Dilma está de volta
31 de agosto de 2013 | 14:54
Reproduzimos abaixo a sempre arguta análise de Maurício Dias, colunista da Carta Capital, sobre os principais acontecimentos políticos da semana.
Dilma retoma fôlego
Não havia razões para relacionar a queda da presidenta nas pesquisas com as manifestações de rua. De verdade, o tombo foi coletivo
por Mauricio Dias — publicado 31/08/2013 08:06
Mesmo munido de lupa o leitor terá dificuldades de encontrar nas fotos das manifestações de rua, entre junho e julho, e dos pequenos protestos de agora faixas ou cartazes diretamente dirigidos contra a presidenta Dilma Rousseff. Naquele momento ela surfava uma popularidade inédita na história do País.
As referências indiretas, no entanto, estavam lá, no mal-estar geral que a sociedade expunha: saúde, educação, violência e o surpreendente ataque às obras monumentais dos estádios de futebol, que contaram com apoio maciço dos governos estaduais onde foram e estão sendo construídos.
Não haveria palanque melhor na eleição de 2014. Ninguém duvidava disso. Prepararam uma festa, uma Copa do Mundo, para fazer orgulho ao país do futebol. Os torcedores saíram às ruas País afora. Não distribuíam os aplausos esperados, e, sim, inesperados apupos.
Dilma não era o alvo dos protestos e não houve, naquele momento, quem tenha afirmado que a violenta e rápida queda na popularidade dela e do governo era resultado das manifestações. Não se encontrava uma explicação consistente para sustentar a perda de apoio na sociedade, em torno de 35 pontos, em pouco mais de 30 dias. Uma anomalia.
Em pouco tempo, porém, Dilma virou alvo dos analistas conservadores ou “da imprensa de direita”, como pondera com razão e ousadia o ministro Joaquim Barbosa. Eles tentaram dar o empurrão para ela cair no precipício.
Mas o tombo foi coletivo. Poucos governantes escaparam do fenômeno. Há provas consistentes da queda geral na popularidade. De alto a baixo. Números da pesquisa Ibope de meados de julho, nunca publicados pela imprensa, mostram isso.
A popularidade da presidenta, no conceito “ótimo e bom” (31%), após a queda vertiginosa (caiu de 57%), manteve-se maior, embora na margem de erro, do que a média dos governadores e dos prefeitos: 28%.
Todos eram alvo daquela surpreendente irrupção social com pouca participação popular. Dilma surpreende quando cai e quando sobe. Nas duas últimas pesquisas (Datafolha e Ibope), ela iniciou um processo de recuperação da popularidade. Voltou, segundo o Ibope, a alcançar 38% de “ótimo e bom”. Ao contrário do que se falou, a reação positiva nada tem a ver com o fim ou a diminuição das manifestações.
As melhores referências são as feiras livres e as gôndolas dos supermercados.
Na ótica do Ibope há uma correlação entre a avaliação da presidenta e a dos governadores: “De um modo geral, nos estados em que os governadores são mais bem avaliados, a presidenta também é mais bem avaliada, independentemente do partido político do governador”. Ou seja, em geral, o negativo e o positivo são creditados tanto ao governador quanto ao governo federal.
Não havia certeza sobre o que a fez perder bruscamente a popularidade que tinha, assim como agora ainda não se pode avaliar a razão pela qual está se reabilitando. E há notícias de que continua em viés de alta.
Intenção de volta
Não foi Marcelo Odebrecht quem, tempos atrás, defendeu a ideia da volta de Lula à Presidência. Quem aventou a possibilidade foi o pai Emilio.
Conversava com amigos e alguém passava por perto e ouviu.
Dilma e a reeleição
Uma força-tarefa informal do PT vai se dedicar a construir a agenda eleitoral da presidenta Dilma Rousseff para a eleição de 2014. A ficha caiu a tempo.
O que a candidata à reeleição vai dizer aos eleitores? Mais ou menos o que disse em 2010? Reiterar os compromissos sociais iniciados com Lula?
Essa tarefa pode consolidar paralelamente a reaproximação de Dilma com o PT, que terá presença mais forte no governo se ela for reeleita.
Lula é o principal articulador dessa tarefa.
