Assim como Casa Civil, Relações Institucionais, Secom, o Ministério da
Cultura também contribui bastante para identificar o perfil de um
Governo. Dilma deve ter aprendido bastante nessas eleições, seja com
aliados e adversarsários. Vai descansar na Bahia - um descanso mais do
que merecido - e depois volta para o batente, diposta a governar por
mais 04 anos. Apesar dos ânimos ainda acirrados, as palavras de ordem
tem sido diálogo e conciliação. Ontem
vazou uma informação - certamente furada - de que o novo Ministro da
Cultura seria ninguém menos do que José Sarney. O PMDB saiu fortalecido
dessas eleições, Sarney continua como um aliado do Governo, mas seria
inimaginável que Dilma Rousseff o nomeasse para o Ministério da Cultura,
dentro da parte que cabe ao PMDB no latifúndio governista. O desgaste
deste cidadão junto à opinião pública é muito grande. O nome Sarney
identifica-se com tudo quanto não presta neste país: patrimonialismo,
regimes autoritários, corrupção na máquina pública, nepotismo, tráfico
de influência e uma série de outras mazelas. Só pode, portanto, ser uma
brincadeira. Justamente no momento em que o oligarca foi derrotado no
seu Estado, o Maranhão. A falsa "notícia" foi festejada pelos
adversários de Dilma Rousseff, dando margem a todo tipo de chacota pelas
redes sociais. Para completar o enredo, também andou circulando um
vídeo onde o velho oligarca aparece, de acordo com o autor - é bom
considerar a possibilidade de fraudes - votando no candidato Aécio Neves
no segundo turno das eleições.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Tijolinho do Jolugue: Uma reaproximação entre o PSOL e o PT? Por que não?
Alexandre Porto é um colega dos nossos bons tempos do microblog
Twitter. Residente em Niterói, tem uma visão bastante aguçada das
questões polítiticas, sempre fazendo comentários muito pertinentes. Hoje
ele comentou sobre essa aproximação entre o PSOL e o PT. Em linhas
gerais, praticamente, o PSOL é uma dissidência do PT, assim como foi o
PSTU, quase todo formado pela tendência Convergência Socialista, então
expulsa da agremiação. O namoro, até o
momento, vai de vento em popa e as razões para isso são inúmeras. Há
quem esteja até sugerindo um casamento imediato e uma lua-de-mel na
Esplanada dos Ministérios. Como bem colocou Luciana Genro num dos
debates, o PSOL não aceita dedo em riste, não se constitui como
linha-auxiliar do PT, tampouco abdica de alguns pontos do seu programa.
No mais, há, sim, a possibilidade de entabular algumas propostas e
linhas de ação em conjunto. Como informa Alex, o PSOL deixou de ver o PT
como um inimigo a ser derrotado, a despeito de seus possíveis
equívocos. Uma das necessidades impostas a Dilma Rousseff pelas atuais
circunstâncias políticas é o fortalecimento de suas alianças à esquerda.
A contingência se impõe por uma série de motivos, inclusive pelo perfil
do novo congresso, onde houve um fortalecimento da representação
conservadora. Se já cobrávamos isso de Dilma em momentos anteriores.
Agora, então...Motiva o PSOL uma perspectiva real de poder. A turma do
PSOL que deixou o PT nos parece ser mais "pragmática" ou ter uma visão
mais consequente da política. Uma posição, nos parece, bem distinta
daquela externada pela pessoal do PSTU. Apesar das divergências com o
PT, enxergam o que nos aproxima estrategicamente. Isso é um dado
alvissarreiro porque antecipa em anos a tal bacia semântica do
antropólogo Gilbert Durand, além de forçar o PT a abraçar algumas teses
que os setores conservadores da coalizão interditam.
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Michel Zaidan Filho: Reforma tributária, reforma política e governabilidade
A presidenta Dilma Rousseff definiu quais são as prioridades do seu segundo mandato: ajuste fiscal e reforma política. Ajuste fiscal por conta do descontrole das contas públicas, sobretudo no ambiente de baixo crescimento da economia, inflação alta, déficits na balança de pagamento e na relação despesa e receita. Reforma política em função do recado das jornadas de junho e das denúncias do propinoduto da Petrobras. Poderia acrescentar a reforma tributária e/ou um novo pacto federativo no Brasil, com o fim da guerra fiscal. Mas a principal questão é se ela terá força suficiente para realizar essas reformas com o perfil do próximo congresso: fragmentação da representação parlamentar, a redução das bancadas governistas e a nova configuração da geografia do poder com a eleição dos novos governadores.
