. Outro fato digno de registro foi a ausência de grandes lideranças políticas, com a envergadura e o carisma de um Dr. Miguel Arraes. O novo governador do Estado fica bem aquém dessa estatura. Como sempre acontece nessas reuniões, os interesses das políticas regionais estiveram na pauta, discutindo-se como os governadores da região iriam se portar diante da conjuntura política/econômica do país. Valeu, "Mago".

Tijolinho do Jolugue: O adeus ao ex-prefeito de Joâo Pessoa, Luciano Agra.


Ontem, dia 10, vítima de complicações provocadas por um AVC hemorrágico, faleceu num hospital privado da capital, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Agra. Agra estava internado desde o dia 04, com um estado de saúde que oscilava, mas não indicava melhoras significativas. Natural de Campina Grande, Agra era formado em arquitetura pela Universidade Federal de Pernambuco e tinha mestrado em Engenharia Urbana, pela UFPB. Como vice de Ricardo Coutinho, assumiu a Prefeitura de João Pessoa quando este saiu para disputar o Governo do Estado. Passou um pouco mais de dois anos como prefeito, mas deixou um legado de realizações que jamais serão esquecidas pelos pessoenses. Técnico por natureza, político por força das circunstâncias, Agra foi mais um daqueles nomes do Coletivo Ricardo Coutinho que ficaram pelo caminho. Em 2012 tentou a vaga de candidato a prefeito da capital pela legenda do PSB. Mesmo com um currículo invejável de gestor público, foi preterido em nome de Estelizabel Bezerra, esta, então, creio, mais confiável aos planos de Ricardo Coutinho. Agra nunca mais se refez da manobra, embora tenha dado o troco ao "Mago", aliando-se a Luciano Cartaxo(PT), que venceu aquelas eleições. Há quem diga, não sei se com algum exagero, que João Pessoa perdeu seu melhor prefeito de todos os tempos.Colegas nossas costumam fazer essa afirmação, elencando o conjunto de grandes obras que ele deixou na cidade. A essas horas, Agra já deve estar lá por cima, degustando uma cioba fresca, pescada na praia de Tambaú, com alguns pescadores que também já desencarnaram. Quando estou lá por aquelas bandas, nunca deixo de visitar aquela peixaria. Quando Agra assumiu, existia uma grande polêmica sobre esse comércio de peixes mantidos pela colônia de pescadores daquela praia. Como representante do poder público, Agra emprestou total apoio e solidariedade à colônia de pescadores. Eles são eternamente gratos ao ex-prefeito.

Tijolinho do Jolugue: Dilma chora ao ler relatório final da Comissão da Verdade.

Ontem a presidente Dilma Rousseff recebeu o relatório final da Comissão da Verdade. Como ex-guerrilheira, em sua fala, emocionou-se bastante. Já afirmei e volto a afirmar que, num país da cultura da conciliação, onde tudo se resolve com uns tapinhas nas costa, torna-se muito difícil o enfrentamento das atrocidades cometidas durante o regime militar. Países que passaram pelo mesmo drama da ditaduras militares conseguiram avanços bem mais significativos no sentido de responsabilização e punição aos envolvidos com tortura, mortes e desaparecimentos de militantes. Aqui a coisa não anda. Documentos são "desaparecidos", militares são proibidos de dar declarações pelos seus superiores, manifestos com esperneios começam a circular pelos quartéis, os chefes civis do Ministério da Defesa endossam as posições dos militares. São evidências, como dizem os cientistas políticos, de uma democracia tutelada ou semidemocracia. Nesse contexto, torna-se muito difícil que trabalhos como o realizado pela Comissão da Verdade possam resultar, efetivamente, volto a repetir, na punição de militares envolvidos com atrocidades cometidas durante o regime militar. Em todo caso, para os otimistas, algumas notícias são alvissareiras. Dos 377 nomes de responsáveis por graves violações dos direitos humanos, apontados pelo relatório, 23 deles já são réus em processos. Outro fato importante é o entendimento de que os crimes da Ditadura, pelo contexto e pela prática sistemática, são imprescritíveis, portanto, fora do escopo da Lei da Anistia. Esse aspecto vem produzindo um grande debates entre os juristas. Salvo algum engano, o jurista pernambucano Paulo Cavalcanti, homem forte do Ministério da Justiça quando Fernando Lyra era titular daquela pasta, manifestou uma posição reticente em relação ao caso, dando a entender que os militares não seriam alcançados, segundo entendimento do próprio STF. Vamos ver. Na semana passada, em decisão inédita, a Justiça Federal de São Paulo reverteu uma decisão de primeira instância contra o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, por ocultação de cadáver de um militante morto por tortura.

