pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Impresso em crise: A cabeça da serpente.

IMPRESSOS EM CRISE

A cabeça da serpente

Por Jota Alcides em 03/02/2015 na edição 836
 
A crise dos jornais no mundo inteiro é a pior em mais de 400 anos de história. Grandes e tradicionais jornais, nos países desenvolvidos e nos emergentes, ou estão fechando ou estão sendo vendidos. Causa principal: explosão da internet, já alcançando 3 bilhões (2014) de pessoas no mundo.
Desde a expansão da internet nos anos 1990, a receita dos jornais nos EUA só tem caído. Em 2012 foi a mais baixa dos últimos 50 anos, segundo recente revelação da mídia, 15% mais baixa do que a receita de 1956.
Nem o Japão, sempre apontado como imune à crise dos jornais, escapa. Suas tiragens permanecem enormes – o Yomiuri Shimbun, maior diário japonês, vende 10 milhões de exemplares diários matinais e 3,6 milhões vespertinos (mais do que todos os jornais brasileiros juntos). A circulação no Japão caiu somente 6,3% na última década, ainda pequena se comparada com os 10,6% nos Estados Unidos. Entretanto, os jornais japoneses começam a sentir os efeitos mais fortes da internet na queda de publicidade: faturaram, em 2009, 565,5 bilhões de ienes (US$ 6,2 bilhões), contra 858,4 bilhões de ienes em 1998, segundo a revista britânica The Economist.
Nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e na América do Sul o diagnóstico é o mesmo: a internet está derrubando a circulação e a publicidade dos jornais. Com essas duas fontes de receita em queda, agrava-se a crise.
Jovens mais distantes
No Brasil, já se foram, extintos, grandes e tradicionais títulos do mercado impresso:Jornal do BrasilTribuna da ImprensaDiário Popular e Jornal da Tarde. O Globo demitiu mais de 100 profissionais nãos últimos meses, o Estadão está demitindo, o Estado de Minas está demitindo e o Diário de Pernambuco, mais antigo jornal em circulação na América Latina, um patrimônio histórico dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, acaba de ser vendido.
É uma crise tão grave que os donos de jornais no Brasil e no mundo estão atordoados, não sabem o que fazer. Quando a internet explodiu, muitos jornais aproveitaram para fazer marketing de avanço tecnológico. Alguns, como o Jornal do Brasil, chegaram a anunciar orgulhosamente suas edições na internet. Mal sabiam que estavam alimentando uma gigantesca, poderosa e insaciável serpente.
Como agora sabem disso, os jornais da Alemanha fazem alguns ensaios diferentes. Há 30 anos, o diário Abendzeitung, de Munique, tinha 300 mil leitores. Hoje, sua circulação é de apenas 107 mil exemplares. Em Berlim, Hamburgo e Munique os jornais perderam cerca de 30% de seus leitores durante a última década. Na Alemanha e em todo o mundo, além da internet, dos altos custos de produção e da queda de publicidade, os jornais ainda enfrentam outro problema: os jovens estão cada vez mais distantes dos jornais e mais próximos da internet, e os mais velhos, tradicionais assinantes de jornais, estão morrendo sem substitutos. O que fazer?
Conteúdo da internet
Alguns jornais da Alemanha, como o Süddeutsche, estão agora fazendo o contrário do que fizeram muitos jornais no mundo: separando suas edições impressa e online. A equipe impressa produz o jornal diário, que fecha às 17 horas e precisa ser capaz de atrair os leitores até o dia seguinte; e a equipe online produz o jornal em tempo real. É o primeiro ensaio para evitar que a edição online canibalize a edição impressa.
Durante os primeiros anos de explosão da internet, os donos de jornais acreditaram que deveriam colocar seu conteúdo gratuitamente nos próprios sites porque isso acabaria atraindo mais leitores e compradores de seus produtos impressos. Sabem hoje que isso resultou numa grande falácia.
Mas sabem também, hoje, que os jornais são os principais alimentadores de conteúdo da internet. Então, pergunta-se: o que acontecerá se todos os jornais do mundo saírem da internet? Não apenas um, ou dois, ou três, mas todos, no mundo todo, unidos pelo instituto de sobrevivência e articulados pela Associação Mundial de Jornais.
É uma solução radical e ousada, mas é a única salvação dos jornais para manter viva a história iniciada por Relation, o primeiro jornal impresso da história mundial, exatamente em 1605 na franco-germânica Estrasburgo, conhecida como uma das capitais da Europa. Tirar o conteúdo de todos os jornais da internet é degolar a cabeça da serpente.
***
Jota Alcides é jornalista e escritor

(Publicado originalmente no Observatório da Imprensa)

Michel Zaidan Filho: Apagão político


 
                                                                                                
                                               Nunca se viu uma conjuntura de tantas dificuldades e incertezas, no horizonte político do Brasil, como esta que estamos vivendo. Só se acumulam nuvens escuras e ameaçadoras num céu que promete desabar a qualquer hora sobre as nossas cabeças. É como se o ano novo e o novo mandato da Presidenta ainda não tivesse começado. A agenda negativa do ano anterior persiste em ficar e piorar a cada minuto. Com exceção da equipe econômica e seu programa de ajuste fiscal, o resto é notícia ruim. Por exemplo,  a eleição do presidente da Câmara e a vitória de seu bloco (10 partidos) suprapartidário, a instalação da nova CPI da Petrobras, a renúncia da diretoria da Petrobras, a falta de água e o possível racionamento da  energia elétrica. Se o ambiente já não era bom, ficou pior. Num quadro de tantas dificuldades econômicas (inflação alta, déficit nas transações em conta corrente, desequilíbrio fiscal, alta do dólar, baixíssimo crescimento econômico), a Presidenta Dilma  precisa - como nunca - de um sólido apoio do Poder Legislativo para enfrentar as dificuldades. Mas a situação lhe é adversa. A fragmentação da representação parlamentar, o encolhimento da sua base de apoio e o velho e conhecido fisiologismo do PMDB não lhe permite ter ilusões sobre esse apoio político. Mas sim muitas apreensões e desconfianças do que pode vir contra ela do Congresso Nacional. Se pudesse prescindir das Casas Legislativas para tocar  a agenda econômica seria uma tranquilidade. Infelizmente o Congresso, na atual conjuntura, só é relevante pelo saco de maldades que pode preparar para a Presidenta.
                                              Some-se a isso, o prosseguimento no Supremo Tribunal Federal do processo da "Operação Lava Jato" e a possibilidade bem concreta de vários parlamentares e ex-próceres do PT serem denunciados por corrupção. Quanto mais avançam as investigações e ouvidas na Polícia Federal, a munição para CPI vai ficando mais rica e variada. E antes mesmo que o STF condene ou denuncie parlamentares eventualmente envolvidos no esquema de desvio de dinheiro público, a CPI na Câmara dos Deputados já estará fazendo estragos e arranhões na reputação dos envolvidos e tentando comprometer a imagem do governo petista. Convenhamos, não é exatamente um clima favorável para início de mandato e de legislatura. Não se espera de uma Casa Legislativa, em ambiente de dificuldades econômicas, que inicie suas atividades em guerra contra o Executivo e fazendo as vezes de advogado de acusação. Isto pode até render dividendos políticos para a próxima eleição, mas não ajuda na execução de uma  agenda positiva em favor do interesse público. Se, conforme os estudiosos, já se constata a irrelevância e a  perda de importância dos parlamentos contemporâneos, em benefício do Poder Judiciário e do Executivo, imagine um Congresso recém-eleito que se aplica inteiramente em investigar e produzir provas contra os adversários políticos!
                                               Se os crimes contra a administração pública devem ser punidos - e devem - que sejam apurados pelos órgãos judiciários e policiais. Não pelo Poder Legislativo que, além de não estar devidamente aparelhado para isso, não tem como competência principal apurar crimes e responsabilidades criminais. As CPIs transformam-se em palco para os nobres parlamentares exibirem seus dotes de arguidores, sem o devido processo legal, sem o direito do contraditório e a ampla defesa. Os "réus" são constrangidos, ameaçados, ofendidos, humilhados ou submetidos a um verdadeiro linchamento moral, diante das câmeras televisivas. Enquanto isso, o país fica à espera de solução para os graves problemas que afligem à maioria do povo brasileiro.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da UFPE e coordenador de Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Roberto Mangabeira Unger reassume Secretaria de Assuntos Estratégicos.