Há uma pressuposição de que é de coalizões centralizadoras que são feitas as grandes reformas no Brasil. As vezes, sem o funcionamento normal do Poder Legislativo. E muitos temem a adoção do regime parlamentarista entre nós, com o receio das bancadas conservadoras e fisiológicas, produzidas pelo concurso de partidos fantasmagóricos que são verdadeiras legendas de aluguel. E olhe que esses partidos só aumentaram de número no país. Ou seja, entregar a esses partidos e a seus parlamentares a prerrogativa de fazer reformas é o mesmo que admitir que essas jamais serão feitas no Brasil. E que se forem, depois de um alto custo, serão pífias e insignificantes.
A presidenta reeleita deve estar ciente dessa situação. Deve procurar melhorar suas relações com o Congresso, os partidos políticos e os líderes das bancadas partidárias nas casas legislativas. Para isso, deve nomear um ministro com o dom e a capacidade de negociação. Coisa que ela não teve até agora. Um bom ministro das Relações Institucionais ou da Casa Civil, que possa ir ao Congresso e conversar com os ilustres parlamentares sobre as prioridades da agenda política da nossa presidenta. A questão é que o método da conversação passa inevitavelmente pela única linguagem que esses políticos entendem: contrapartida do Poder executivo, cargos, nomeações, recursos públicos, obras etc. É aí onde se chocam os objetivos reformizantes da nossa dirigente nacional e aqueles incumbidos de aprovar a reforma - com ou sem o apoio popular. Ou se garante a tão almejada governabilidade (leia-se maiorias no parlamento) ou se faz a reforma política. As duas tarefas, no momento, são inconciliáveis. Até porque a reforma política que sair dessa legislatura será feita "a la carte", de modo a não prejudicar os interesses dos próprios parlamentares.
Mais problemático é a reforma tributária e o ajuste fiscal, depois de uma eleição tão disputada como essa. A primeira passa por um amplo acordo dos governos estatuais, que temem perder receitas para União, em qualquer hipótese. Mesmo que seja para combater a guerra fiscal. A base da autonomia política e financeira dos entes federativos é a cobrança de impostos estaduais e a transferência constitucional de parte dos impostos federais. Para os mais cínicos ou realistas, o que se chama "reforma tributária" é um jogo de soma zero - tipo: " eu diminuo o meu e tu aumentas o teu". naturalmente ninguém quer renunciar receitas, nem mesmo em nome de um novo pacto federativo. Os governadores temem perder o certo pelo duvidoso, diante da fome tributária federal (que já abocanha parte de 60% dos tributos e contribuições). Muitos dos efeitos extra e parafiscais de algumas contribuições foram parar sem cerimônia no caixa comum do Tesouro Nacional. A reforma tributária é o calcanhar de Aquiles da Federação Brasileira. Por isso ela é tão difícil de ser aprovada.
Já o chamado ajuste fiscal, que se traduz pela adequação das receitas e as despesas do Governo Federal, num ambiente econômico desfavorável, é mais difícil de ser implementada, pois significa cortar investimentos e financiamentos de políticas sociais - o carro chefe do Governo Petista. Manter ou ampliar esses investimentos num contexto de déficit primário e da necessidade do reajuste das contas públicas, significa contrariar expectativas de direitos ou ampliação de direitos daqueles que são o público-alvo das políticas sociais no Brasil.
A presidente Dilma falou em mudança da economia. Mas não disse quais são. Acredito que nesses dias de descanso ela fará muitas reflexões sobre que rumo irá imprimir ao seu segundo mandato, considerando de um lado as promessas de campanha ao seu eleitorado tradicional, e do outro as críticas e reparos dos adversários, sobretudo no terreno da política fiscal, tributária, cambial e financeira. Como se costuma dizer, governar é eleger prioridades e administrar as consequências dessa escolha. Sobretudo, aquelas vindas dos setores prejudicados por elas.
Michel Zaidan Filho é cientista político, filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Tijolinho do Jolugue: Para onde caminha os neo-socialistas do Estado?