A charge é de Renato Aroeira, publicada no Jornal O Dia. 


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Fronteira do Pensamento: Entrevista com Zygmunt Bauman.


“Hoje, os jovens que não perderam a ambição com as amargas experiências de trabalho sonham em ir para o Vale do Silício. É a meca das ambições de todo jovem, a ponta da lança da inovação, do progresso. Sabe qual é a média de um trabalhador em uma empresa do Vale do Silício? Oito meses.” - Zygmunt Bauman











O sociólogo polônes Zygmunt Bauman, em entrevista à MGMagazine, fala, aos 89 anos, sobre o mundo atual e como entende os efeitos da modernidade sobre as pessoas. “As consequências são a austeridade, o aumento do desemprego e, sobretudo, a devastação emocional e mental de muitos jovens que entram agora no mercado de trabalho e sentem que não são bem-vindos, que não podem adicionar nada ao bem-estar da sociedade, porque são uma carga”, diz.
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Entrevista Zygmunt Bauman: vivemos o fim do futuro
MGMagazine: O senhor imaginou que poderia se tornar uma estrela midiática em nível global?
Zygmunt Bauman:
 Certamente não. Mas não sou uma estrela. Quando eu morrer, o que provavelmente acontecerá logo, com certeza morrerei como uma pessoa insatisfeita, que não alcançou seu objetivo.
MGMagazine: Por quê?
Zygmunt Bauman: Porque tratei de transmitir certas ideias durante toda a minha vida, que tem sido muito longa. E quando olho pra trás, existe toda uma montanha cinza de esperanças e expectativas que morreram ao nascer ou faleceram muito jovens. Não tenho nada para me gabar. Tento juntar palavras para dizer às pessoas quais são os problemas, de onde eles vêm, onde se escondem, como encontrar ajuda para resolvê-los se for possível. Mas são palavras. E não nego que são poderosas, porque a nossa realidade, o que nós pensamos que é o mundo, esta sala, nossa vida, nossas lembranças, são palavras. Mas, apesar de ter vivido tantos anos, não consegui resolver o problema de transformar as palavras em carne. Hoje, existe uma enorme quantidade de pessoas que querem a transformação, que têm ideias de como tornar o mundo melhor não somente para eles, mas também para os outros, mais hospitaleiro. Mas na sociedade contemporânea, na qual somos mais livres do que nunca, ao mesmo tempo somos também mais impotentes do que em qualquer outro momento da história. Todos sentimos a desagradável experiência de ser incapazes de mudar qualquer coisa. Somos um conjunto de indivíduos com boas intenções, mas entre as intenções e os projetos e a realidade tem muita distância. Todos sofremos agora mais do que em qualquer outro momento pela falta total de agentes, de instituições coletivas capazes de atuar efetivamente.
MGMagazine: O que mudou?
Zygmunt Bauman: Quando eu era jovem, todos os meus contemporâneos, de esquerda, direita ou centro, coincidiam em um ponto: se chegamos ao governo ou fazemos uma revolução, sabemos o que fazer e como fazer através do poder do Estado. Agora, ninguém acredita que o governo pode fazer algo. Os governos são vistos como instituições que nunca cumprem suas promessas. É um grave problema. Porque significa que, embora saibamos como criar uma sociedade mais humana – e no momento abandonamos a esperança de poder projetá-la–, a grande pergunta, para a qual não tenho resposta, é quem vai transformá-la em realidade.
MGMagazine: Viver em um mundo líquido, o que isso significa exatamente?
Zygmunt Bauman: Modernidade significa modernização obsessiva, viciante, compulsiva. Modernização significa não aceitar as coisas como elas são, e sim transformá-las em algo que consideramos que é melhor. Modernizamos tudo. Você pega as suas regulações, seus objetos, e trata de modernizá-los. Não duram muito tempo. Isso é o mundo líquido. Nada tem uma forma definida que dure muito tempo. Deve-se dizer que fundir o que é sólido, transformá-lo em líquido e moldá-lo de novo era uma preocupação da modernidade desde o princípio, mas o objetivo era outro. Arbitrariamente, mas acredito que de forma útil, situo o início da modernidade no ano de 1.775 no terremoto de Lisboa, seguido de um incêndio que destruiu o que restava e em seguida umtsunami que levou consigo tudo para o mar.
MGMagazine: Por que nesse terremoto?