Recentemente, o ministro Miguel do Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência, um dos mais esquerdistas do Governo Dilma, foi vaiado num evento organizado pela UNE, por uma trupe de jovens ligados ao PSOL. O ministro negou que estivesse em curso, nesse segundo mandato da presidente Dilma, uma reforma de corte neo-liberal, com comprometimento dos programas sociais. Quando saiu sua nomeação, em substituição a Gilberto Carvalho - o então homem forte de Lula no Planalto - Rossetto foi festejado como um espécie de reserva moral na composição do ministério de Dilma Rousseff, diante de tantos nomes pouco expressivos ou estreitamente vinculados às forças conservadoras. 

Agora vem a notícia de que o economista Marcelo Néri deverá ser substituído na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Em seu lugar, assume o polêmico professor Roberto Mangabeira Unger​. Adjunto, Marcelo Néri foi conduzido à titularidade com a saída do titular da pasta. Uma das maiores autoridades brasileiras no estudo da Nova Classe "C", sua indicação agradou a muitos setores. Reúne competência técnica com comprometimento político. Assim como não se sabe porque Mangabeira foi convidado a voltar aquela secretaria com status de ministério, também não se sabe as razões pelas quais Néri foi afastado do cargo. Trata-se de mais um arranjo político que exige um certo contorcionismo para entendê-lo. Já faz algum tempo que não se sabe mais o que são os projetos estratégicos do Governo Dilma, salvo uma tentativa de evitar as manobras da oposição no sentido de apeá-la do cargo.

Confesso nossa surpresa com a saída de Marcelo Néri, a quem acompanhamos de perto, sobretudo em relação aos estudos sobre a nova classe média que, aliás, até então, era um assunto de natureza estratégica. Deixou de ser? Seria essa a razão da saída de Néri do ministério? Com sua saída, o Governo Dilma perde um excelente quadro, que deverá voltar à sala de aula na Fundação Getúlio Vargas.  

Apesar de  uma admiração pessoal e identificação com algumas posições de Roberto Mangabeira Unger, um doce para quem decifrá-lo politicamente. Pelo andar da carruagem política, entretanto, a essa altura do campeonato, esse não parece ser um critério que entra no julgamento da presidente Dilma Rousseff​. É muito difícil entender o que está se passando nos bastidores político do Planalto. Mangabeira mantém uma ponte entre o Planalto e a Universidade de Harvard, onde orgulha-se de ter sido professor aos 24 anos de idade. Já esteve identificado politicamente com Ciro Gomes, Leonel Brizola, Lula, Dilma. Em ralação a Lula, chegou a propor uma cruzada para derrubá-lo, taxando-o como o Governo mais corrupto da história da República. Logo em seguida, estava compondo o seu Governo. Ainda um dia, quando a nossa modesta inteligência permitir, vou entender essa jogada do futuro ministro. 

O bate-boca entre Aécio Neves e Renan Calheiros

Eleição da Mesa gera bate-boca entre Aécio e Renan. Descontente com a distribuição de cargos no Senado, tucano acusou peemedebista de privilegiar aliados. “Vossa excelência apequena esta Casa!”, bradou. Renan rebateu dizendo que colega desrespeita a democracia

O tempo fechou durante a escolha dos demais membros da Mesa Diretora do Senado, com direito a anúncio de desfiliação por parte da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) e troca de ofensas, aos gritos, entre o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG) – um dos responsáveis, segundo a própria tucana, por sua decisão de deixar o partido. Ao final da tumultuada sessão preparatória da nova legislatura (2015-2018), que durou cerca de três horas e provocou debandada de blocos partidários do plenário, a chapa única foi aprovada por 46 votos a dois, com uma abstenção
Dois nomes da composição anterior foram mantidos em seus respectivos postos na Mesa – Jorge Viana (PT-AC), na primeira vice-presidência, e Romero Jucá (PMDB-RR), na segunda vice. Os demais escolhidos foram Vicentinho Alves (PR-TO), na primeira secretaria; Zezé Perrella (PDT-MG), na segunda; Gladson Cameli (PP-AC), na terceira; e Angela Portela (PT-RR), na quarta. O quadro de suplentes será composto por Sérgio Petecão (PSD-AC), na primeira suplência; João Alberto Souza (PMDB-MA), na segunda; e Douglas Cintra (PTB-PE), na terceira. A quarta suplência segue vaga, uma vez que a bancada do DEM retirou da chapa, em um dos vários atos de rebelião, o nome de Maria do Carmo Alves (SE).
“Arregacem as mangas, sejam preparados porque vocês vão experimentar o que vocês nunca viram nesta Casa, uma oposição com conteúdo, com preparo e com capacidade de fazer o bom combate”, bradou da tribuna o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), antes de deixar o plenário. “Acreditava que a proporcionalidade seria respeitada. E, no acordo com o PP, como nós temos o mesmo número de senadores, nós fizemos um entendimento de que o Democratas abria mão da quarta secretaria e ocuparia a primeira suplência. Não sendo cumprido, o Democratas também se afasta da participação.”
A chapa única foi decidida em reunião realizada na residência oficial do Senado, ocupada por Renan nos últimos dois anos e pelos próximos dois. Além dele, participaram da articulação os governistas nordestinos Fernando Collor (PTB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Humberto Costa (PT-PE), Jorge Viana (PT-AC), José Pimentel (PT-CE) e Eunício Oliveira (PMDB-CE). Renan reagiu às acusações de que teria imposto o quadro ao conjunto dos senadores, alijando partidos de oposição e desrespeitando os critérios de proporcionalidade, praxe na Casa que distribui postos aos partidos mais numerosos. “Quem inscreve a chapa não é o presidente do Senado. São os líderes”, argumentou.