Com a morte do ex-governador Eduardo Campos, o prefeito do Recife, Geraldo Júlio, assume a condição de uma das maiores lideranças dos neo-socialistas na província. Geraldo integra o núcleo duro daqueles que orbitam e exercem forte influência sobre a viúva do ex-governador, Renata Campos. Um dos grandes trunfos dos neo-socialistas locais foi emplacá-lo como Secretário Nacional do Partido Socialista Brasileiro. Não sei o que este partido ainda preserva do socialismo, mas, enfim, o nome ainda está mantido. Apesar da eleição de Paulo Câmara para o Governo do Estado e Fernando Bezerra Coelho para o Senado Federal, quando do segundo turno das eleições presidenciais, os neo-socialista sofreram uma grande derrota no Estado. Pernambuco deu mais de 70% dos votos a Dilma Rousseff, algo que ainda está a dever uma avaliação mais consistente. Em qualquer hipótese, no entanto, não resta dúvida de que eles foram derrotados, sobretudo em sua empáfia, arrogância e prepotência. Grupos ou pessoas que agregam em torno si esses adjetivos já estão, de antemão, derrotados. Uma grande dúvida é como eles se relacionarão com o Governo Dilma Rousseff, já que não conseguiram tirar essa mulher do governo, como bradava em praça pública um mais entusiasmados expoentes do grupo. As informações são contraditórias a respeito do assunto. Uns afirmam que eles tentariam uma reconciliação com o Governo Dilma. Em nome dos bons tempos, possivelmente não seria. O mais provável seria que tal aproximação se desse em torno dos convênios e repasses do Governo Federal para o Estado e o município do Recife. Acabei de ver uma entrevista com Geraldo Júlio onde ele afirma que o grupo vai se manter na oposição. Está confuso.
Tijolinho do Jolugue: Aécio venceria sem a internet
Sérgio Amadeu é doutor em Ciências Políticas pela USP. O título não é nenhuma "carteirada" acadêmica, mas apenas para informar o leitor de que ele, possivelmente, sobe do que está falando. Nas últimas horas do pleito presidencial de 2014, as forças conservadoras da política brasileira lançaram a sua última "bala de prata". Numa urdidura muito bem montada, a uma revista de circulação nacional trouxe uma denúncia "bombástica" contra Lula e Dilma Rousseff. Mesmo sem prova alguma, insinuaram que eles sabiam do escândalo de corrupção na Petrobras. O Planalto agiu rápido, tomou providências judiciais contra a revista, mas o estrago já estava feito. A capa veio sob medida para impressão. Partidários de Aécio Neves(PSDB) exibiam em praça pública suas cópias. Mais tarde teríamos o último debate entre os candidatos e, no meio, uma nova edição do Jornal Nacional. Todos esperavam uma grande repercussão no JN. Não houve. Eles acionaram o gatilho na edição de sábado. O estrago à candidatura de Dilma Rousseff poderia ser maior. Assim como ocorrera em 1989 e nas eleições subsequentes, o objetivo era claro: derrotar o candidato do campo progressista e eleger alguém de maior confiança do establishment, a quem essa mídia está consorciada. Em 1989 a manobra deu certo. Em 2014, não. O que teria ocorrido, então? De acordo com Sérgio Amadeu, o eleitorado - sobretudo um segmento específico - já tinha amadurecido o bastante para compreender que se tratava de uma armação com propósitos bem específicos. Outro fator determinante é que em 1989 nós não tínhamos internet. Em 2014 ela foi decisiva para que a "bomba" fosse desarmada em tempo hábil. Depois dessa refrega, postamos por aqui alguns comentários indicando que Dilma deixaria de ser reticente ao tema da democratização da mídia. Pelo menos por enquanto, parece que suas prioridades é a reforma política e os ajustes fiscais. Vamos ver quem ela indica para a SECOM é aí saberemos quais os tendências.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Tijolinho do Jolugue: O estranho caso de corrupção na Petrobras.