A um passo do fracasso
Marina Silva, como se esperava, caiu nas malhas dos obstáculos legais no Tribunal Superior Eleitoral.
A aproximação do prazo final de registro de partidos, 5 de outubro, caso cumpram as exigências, situação próxima a um milagre, dificulta a atração de parlamentares. Sem base parlamentar, ela cai na vala comum dos partidos nanicos.
Como candidata terá o tempo igualitário das siglas sem representação, ou seja, 20 segundos e 68 milésimos.
Em 1994, com apenas 15 segundos no horário eleitoral, Enéas Carneiro conseguiu mais de 4 milhões e 600 mil votos com o bordão: “Meu nome é Enéas”.
Marina, de voz mansa e lenta, talvez não possa repetir o feito.
Queda de braço
Acostumado a impor, com sucesso, as regras do debate sobre a Ação Penal 470, chamada de “mensalão”, o ministro Joaquim Barbosa amarga derrota acachapante no Superior Tribunal de Justiça.
Há dois anos ele tenta botar em pauta, sem sucesso, o julgamento do desembargador Luiz Sveiter, ex-presidente do Tribunal de Justiça e do Tribunal Eleitoral, no Rio de Janeiro.
Ele responde a processo disciplinar por participar do julgamento de uma poderosa imobiliária carioca, cujo defensor era filho de Sveiter.
Diálogo mudo I
Estão encravadas, há dois meses, as reuniões entre os movimentos sociais que atuam na área de comunicação, a Secretaria-Geral da Presidência e o Ministério das Comunicações.
As “mesas de diálogo” esbarraram na orientação de que as “pautas estruturantes”, as que envolvem a política de Banda Larga e o novo marco regulatório, exigiam antes uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff. Isso travou o debate.
Diálogo mudo II
Os problemas não param por aí. Há poucos dias, o ministro Paulo Bernardo enviou para Dilma o nome de um empresário ligado às empresas provedoras, em lugar de um nome da sociedade civil, que, no caso, seria Marcio Patusco, diretor do Clube de Engenharia, apoiado por mais de 40 entidades.
Dilma escolheu o nome enviado por Bernardo. Enfrenta agora uma denúncia junto ao Ministério Público para destituir o nomeado e dar composição certa ao conselho.
Por: Miguel do Rosário
Dilma retoma fôlego
Não havia razões para relacionar a queda da presidenta nas pesquisas com as manifestações de rua. De verdade, o tombo foi coletivo
por Mauricio Dias — publicado 31/08/2013 08:06
Mesmo munido de lupa o leitor terá dificuldades de encontrar nas fotos das manifestações de rua, entre junho e julho, e dos pequenos protestos de agora faixas ou cartazes diretamente dirigidos contra a presidenta Dilma Rousseff. Naquele momento ela surfava uma popularidade inédita na história do País.
As referências indiretas, no entanto, estavam lá, no mal-estar geral que a sociedade expunha: saúde, educação, violência e o surpreendente ataque às obras monumentais dos estádios de futebol, que contaram com apoio maciço dos governos estaduais onde foram e estão sendo construídos.
Não haveria palanque melhor na eleição de 2014. Ninguém duvidava disso. Prepararam uma festa, uma Copa do Mundo, para fazer orgulho ao país do futebol. Os torcedores saíram às ruas País afora. Não distribuíam os aplausos esperados, e, sim, inesperados apupos.
Dilma não era o alvo dos protestos e não houve, naquele momento, quem tenha afirmado que a violenta e rápida queda na popularidade dela e do governo era resultado das manifestações. Não se encontrava uma explicação consistente para sustentar a perda de apoio na sociedade, em torno de 35 pontos, em pouco mais de 30 dias. Uma anomalia.
Em pouco tempo, porém, Dilma virou alvo dos analistas conservadores ou “da imprensa de direita”, como pondera com razão e ousadia o ministro Joaquim Barbosa. Eles tentaram dar o empurrão para ela cair no precipício.
Mas o tombo foi coletivo. Poucos governantes escaparam do fenômeno. Há provas consistentes da queda geral na popularidade. De alto a baixo. Números da pesquisa Ibope de meados de julho, nunca publicados pela imprensa, mostram isso.