Gritaria

Mas o momento de mais tensão foi o bate-boca, aos gritos, entre Renan e Aécio. Depois de inúmeros apelos da oposição pela revisão dos acordados já encaminhados, com imposição de predomínio da base aliada, e diante da inflexibilidade de Renan, que se dizia regimentalmente impedido de alterar o rumo da votação, Aécio apontou o dedo em direção à Mesa e disparou:
“Vossa excelência subverte a ordem natural das coisas. Pergunta se o PSDB ainda mantém a sua indicação, ou o PSB? Não. Essas são as indicações naturais, com base na proporcionalidade, no respeito à população, no respeito à democracia interna. Vossa excelência será o presidente dos ilustres senadores que o apoiaram, mas perde a legitimidade para ser presidente dos partidos de oposição nesta Casa”, vociferou Aécio, imediatamente rebatido por Renan.
“Que bom que isso esteja sendo dito por vossa excelência, que foi candidato a presidente da República, e tem a dimensão do que é a democracia”, rebateu o peemedebista, já abandonando o tom sereno das colocações – e, com mais uma declaração, em tom irônico, irritou Aécio ao fazer menção à postura do tucano durante as eleições. “Por isso deu no que deu”, emendou Renan, sugerindo que Aécio relativiza os valores democráticos ao não transigir com o entendimento da maioria. “Vossa excelência perdeu a chance de ser presidente da República, porque é estreito!”
“Vossa excelência está desrespeitando, senador Renan! Desrespeita a democracia para atender às conveniências da sua eleição! Tive 51 milhões de votos, que eu honro! Perdi [as eleições] de cabeça erguida! Olho nos olhos dos cidadãos! Vossa excelência apequena esta Casa! Vossa excelência venceu perdendo a dignidade que esse cargo deveria ter!”, replicou Aécio, aos berros, acusando o grupo de Renan de urdir uma estratégia que deixaria o PSDB de fora da composição da Mesa – mesmo argumento utilizado por PSB e DEM.
“Respeite a Mesa! Respeite a Mesa! Tenha a dimensão da democracia! Respeite seus colegas!”, devolveu Renan, também com o dedo apontado para o interlocutor, aos gritos.
Vídeo:

Parceria

Enquanto os ânimos se exaltavam em plenário, com senadores se revezando nas críticas a Renan e anunciando a retirada de plenário, membros do PT observavam em silêncio a batalha verbal. Consciente de que a chapa única seria levada a votação, apesar dos apelos de lado a lado por novo adiamento da escolha, o PT permaneceu em plenário e assegurou quórum suficiente para dar continuidade aos planos da base, capitaneados por Renan e pela maioria do PMDB.
Reservadamente, integrantes da base viram na postura de Renan uma tentativa de confronto à ascensão de Aécio como força oposicionista no Senado, com o efeito colateral de reforço ao sentimento de dissidência entre aliados – movimento demonstrado com a candidatura de Luiz Henrique da Silveira (SC), companheiro de partido de Renan, como alternativa de “mudança”. Essa é a quarta vez que Renan assume o comando da Casa.
Assim, com a debandada de plenário, Renan conseguiu acomodar os aliados nos cargos da Mesa – à exceção do PDT, todos os demais partidos representados na agora oficializada composição apoiaram a eleição do peemedebista. O PSDB, por ter a terceira mais numerosa bancada, ficaria com a primeira secretaria, espécie de “prefeitura” da instituição. Mas, depois do episódio com Lúcia Vânia, que tem 20 anos de PSDB, e com a indicação de Vicentinho Alves, desrespeitando-se o critério da proporcionalidade, os tucanos abandonaram a disputa, prometendo muita briga a partir de agora.
“Retiro o meu nome e desejo aos que vierem a integrar a Mesa que tenham muito cuidado e muita responsabilidade na sua atitude e no seu trabalho, porque nós estaremos vigilantes pelos próximos dois anos”, exclamou Paulo Bauer (PSDB-SC), depois de explanar sobre o cenário político no país, deixando o plenário em seguida. Para assumir a primeira secretaria, Lúcia Vânia foi preterida pelo partido justamente em favor do senador catarinense.
Fábio Gois, Congresso em Foco

Tijolinho do Jolugue: O inferno astral de Dilma Rousseff.



Desnecessário informar a um leitor mais atento que a presidente Dilma Rousseff vive um mal momento. Aliás, isso já faz algum tempo. Venceu uma eleição apertada, por uma diferença de um pouco mais de 3 milhões de votos; seus adversários não dão trégua, montando, a cada momento, novas urdiduras para prejudicá-la; a economia não vai muito bem e ela acabou capitulando a um receituário de corte neo-liberal, quase sempre, cortando direitos e entregando a fatura para a classe trabalhadora; o escândalo de corrupção da Petrobras é sistematicamente explorado pelos seus inimigos e setores da imprensa e, para completar o enredo, depois de uma série de ações equivocadas, perdeu as eleições para a Presidência da Câmara dos Deputados, colocando uma pá de cal sobre o mínimo de escrúpulo republicano que ainda poderia se supor existir no Legislativo. Não sei mais o que poderíamos acrescentar a essa lista, mas, certamente, o rosário de problemas nesse início de Governo se apresenta como uma lista interminável.  


Daqui para frente, sob a liderança de um Cunha, instalou-se de vez na Câmara Federal uma casta mafiosa, extremamente corporativa, que chantageará o Governo sistematicamente. Reforma política, regulação econômica da mídia... nem pensar. Se confirmada a previsão dos seus oráculos - José Serra é um deles - está em curso um processo de desgaste até o sangramento final da presidente Dilma, de preferência antes de concluir o seu mandato., através de um pedido de impeachment, gerado a partir das denúncias de Operação Lava Jato. Comenta-se que um advogado ligado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já teria consultado sobre a viabilidade jurídica do pleito. A bem da verdade, desde o seu vazamento, logo se pronunciou que o rolo era grande em ralação aos escândalos da Petrobras, embora seja hipocrisia apontar o PT como o único ou maior beneficiário do desvio de recursos. Instalou-se uma engenharia de corrupção naquela estatal - muito antes dos Governos do PT - da qual nem os governos militares estiveram de fora. Algo, porém, por inúmeras razões, parece evidente. O objetivo é "envolver" a presidente Dilma Rousseff, criando as condições necessárias para o seu possível impedimento. Desde o início esse objetivo parece claro: vazamento seletivo, próximo ao segundo turno das eleições; blindagem da tucanagem e  criação das condições políticas favoráveis, como a eleição do Deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados.