Ao apagar das luzes da última campanha presidencial veio à tona uma informação que ficou ofuscada diante do calor da campanha. Ninguém deu muita importância, mas o negócio é muito sério. Esse problema de corrupção da Petrobras se insere dentro daquele contexto de "vazamento seletivo', ou seja, uma informação passada à imprensa num momento específico, com a evidente motivação de favorecer um dos candidatos da disputa. A delação premiada, por sua vez, também sugere o mesmo expediente. Não vou entrar nos detalhes, mas alguns blogs já relataram toda a urdidura em torno do assunto. Em razão desses fatos, a corrupção tornou-se um dos temas mais quentes da campanha presidencial de 2014. Acossada - em razão dos casos que, de fato, existem no Governo - a presidente Dilma Rousseff, numa de suas primeiras falas, prometeu endurecer o jogo contra os gatunos da Viúva. Como sugerimos aqui mesmo no blog, uma série de medidas precisam ser tomadas, como o fortalecimento dos instrumentos de controle e fiscalização de Estado; medidas mais severas contra os corruptos; maior profissionalização e aperfeiçoamento dos agentes de Estado envolvidos com essa questão. O problema da corrupção no Brasil é grave, precisa ser enfrentado, mas não pode ser reduzido à indução deste ou daquele governo ou partido. Nesses últimos 500 anos, ela não é primazia de ninguém. A nossa máquina pública está podre. Essa indignação contra os possíveis desmandos de corrupção na coalizão de governo petista, na realidade, traduzia outras motivações inconfessáveis. Trata-se de um problema endêmico, complexo. O caso da Petrobras é bem ilustrativo. Feita as contas do tal propinoduto na estatal, de acordo com o delator, o montante maior de propinas pagas foi aos tucanos de alta plumagem. Vejam só! Aqui em Pernambuco, uma dessas aves de rapina achacou a estatal em 10 milhões para esvaziar uma CPI. Raposa rica. Felpuda. Andava com sapatos de cromo alemão.
A charge é do Renato Aroeira.
Tijolinho do Jolugue: A pregação de ódio pelas redes sociais
Ontem, uma colega de jornada informou que estava deixando de atuar nas redes sociais. Já estava saturada com a onda de ódio que circula por aqui. E ela tem lá suas razões. O clima está ficando irrespirável. São ofensas e agressões contra negros, pobres, nordestinos, homossexuais, eleitores de Dilma Rousseff, petistas. Este gatilho foi acionada por uma série de circunstâncias envolvendo essa última campanha presidencial, como informa em artigo publicado no nosso blog o professor Michel Zaidan Filho. Pegou combustão, assim como fósforo aceso em palha de bananeira seca. Até a onda separatista voltou a ocupar o "debate". O pior é que existem alguns jornalistas irresponsáveis que, ao invés de cumprirem o seu ofício com responsabilidade e ética, acabam, com suas declarações, contribuindo, na verdade, para insuflar ainda mais o ódio. Não preciso aqui citar nomes, mas os leitores, certamente, sabem de quem estamos falando. Jabor, Mainardi estão entre eles. De acordo com Michel, a entrada da irmã Marina na campanha presidencial contribuiu bastante para estabelecer essa "polarização", possivelmente em razão de sua identificação com os evangélicos. Vem daqui aquelas discussões sobre ser contra ou a favor de casamento entre pessoas do mesmo sexo; contra ou a favor do aborto; liberalização do uso da maconha; criminalização dos atos de caráter homofóbicos etc. O segundo turno, por assim dizer, trouxe alguns ingredientes novos, como a divisão entre os eleitores de Aécio Neves e Dilma Roussef. Os de Aécio Neves, mais identificados com a elite paulista, os de Dilma mais identificados com a região Nordeste. Isso também reacendeu a indisposição de setores da elite e da classe média tradicional com as políticas de distribuição de renda da Era Lula/Dilma, que favoreceu os estratos sociais mais fragilizados. Todos os ingredientes parecem que estão dados. Cumpre agora a adoção de atitudes que possam não alimentar essa onda, mas dilui-la, minimizando seus efeitos nefastos. Aqui, pelas redes sociais, vou excluir marcações que contenham essa pregação ou mesmo aquelas que as refutem com o mesmo expediente. Façam o mesmo. O Brasil é um país que precisa construir pontes, e não muros. É exatamente essa apartação construída durante décadas que estão fomentando esses problemas.
