pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO.
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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Tijolinho Real: E os tais Planos Municipais de Educação?

 
 

 
Pelo andar da carruagem política, vamos ter muitos problemas com os Planos Estaduais e Municipais de Educação. O artigo 8.o da Lei 13.005/2014 informa que até o dia 25 de junho deste ano os Estados e Municípios deverão ter isso pronto, mas os debates e discussões sobre o tema andam a passos de tartarugas. Há uma série de percalços em todo esse processo, a começar pelos problemas de comunicação entre o Governo Federal,  Estados e os municípios. Aliás, esses problemas de comunicação são mais comuns do que se imagina, envolvendo outras linhas de atuação do Governo Federal. Não se trata aqui de uma questão deliberada, mas o problema existe e, como tal, não pode ser negligenciado. Talvez tenha faltado aqui uma maior mobilização no sentido de conscientizar os gestores municipais sobre a importância de construir, em articulação com o Governo Federal, um plano de educação do município. 

Claro que o Governo Federal não pode ser responsabilizado pelos gestores municipais que não dão a mínima para essa questão. E olha que não são poucos, embora essa articulação se apresente como fundamental para a concepção e implementação de políticas públicas para o setor, com chances de êxito. Um dos problemas mais evidentes dessa desarticulação entre o Governo Federal e os municípios ocorreu na época da municipalização da educação básica, durante o Governo de Fernando Henrique Cardoso. A medida foi empurrada goela a dentro, pegando a maioria dos municípios brasileiros com um funcionamento bastante precário das condições de educação. Não havia transporte escolar, não havia professores preparados, não havia carteiras, não havia sequer água potável. Uso o verbo no pretérito, mas a situação não mudou muito desde então em alguns municípios.  O que não faltava mesmo eram as falcatruas e malversações de recursos destinados para a educação.

E aqui faço mais uma observação sobre o quanto este problema é sério. Uma das teses mais propaladas no sentido de justificar a a municipalização do ensino básico era a de que o seu controle se tornaria mais democratizado, mais próximo do cidadão, que poderia abrir um canal direto de comunicação com os gestores locais, tornando-se mais simples o seu acompanhamento. Logo isso se mostraria uma grande falácia, assim como outras tantas. Os canais entre o cidadão e os gestores municipais da educação não seriam tão desobstruídos assim como se imaginava. E aqui estamos diante de mais um problema. A ausência de uma cultura de diálogo e acompanhamento das questões relacionadas à educação, envolvendo munícipes e poder público. Em última análise, os possíveis atrasos nesses debates sobre a construção dos planos municipais de educação tem raízes históricas, exigindo um amplo processo de quebra de paradigma, algo que exige muitos encontros de conscientização. 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Michel Zaidan Filho: Ainda é cedo para comemorações




                                    

                          No contexto de ajuste das contas públicas e demora no repasse  de verbas para o funcionamento das universidades públicas, os gestores das IES deveriam se acautelar diante da possibilidade (iminente) da deflagração de uma greve nacional dos docentes universitários. A primeira, aliás, desse segundo mandato da presidente Dilma. A situação não é nada boa: nem do ponto de vista da manutenção das universidades, nem do ajuste de salário, haja vista uma inflação de quase 8% ao ano. Diante da crise (e do ajuste fiscal), duas posturas são esperadas, a do reitor que, comprometido com os interesses e necessidades da comunidade acadêmica, apoia esse movimento, fazendo-se solidário com ele; e o papel de gerente interno do Governo Federal. Qual desses papéis, esse reitor reeleito vai desempenhar?

                            Há dois aspectos relacionados ao histórico desse gestor que merecem ser considerados: primeiro, a docilidade e servidão que tem caracterizado sua gestão, em relação ao Governo Federal (marca, aliás, do seu antecessor). Apesar do “sorriso de aeromoça”, de sua fácil comunicação social e a imagem de “bom moço”, o perfil administrativo do atual reitor não deve enganar ninguém: ele é um fiel servidor das políticas do Governo Federal, não um advogado de sua comunidade acadêmica. Não se espere desse gestor nenhum gesto de autonomia, independência ou coragem no que diz respeito à defesa intransigente das reivindicações dos professores, estudantes e funcionários. Ele deve se comportar como um servidor (ou serviçal) perante o MEC e a política de contingenciamento dos recursos federais. 0 outro aspecto está associado à legitimidade (ou o custo dela) de seu segundo mandato. E aqui a coisa se complica. 

                     Os métodos utilizados na campanha eleitoral e a forma de angariar votos entre docentes e discentes nos vários centros da UFPE tornam essa legitimidade comprometida. As redes de clientelismo que existem e foram reforçadas, durante a campanha eleitoral, começam na própria reitoria da instituição universitária, passam pelas pro-reitorias e pelos seus diretores, pelos órgãos suplementares da UFPE, pelas demais “campi” da nossa universidade, se estendendo pelos centros e suas diretorias, coordenações de curso e chefias de departamento. Essas redes são abastecidas por um fisiologismo de corar os deputados evangélicos, comandados pelo sr. Eduardo Cunha. E não se trata grandes promessas ou prioridades administrativas. São cargos, editais de pesquisa, bolsas, equipamentos etc. Essa é a moeda de troca das redes clientelísticas da UFPE. Como a experiência histórica tem fartamente demonstrado, esse tipo de apoio é precário e custoso, não merece a menor credibilidade. Quem troca cargos por apoio sabe quão inseguro e temporário é esse apoio.

                       Diga-se, de passagem, que os reitores que se elegeram já na época de Lula e de Dilma frustraram profundamente os anseios da comunidade universitária. E se tornaram consultores e conselheiros do Governo Federal. É o velho e conhecido fenômeno do “transformismo”. Uma vez investidos do cargo de dirigentes universitários, num passe de mágica, mudam de lado e passam a tratar os docentes e discentes na base do troca-troca.

                        Menção especial vai para o atual presidente da Associação dos Docentes da UFPE, prof. Gilberto. Este militante sindical não só procurou desacreditar os apoiadores da candidatura do professor Edilson, através de várias acusações, como hipotecou publicamente o seu apoio ao atual reitor. Quem precisa de um dirigente sindical, como esse, num momento de turbulência e dificuldades para o financiamento das IES, como o que estamos prestes a atravessar? – Já se vê que sua postura deve ser a defesa incondicional do seu candidato, à frente da reitoria da UFPE.
                        Se não fosse um militante histórico – desde o Congresso de fundação da Andes, na cidade de Campinas (SP) nos idos dos anos 80 – da minha categoria profissional, eu me desfiliava dessa entidade em protesto à conduta desprimorosa desse dirigente sindical.