Encurralada, acossada, Dilma não tem sido muito feliz em suas atitudes: Faz concessões demasiadas para desafetos; se indispõe com aliados e os movimentos sociais. Dilma já devia saber que fazer concessões para essa gente é sinônimo de capitulação. A demissão de Graça Foster e toda a diretoria da Petrobras é apenas um capítulo desse enredo nebuloso que envolve o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Também aqui é muito difícil analisar o acerto de sua atitude, uma vez que tentou segurar, o quanto pode, a Graça na Presidência da Estatal. Uma das razões era a sua convicção na integridade da indicada, o que nos parece uma uma avaliação correta. No entanto, o desgaste tornaram a situação de Foster insustentável. Ela cai e para o seu posto está sendo especulado o nome de Henrique Meirelles, para variar, um nome da confiança do mercado. Não se sabe muito bem o que ele poderá fazer naquela estatal, mas uma das possibilidades possíveis e saneá-la para entregar ao capital estrangeiro. 


quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Michel Zaidan Filho: Comunidade prisional e privatização da pena.







                                                     No início do primeiro mandato de ex-governador falecido, tive a oportunidade de presenciar um debate esclarecedor sobre como o mandatário estadual pretendia tratar do problema carcerário do Estado de Pernambuco. Em sua mansão, na  companhia do super- secretário Ricardo Leitão, da pesquisadora Ronidalva Wanderley
(FUNDAJ), do futuro assessor especial José Ratton e de um delegado da Polícia Civil, o neto de Arraes propôs que se privatizasse  o sistema carcerário de Pernambuco, a exemplo do modelo norte-americano. Dizia ele, que a Polícia Militar executava os suspeitos e a Polícia Civil, roubava. Então achava que a solução seria transferir a custódia dos presos para uma
empresa público-privada, com administração própria, de forma a livrar o Estado da responsabilidade com a integridade física e a ressocialização dos detentos. Houve, nesta reunião, vários votos contrários a esta proposta. O modelo carcerário norte-americano combina com a sociedade norte-americana da auto-defesa, da redução do papel do Estado, a liberdade da livre empresa e do terrorismo penal. Os Estados Unidos da América possuem a maior população carcerária do  planeta, têm pena de morte e prisão perpétua e um modelo de sociedade altamente criminógeno. Transpor, simplesmente, tal modelo para o Brasil não iria resolver a questão crucial da responsabilidade pública-estatal para com os apenados e sua ressocialização. Implicaria apenas na mera transferência de responsabilidade para o setor privado, livrando o governo das iniquidades do nosso sistema carcerário.


                                                     Esta discussão voltou à tona em razão do caos penitenciário que se estabeleceu em Pernambuco, com a rebelião e morte de presos. Além da degradação da vida humana nesse sistema penitenciário, há o grave problema da superlotação carcerária, que leva os presos a lutarem entre si pelo seu "espaço vital". Há, também, o problema da vara das execuções penais que não dá conta dos inúmeros processos por progressão da pena, prisão aberta, a liberdade dos presos etc. A ninguém de bom senso escapa a certeza de existir uma enorme negligência, para dizer o mínimo, do Estado para com os apenados. É como se eles não tivessem mais nenhum lugar na sociedade e, portanto, merecessem morrer. Daí que a palavra "ressocialização" soa hipócrita e sem sentido para esses detentos.
                                                     Pior é o conceito de "comunidade prisional" empregado pelo atual secretário de Justiça no sentido pejorativo do termo. Comunidade do crime e das famílias dos criminosos. Ao invés de tirar partido, tendo em vista a ressocialização dos presos, da proximidade familiar, para o  gestor da pasta, essa comunidade só torna as paredes da prisão mais frágeis e devassáveis, pois as famílias dos detentos ajudariam a entrada de objetos proibidos aos presos: drogas, bebidas, armas, celulares etc.
                                                     Apostar na pura e simples transferência de responsabilidades do Estado para com a integridade física e mental dos presos, para as mãos da iniciativa privada é querer se livrar da obrigação da regeneração moral e social dos chamados "delinquentes". É entregar a custódia dessas criaturas à responsabilidade do mercado e da busca do lucro A privatização dos presídios não possui programa moral, educativo, cívico. Simplesmente é uma prestação de serviço, por particulares, a cidadãos provisoriamente privados de sua liberdade.
                                                     O  que o Estado e seus servidores deviam cuidar é das prioridades do gasto social, para ver se em lugar de novos presídios e celas, se constrói mais escolas de tempo integral, os postos de saúde em pleno funcionamento, mais oportunidades sociais para aqueles que não nasceram nas famílias coroadas de Pernambuco.


Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia NEEPD/UFPE.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Vitória de Eduardo Cunha e coroamento de sistema político apodrecido

Vitória de Eduardo Cunha é coroamento de sistema político apodrecido

Por Da redaçãofevereiro 3, 2015 15:06
Vitória de Eduardo Cunha é coroamento de sistema político apodrecido


Por Igor Felippe
As vísceras do sistema político brasileiro estão expostas com a eleição do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados.
Reconhecido como operador dos interesses das grandes empresas no Congresso Nacional, o deputado carioca é um dos parlamentares que mais arrecada recursos para campanhas eleitorais.
Cunha não escamoteia o tipo de relação que constrói com bancos, empreiteiras, mineradoras, operadoras de planos de saúde, agronegócio, empresas de telefonia e do ramo de bebidas. “Há afinidade nas propostas”, explica.
O comitê de Eduardo Cunha arrecadou R$ 6,8 milhões para a eleição do ano passado. Os gastos de campanha ficaram em R$ 6,4 milhões. Ou seja, sobrou dinheiro (leia mais aqui)
“Este ano não tive dificuldade para captar. Até sobrou dinheiro na minha campanha”, admitiu Cunha. “Na maioria das vezes são as empresas que me procuram. Até porque tenho a mesma visão delas”.
A máscara caiu. A eleição de Cunha é o fim da hipocrisia no Congresso. Esse negócio de representante do povo é coisa do passado. A verdade nua e crua é que esse sistema político foi sequestrado pelas grandes corporações e levou seu maior símbolo à presidência da Câmara.
O odor de um sistema político podre exala ao folhear as páginas da Folha de S. Paulo. A institucionalidade que sustenta esse modelo de fazer política chegou a um paradoxo.
Vamos às notícias:
Depois da eleição, Cunha manifestou que o PMDB vai questionar na Justiça a criação de novos partidos, que são formados para burlar a legislação, que restringe a mudança dos parlamentares entre as legendas existentes, sob ameaça de perda do mandato.
O desvio da infidelidade partidária teve como consequência um remendo patrocinado pelo STF na interpretação da legislação eleitoral, que deixou buracos e demanda um novo remendo nesse emaranhado institucional. Os parlamentares estão se lixando para os partidos e negociam essas mudanças justamente para barganhar seus votos em troca de cargos e emendas.
Derrotado com o desfecho da disputa para a presidência da Câmara, o governo trabalha para reconstruir a base parlamentar. Depois de lotear o ministério entre os diversos partidos, os cargos de 2º escalão são a bola da vez.
O preço da governabilidade é a distribuição de cargos. Ou seja, o Congresso não funciona a partir da discussão de projetos à luz dos interesses da sociedade, mas da “satisfação” dos parlamentares com cargos. Esse artifício tem nome: chantagem. E o governo é refém desse procedimento para viabilizar a governabilidade.
O loteamento desses postos, que fazem interface do Estado com empresas privadas, cria as condições para o desvio de recursos para fins pessoais e eleitorais.
A Folha publica um artigo do renomado jurista nas hostes conservadoras Ives Gandra Da Silva Martins, professor emérito da Universidade Mackenzie, que defende a fundamentação jurídica para um pedido de impeachment da presidenta Dilma.
O tutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra apresenta uma interpretação da Constituição que abre margem para imputar culpa a Dilma por omissão, imperícia, negligência e imprudência no esquema de corrupção na Petrobras.
Martins registra também que o julgamento de um impeachment pelo Congresso é mais político que jurídico, dando como exemplo o caso do presidente Fernando Collor, que foi afastado, mas absolvido pela suprema corte.
As vísceras da política institucional estão à mostra. Depois da eleição de um parlamentar considerado um lobista das grandes empresas para a presidência da Câmara, a edição desta terça-feira da Folha desvela que esse sistema político é caracterizado pela infidelidade partidária e pelo loteamento de cargos do Estado para garantir a governabilidade.
No entanto, a saída para a crise que o jornal ensaia está na seção de artigos, com a discussão sobre a viabilidade jurídica para o impeachment da presidenta. A salvação para os agentes e cúmplices desse sistema político é jogar a responsabilidade da sua crise terminal no colo de Dilma.
Restará às forças democráticas mobilizar a sociedade diante de um quadro de crise institucional em torno de uma profunda reforma política, que será possível apenas com uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político.
A eleição de Cunha representa um escudo para o atual sistema político. Confiar ao Congresso a legitimidade de fazer uma profunda reforma política pode ter um desfecho bastante diferente do desejado por aqueles que querem sinceramente purificar o jogo institucional no país.