Zygmunt Bauman: Foi uma catástrofe, não só material, mas também intelectual. As pessoas pensavam, até então, que Deus tinha criado tudo, que tinha criado a natureza e disposto leis. Mas, de repente, veem que a natureza é cega, indiferente, hostil com os humanos. Não se pode confiar nela. O mundo tem que estar sob direção humana. Substituir o que existe pelo que se pode projetar. Assim, Rousseau, Voltaire ou Holbach viram que o antigo regime não funcionava e decidiram que tinham de fundi-lo e refazê-lo de novo no molde da racionalidade. A diferença em relação ao mundo de hoje é que não o faziam porque não gostavam do que era sólido, e sim, pelo contrário, porque acreditavam que o regime que existia não era suficientemente sólido. Queriam construir algo resistente para sempre que substituísse o oxidado. Era a época da modernidade sólida. A época das grandes fábricas empregando milhares de trabalhadores em enormes edifícios de tijolos, fortalezas que iam durar tanto quanto as catedrais góticas. No entanto, a história decidiu um caminho muito diferente.
MGMagazine: Tornou-se líquida?
Zygmunt Bauman: Sim. Hoje a maior preocupação da nossa vida social e individual é como prevenir que as coisas sejam fixas, que sejam tão sólidas que não possam mudar o futuro. Não acreditamos que existam soluções definitivas, e não é só isso: não gostamos delas. Por exemplo: a crise que muitos homens têm ao fazer 40 anos. Ficam paralisados pelo medo de que as coisas já não sejam como antes. E o que mais lhes dá medo é ter uma identidade aferrada a eles. Uma imagem que não se pode tirar. Estamos acostumados com um tempo veloz, certos de que as coisas não vão durar muito, de que vão aparecer novas oportunidades que vão desvalorizar as existentes. E isso acontece em todos os aspectos da vida. Há duas semanas, as pessoas faziam filas durante a noite pelo iPhone 5 e agora mesmo estão fazendo pelo 6. Posso garantir que em dois anos aparecerá o 7 e milhões de iPhones 6 serão jogados no lixo. E isso dos objetos materiais funciona da mesma forma com as relações pessoais e com a própria relação que temos conosco mesmos, como nos avaliamos, que imagem temos de nossa pessoa, que ambição permitimos que nos guie. Tudo muda de um momento a outro, somos conscientes de que somos transformáveis e, portanto, temos medo de fixar qualquer coisa para sempre. Provavelmente, seu governo, como o do Reino Unido, convoca seus cidadãos a serem flexíveis.
MGMagazine: Sim, convoca.
Zygmunt Bauman: O que significa ser flexível? Significa que você não está comprometido com nada para sempre, mas sim pronto para mudar a sintonia, a mente, em qualquer momento no qual seja requisitado. Isso cria uma situação líquida. Como um líquido em um copo, no qual o mais leve empurrão muda a forma da água. E isso está em todos os lugares.
MGMagazine: Quais o senhor acredita que são os efeitos desta nova situação nas pessoas?
Zygmunt Bauman: Há alguns anos, os jovens iam trabalhar para a Ford ou a Fiat como aprendizes e podiam acabar ficando ali pelos próximos 40 anos se não se embebedavam ou morriam antes. Hoje, os jovens que não perderam a ambição depois de ter amargas experiências de trabalho sonham em ir ao Vale do Silício. É a meca das ambições de todo homem jovem, a ponta da lança da inovação, do progresso. Você sabe qual é a média de um trabalhador de uma empresa do Vale do Silício? Oito meses. O sociólogo Richard Sennet calculou, há uns anos, que o trabalhador médio mudaria de empresa onze vezes durante a sua vida. Hoje, essa quantidade é inclusive maior. As gerações que emergem das universidades em grandes quantidades estão ainda buscando emprego. E se encontram, não tem nada a ver com suas habilidades e expectativas. Estão empregados em trabalhos precários, temporários, sem segurança, sem carreira. Então, a principal maneira pela qual nos conectamos com o mundo, que é a nossa profissão, nosso trabalho, é fluida, líquida. Estamos conectados apenas pela água. E não se pode estar conectado por isso, ocorrem inundações, fugas...
MGMagazine: Por isso você diz que passamos do proletariado ao precariado?
Zygmunt Bauman: Há não muito tempo o precariado era a condição de vagabundos, sem-teto, mendigos. Agora, marca a natureza da vida de pessoas que há 50 anos estavam bem instaladas. Pessoas de classe média. Com exceção do 1% que está acima de tudo, ninguém pode se sentir seguro hoje. Todos podem perder as conquistas alcançadas durante sua vida sem aviso prévio. Não faz tantos anos, seis, o crédito e os bancos entraram em colapso e as pessoas começaram a ser despejadas de suas casas e seus trabalhos. Antes disso, os otimistas falavam de orgia de consumo, as pessoas pensavam que podiam gastar dinheiro que não tinham porque as coisas seriam cada vez melhores, assim como seus rendimentos, mas tudo isso desabou. As consequências são hoje os cortes, a austeridade, o alto nível de desemprego e, sobretudo, a devastação emocional e mental de muitos jovens que entram agora no mercado de trabalho e sentem que não são bem-vindos, que não podem acrescentar nada ao bem-estar da sociedade, que são um peso.