Tijolinho do Jolugue: Flávio Dino no Blog do Jolugue
A assessoria do governador eleito do Maranhão, Flávio Dino, nos informou que ele deverá conceder uma entrevista ao nosso blog, mas somente a partir de novembro. Já faz algum tempo que acompanhamos a trajetória político de Flávio Dino, sobretudo em função de sua cruzada republicana no sentido de apear do poder daquele Estado a oligarquia Sarney. Como nos recomenda alguns colegas, não se pode comemorar muito ainda, mas o primeiro passo já foi dado, ou seja, Flávio derrotou o candidato do clã nas últimas eleições para o Governo do Estado, Lobão Filho. O câncer patrimonialista se espalhou como uma metástase por todas as instituições do Estado. Não será tarefa fácil extirpá-lo. Sempre haverá um núcleo residual, alguns enclaves, a atravancar o processo, impedindo que a máquina funciona de forma republicana, consoante os interesses comuns, pendendo mais para os desfavorecidos e esquecidos durante décadas. Em todo caso, é grande a nossa expectativa. Por ter recebido o apoio do PSDB durante o primeiro turno das eleições maranhenses, Flávio assumiu uma postura de neutralidade no segundo turno das eleições presidenciais. Flávio mantém uma relação pessoal de muita cordialidade com a presidente Dilma Rousseff, daí concluirmos que ele subiria em seu palanque nessa reta final da campanha, a despeito dos equívocos do PT em relação à sua candidatura. Não podemos condená-lo. Por duas vezes, o PT o negou. Mesmo nessas circunstâncias, Dilma Rousseff obteve mais de 72% dos votos naquela Estado, no segundo turno. A cidade de Belágua deu a maior votação proporcional a Dilma. Ali, 92% da população votou na candidata do PT. Já preparamos uma série de perguntas para o candidato, todas relacionadas ao processo inicial de desconstrução dessa oligarquia carcomida, bem como sua relação com o PT no Estado e no plano federal, além das políticas sociais redistributivas que ele pretende implementar no Maranhão, que ostenta indicadores sociais caóticos e vergonhosos. Promete. Aguardem!
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Pobres coitados, ricos de ódio
27 de outubro de 2014 | 12:38 Autor: Fernando Brito
Será que alguma hora, certas pessoas vão se dar conta ao papel ridículo a que estão sendo levadas?
Será que é possível que uma pessoa que vive numa das mais belas paisagens do mundo, num bairro onde não falta nada – nem mesmo segurança, porque dentro das precariedades do Brasil e do Rio de Janeiro, ela ali é das melhores – que tem escolas, empregadas, babás para seus filhos, que vive num padrão semelhante aos das melhores cidades dos EUA ou a Europa, se digam oprimidas, reprimidas, perseguidas?
Sinceramente, não lhes tenho ódio, nem quero que se vão embora daqui.
Tenho amigos queridos que votaram no Aécio e não deixam de ser queridos e amigos por isso, até porque aceitam os resultados e a vontade da maioria, que não os oprime.
Em plena ditadura, éramos muito mais fraternos… O colega mais “bem-de-vida” dos tempos de faculdade, o saudoso Robertão, tinha um sobrenome aristocrático, um Puma e um barraco no Morro do Salgueiro, devidamente decorado com um escudo do Botafogo, sua paixão…
Vivemos tempos de intolerância, agora e é direito do povo brasileiro saber que sentimentos se está provocando em alguns grupos que perderam completamente a capacidade de olharem para si mesmos e se considerarem seres humanos especiais, enquanto o resto do país é desprezível.
Nem eles sabem, mas é um transtorno mental assim que serve de incubadora do ovo da serpente do totalitarismo.
Infelizmente, a direita brasileira deu ao nosso país milhares e milhares de pessoas assim, incapazes de ver nos pobres não as vítimas de um modelo econômico, mas os culpados por se pretenderem tão seres humanos e tão cidadãos quanto eles.
Imaginem se os mais pobres os odiassem assim como eles odeiam?
É verdade que estes núcleos sempre existiram, mas se multiplicaram e desde junho passado, foram legitimados para xingar, agredir e serem intolerantes.
Isso faz mal ao convívio humano e a única forma de reduzi-los aos grupinhos que sempre foram é não lhes responder com mais ódio.
O ódio é tratar o diferente como inimigo e acabar com a capacidade de convívio.
Peço, portanto, que leiam sem ódio a reportagem de Lucas Vetorazzo, na Folha.
Sem ódio e com a piedade que merecem seres humanos transtornados.