(Publicado originalmente na Revista Fórum)

Claudio Gonçalves Couto: Novas Eleições Críticas?

Novas Eleições Críticas?

O pleito de 2014 ocorreu em um cenário político consideravelmente modificado em relação ao de quatro anos antes, quando o presidente Lula, no auge de sua popularidade, elegeu com facilidade Dilma Rousseff e ajudou na vitória de um bom número de parlamentares e governadores petistas. Desta feita, a candidata à reeleição teve de lidar com uma situação política bem menos confortável do que aquela que lhe catapultou do quase anonimato eleitoral à Presidência da República.
Essa mudança de ambiente, bem como as suas consequências pós-eleitorais, só podem ser compreendidas satisfatoriamente se considerarmos o terremoto sociopolítico que foram as manifestações deflagradas em junho de 2013. Elas tiveram um impacto avassalador sobre a popularidade presidencial, que despencou. Segundo o Datafolha, o governo era avaliado como ótimo ou bom por 65% dos brasileiros em janeiro de 2013, enquanto apenas 7% o avaliavam como ruim ou péssimo. No início de junho, esses números pioraram um pouco, mas continuavam muito bons: foram para 57% e 9%, respectivamente. Porém, ao final desse mesmo mês o impacto das manifestações ficou evidente: 30% de bom e ótimo (menos da metade de seis meses antes) e 25% de ruim e péssimo (uma avaliação negativa três vezes e meia maior) (http://datafolha.folha.uol.com.br/).
Apesar de uma boa recuperação na virada do ano, quando chegou aos 41% de ótimo/bom e ficou entre 17% e 21% de ruim péssimo, logo a avaliação do governo voltou a piorar e só foi recuperada durante a campanha eleitoral, com o governo atingindo, às vésperas do segundo turno, 44% de aprovação e 19% de reprovação (ver a Figura 1).
Iniciados nas primeiras semanas de agosto, os programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) contribuíram claramente para uma lenta, porém persistente, recuperação da imagem governamental. Inegavelmente, os programas na TV e no rádio foram eficazes como uma contrapropaganda governamental, diante da débacle causada pelas jornadas juninas e por anos seguidos de cobertura midiática desfavorável, como demonstrado nos levantamentos do Manchetômetro (http://www.manchetometro.com.br/). Na última pesquisa Datafolha antes do início do HGPE, a diferença entre a avaliação positiva e a negativa era de apenas +9%; às vésperas do segundo turno, ela havia aumentado substancialmente, para +25%. Esse foi um fator decisivo para que Dilma Rousseff reforçasse sua competitividade nas eleições presidenciais.
Movimentação na sociedade brasileira
Note-se, porém, que como todo terremoto, o abalo das jornadas juninas não pode ser explicado pelo balanço da superfície, mas pela movimentação das camadas subjacentes – sua causa real. E profundas movimentações ocorreram nas fundações da sociedade brasileira nos últimos 25 ou 30 anos, em boa medida graças à atuação e a transformações do Estado brasileiro nesse período. A Constituição de 1988 lançou as bases institucionais não apenas de nosso regime democrático – concluindo o processo de ampliação da participação eleitoral efetuado ainda durante o regime militar (Santos, 1985) – como de um estado de bem-estar social orientado para a universalização de algumas políticas (como saúde, educação e previdência) (Pessôa, 2014). Fixado esse patamar, ficou claro para o conjunto dos cidadãos que o acesso a certos serviços sociais tornou-se um direito inquestionável, restando, porém, irresolvida a questão de sua qualidade – algo que Renato Janine Ribeiro tem definido como se constituindo numa “quarta agenda democrática” (Ribeiro, 2014), que ganhou corpo nas jornadas juninas, quando se pediam serviços públicos “padrão Fifa”.
Se a derrubada do regime autoritário foi a primeira das agendas democráticas a que alude Ribeiro, a segunda foi o combate à alta inflação. Tema mais candente durante os anos 80 e 90 do século passado, foi decisivo em ao menos quatro ciclos eleitorais: o de 1986, na esteira do efêmero sucesso do Plano Cruzado, quando garantiu ao PMDB uma acachapante vitória para o Congresso Constituinte e os governos estaduais; o de 1989, quando Fernando Collor se elegeu alegando ter na agulha uma única bala para matar o tigre inflacionário (a qual se revelou um tiro n’água); o de 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito com base no sucesso – desta vez consistente – de mais um plano anti-inflacionário: o Real; e, finalmente, o de 1998, quando FHC foi reeleito como a garantia de que a tão almejada estabilidade monetária seria preservada.
Estruturadas as bases da estabilidade da moeda e da modernização liberal do Estado brasileiro pelo governo tucano, abriu-se espaço para um aprofundamento da agenda de inclusão social proclamada pela Constituição de 1988, porém, levada a cabo apenas parcialmente. Afinal, mesmo estipulando-se certas políticas sociais como direitos assegurados e procedendo-se à sua institucionalização (como por meio das normas básicas do Sistema Único de Saúde, do Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental e da Lei Orgânica da Assistência Social), ainda restavam por atacar os históricos e gritantes problemas da pobreza e da desigualdade no país. Foi essa a agenda preferencial dos governos petistas, em especial os dois de Lula. De fato, as gestões do PT foram bem-sucedidas na consecução dessa política, como se nota pela marcante redução da pobreza e da extrema pobreza (miséria) a partir de 2003. A desigualdade também caiu de forma significativa, porém, em intensidade menor (Figura 2).
Crescimento da “classe C”
Outra transformação crucial desses anos, relacionada às políticas redistributivas, foi o substancial crescimento da assim chamada “classe C” – essa camada situada a meio caminho entre os pobres e os segmentos a que se pode com propriedade denominar “classes médias”. Os estudos de Neri (2011) mostram a grande transformação sofrida pela sociedade brasileira quanto a esse aspecto. Ao se constituir no segmento majoritário da população brasileira (e, ipso facto, do eleitorado), esse estrato social eleva a incerteza das disputas eleitorais, pois se mostra muito menos fiel a qualquer partido ou liderança do que as camadas situadas abaixo ou acima dele, economicamente. Isso foi evidenciado durante as eleições de 2014 no comportamento desse eleitorado no primeiro turno. Enquanto os mais pobres se mantiveram solidamente fiéis a Dilma e os mais ricos sustentaram Aécio – apesar de um breve flerte com Marina –, os eleitores da “classe C” oscilaram de forma volátil entre os três principais candidatos (como se vê na Figura 4, na pág. seguinte). Por isto, pode-se dizer que foi, sobretudo, entre eles que a eleição se decidiu; eles se constituíram, de certa forma, em nossos “swing voters” na eleição presidencial.
Os emergentes da “classe C”, supostamente grandes beneficiários das políticas redistributivas dos anos Lula, mostraram-se bem menos propensos a apoiar o governo petista do que os das classes D/E, pois enxergam menos no governo e mais em seus próprios méritos a causa de sua ascensão, como apontou uma pesquisa conduzida pelo instituto Datapopular (O Globo, 22/10/2014). Segundo esse levantamento, apenas 9% atribuem à ação do governo sua ascensão social. Trata-se de um segmento que, embora tenha emergido na escala do consumo, ainda é um usuário intensivo de serviços públicos como os de saúde e educação – o que fica patente em suas preocupações. Ainda de acordo com o levantamento do Datapopular, para 65% dos membros da classe C, a saúde pública era o principal problema do país. Por outro lado, logo em seguida apareciam os políticos (a corrupção), a violência e a inflação (com percentuais entre 63% e 59%).
Assim, se tem cativado os mais pobres, o PT vê erodir continuamente seu prestígio junto às camadas médias (e mesmo as emergentes), cujas manifestações de insatisfação tendem a ser mais estridentes e capazes de serem vocalizadas pelos diversos meios de comunicação. Incluem-se aí as redes sociais, constitutivas de uma “subopinião pública”: menos estruturada em sua influência do que os grandes veículos de mídia, mas ainda assim constituindo ambientes de opinião, disseminação de ideias e reforço de convicções.