MGMagazine: Aumenta o que o senhor chama de vidas desperdiçadas.
Zygmunt Bauman: Cada vez há mais. Mas é que, além disso, as pessoas que têm emprego experimentam a forte sensação de que existem altas possibilidades de que também virem resíduos. E, mesmo conhecendo a ameaça, são incapazes de preveni-la. É uma combinação de ignorância e impotência. Não sabem o que vai acontecer, mas nem mesmo sabendo seriam capazes de preveni-lo. Ser o resto, um resíduo, é uma condição ainda de uma minoria. No entanto, impacta não somente os empobrecidos, mas também setores cada vez maiores das classes médias, que são a base de nossas sociedades democráticas modernas. Estão atribuladas.
MGMagazine: As classes médias vão desaparecer?
Zygmunt Bauman: Estamos em um interregno. A palavra foi usada pela primeira vez na história da Roma Antiga. O primeiro rei lendário foi Rômulo, que reinou por 38 anos. Essa era a expectativa de vida das pessoas, então, quando ele morreu, pouca gente lembrava do mundo sem ele. As pessoas estavam confusas. O que fazer? Rômulo lhes dizia o que fazer. E se houvesse outro, ninguém sabia o que ele lhes pediria. Gramsci atualizou a ideia de interregno para definir uma situação na qual as antigas formas de fazer as coisas já não funcionam, mas as formas de resolver os problemas de uma nova maneira efetiva ainda não existem ou não as conhecemos. E nós estamos assim. Os governos vivem presos entre duas pressões impossíveis de reconciliar: a do eleitorado e a dos mercados. Eles têm medo de que, se não agem como as bolsas e o capital móvel querem, as bolsas quebrarão e o dinheiro irá a outro país. Não se trata apenas de que possa haver corrupção e estupidez entre os nossos políticos, mas sim que essas situações os deixam impotentes. E, por isso, as pessoas buscam desesperadamente novas formas de fazer política.
MGMagazine: Como os indignados?
Zygmunt Bauman: É um bom exemplo. Se o governo não cumpre, vamos à praça pública. Mas é uma boa tentativa que não traz muito resultado. Estamos tentando. Tentando criar alternativas praticáveis para atender às necessidades coletivas. O interregno por definição é transitório. Eu acredito que não viverei para ver o novo arranjo, mas sua vida estará repleta de buscas por essas alternativas. Porque este período de suspensão, no qual muitas coisas vão mal e temos poucas ideias para resolvê-las, não é eternamente concebível.
MGMagazine: Será que já não estamos líquidos demais?
Zygmunt Bauman: As mudanças vêm e vão. Muita gente está hoje convencida de que já existem alternativas, mas que são invisíveis porque ainda estão muito dispersas. Jeremy Rifkin fala da utilidade pública colaborativa. Benjamin Barber publicou o livro Se os prefeitos governassem o mundo, no qual diz que os estados estão acabados, que foram uma boa ferramenta para a separação, a independência e a autonomia, mas que em nossos tempos de interdependência devem ser substituídos. Que as instituições locais são capazes de enfrentar os problemas muito melhor, têm a dimensão adequada para ver e experimentar sua coletividade como uma totalidade. Podem levar adiante lutas muito mais efetivas para melhorar as escolas, a saúde, o emprego, a paisagem. Pede um tipo de Parlamento mundial de prefeitos das grandes cidades. Um Parlamento onde as pessoas falem e compartilhem experiências que são altamente parecidas. E as mudanças podem já estar aqui. Minha tese, quando eu estudava, foi sobre os movimentos operários na Grã Bretanha. Pesquisei nos arquivos do século XIX e nos jornais. Para minha surpresa, descobri que até 1875 não se mencionava que estava acontecendo uma revolução industrial, havia apenas informações dispersas. Que alguém tinha construído uma fábrica, que o teto de uma fábrica desabou... Para nós, é óbvio que estavam no coração de uma revolução, para eles, não. É possível que, quando você for entrevistar alguém dentro de 20 anos, essa pessoa lhe diga: “Quando você entrevistou o Bauman em Leeds, vocês estavam no meio de uma revolução e o senhor perguntava a ele sobre mudanças”.