É isso o que precisamos desafazer, embora não reste muita esperança de que gente que chegou a este ponto venha a retomar a razão com rapidez.
As calçadas e os bares do Leblon já foram frequentados por gente, como o Tom Jobim, que amava a paz, o mundo, as pessoas.
Terão virado terra de selvagens?
No Leblon, eleitores de Aécio falam em deixar o país
Lucas Vetorazzo, da Folha
Faltavam oito minutos para as 20h, hora em que se acreditava que o nome do novo presidente da República seria conhecido, e uma chuva fina caía no Leblon, o bairro com o metro quadrado mais caro do Rio.
Nada que esmorecesse o ânimo dos eleitores de Aécio Neves (PSDB) que assistiam à apuração no Botequim Informal, na rua Conde de Bernadote, tradicional ponto de encontro da classe média alta carioca.
“P… que pariu, o Aécio é presidente do Brasil”, passou cantando um eleitor, causando frisson no bar. As pessoas se abraçavam e comemoravam meio incrédulas. Rapidamente se soube que não passava de farra, pois o resultado ainda tardaria para ser divulgado.
O artista plástico Zeca Albuquerque, 48, morador do bairro nobre da zona sul do Rio, disparou que “se a Dilma ganhar, eu vou deixar o país. Vou morar em Miami”, enquanto comia um pastel de carne e bebia um chope tirado na hora.
O motivo se sua possível mudança para os EUA seria para fugir “dos vinte anos de ditadura do PT”, colocando na conta mais quatro anos, além dos 16 que o partido completará ao final do mandato de Dilma Rousseff, que mais tarde seria confirmada para o comando do Planalto pela segunda vez.
Questionado se mesmo com eleições regulares ele mantinha a crença de que viva em uma ditadura, ele afirmou que o aparelhamento da máquina pública perpetuava uma lógica ditatorial no país.
“É o aparelhamento do estado. Sai um, entra outro. Não há liberdade de expressão nesse país”, respondeu. O fato de criticar a presidente em público não é prova da liberdade de expressão?
“Eu só estou falando isso porque ela não está aqui atrás de mim, senão ela me dava um tapa, essa horrorosa. Minha vontade é raspar o cabelo dela”, disse.
A TV sintonizada na Globonews estava no mudo. Àquela altura, as 20h já tinham chegado e o resultado ainda não estava fechado. Dilmavencia por pouco. Os ânimos se acirravam no bar majoritariamente aecista.
Tão exaltada quanto estava Ana Silvia Castignani Alves da Silva, 37. Ela era uma das que dizia em voz alta que deixaria o país para morar na Itália, já que ela e seu filho pequeno têm dupla cidadania. Moradora do Leblon e formada em turismo, a gerente de vendas disse que o principal motivo para deixar o país é o alto custo de vida da classe média alta brasileira. Ela se disse uma “sobrevivente” desse cenário, que seria, em sua opinião, culpa do PT.
“Eu tenho a graça de ter dupla cidadania. Porque lá na Europa o meu filho tem educação e saúde grátis e de qualidade. Para que eu pago R$ 2 mil de colégio? Para essa mulher ganhar?”, disse ela, que continuou elencando suas “dificuldades”, pedindo desculpa de quando em quando pelos palavrões e pela “sinceridade”.
Entre as dificuldades, destacou a necessidade de morar de aluguel no Leblon “porque trabalha em um hotel no bairro e o custo de transporte ficaria muito alto se morasse em outro lugar” e porque tem a necessidade de pagar uma empregada para cuidar do seu filho enquanto ela trabalha doze horas por dia– “no Brasil a gente é obrigado e ter empregada doméstica para criar os nossos filhos enquanto a gente trabalha”.
“Na época dos meus pais, a classe média tinha o melhor apartamento, o melhor carro. Hoje eu sobrevivo. Eu vou sair do país por isso. A minha vida é essa, eu não vivo”, lamentava com um copo de chope pela metade.
Assim como ela, Alexandre Pereira Lukine, 40, gerente de tecnologia da informação da Tata Consultance Service, multinacional indiana instalada no Brasil, dizia que acreditava que a saída para classe média alta à eleição de Dilma seria o Galeão, o aeroporto internacional do Rio. Ele, que afirmou ser formado na Seattle Pacific University, nos EUA, disse que já nesta segunda começará a mandar currículo para fora do país.