Escândalos de corrupção
Dentre os fatores que contribuíram para a perda de apoio do PT junto aos setores médios e os estratos mais afluentes figuram com destaque os seguidos escândalos de corrupção que acometeram os governos nacionais do partido – evidentemente, exponenciados por uma mídia que não lhe é nada simpática. Contudo, não devem ser desconsideradas também as transformações por que passou o país no âmbito econômico. Os benefícios do crescimento dos anos Lula não atingiram igualmente os diferentes setores da população: os mais pobres ganharam relativamente mais. E, durante o primeiro governo Dilma, a estagnação contribuiu para aprofundar um desgaste que já vinha se avolumando nesse setor da sociedade.
A percepção de que teriam auferido ganhos econômicos menores veio associada à perda relativa de status social, já que se reduziram as possibilidades de diferenciação por meio do consumo com relação aos ascendentes. Essa perda de distinção atiçou o ressentimento de certas parcelas das classes médias estabelecidas, expresso em reiteradas demonstrações discriminatórias nas redes virtuais e em outros contextos de sociabilidade em que a licença para exprimir certas convicções se faz presente. Incapazes de seguir desfrutando da exclusividade que sua condição econômica diferenciada lhes proporcionava, direcionaram ao governo do período recente sua insatisfação, rejeitando-o.
O desgaste junto às camadas médias teve pouca importância eleitoral nas eleições de 2010, quando um Lula triunfante, numa grande onda de popularidade escorada no bom desempenho da economia, elegeu sem grandes percalços Dilma Rousseff. As pesquisas de segundo turno do Datafolha à época mostravam a candidata petista sempre à frente de Serra, do PSDB, com ao menos 6% de vantagem. Na última pesquisa, figurou com 10%, que nas urnas se tornaram 11% dos votos totais. Já em 2014, a disputa foi bem mais renhida. Dilma chegou a figurar atrás de Aécio nas duas primeiras pesquisas do segundo turno e, quando virou, manteve-se apenas 4% à frente, os quais se tornaram 3% dos votos totais. Uma eleição bem mais difícil.
É interessante notar o que ocorreu junto às camadas médias nessas duas eleições. Quando se considera a “classe C”, em 2010, Dilma sempre esteve à frente, mesmo que por pequena margem. Na última pesquisa antes da eleição, aparecia 6% à frente – uma margem menor do que a do eleitorado total. Já em 2014, Aécio figurou à frente nas três primeiras enquetes do segundo turno; nas três últimas eles seguiram empatados. Contudo, se observarmos o estrato social logo acima, a “classe B” (5 a 10 salários mínimos), a diferença entre as duas eleições é brutal. Em 2010, Dilma aparecia na última enquete perdendo por apenas 3%; em 2014, a diferença entre ela e Aécio foi de 20%.
Em seu primeiro governo, Dilma não demonstrou a mesma ventura do antecessor e mentor. Desprovida de seu carisma e habilidade política, aferrada a certezas doutrinárias, autoritária no trato com os subordinados, centralizadora e apegada a detalhes do micromanagement, liderou um governo sem brilho. Após um flerte inicial com a classe média que com ela se identificava em virtude de sua extração social, experimentou as dificuldades dos escândalos de seu próprio governo, as muitas substituições de ministros, o declínio sensível do nível de atividade econômica e uma inflação persistentemente acima da meta; patinou nas relações com o Congresso e, quanto mais o mandato se aproximou do final, mais infidelidade colheu junto a sua base e mais necessitou dos votos de oposicionistas. Às mudanças estruturais de mais longo prazo, criadoras de dificuldades eleitorais para o PT, o desempenho governamental da presidente acresceu elementos conjunturais não menos problemáticos.
Desgastes, esgotamento
A elevada popularidade que lhe bafejou durante os dois primeiros anos de gestão se esvaiu num átimo, tão logo as manifestações de junho de 2013 ganharam corpo e tomaram as ruas. Mais do que a causa, as jornadas juninas (que se estenderam por outros meses) expressavam o esgotamento de mais um ciclo – desta vez, aparentemente, mais largo. A longa melhora do país iniciada na redemocratização (e aqui brevemente descrita) parece ter chegado a um ponto de inflexão. O progresso social e institucional, por vezes, gera um paradoxo: eleva as expectativas populares para um patamar que o próprio progresso não é capaz de satisfazer. Assim, o estancamento da melhora do país produziu uma frustração diretamente proporcional à elevação dos anseios que a melhora anterior suscitara.
As eleições, assim, tornaram-se bem mais difíceis do que se poderia prever cerca de um ano e meio antes de sua realização – isto é, antes de junho de 2013. Nas regiões mais ricas do país, o PT sofreu um desgaste significativo, refletido na acachapante derrota em São Paulo e nos estados do Sul, bem como na redução de sua bancada na Câmara dos Deputados e no número de deputados estaduais. O desgaste é fator inegável, mesmo junto a certos segmentos da esquerda, o que ajuda a compreender o novo desempenho alentado de Marina Silva e o apoio à candidatura de Aécio Neves no segundo turno por parte de lideranças tradicionalmente identificadas com a esquerda.
Os quatro âmbitos da disputa
Embora as atenções maiores sempre se dirijam à eleição presidencial, é preciso levar em consideração os demais âmbitos em que se deu a disputa eleitoral em 2014: as eleições para governador, congressuais e para as assembleias legislativas. Se tomarmos como referência o cenário mais amplo, houve um considerável aumento da fragmentação: no Congresso, nas Assembleias e nas governadorias. Um número maior de partidos (e partidos menores, em particular) ganhou espaço em todas essas frentes. No que concerne especificamente ao PT, o partido, além de ter ganhado de forma apertada a disputa presidencial, perdeu terreno também nas demais disputas.
Nas eleições para deputados estaduais, depois de ter experimentado um alentado crescimento de 2006 para 2010, aumentando em 18% suas bancadas nas assembleias (e tornando-se a agremiação com o maior número de deputados estaduais no país, 149), o PT experimentou um declínio ainda mais robusto do que fora seu crescimento: 28%. Com isto, regrediu a um patamar inferior ao que possuía em 2006 (apenas 108 deputados, contra 126 anteriormente) e voltou a ficar atrás do PMDB no número de parlamentares nas assembleias legislativas.
Perda similar ocorreu na disputa para a Câmara dos Deputados, na qual o PT vem experimentando um quase que contínuo declínio desde 2002. Naquela eleição, o partido conquistou 91 cadeiras, caindo para 83 em 2006; recuperou-se parcialmente em 2010, quando elegeu 88 deputados, mas despencou em 2014, elegendo parcos 70 parlamentares: um declínio de 20%. Esse enfraquecimento do partido nas disputas para o legislativo reflete uma perda de votos generalizada em Estados mais populosos, em especial em São Paulo. Em 2010, o partido havia obtido 16,6 milhões de votos para deputado federal; em 2014, eles diminuíram para 13,6 milhões – uma redução de 18%. Outros partidos médios ou grandes, como PSDB, PMDB e PSB também caíram, mas menos. Muitos desses votos perdidos foram amealhados por uma miríade de partidos pequenos e alguns “novos médios”, como PSD e PRB, além dos recém-criados SD e Pros.
A distribuição geográfica e social do voto petista teve acentuada, nas eleições de 2014, uma mudança iniciada já em 2006 para as eleições presidenciais, analisada, entre outros, por Hunter & Power (2007). A partir daquela eleição, o PT passou a ser claramente mais votado pelos mais pobres e nas regiões Norte e Nordeste. Essa divisão voltou a se manifestar em 2010 e aprofundou-se em 2014. Desta última feita, além das perdas na eleição presidencial, o PT também foi mais mal votado entre os ricos e os eleitores do sudeste nas disputas para o legislativo e as governadorias – com exceção de Minas Gerais.