                        Por tudo, ainda é muito cedo para comemorar. Ganhar não é tudo. Mas importante é honrar os compromissos assumidos publicamente com aqueles que acreditaram nas promessas do vencedor.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE.


domingo, 17 de maio de 2015

Tijolinho Real: A canonização de Dom Hélder Câmara

O teólogo Gustavo Gutiérrez recentemente esteve no Vaticano e foi muito bem recebido pelo Papa Francisco. Com o gesto, o Papa abriu o diálogo com uma das correntes mais rejeitadas pelo conservadorismo da Igreja Católica, a Teologia da Libertação. Tudo foi muito simbólico neste encontro, a começar pelas observações de Gutiérrez, indicando que talvez seja o memento de falarmos de uma era de pós-pobreza. Nada mais emblemático para quem, na Igreja, sempre defendeu uma linha de opção preferencial pelos pobres. Como mesmo afirmou o padre peruano, já que se fala tanto em pós-capitalismo e pós-socialismo. No país, existem alguns teólogos famosos ligados à essa teologia, como o Frei Beto e Leonardo Boff. Mas, para nós pernambucanos, talvez a figura mais identificada com essa linha de pensamento seja mesmo o eterno arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara muito identificado, igualmente, com a luta pelas direitos humanos no país, em momentos bicudos, como o da Ditadura Militar. Impossível de esquecer, no entanto, o Dom Hélder das Comunidades Eclesiais de Base, da luta pelas mais humildes. Já no final do seu episcopado, Dom Hélder sentiu o peso das medidas conservadoras do Vaticano. Resignou-se fora dos palácios - que, aliás nunca ocupou - naquela igrejinha humilde da Rua das Fronteiras, bem ao seu estilo. Agora, com um Papa que se propõe ao diálogo, vejo que ele pode ser reabilitado. Vou cometer a heresia de afirmar que este Papa está botando para lascar. Pediu pressa aos assessores nos processos que envolvem a beatificação de Dom Hélder e Dom Oscar Romero, que foi assassinado durante a guerrilha salvadorenha.

Pensamento do filósofo Michel Foucault ainda incomoda muita gente.


De acordo com a Fundação São Paulo, os estudos do filósofo “não coadunam com os valores da igreja”, o que justificaria a não criação da Cátedra com seu nome na PUC-SP
Por Marcelo Hailer*
Foi com alegria quando, em 2011, recebemos a notícia da parceria entre o Collège de France e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde a instituição brasileira seria a primeira do mundo a receber cópias dos áudios dos 13 cursos que o filósofo Michel Foucault ministrou na instituição francesa. Como contrapartida, uma Cátedra Michel Foucault seria criada. Fato importantíssimo, visto que a PUC-SP seria a primeira instituição do mundo a disponibilizar para pesquisa os cursos do filósofo.
Porém, foi com espanto que recebemos a notícia de que o Conselho Superior da Fundação São Paulo, mantenedora da PUC, recusou a criação da Cátedra Michel Foucault no início deste ano. O fato se tornou público na última reunião do Conselho Universitário (Consun). A censura e intervenção contra a criação da Cátedra foi deliberada pelo Conselho Superior, órgão máximo constituído pela reitora Ana Cintra, bispos da Arquidiocese de São Paulo e o cardeal dom Odilo Scherer.
De acordo com relatos, a censura se deu por que os pensamentos do filósofo “não coadunam com os valores da igreja”. O que espanta é que o Conselho Superior tenha levado mais de 40 anos pra descobrir isso, visto que a PUC-SP é internacionalmente conhecida pelos vários estudos e grupos de pesquisa ligados à sua obra. Portanto, a censura do Conselho se dá por dois motivos: 1) Moral: Michel Foucault era homossexual, crítico da igreja e foi uma das primeiras pessoas públicas a morrer de aids na França; 2) Político: apesar da PUC ser uma referência em estudos foucaultianos, a universidade não tinha um ligamento oficial com o filósofo, a partir do momento em que a Cátedra fosse criada, a instituição passaria a ser visitada por pesquisadores do Brasil e da América Latina por conta dos áudios de seus cursos.
Também não é possível ignorar o momento político em que o Brasil está mergulhado. Desde que os grupos de direita resolveram ir pra rua foi estabelecida uma agenda (que não é nova) de estigmatização não apenas de grupos políticos, mas também de epistemologias historicamente ligadas ao pensamento de esquerda. Ora, e Michel Foucault foi um militante da esquerda francesa, obras como Vigiar e Punir, Anormais e os três volumes da História da Sexualidade são análises críticas aos dispositivos de controle e vigilância das instituições conservadoras e claro, entre elas (principalmente), a Igreja Católica e o seu papel na disseminação de conceitos patologizantes contra os sujeitos “demoníacos” e “perigosos”, entenda-se comunistas, bichas, aborteiras, feministas… O seu pensamento ainda é uma arma política que incomoda, assim como os estudos de Karl Marx são, também, motivo de perseguição das instituições conservadoras.
É dentro deste contexto que devemos compreender a censura à Cátedra Michel Foucault, pois apenas o fator ideológico é que explica uma sandice desta envergadura contra a universidade, que já sofre com evasão de alunos e que vai contra toda a história da PUC-SP, berço de movimentos, pensadores e ativistas políticos do campo progressista do Brasil.
Escândalo internacional
Trata-se de um escândalo e vergonha internacional. Segundo o professor Márcio Alves da Fonseca, em declaração ao jornal O Estado de São Paulo, os áudios, que foram doados em 2011 pelo Collège de France e teve intermediação do Consulado-Geral da França, à época foi pedido que a universidade criasse uma Cátedra Michel Foucault como forma de contrapartida, com a censura do Conselho Superior, existe o risco de que estes áudios tenham que voltar a Paris, o que seria uma perda acadêmica inestimável.
Esta atitude não deixa de ser irônica. É impressionante o poder político e o incômodo que os estudos de Foucault exercem aos setores religiosos e conservadores. E é aí que reside a ironia deste triste fato: que hoje ele, mesmo depois de morto, seja vítima daquilo que mais denunciou a sua vida inteira: os dispositivos disciplinares perpetrados por instituições, tais como as escolas e igrejas, que não tem outra meta senão formatar sujeitos e rasurar o pensamento crítico.
Pode ser que, ao ter em suas mãos o poder de censurar Michel Foucault, o Conselho Superior tenha resolvido se “vingar” do filósofo e ,assim, além de eliminar a Cátedra, acabaram também com a autonomia acadêmica da PUC-SP e a transformaram em símbolo de vitória para aqueles que hoje pedem o retorno de 1964 e a eliminação dos “vermelhos”. Este fato só nos reforça a certeza da importância e atualidade dos estudos de Michel Foucault.
PS: ao término deste texto somos brindados com a informação de que o deputado estadual, Coronel Telhada (PSDB-SP), assumiu a Comissão de Direitos Humanos da ALESP. Tá bom pra você?
*Marcelo Hailer é doutorando em Ciência Sociais (PUC-SP) e membro do Núcleo Inanna de Pesquisa Interdisciplinar de Sexualidades, Gênero e Diferenças (NIP-PUC-SP)
(Publicado originalmente na Revista Fórum)

sábado, 16 de maio de 2015

MST zera analfabetismo em assentamentos!

Do site do MST:

“Zerar o analfabetismo é o primeiro passo para libertar o trabalhador das prisões deste sistema desigual”, disse o coletivo de Educação do MST durante a formatura de 180 trabalhadores Sem Terra que participaram do projeto cubano de alfabetização para jovens e adultos, “Sim, eu Posso”.

A comemoração aconteceu neste último sábado (9), na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, no Assentamento Jaci Rocha, município do Prado - Extremo Sul da Bahia -, e reuniu mais de 300 famílias.

O projeto de alfabetização conseguiu zerar o analfabetismo nos Assentamentos Jaci Rocha, Antônio Araujo, Bela Manhã, Herdeiros da Terra, José Martí e Abril Vermelho, usando como metodologia tele aulas em dezessete turmas, cada uma acompanhada por um educador.

Além disso, quatro coordenadores pedagógicos estavam cumprindo o papel de organizar e construir coletivamente com os educandos e educadores temas norteadores para os debates em sala de aula.