Para ele, o governo do PT estimula que as pessoas tenham baixa formação, e os mais escolarizados pagam impostos para sustentar “os vagabundos em idade laboral que recebem bolsa isso e bolsa aquilo”, o que ele classificou não como um programa social, mas como “propina eleitoral”.
“As cabeças pensantes estão indo embora. Se eu ficar aqui eu vou virar o que? Vou ser guardador de carro? Quanto mais eu estudo, menos eu ganho. Pode escrever isso aí”, bradou.
A socióloga e historiadora Silvia Pantoja, 65, assistia à apuração com um grupo de amigos e dizia estar revoltada. Disse que deixaria o país, sem saber ainda pra onde iria. Ela, que disse ter militado no movimento estudantil durante o governo militar, comparou os 16 anos do PT com os 21 anos de ditadura militar.
Ela criticou a luta armada que Dilma empreendeu junto com outros militantes durante a ditadura, mas deixou escapar uma fantasia oculta de, por suas próprias mãos, mudar a situação atual do país.
“Se não fosse pela minha filha, eu dava uma de kamikaze e metralhava ela [Dilma]. Isso aqui é uma ditadura, eu não tenho mais o menor respeito por ela, que matou várias pessoas na luta armada fazendo terrorismo. Tinha que acabar a reeleição no Brasil”, disse.
A empresária Antonia la Porta, 32, estava “indignada”. Queria beber “muita cerveja” para afogar as mágoas. Ela estava na Europa e adiantou a passagem de avião só para votar em Aécio Neves. Agora, é “impeachment na certa”.
Sua amiga, a advogada Roberta Passomides, 32, acha que Dilma Rousseff ilude “os mais ignorantes” com o tanto de “bolsa” que anda distribuindo por aí. Se conhece alguém que votou na petista, “é porteiro, é garçom”. “Eles não sabem o que é Pasadena. O que interesse é ganhar o Bolsa Família”, diz, em referência a um dos escândalos na Petrobras.
Com a vitória de Dilma, o dólar vai subir 20%, lamenta Antonia, que diz ter conversado com economistas.
No mesmo bar do Leblon, o também empresário Alexandre Medrado, 26, acha que “não existem cervejas suficientes no mundo” para curar sua fossa eleitoral. Filiado ao PSDB, ele diz que o PT fez “terrorismo eleitoral” e criou “uma luta de classes desnecessária”.
Com uma longneck na mão, Alexandre também rejeita a “diplomacia esquerdista” do governo Dilma.
A gestora de RH Fernanda Fernandes, 31, é “totalmente contra o PT”, partido impregnado de “espírito de pobre”.
Com um adesivo de Aécio no peito, ela opinou: o PT ” pensa pequeno” e está “se ferrando para a classe média”. Em vez de valoriza-la, diz, prefere “dar condição para uma classe” que não alcançará o mesmo patamar.
(Publicado originalmente no site Tijolaço)
Tijolinho do Jolugue: Uma agenda para o segundo mandato de Dilma Rousseff.
Dilma venceu as eleições, mas a refrega foi braba. O mais importante disso é que ela parece ter tirado algumas lições dessas adversidades. Ainda bem. As responsabilidades do cargo exige isso. Exige, inclusive, que ela tenha a humildade de incorporar ao seu programa de governo aquelas sugestões colhidas durante o processo, bem como os reparos necessários na condução de sua gestão. Mesmo durante a campanha, a presidente já admitia a necessidade de continuar com os acertos, e corrigir alguns rumos tidos como equivocados. A título de alguns sugestões, Dima, vão aí: a) A convocação de uma constituinte exclusiva para tratar da Reforma Política, a reforma das reformas. Ela encontrará um congresso até mais conservador e hostil, mas não pode adiar esse assunto; b) Depois da campanha sórdida movido por alguns veículos de comunicação contra ela, penso que, desta vez, ela se convenceu que é de fundamental importância tomar algumas medidas no que concerne à democratização da mídia. A Lei dos Meios cairia bem; c) Rever alguns aspectos na condução da política econômica, permitindo que o país volte a crescer com a inflação sob controle; d) Retomar a organicidade do PT com os movimentos sociais. Esse era um dos aspectos que mantinha acesa a Onda Vermelha, tão importante nesta reta final da campanha; e) Fortalecer suas alianças à esquerda, conforme já recomendou intelectuais como Emir Sader.