Tijolinho do Jolugue: Garotinho para uma das diretorias do Banco do Brasil.


Política tem algumas coisas engraçadas, para não dizer trágicas. Com um feeling político bastante apurado, Miguel Arraes sempre estabeleceu alianças com segmentos políticos conservadores da política pernambucana. Presidiu o IAA e, já em 47 foi eleito deputado pelo antigo PSD, um partido não necessariamente do campo progressista. Por outro lado, sempre manteve suas convicções em torno dos valores da democracia, abraçou a defesa dos interesses nacionais e mantinha uma sensibilidade social como poucos políticos de sua geração. Quando foi deposto em 64, tinha como vice o político Paulo Guerra, oriundo da aristocracia açucareira do Estado. Portanto, um nome confiável aos militares. Tanto é assim que, enquanto o titular foi deposto e preso, Paulo foi mantido no cargo, salvo melhor juízo, sem muitas delongas. Como afirmamos outro dia, essas raposas sempre nos deixam algumas lições de política... para o bem ou para o mal. É atribuída a ele uma expressão conhecida da política, sempre lembrada nesses momentos bicudos: Em política não existem nunca nem jamais. Nas coxias, percebe-se o esforço que a presidente Dilma vem fazendo em Brasília para garantir essa tal governabilidade e a saúde de nossas instituições democráticas. O assédio dos Carlos Lacerda é grande. Há uma tecitura malévola contra o PT em andamento. Dilma, se atingida, será por tabela. Vem mantendo os conspiradores sob vigilância cerrada, mantendo os por perto. Para alguns, perto demais: na Esplanada dos Ministérios. Levy, Kátia Abreu e hoje surgiu a especulação em torno do nome do ex-governador Anthony Garotinho para ocupar uma vice-diretoria do Banco do Brasil. No Maranhão, quem esperava uma ampla renovação dos quadros da administração pública com a ascensão de um comunista ao poder, pode acautelar-se. Dos nomes cotados até o momento, boa parte participava da cerimônia de beija-mão dos Sarney. Mas, como diria o velho Dr. Arraes, vamos aguardar o jornal que, de fato, conta: O Diário Oficial.

A charge é do genial Renato Aroeira.