Com o lema “Sim, eu posso ler e escrever. Essa é uma conquista do MST”, as aulas tiveram início no dia 10 de janeiro e foram finalizadas no dia 25 de abril deste ano.

Dificuldades

Ao longo do processo algumas dificuldades surgiram, especialmente porque a maioria dos educandos estão em idade avançada e trabalham todos os dias na produção familiar. Devido ao cansaço, muitas faltas aconteciam.

Em muitos assentamentos as salas de aula não tinham estrutura para o desenvolvimento do projeto. Para superar essa dificuldade, foi preciso a participação e cooperação de todos educandos, educadores e da comunidade.

Outra dificuldade surgiu nos primeiros dias de aula. Compreender a metodologia abordada pelo projeto, com as tele aulas e associar as letras e números ao processo de alfabetização não foi fácil.

Segundo os educadores, esta dificuldade se dá por conta do processo de alfabetização já construído pelo modelo de educação do Estado, que mecaniza a metodologia.

De acordo com Eliane Kay, coordenadora do projeto, o programa alcançou bons resultados apesar das dificuldades enfrentadas.

“Contamos com ferramentas muito importantes para facilitar a metodologia, como televisores, cartilhas e óculos doados aos educandos”.

Sim, eu Posso

O projeto de alfabetização “Sim, eu Posso” foi construído em Cuba pela pedagoga Leonela Relyz Diaz, falecida em janeiro deste ano.

As atividades desenvolvidas propõem alfabetizar em apenas três meses, utilizando-se da linguagem popular e dos números como referência educativa.

Além disso, são escolhidos temas geradores que dialogam com a realidade de cada localidade, para garantir um espaço de debate e formação política.

“O mais importante deste projeto é que a abordagem parte da comunidade para os educandos. Desta forma, cada estudante acaba se sentindo mais seguro para avançar nos debates e compreender o mundo de uma forma diferente”, afirma o educador Lindoel.

O ‘Sim, eu Posso’ já contribuiu para erradicação do analfabetismo em diversos países, como Vietnã, Bolívia e Venezuela.

Educandos

Durante a formatura muitas histórias de vida emocionaram a todos.

A assentada Maria Aparecida declarou que não tinha pai, e sua mãe era pobre. “Me criei na roça trabalhando, e então não tive como estudar. Quando ainda era criança minha mãe falava que estávamos indo a aula para arrumar namorado, e ai ela não deixava a gente estudar”, recorda.

A história de José Sebastião não é diferente. “Eu não fui à escola quando era criança, porque meu pai colocava a gente nos trabalhos da roça. E não foi só eu, meus dois irmãos passaram pelo mesmo”.

Já sabendo ler e escrever, Sebastião afirma que hoje as coisas mudaram. “Consigo ler algumas palavras, inclusive as cartas e bilhetes que meus filhos mandam para mim. Consigo também escrever meu nome. Me sinto livre. Sempre precisei de alguém para fazer essas coisas. Hoje não”.

Formatura

Ao parabenizar a todos os educandos pela coragem e o desafio de concluir os estudos, Eliane Kai, da direção regional do MST, disse que “este é um momento sublime, de alegria e festividade, porque o objetivo foi alcançado. Conseguimos zerar o analfabetismo em seis áreas destinadas a Reforma Agrária, e a partir de agora essas áreas são territórios livres”.

Já Evanildo Costa, da direção estadual do MST, afirmou que “essa é uma experiência muito importante. É um projeto que deu certo e que as autoridades políticas da região deveriam tomá-lo como exemplo na luta contra o analfabetismo e desenvolvimento da nossa região”.

O Deputado Federal Valmir Assunção (PT – BA) parabenizou o exemplo de força e resistência dos educandos em superar as dificuldades e abrirem novos horizontes.

Para Assunção, o resultado desse projeto deve ser levado ao conhecimento da sociedade. “Defenderei junto ao governador da Bahia, Rui Costa, a importância da multiplicação desse projeto para eliminação do analfabetismo em nosso estado”, concluiu.


P.S do Realpolitik: como diz o Renato Aroeira, : Só pra lembrar que há mais objetivos pelo mundo, além das mesquinhas, pequeninas e egocentradas metas do MMM (Meritocrata Mundo Moderno). Lembro que a UNESCO, em seu último relatório sobre educação na América Latina, observa que há um percentual muito alto de população adulta analfabeta no Brasil, algo em torno de 13 milhões de pessoas, um índice considerado alto até mesmo para os padrões latino-americanos. Nas políticas públicas de educação, mesmo no governo das coalizões petistas,  o analfabetismo de adulto sempre foi posto com o status de políticas de segunda categoria. Parabéns ao pessoal do MST.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Charge! Aroeira via Facebook

A classe média vai às ruas: emoção, política e gestão.


Daniel Pereira Andrade, Sociólogo e professor do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração (FSJ) da EAESP-FGV

Como el de otras pasiones, el origen de un odio siempre es oscuro”. A observação de Jorge Luis Borges nos conduz a refletir com mais cuidado sobre as causas da forte emoção que tem mobilizado uma parcela considerável da classe média brasileira. Se hoje essa energia psíquica está investida nas manifestações contra a corrupção, o fato é que sua aparição se deu ainda antes do caso da Petrobrás, datando ao menos dos protestos de junho de 2013 e sendo reeditada com crescente fulgor no período pré-eleitoral. Sua origem não está, assim, ligada diretamente aos escândalos atuais, sendo mais provável que tenha sido gestada no dia-a-dia das pessoas. É na transformação da mais cotidiana das atividades, o trabalho, que podemos encontrar o solo fértil onde germina esse sentimento.
Nos últimos anos, não foram poucas as ocasiões em que ouvi queixas sobre a piora das condições de trabalho. Não se tratava das reclamações habituais, mas de mudanças substantivas em profissões tradicionais como engenheiros, professores, advogados, profissionais da saúde, administradores e jornalistas. Muitos foram sujeitos ao fenômeno da “pejotização”, ou seja, à contratação de serviços prestados por pessoas físicas, mas efetivados legalmente sob a forma de pessoa jurídica (PJ), de modo a disfarçar relações de emprego e burlar direitos trabalhistas. Outros foram empregados temporariamente, com baixos salários, e, a despeito de grande esforço, não conseguiram ser efetivados, sendo ou dispensados ou subcontratados como terceirizados. A informalidade também não foi rara. Serviços permanentes ou “bicos” foram formas alternativas para obter ou melhorar os orçamentos.
A fragilização dos vínculos trabalhistas se converteu assim em uma ameaça permanentemente de demissão, mesmo que os índices de desemprego estejam baixos. Esse temor é amplificado por estratégias de gestão que colocam os profissionais em concorrência, numa espécie de seleção contínua. Métodos como o “20-70-10”, em que os 20% que melhor desempenham recebem aumentos substantivos, enquanto 70% permanecem estáveis e os piores 10% são demitidos submetem as pessoas a um jogo de eliminação similar aos reality shows. Nesse contexto, não há como as relações de trabalho se manterem boas. Se o sucesso de meu colega representa o risco da minha demissão, não posso ficar feliz por ele, devo antes me preocupar comigo. Trata-se de uma máquina de maus sentimentos recíprocos, em que a agressividade, o medo, a angústia, a inveja e o ressentimento são os motores da produtividade. Se houver dúvida quanto ao exagero da afirmação, sugiro o teste que Hobbes propunha aos seus leitores: que cada um examine as suas próprias emoções – no caso em questão, durante um dia de trabalho.
O resultado dessa experiência cotidiana de parcela da classe média é uma concepção do mundo como uma luta de todos contra todos no livre mercado, pressupondo acriticamente a igualdade de condições no ponto de partida. A crença cega na meritocracia faz com que toda falha na recompensa aos esforços individuais seja sentida como uma injustiça pessoal pela qual alguém deve ser culpado, e não como uma arbitrariedade cada vez mais comum em uma economia baseada na flexibilidade e na precarização. Qualquer discurso que fuja a esta crua racionalidade econômica e problematize a origem da injustiça social é repudiado como uma forma de burlar a disputa, não havendo lugar para a compaixão.
A consequência desse ethos competitivo é o repúdio de toda política de redistribuição de renda. Os beneficiários das políticas sociais são vistos como usurpadores ilegítimos dos impostos e os partidos que as promovem são acusados de interferência indevida na disputa, rompendo com a “meritocracia” e tornando-se duplamente corruptos. A desaceleração do crescimento econômico intensifica o descontentamento, pois um cenário recessivo amplia o risco de demissão e acirra a concorrência.
Boa parte da classe média tende assim a direcionar a agressividade que vive cotidianamente no trabalho, resultante dos modernos métodos de gestão, contra o governo e os trabalhadores pobres emergentes. Ainda mais quando a ascensão social pode representar o aumento de competidores qualificados dispostos a receber menores salários, resultado da ampliação do ensino superior. Pode também representar maior custo dos serviços, cujo consumo caracteriza a classe média, diferenciando-a até então da trabalhadora. A “classe C” não apenas se tornou também consumidora de serviços, reduzindo a exclusividade distintiva de classe, como ainda obteve a formalização de seus empregos e o aumento do salário mínimo, deixando os serviços braçais mais caros.
A competição, agora de classes e política, é encarada por parcela da classe média como uma luta darwiniana pela sobrevivência. Ainda mais quando o que está em jogo é quem vai pagar a conta da crise econômica. Assim como no trabalho, o inimigo deve ser eliminado ou colocado no seu lugar subalterno. O impeachment ou, mais radicalmente, a intervenção militar surgem assim como alternativas à derrota nas urnas, desqualificando os votos daqueles que recebem auxílios sociais. Mas resta a questão fundamental: mudar o partido no governo vai desfazer esse mal-estar cotidiano? Quem, afinal, ganha com a precarização do trabalho e com o aumento da competição? Certamente não são os pobres, que compartilham da mesma angústia. E não está claro que seja diretamente um partido político. Por isso, além do governo, cabe politizar também a gestão.