Essa situação fica nítida quando se observa um mapa do país colorido de acordo com as vitórias dos candidatos a governador de cada partido. O PT ocupa uma mancha contínua que sai de Minas Gerais, passa pela Bahia e pelo Piauí, chegando ao Ceará. Curiosamente, seu principal antagonista, o PSDB, ocupa outra mancha contínua, que se inicia no Paraná, passa por São Paulo e Mato Grosso do Sul, chegando a Goiás. Essa divisão geográfica encontra correspondência no tamanho do PIB gerido por cada partido: enquanto o PSDB governa 44% do PIB, o PT fica com apenas 16%, embora ambos governem o mesmo número de estados: cinco cada um.
Esse contraste entre um partido que ganha em estados ricos e outro, que ganha nos pobres, fica mais evidente se observamos a diferença no PIB per capita administrado por cada partido (Figura 5). Assim, não apenas nas eleições presidenciais o PT foi mais votado entre os mais pobres e nas regiões mais pobres; o partido também se mostrou mais competitivo nessas regiões nas disputas para governador. Parece converter-se, assim, cada vez mais, num “partido dos pobres”. Isto pode vir a se tornar um problema para a agremiação.
Qualunquismo e eleições críticas
Em artigo publicado no início de 2014, Marcus André Mello (2014) defendeu a ideia de que nas regiões mais pobres, mais do que um voto “lulista” (Singer, 2012), há um voto “qualunquista”. Segundo ele, esse eleitor, dada sua maior necessidade das políticas governamentais, tende a ser muito mais fiel ao governo do dia – qualquer que seja seu ocupante. Com efeito, votando no governismo, esse eleitor vota em “qualquer um” (qualunque, em italiano), o que explicaria, no passado, os votos fiéis ao PFL no Nordeste e, hoje, os votos no PT. Se estiver correta essa tese, o PT terá problemas no futuro próximo, caso as políticas que lhe diferenciaram continuem a produzir resultados.
A redução do número de pobres tem como resultado a sua paulatina conversão em um estrato social menos fiel ao governo do dia e mais convicto da importância de seus próprios méritos na consecução de sua ascensão social. Paradoxalmente, o aprofundamento da redistribuição pode se mostrar um sucesso de política pública contraproducente do ponto de vista eleitoral. Por essa razão, para manter-se competitivo, o PT precisará, no próximo período, buscar uma reconciliação com os setores médios, formulando políticas e um discurso que sejam capazes de sensibilizar esses segmentos.
Até pela sua dimensão (já constitui mais de 55% da população brasileira), é a classe C o destinatário mais natural dessa possível estratégia. Os cerca de 33% que ainda compõem as classes D/E são o esteio eleitoral que assegurou ao partido amplo sucesso em 2006 e 2010, assim como uma sobrevida em 2014. Pela sua própria perda de importância relativa, pode não se mostrar suficiente para a disputa de 2018 se o PT não for capaz de reforçar-se junto aos emergentes.
Eleições críticas?
Em um artigo clássico, V. O. Key (1955) estipulou a definição de eleições críticas. Elas são, segundo ele, “uma categoria de eleições em que os eleitores estão, pelo menos a partir de evidências impressionistas, preocupados com uma profundidade incomum; em que o grau de envolvimento eleitoral é, em termos relativos, bastante elevado; e em que os resultados decisivos da votação revelam uma alteração brusca da clivagem preexistente dentro do eleitorado. Além disso, e talvez esta seja a característica verdadeiramente diferenciadora deste tipo de eleição, o realinhamento manifestado na votação em tais eleições parece persistir por várias eleições subsequentes” (Key, 1955: 4).
Com a conhecida inversão do mapa eleitoral até então vigente no país e a vitória eleitoral do PT no Nordeste e no Norte, as eleições de 2006 poderiam, à primeira vista, encaixar-se nessa categoria. Contudo, se tomarmos em consideração a tese do qualunquismo, de Marcus Melo, poderíamos supor que 2006 apenas repôs as coisas no seu devido lugar, dando ao novo governismo os votos que teriam, de qualquer forma, que ser seus.
Por outro lado, se consideramos o posicionamento ideológico dos partidos, a conquista por uma agremiação de esquerda do eleitorado do Norte-Nordeste é uma novidade, podendo ser encarada como um realinhamento partidário. Entretanto, ela já encontrava correspondência na votação que o PT também angaria nas periferias dos grandes centros urbanos do Sul-Sudeste do país, junto ao eleitorado mais pobre das regiões mais ricas.
O que as pesquisas de intenção de voto mostram de forma mais clara é que uma divisão eleitoral baseada na estratificação social tem-se aprofundado desde 2006. O problema é que essa estratificação social não está parada: as classes se movem e modificam sua participação no eleitorado. Sendo assim, é possível que 2006 tenha sido uma primeira eleição crítica, produzindo um realinhamento. Contudo, talvez venhamos a perceber mais à frente que 2014 iniciou um novo processo de realinhamento, resultante menos da adesão de certos estratos sociais a certos partidos, e mais como decorrência da mudança de peso relativo de cada um desses estratos na estratificação social brasileira.
Curiosamente, observando-se a Figura 3, nota-se que 2006 foi justamente o ano em que se cruzaram as curvas de declínio das classes D/E e de ascensão da classe C. Se a “tesoura” continuar se abrindo e esses respectivos declínio e ascensão prosseguirem, aumentam as chances de que o realinhamento de 2006 comece a ser modificado outra vez mais. Isso se confirmando, na falta de uma readequação das estratégias do PT, o partido enfrentará sérias dificuldades nas próximas disputas nacionais e estaduais. Teriam então sido já estas disputas de 2014, eleições críticas?
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Referências:
Hunter, Wendy & Power, Timothy. “Rewarding Lula: Executive Power, social policy, and the Brazilian Elections of 2006.” Latin American Politics and Society, 2007, vol. 49, 1, pp. 1-30.
Key, Jr, V. O. “A theory of critical elections”. The Journal of Politics, vol. 17, no 1, Feb. 1955, pp. 3-18.
Neri, Marcelo Cortes. Os emergentes dos emergentes: reflexões globais e ações locais para a nova classe média brasileira. Rio de Janeiro: FGV/CPS, 2011.
Melo, Marcus André. “Lulismo ou ‘qualunquismo’”. Valor Econômico, 15/01/2014. Disponível em http://www.valor.com.br/politica/3395814/lulismo-ou-qualunquismo. Acessado em 27/11/2014.
Pessôa, Samuel. “Duas agendas na política econômica”. Folha de S. Paulo, 21/09.2014. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunassamuelpessoa/2014/09/1519388-duas-agendas-na-politica-economica.shtml. Acessado em 27/11/2014.
Ribeiro, Renato Janine. “A quarta agenda democrática”. O Estado de S. Paulo, 21/06/2014. Disponível em http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,a-quarta-agenda-democratica,1515637. Acessado em 27/11/2014.
Santos, Wanderley G. dos. “A pós-revolução brasileira”. In Jaguaribe, Hélio (org.). Brasil sociedade democrática. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.
Singer, André. Os Sentidos do lulismo – reforma gradual e pacto conservador. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Nota do Editor: Publicado originalmente na Revista Interesse Nacional, o artigo do cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da Fundação Getúlio Vargas, constitui-se numa das mais densas análises sobre o futuro do Partido dos Trabalhadores. Cláudio é uma autoridade no assunto. Assim como eu, estuda o PT desde o seu surgimento, em 1980, naquela histórica reunião do Colégio Sion, em São Paulo. Sua dissertação de mestrado é sobre as primeiras experiências do partido na gestão da máquina pública municipal, notadamente a gestão de Luíza Erundina, em São Paulo. Mais que recomendo a leitura do artigo. 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Jean Wyllys: Uma primeira análise do resultado das eleições para a Presidência da Câmara