A popularidade da presidenta, no conceito “ótimo e bom” (31%), após a queda vertiginosa (caiu de 57%), manteve-se maior, embora na margem de erro, do que a média dos governadores e dos prefeitos: 28%.
Todos eram alvo daquela surpreendente irrupção social com pouca participação popular. Dilma surpreende quando cai e quando sobe. Nas duas últimas pesquisas (Datafolha e Ibope), ela iniciou um processo de recuperação da popularidade. Voltou, segundo o Ibope, a alcançar 38% de “ótimo e bom”. Ao contrário do que se falou, a reação positiva nada tem a ver com o fim ou a diminuição das manifestações.
As melhores referências são as feiras livres e as gôndolas dos supermercados.
Na ótica do Ibope há uma correlação entre a avaliação da presidenta e a dos governadores: “De um modo geral, nos estados em que os governadores são mais bem avaliados, a presidenta também é mais bem avaliada, independentemente do partido político do governador”. Ou seja, em geral, o negativo e o positivo são creditados tanto ao governador quanto ao governo federal.
Não havia certeza sobre o que a fez perder bruscamente a popularidade que tinha, assim como agora ainda não se pode avaliar a razão pela qual está se reabilitando. E há notícias de que continua em viés de alta.
Intenção de volta
Não foi Marcelo Odebrecht quem, tempos atrás, defendeu a ideia da volta de Lula à Presidência. Quem aventou a possibilidade foi o pai Emilio.
Conversava com amigos e alguém passava por perto e ouviu.
Dilma e a reeleição
Uma força-tarefa informal do PT vai se dedicar a construir a agenda eleitoral da presidenta Dilma Rousseff para a eleição de 2014. A ficha caiu a tempo.
O que a candidata à reeleição vai dizer aos eleitores? Mais ou menos o que disse em 2010? Reiterar os compromissos sociais iniciados com Lula?
Essa tarefa pode consolidar paralelamente a reaproximação de Dilma com o PT, que terá presença mais forte no governo se ela for reeleita.
Lula é o principal articulador dessa tarefa.
A um passo do fracasso
Marina Silva, como se esperava, caiu nas malhas dos obstáculos legais no Tribunal Superior Eleitoral.
A aproximação do prazo final de registro de partidos, 5 de outubro, caso cumpram as exigências, situação próxima a um milagre, dificulta a atração de parlamentares. Sem base parlamentar, ela cai na vala comum dos partidos nanicos.
Como candidata terá o tempo igualitário das siglas sem representação, ou seja, 20 segundos e 68 milésimos.
Em 1994, com apenas 15 segundos no horário eleitoral, Enéas Carneiro conseguiu mais de 4 milhões e 600 mil votos com o bordão: “Meu nome é Enéas”.
Marina, de voz mansa e lenta, talvez não possa repetir o feito.
Queda de braço
Acostumado a impor, com sucesso, as regras do debate sobre a Ação Penal 470, chamada de “mensalão”, o ministro Joaquim Barbosa amarga derrota acachapante no Superior Tribunal de Justiça.
Há dois anos ele tenta botar em pauta, sem sucesso, o julgamento do desembargador Luiz Sveiter, ex-presidente do Tribunal de Justiça e do Tribunal Eleitoral, no Rio de Janeiro.
Ele responde a processo disciplinar por participar do julgamento de uma poderosa imobiliária carioca, cujo defensor era filho de Sveiter.
Diálogo mudo I
Estão encravadas, há dois meses, as reuniões entre os movimentos sociais que atuam na área de comunicação, a Secretaria-Geral da Presidência e o Ministério das Comunicações.
As “mesas de diálogo” esbarraram na orientação de que as “pautas estruturantes”, as que envolvem a política de Banda Larga e o novo marco regulatório, exigiam antes uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff. Isso travou o debate.
Diálogo mudo II
Os problemas não param por aí. Há poucos dias, o ministro Paulo Bernardo enviou para Dilma o nome de um empresário ligado às empresas provedoras, em lugar de um nome da sociedade civil, que, no caso, seria Marcio Patusco, diretor do Clube de Engenharia, apoiado por mais de 40 entidades.
Dilma escolheu o nome enviado por Bernardo. Enfrenta agora uma denúncia junto ao Ministério Público para destituir o nomeado e dar composição certa ao conselho.
Por: Miguel do Rosário