(Publicado originalmente no Estadão, 13 de maio de 2015)

Ataques a Lula prenunciam a grande batalha de 2016


publicado em 13 de maio de 2015 às 12:43
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por Luiz Carlos Azenha

A revista Época, dos irmãos Marinho, ofereceu a cabeça do ex-presidente Lula na capa. Um factoide imediatamente demolido. Continha, segundo o Instituto Lula, sete mentiras.
Quem leu a íntegra acabou concluindo que Lula foi acusado de criar empregos no Brasil!
Por que os rápidos desmentidos do Instituto Lula, se o ex-presidente nem candidato é?
Trata-se da grande batalha eleitoral de 2016.
Esqueçamos, por um momento, de toda a fumaça que a mídia e a oposição fizeram em torno de Lula, Dilma e o PT desde 2002. Estes conquistaram três vitórias eleitorais apesar da fumaça, em 2006, 2010 e 2014.
Porém, algo distinto aconteceu em 2014. O PT viu encolher sua bancada no Congresso. Dilma venceu por margem apertada. A inépcia política permitiu que um peemedebista de oposição conquistasse a presidência da Câmara. A crise econômica solapou a base de sustentação de um projeto umbilicalmente ligado ao poder de consumo. A crise geral de representação se aprofundou depois dos protestos de julho de 2013. Mensalão + petrolão, bombardeados de forma incessante, corroeram a crença popular no PT.
Os colunistas da mídia hegemônica acreditam uns nos outros. Por isso, vivem decretando o fim de Lula e do PT. É certo que o partido se distanciou de suas bases, se burocratizou em torno dos mandatos e se jogou nos braços do marketing eleitoral. Porém, ninguém chuta cachorro morto.
Se de fato o PT e Lula tivessem morrido, não haveria a onda de acusações contra o ex-presidente. O fato é que ele é, ainda, o grande cabo eleitoral. Talvez o único capaz de disputar os votos da periferia de São Paulo em igualdade de condições com Marta Suplicy.
É disso que se trata, caros leitores. Estamos às vésperas de uma campanha definidora para o futuro do PT: a da reeleição de Fernando Haddad. Marta, que bandeou-se para o outro lado, pode dar ao tucano Geraldo Alckmin o verniz inclusivo de que ele precisa para disputar o Planalto em 2018. Enfim, um tucano tolerante, convivendo no mesmo barco com uma socialista.
Lula não está sendo atacado como candidato ao Planalto em 2018, mas por ser o principal cabo eleitoral de Haddad.
O resto é a fumaça de sempre.

(Publicado originalmente no site Viomundo)

Francisco, o Papa da era pós-pobreza?


Confesso que o Papa Francisco está nos surpreendendo positivamente. No campo da diplomacia, reconheceu o Estado Palestino, vem mantendo boas relações com Cuba, visitou a ilha caribenha e recebeu, até recentemente,no Vaticano, o presidente daquele país, Raul Castro. São diálogos amistosos, tipicamente no sentido de quem deseja aparar arestas políticas ou ideológicas. Está em curso no Vaticano a elaboração de uma nova encíclica. Francisco não teve a menor cerimônia em pedir, num dos pontos, a colaboração do teólogo brasileiro, Leonardo Boff, ligado à Teologia da Libertação. Aliás, essa aproximação com a Teologia da Libertação , uma corrente teológica duramente perseguida por setores mais conservadores do Vaticano durante anos, tem sido uma prática constante do Papa Francisco. Já recebeu informalmente Frei Beto, estuda a beatificação de Oscar Romero - bispo de El Salvador morte durante a guerrilha - e do nosso eterno arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara. Depois de décadas isolado, perseguido e vigiado, finalmente, o papa Francisco tirou do ostracismo o principal expoente da teologia da opção pelos pobres, o teólogo peruano, Gustavo Gutiérrez. Gustavo esteve no Vaticano e elogiou a atmosfera que se respira na sede da Igreja Católica. Do alto dos seus 84 anos, lúcido e com as convicções inabaláveis, Gutiérrez deixou o seu recado: se fala tanto em pós-capitalismo, em pós-socialismo. Talvez fosse o caso de falarmos em pós-pobreza. Bravo, Gutiérrez!

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Charge!Aroeira via seu perfil do Facebook

Eliane Brum, no El País: Humilhar e ignorar professor pode. Sufocar e ferir não.