1. ao insistir numa candidatura própria mesmo percebendo o antipetismo - dejeto do segundo turno das eleições presidenciais - que crescia na Câmara dos Deputados, ao insistir nisso em vez de apoiar a candidatura de algum aliado de partido que gozasse de menor antipatia, de modo que Cunha fosse derrotado de cara, o PT jogou a presidência da Câmara no colo de seu inimigo íntimo;
2. com a derrota nas eleições pra presidência da Câmara e a consequente perda de posições na Mesa Diretora, o PT fará questão de pegar a presidência de três comissões de peso legislativo - o que significará deixar, de lado, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (como o PC do B também não optará por esta comissão, o provável é que ela caia nas mãos de algum partido que tenha, como objetivo, impedir o avanço legislativo em relação aos DHs de minorias e às liberdades individuais, como, por exemplo, PSC, PP, PR et caterva);
3. com a eleição de Cunha, a presidenta Dilma passa a uma situação difícil: ao adotar medidas neoliberais, à moda PSDB, para a economia, ela desmobilizou as forças políticas progressistas que lhe garantiram a diferença de votos em relação a Aécio Neves no segundo turno das eleições presidenciais; parte dessas forças políticas - em especial as mais à esquerda (entre as quais me incluo) - sentiu-se traída quando a presidenta pendeu pra direita em sua política econômica e, da presidenta, essa esquerda vem se afastando; e, apesar dessas políticas neoliberais feitas para agradar os detratores, a presidenta não os agradou de fato e ainda teve de amargar ver seu inimigo chegar à presidência da Câmara - o que significa, pra Dilma, a perda da governabilidade; perda que se somará ao enfrentamento de uma oposição de direita (PSDB, DEM e PPS) ressentida e revanchista (fora a contribuição da "grande" mídia para jogar a opinião pública contra seu governo).
A presidenta terá dificuldades para governar e a população sofrerá as consciências dessa dificuldade. Tempo ruim virá pra todos nós - progressistas, minorias e pobres em geral - se algum vento não dissipar as nuvens de chumbo!

Jean Wyllys é Deputado Federal pelo PSOL do Rio de Janeiro