O que se pode infligir a um educador sem causar indignação aponta o tamanho do buraco da educação pública no Brasil

 
– "Eles estão atirando em nós".
A frase atravessa vídeos sobre o massacre dos professores, executado pela Polícia Militar do Paraná a serviço do Governo de Beto Richa (PSDB), em 29 de abril. Professores desmaiam, professores passam mal com as bombas de gás lacrimogêneo, professores são feridos por balas de borracha. Um cão pit bull da PM arranca pedaços da perna de um cinegrafista. Há sangue na praça de Curitiba, diante da “casa do povo”, a Assembleia Legislativa do Estado. Ao final, há cerca de 200 feridos. Mas mais do que as imagens, é essa frase anônima, em voz feminina, que me atinge com mais força. Porque há nela uma incredulidade, um ponto de interrogação magoado nas entrelinhas e finalmente a compreensão de ter chegado a um ponto de não retorno. Depois de ser humilhada por baixos salários, depois de dar aula em escolas em decomposição, depois de ser xingada por pais e por alunos, agora a PM também podia atirar nela. E atirava. E, se as bombas de gás, as bombas de efeito i-moral não matam, pelo menos não de imediato, a sensação é de morte.
O susto causado pela percepção de que não havia mais limite para o que se podia infligir a um professor era a prova de que um professor não era mais um professor. Toda a aura que envolve aquele que ensina se esvaía em sangue na praça de Curitiba. Os PMs, cujos filhos possivelmente são ensinados por aqueles educadores, tinham autorização para atirar. Esse extremo, o da fronteira rompida, causou uma comoção nacional. E vem desenhando o inferno do governador Beto Richa, explicitado por uma crise no Governo paranaense que levou até agora à demissão de dois secretários, o de Educação e o de Segurança Pública, e o comandante da PM.
De repente algo se esgarçou e tornou-se inaceitável para uma parte significativa da sociedade. Ainda houve quem tentasse transformar os professores em “vândalos”, a palavra usada para criminalizar aqueles que protestam desde as manifestações de 2013. Ainda houve na imprensa quem chamasse massacre de “confronto”, o truque para transmitir a ideia de que eram forças equivalentes em conflito. Mas as imagens e os relatos eram evidentes demais. As redes sociais na internet mais uma vez cumpriram o papel de amplificar as vozes e garantir um número maior de narrativas para dar conta da complexidade do 29 de abril. Os coletivos de mídia independente tiveram inegável importância na documentação da história em movimento.
Por que bala de borracha e gás é a ruptura que produz indignação?
É assustador que alguns tenham tentado justificar, em plena democracia, o massacre em praça pública dos professores do Paraná. Nessa tentativa de criminalizar aqueles que protestam e, ao mesmo tempo, legitimar a ação policial, como se as forças de segurança do Estado não tivessem se comportado como forças criminosas, há algo em curso que precisamos prestar muita atenção. Não existe equívoco de inocência nessa versão. Mas eu gostaria aqui de me deter em algo que também me parece um tanto perturbador, ainda que pelo avesso.
É sinal de esperança que grande parte da sociedade brasileira, na qual me incluo, se comova diante da violência contra os professores. Não há dúvida sobre isso. Mas cabem pelo menos duas perguntas. A primeira é: por que este é o limite que produz indignação? A segunda: o quanto o que se tornou visível apenas revela e reforça a invisibilidade maior?
Quando testemunho as manifestações de repúdio ao massacre de Curitiba, sinto esse misto de esperança e de incômodo. Esperança pelos motivos óbvios. Quem sabe não acordamos, todos nós, para o buraco da educação no Brasil? Inclusive porque a perda de popularidade do governador Beto Richa e a crise instalada no Governo virou um pesadelo bem vivo para o restante dos governantes.
Agora, o incômodo. O que esse limite revela sobre o que não é limite? É louvável que as pessoas se revoltem ao ver professores sangrando ou desmaiando ou sendo ameaçados por cães pit bull. Se não nos revoltássemos nem com isso seria ainda mais dramático. Mas por que testemunhar durante décadas professores brasileiros, dos diversos estados do país, ganhando um salário incompatível com uma vida digna é um fato com o qual parece ser possível conviver, tão possível que chegamos a esse ponto depois de 30 anos de democracia? Por que escolas caindo literalmente aos pedaços, naufragando a cada chuva, numa materialização explícita da situação crônica da educação pública, é algo com o qual a maioria se acostuma? Por que o fato de os professores serem ameaçados por alunos e às vezes por pais de alunos em salas de aula, num confronto entre desesperados, uma versão urbana da guerra dos miseráveis que atravessa os rincões do Brasil, é algo que se tolera?
Em resumo: pode pagar salário indecente, pode botar gente pra ensinar e gente pra ser ensinado debaixo de um teto que pode cair, pode quase tudo. Só não pode ferir com balas de borracha e sufocar com bombas de gás lacrimogêneo. Ah, pit bull também pega mal. Bem, isso os governantes acabaram de aprender que não podem fazer sem provocar repúdio dos eleitores. Já o resto... Talvez nesse sentido possa se justificar uma certa perplexidade da PM, do Governo paranaense e de alguns setores da sociedade brasileira e da imprensa tradicional: como assim, não pode bater nesses “baderneiros” que deveriam estar na sala de aula e não na praça protestando? Não pode descer o cacete nesses “vândalos” que têm o desplante de achar que a casa do povo é do povo?
Ao menos descobriu-se que há um limite para o que se pode infligir a um professor, uma fronteira demarcada pela reação da sociedade ao massacre de Curitiba. Mas que limite sem-vergonha o nosso.
Repetir que educação deve ser prioridade no país é a flatulência do Brasil atual
Qualquer um, em qualquer classe social, em qualquer esfera de poder vai repetir que “a educação deve ser prioridade” ou que “a educação é o maior desafio para o país” ou que “sem melhorar a educação o Brasil jamais será um país desenvolvido”. É um consenso, quase uma platitude. Mas, de novo, é um consenso bem sem-vergonha. É o consenso mais vazio do Brasil contemporâneo, é quase uma flatulência. Que não se perceba o quanto fede é só mais um sinal dessa hipocrisia de salão.
De fato, uma boa parte daqueles que têm voz e poder de pressão para mudar essa situação está pouco se importando. Porque “a elite brasileira é burra”, como já disse aqui neste espaço meu colega Luiz Ruffato. Principalmente porque a elite brasileira acredita que seus filhos estão a salvo. Essa ilusão de que os “meus” filhos estão salvos, já dos filhos dos “outros” eu sinto pena, lamento, desculpe aí, queria sinceramente que fosse diferente, mas não me incomodo o suficiente para fazer disso uma grande questão na minha vida. Afinal, quem tem tempo pra isso tendo que ralar para pagar os preços exorbitantes de uma escola privada que transforma educação em mercadoria cara?
Inclusão social no Brasil significa entrar no barco dos que podem se salvar. A classe média acredita que seus filhos estão a salvo e uma parcela daqueles que ascenderam, na década passada, ao que se chama de Classe C fez um grande esforço para matricular seus filhos em escolas particulares assim que a situação financeira permitiu. Filho em escola privada – e portanto supostamente a salvo da péssima educação pública – é parte do que significa ser classe média no Brasil. Dos mais ricos, nem se fala.
É óbvio – ou deveria ser – que a má qualidade da educação oferecida a essa entidade chamada “povo brasileiro” em algum momento vai afetar os privilégios dos mais ricos. Mão de obra desqualificada é um problema sério no Brasil, com impacto em qualquer projeção de futuro. Então, ainda que por egoísmo ou por pragmatismo, a elite econômica deveria se preocupar, o que já vem acontecendo com bem poucos empresários, mas a preocupação ainda é imensamente menor do que as dimensões da catástrofe.
A escola privada, como gueto de iguais, é um reprodutor de privilégios, mas também um reprodutor de ignorâncias
Talvez houvesse uma mudança real de posição se as pessoas percebessem que seus filhos estão menos salvos do que acreditam estar. Primeiro, porque escola privada e educação de qualidade não são sinônimos. Longe disso. Apenas poucas escolas, em geral as mais caras, a elite da elite, têm qualidade reconhecida. Ainda assim, são apenas medianas com relação ao nível de suas similares em países do mundo nos quais a educação é prioridade.
Segundo, educação está longe de ser apenas conteúdo formal. Educação é um processo muito mais complexo, no qual a diversidade das experiências é fundamental. É claro que aquela elite que se habituou por séculos a decodificar a diferença como inferioridade tem dificuldades para compreender a diversidade de experiências como riqueza. Para esta, o diferente era primeiro o escravo, depois o empregado ou o subalterno, alguém com quem não havia nada a aprender, já que a sua única função era servir.
Há, porém, uma elite intelectual e uma classe média com outra origem, de quem se poderia esperar uma visão menos estúpida. O que muitos pais não percebem é que a escola privada, como gueto de iguais, é um reprodutor de privilégios, mas também é um reprodutor de ignorâncias. E também um reprodutor de pobrezas não materiais. Num exemplo bem corriqueiro, em algum momento talvez os pais possam perceber que adolescentes que já andaram bastante pelo mundo em viagens protegidas mas nunca pegaram um metrô em São Paulo ou um ônibus de linha em qualquer lugar podem ter alguma dificuldade em lidar com a vida como ela é. Porque a vida como ela é chega para todos em algum momento e em alguma medida. E podem, principalmente, ter perdido um universo de experiências criadoras e criativas não apenas por serem incapazes de cruzar as pontes, mas por nem mesmo desconfiar que é importante cruzá-las.
O degrau seguinte daquele que historicamente foi submetido é virar não cidadão, mas cliente
Num país com a educação pública em ruínas ninguém está a salvo, nem mesmo os filhos da elite. Ainda que seja óbvio que estes estão bem mais a salvo que todos os outros. O que quero enfatizar é a hipótese de que a ilusão de estar a salvo cumpre um papel decisivo na manutenção das ruínas como ruínas. E na convivência com o que não deveria se poder conviver, na aceitação da indignidade como algo já dado, na tolerância ao intolerável que é a situação dos professores e das escolas no Brasil. O que quero dizer é que a comoção pública diante do massacre de Curitiba, se é louvável, é também sinalizadora da falência da sociedade brasileira, inclusive ética. Já que é pelos limites que também compreendemos a lógica de uma sociedade. E o limite aqui é: pode humilhar um professor, pode pagá-lo mal, pode submetê-lo a condições insalubres de trabalho. Não pode ferir explicitamente seu corpo.
Vale a pena compreender que a ampliação do acesso à educação formal é muito recente no Brasil. É o salto que deveria ter sido dado e ficou pela metade. Para muitos pais das camadas mais pobres, eles mesmos analfabetos ou filho de analfabetos, só o fato de conseguir matricular o filho numa escola, mesmo que seja uma instituição de má qualidade, já é um avanço. Como tem sido para os pais de Classe C ter um filho com diploma universitário, mesmo que de uma faculdade de terceira linha.
A saída encontrada pelos mais pobres, numa lição aprendida com a classe média tradicional, é individual. Por isso, uma das primeiras medidas de ascensão social é reproduzir o ciclo: matricular o filho numa escola privada, deixando a pública para os mais fragilizados, os menos visíveis, os com pouca ou nenhuma voz. O degrau seguinte daquele que historicamente foi submetido não é se tornar cidadão, mas cliente. Parece mais fácil aderir à lógica de mercado. Quem ainda não conseguiu fazer a conversão, almeja fazê-la. Acolhe a versão perversa de que a melhora está na sua mão, de que é o pai e a mãe de família que precisam mudar de classe se quiserem dar uma boa educação aos filhos.
No Brasil ainda infectado pela mentalidade de Casa Grande e Senzala, tantas vezes reatualizada para continuar em vigor, ainda é difícil para muitos compreender a educação como o direito fundamental que é. E cobrá-lo do Estado pelo caminho da cidadania. É também por conta dessa mentalidade, na qual a qualidade da educação vira um problema com solução individual e privada, e não uma luta pública e coletiva, que a revolta é abafada e os professores vão se convertendo em párias, esvaziados de dignidade, lugar e sentido.
É assim que caminha o “Brasil, pátria educadora”, país que tem um dos piores salários de professor do mundo. O lema do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) apenas mais um sinal do absurdo, de uma espécie de realismo de perdição.
A tensão, porém, existe. E é grande. O fato de as escolas públicas sofrerem constantes depredações, se é sinal da violência crescente, é também sinal de que a escola falha como um lugar de acolhimento para os conflitos e também como espaço para a construção de sentidos e para a qualificação do desejo. Ainda que as causas sejam várias e complexas, é bastante óbvio que, sem outros canais para expressar a traição de uma educação que não educa, resta a violência mais primária. Também porque a escola pública, que deveria dar condições de representação, não representa. E assim vai fracassando ao ser reduzida a uma tentativa perversa de conter a tensão causada pela fratura racial brasileira.
A depredação das escolas públicas mostra que os alunos aprenderam a lição dada pelo Estado: tanto eles quanto os professores valem muito pouco
A depredação das escolas por alunos é também uma resposta tortuosa à depredação original, a do Estado, que deixa as escolas apodrecerem, dando provas evidentes de que aquele que lá está é considerado cidadão de segunda ou terceira categoria. A violência direta de alunos e, às vezes, também de pais de alunos contra professores é também o sinal de que a lição dada pelo Estado foi bem compreendida: professor vale pouco, quase nada.
Enquanto alunos e professores se violentam mutuamente, aqueles que têm a responsabilidade de mudar essa situação não são incomodados. É conveniente que as vítimas se agridam entre si, muitas vezes dentro de escolas cada vez mais parecidas com bunkers para se proteger da comunidade, o que em si já expõe o tamanho da tragédia. Se essa realidade ultrapassa os muros da escola para ocupar espaços geográfica e simbolicamente mais centrais, chama-se a PM. Que os policiais militares, também eles servidores mal pagos do Estado, façam o serviço sujo. E então homens públicos como Beto Richa sentem-se à vontade para declarar, rosto compungido: “Não tem ninguém mais ferido do que eu. Eu estou ferido na alma. O mais prejudicado hoje sou eu”.
Não, governador. Mas não mesmo. Valeu a tentativa, mas não vai colar.
Geraldo Alckmin, subestimado como “picolé de chuchu”, é talvez o político que mais mereça a atenção do país neste momento
Agora, a segunda pergunta que lancei no início desse artigo, e que diz respeito ao jogo entre o visível e o invisível. Ou, repetindo: o quanto o que se tornou visível apenas revela e reforça a invisibilidade de fundo? O sangue dos professores no massacre de Curitiba os tornou visíveis para o país, mas essa visibilidade é um tanto ilusória. Neste momento, greves de professores esvaziam salas de aula em vários estados e municípios brasileiros. E cadê a surpresa? Cadê o susto? Cadê as manchetes? Cadê a indignação? É muito menor do que o bom senso e a catástrofe educacional brasileira sugeririam.
Por isso. Porque pode. Na prática tornou-se aceitável que os mais pobres fiquem sem aula ou tenham educação de má qualidade. Só não pode é sufocar professor com gás e ferir professor com bala de borracha no centro. Aí passa dos limites. Aí exagerou, né, tio. Aí a sociedade grita. Não deixa de ser uma versão do “estupra mas não mata”.
Talvez o paradigma seja o estado de São Paulo, governado há mais de 20 anos pelo PSDB. Em São Paulo, os professores estão em greve há quase dois meses, mas o governador Geraldo Alckmin chegou a afirmar: “Na realidade não existe greve de professores”. Faltou explicitar em qual realidade.
Geraldo Alckmin é talvez o político que mais mereça a atenção do país no momento, mais até mesmo do que seu colega Beto Richa. Subestimado com o apelido de “picolé de chuchu”, o que apontaria uma suposta falta de personalidade, parece ser de longe uma das criaturas políticas mais nebulosas do Brasil atual. Sobre Alckmin, a academia deveria estar escrevendo teses, e a imprensa, perfis de peso. O apelido não tem nenhum lastro na prática concreta do Governo.
O governador de São Paulo escolheu na sua expressão pública, no trato com a população e com a imprensa, a política da negação. O que prejudica sua imagem e seus ambiciosos planos eleitorais não existe. Não existe racionamento de água, não existe greve dos professores. E, o mais surpreendente: funciona. Geraldo Alckmin se reelegeu no primeiro turno, em plena crise hídrica, dizendo que não existia crise. Agora, enfrenta a greve dos professores com a mesma fleuma. Enquanto Beto Richa, que começava a se tornar um expoente do PSDB, mandou a PM massacrar professores, Alckmin prefere fingir que os professores em greve não existem. Onde está a maior perversão? Ou a maior esperteza? Beto Richa com a popularidade em queda livre, chamado de “Rixa” e até de “Ritler” em artigos e posts nas redes sociais; Alckmin, o “picolé de chuchu”, avançando, apesar de todas as crises, olhos fixos na eleição presidencial de 2018.
Só posso sugerir que Geraldo Alckmin conhece bem seus eleitores.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum

O carrão do negão.



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José Luiz Gomes escreve:


Parte considerável dos estudos do sociólogo Gilberto Freyre foram realizados em universidades americanas. Ali ele fez o mestrado e, por muito pouco, não concluiu o doutoramento. Bastava apresentar à banca uma versão inglesa de sua famosa obra Casa Grande & Senzala, como lhe foi sugerido por um dos seus professores. O mestre de Apipucos, que escrevia tão bem, informou ao seu interlocutor que não sabia "dançar em inglês". Bailava na língua portuguesa. Quando Gilberto informou a um amigo que pretendia voltar ao Brasil, foi aconselhado a não fazê-lo, pois o Recife não era apenas cruel com alguns políticos, mas com todos aqueles que conseguiam alguma projeção. Em suma, uma cidade de invejosos. Darcy Ribeiro, em conversa com João Goulart, conseguiu convencê-lo a nomear o sociólogo Josué de Castro para o seu ministério. 

Em conversas reservadas, pediu que o estudioso da fome mantivesse segredo absoluto sobre o assunto. Vaidoso, Josué começou a espalhar na província que seria indicado ministro. Não deu outra. Dentro da própria agremiação partidária, surgiram uma leva de pessoas a desqualificar o sociólogo para assumir o ministério, enquanto alguns "mais capazes" se sentiam preteridos. Afinal, Josué de Castro​ só vivia fora do país. De fato, Josué de Castro viajava bastante, mas isso era apenas mais um indicador do prestígio internacional que ele havia conquistado, a partir de suas reflexões sobre o problema da exclusão alimentar no país, principalmente na região Nordeste. 

Desde então, pelo que observamos pela imprensa e pelas redes sociais no dia de ontem, esse quadro não mudou muito. As colunas de políticas baixaram tanto o nível que ficaram parecendo com os programas do tipo Leão Lobo ou das revistas Tititi, preocupados unicamente em revelar segredos das estrelas, do tipo quem está comendo quem. Quem já foi vítima dessas ilações sabe muito bem o que isso significa e os interesses obscuros embutidos nessa prática. Em Pernambuco isso já atingiu o limite do suportável. Até os instrumentos de Estado são utilizados para atingir a honra ou denegrir com calúnias e difamações quem se coloca contra os desmandos dos grupelhos políticos hegemônicos, alinhavados com os interesses do capital. 

Trata-se de um dispositivo azeitado, bastante lubrificado, acionado no momento certo. Já comentamos isso numa outra oportunidade. Reparem que qualquer mobilização contra o Governo Dilma Rousseff, na província, e o Estado amanhece com os muros pichados com os dizeres que foi o PT que matou aquele ex-governador dos olhos verdes ou camisas com aquela famosa frase: Não vamos desistir do Brasil. Possivelmente em razão da luta que se trava entre empreiteiras, órgãos públicos e setores da sociedade civil em torno do Projeto Novo Recife, pessoas ligadas ao Grupo Direitos Urbanos tiveram suas vidas devassadas, caso do Deputado Edilson Silva e Leonardo Cisneiro. Do primeiro, descobriram que ele comprou um suposto carrão, dessas caminhonetes de cabine dupla, avaliada em R$ 120.000,00. 

Sobre Cisneiro, informaram que o mesmo é professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco e dá expediente no gabinete de Edilson Silva, o que se constitui num problema, posto que, a princípio, ele não dá aulas na ALEPE. Ainda nesta semana, publicamos no blog um artigo do professor Michel Zaidan Filho​ sobre a campanha que elegeu Edilson Silva como o primeiro deputado do PSOl eleito em Pernambuco. Foi uma verdadeira campanha do tostão contra o milhão. Um megafone, um tamborete, muito cuspe e disposição. Um bom trabalho pelas redes sociais, e ele estava eleito. Edilson é um sujeito transparente, vem realizando um bom mandato, os proventos de Deputado Estadual já lhes faculta o acesso a um bem como um carrão, adquirido em suaves prestações. Para esta situação, deixando as ilusões e as idealizações de lado, temos que usar a filosofia pragmática ou maquiavélica. Tanto do lado do negão, quanto do lado dos seus acusadores. 

Todo político deseja o poder. É a característica do campo social onde eles atuam. Vamos deixar de ser ingênuos, porque a Assembleia Legislativa do Estado não é, necessariamente, um lugar de orações. Até sua "bancada evangélica", possivelmente, possui outras motivações para além da salvação da alma. E o poder, por sua vez, impõe seus ritos. É típico desse campo social, para usarmos uma expressão cara ao sociólogo francês Pierre Bourdieu. Muito pouco provável que o senhor Edilson Silva continuasse indo para a ALEPE com a sua famosa bicicleta, na qual fazia campanha. Seus algozes, por sua vez, não se orientam por nenhuma moral elevada, mas por uma tentativa inequívoca de tentar prejudicá-lo, apontando-o como uma pessoa "vendida"; que se sujeitou aos "apelos do capital e do consumismo"; um político da "vala comum como outro qualquer"; um ex-pobre que está se "lambuzando" nas benesses proporcionadas pelo exercício do poder; uma baita "decepção". Sinceramente, não vejo aqui como condenar o negão. E falo com a intimidade de um eleitor. O que merece a nossa reprovação é esse botequim de fofocas e bisbilhotagem institucionalizada que tomou conta do Estado de Pernambuco, cujos setores da imprensa é apenas um dos aspectos do problema. 

Isso é mais comum do que se imagina. Quando o "sistema" não possui contra-argumentos sobre uma determinada questão - o caso do projeto Novo Recife se aplica bem a esta situação - parte-se para a tentativa de desqualificar os atores políticos e, consequentemente, diminuir o impacto do seu "discurso". Para isso, utiliza-se de todos os aparatos possíveis e imagináveis, alguns deles ilegais. O capital compra bens tangíveis e simbólicos, consciências igualmente. Transformar espaços de discussão política em colunas de Leão Lobo é o de menos. Caberia agora a nossa gloriosa Polícia Civil do Estado esmiuçar e descobrir como este documento "vazou" do DETRAN.

P.S do Realpolitik: A foto da caminhonete acima foi tirado por um leitor e encaminhada ao blog de Jamildo, publicado pelo JC, assim como o documento do carro, onde o Deputado Edilson Silva, do PSOL, aparece como proprietário. O difícil é entender como este cidadão teve acesso ao documento, cuja liberação não seria tão simples.Também gostaríamos de acrescentar que não sabemos nada sobre a situação funcional de Leonardo Cisneiro, impossibilitando-me, portanto, de emitir algum juízo de valor sobre o assunto. Observaríamos, entretanto, que, se houve uma cessão legal do órgão de origem, a UFRPE, não há nenhuma irregularidade na situação.


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terça-feira, 12 de maio de 2015

Charge! Renato Aroeira em seu perfil do Facebook

Vladimir Safatle: Obscurantismo.





Pode parecer um mero problema ligado à vida acadêmica nacional, mas infelizmente é muito mais que isto. Trata-se da expressão perfeita de um sintoma de obscurantismo que parece, aos poucos, tomar conta de setores importantes da sociedade brasileira.
Há alguns anos, alguns dos mais destacados professores de filosofia da PUC de São Paulo, associados a várias universidades francesas, ibéricas e latino-americanas, juntamente com o Consulado Geral da França em São Paulo, criaram a cátedra Michel Foucault. Seu objetivo era fornecer a estrutura institucional para o estudo e pesquisa de um dos filósofos mais importantes do século 20, com grande influência no desenvolvimento do pensamento brasileiro. Graças a tal iniciativa, o Brasil recebeu, por exemplo, um precioso acervo das gravações de suas aulas no Collège de France.
No entanto, há algumas semanas um dos conselhos dirigentes da PUC-SP vetou a criação da referida cátedra. Motivo: o pensamento de Foucault não coadunaria com os valores defendidos por uma instituição católica de ensino. Por ironia do destino, e isto diz muito sobre o Brasil atual, a mesma PUC-SP foi, nos anos setenta e oitenta, uma das instituições responsáveis pela introdução do pensamento de Foucault e outros filósofos franceses entre nós.
Alguns podem ver nisto certa coerência, como seria coerente, seguindo este mesmo raciocínio, impedir os alunos da PUC terem aula sobre Nietzsche (já que este anunciou a morte de Deus), Freud (que chamou a religião de "o futuro de uma ilusão"), Voltaire (o anticlerical por excelência) ou quiçá mesmo sobre Spinoza (visto pela teologia oficial como a expressão cabal da heresia panteísta).
Mas, se assim for, por que chamar de "universidade" o que, cada vez mais, se aproxima de um seminário católico ou de uma maquinaria de proselitismo religioso? "Universidade" significa espaço livre de saber, no interior do qual podemos oferecer um formação na qual visões em conflito são apresentadas. Por isto, o conteúdo de ensino de uma universidade deve estar livre dos limites impostos pelos interesses de igreja, mercado, Estado ou de qualquer outro poder político.
Se a PUC quer seguir tal caminho obscurantista, então ela deve assumir as consequências de sua escolha e abrir mão de sua creditação como universidade. Pois tal creditação é fornecida pelo Estado brasileiro a partir do respeito a valores elementares de abertura e pluralidade. Várias outras universidades católicas no mundo achariam aterrador uma atitude como a recusa de uma cátedra de filosofia por motivos teológicos. Se esta for a regra daqui para a frente, o Estado brasileiro deve defender o conceito de universidade fruto do Esclarecimento.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Altamiro Borges: PSB + PPS, um novo partido de direita


publicado em 11 de maio de 2015 às 11:26
roberto frerire
PSB-PPS: uma fusão pela direita
Já está marcado, para 20 de junho, o casamento de conveniência entre o PSB e o PPS. O congresso da fusão deverá resultar em um partido ainda mais à direita no espectro político. Nas eleições de 2014, o PSB sofreu vários traumas: o primeiro com a trágica morte de Eduardo Campos; na sequência, com o fiasco da Marina Silva; e, nos estertores, com o apoio descarado ao tucano Aécio Neves – um afronta aos fundadores da ex-sigla socialista.
Como resultado, o partido definhou na disputa nos Estados (caiu de cinco para três governos estaduais) e estagnou na Câmara Federal. Já o PPS, do eterno chefão Roberto Freire, quase sumiu no pleito. A união visa dar alguma musculatura as duas legendas combalidas.
Com a fusão, o PPS finalmente desaparece do mapa político e o PSB passa a reunir 45 deputados federais e sete senadores. A resultante, porém, é um partido mais à direita – com Roberto Freire, um tucano infiltrado, na sua vice-presidência, e Marcio França, vice-governador de São Paulo e fiel seguidor de Geraldo Alckmin, com ainda mais força na sigla.
Como apontou Roberto Amaral, fundador e dirigente histórico do PSB, a fusão é “o ponto final da legenda como força de esquerda”. Em nota publicada logo após o anúncio da fusão no jornal “Folha de Pernambuco”, ele pediu mais “honestidade ideológica” aos atuais chefões da sigla e maior respeito aos seus fundadores socialistas.
Para ele, o PSB poderia, “numa homenagem a João Mangabeira, Miguel Arraes e Jamil Haddad, raspar o ‘S’ de socialismo. Poderia ser apenas ‘P40′, um nada e um número, como muitos de seus dirigentes atuais já pleiteiam há tempos”.
Na sua avaliação, “a fusão é moralmente inaceitável, é o ponto final do PSB, formal e politicamente, é o sepultamento do socialismo, do nacionalismo e da prática de uma política de esquerda.No entanto, é processo natural no PSB de hoje que nada tem a ver com o PSB de seus fundadores”. Ele lembra que atualmente a legenda reúne “o Pastor Eurico, o deputado Heráclito Fortes e a família Bornhausen. E será logo mais o partido de Roberto Freire”.
“Por tudo isso, a fusão é tristemente lógica, pois dá sequência aos esforços atuais de jogar a história partidária na lata de lixo e de abdicar de seu futuro. É obra dos que mudam para ganhar, e transformam a política em mero jogo estatístico, ou instrumento de mesquinhas realizações pessoais. É a miséria da política que espanta os jovens”, conclui a nota de Roberto Amaral.
Outros dirigentes e militantes do PSB identificados com as lutas dos trabalhadores também estão indignados com a guinada direitista da sigla e já estudam alternativas de militância à esquerda. Já os expoentes da direita, principalmente na mídia, estão felizes com o transformismo do PSB e a fusão com o PPS.
Em sua coluna no Estadão, Eliane Cantanhêde, da “massa cheirosa” do PSDB, não escondeu a sua alegria.
Em artigo publicado em 3 de maio, ela soltou rojões: “A fusão do PSB com o PPS é mais um torpedo contra o PT e os planos lulistas de eternização no poder… O primeiro ataque frontal será na eleição municipal de 2016, quando PSB e PPS, já recriados sob nova sigla, pretendem lançar a senadora Marta Suplicy contra a reeleição do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo”.
(Publicado originalmente no site Viomundo)