Mais duas questões que nos ocorreram.
PS: Mais duas questões nos ocorreram. f) Legislação rigorosa contra àqueles que forem pegos envolvidos em desvios de recursos públicos, fortalecendo os instrumentos do Estado, além dos órgãos de fiscalização e controle das finanças públicas; g) aprofundamento das políticas sociais de cunho inclusivo, considerando que este país, durante séculos, deixou de oportunizar aos estratos sociais mais fragilizados uma série de "direitos". Em sua primeira fala como presidente, Dilma Rousseff, comprometeu-se em aprofundar essa cruzada contra a corrupção.
Tijolinho do Jolugue: Pernambuco é um Estado cruel, senhores aprendizes de oligarcas.
Muito interessante essas últimas manifestações políticas ocorridas no Estado de Pernambuco. Paulo Câmara(PSB) foi eleito com uma votação surpreendente, bem acima dos mais "otimistas" dos institutos de pesquisa. Fizeram barba, cabelo e bigode. Os remanescentes da oligarquia familiar em gestação na província ficaram extasiados. "Anchos", como diria os matutos. Também conseguiram transferir muitos votos para a irmã Marina no primeiro turno das eleições. A irmã venceu as eleições no Estado. Assim que terminou o primeiro turno das eleições presidenciais, o candidato tucano, Aécio Neves, procurou os herdeiros do espólio político do ex-governador. Seria importante assegurar esses votos, principalmente numa região do país onde os eleitores nunca foram receptivos ao seu nome. Mesmo sabendo do alto custo da decisão, a família endossou o apoio ao seu nome. E eles se mantiveram mobilizados, pelo menos aqui na capital e região metropolitana. Os amarelos estavam nas ruas, pedindo votos para Aécio Neves. Mas, desta vez, por algum motivo, algo saiu fora do script. Há muitas explicações para isso: a) a intensa - e surpreendente - mobilização da militância petista nos últimos dias - veja-se o caso das cidades do Recife, Petrolina e Goiana; b) O fato de Aécio não ter qualquer identidade com o Estado, como afirmou o cientista político Michel Zaidan Filho durante um debate pela Rádio JC; c) Arrisco, por fim, um lampejo de lucidez do eleitorado, que não aceitou o cabresto imposto por essa "nova' oligarquia em formação, lembrando, mesmo que remotamente - e transferindo isso para o Estado - a frase do ex-governador Agamenon Magalhães: Recife é uma cidade cruel, aprendizes de oligarcas; d) Outro aspecto que não pode deixar de ser levado em conta são os investimentos federais no Estado, além daquele contingente de eleitores beneficiados pelos programas de transferência de renda. Enfim, são apenas hipóteses. Reconheço que, na realidade este assunto exige um maior aprofundamento.
Tijolinho do Jolugue: A vitória de Ricardo Coutinho na Paraíba. Parabéns, Mago!
As eleições na Paraíba passam, necessariamente, pela cidade de Campina Grande. Os especialistas colocam essa cidade como estratégica num pleito estadual. A tradição se mantém. Reduto tradicional da família Cunha Lima, Campina Grande tornou-se uma espécie de ilha tucana na região Nordeste. A diminuição do percentual de votos de Cássio Cunha Lima(PSDB) em relação a Ricardo Coutinho(PSB), no segundo turno, foi fundamental para este último continuar como inquilino do Palácio Redenção por mais 04 anos. Há um outro grupo político importante em Campina Grande, o da família Vital do Rego. Um dos integrantes do clã, Veneziano Vital do Rego - que já foi prefeito da cidade - comenta-se, teria saído de casa em casa, com o objetivo de reverter o quadro em favor do "Mago" dos girassóis. Foi uma eleição dura, de caráter pouco republicano ou propositiva, assim como ocorreu com as eleições presidenciais. Uma guerra jurídica de ambos os candidatos, para evitar que denúncias e calúnias se tornassem públicas. Talvez em nenhum outro Estado da Federação os departamentos jurídicos tenham sido tão acionados. O candidato do PSB, Ricardo Coutinho, ganhou as eleições. A margem foi apertada, o oponente vendeu caro a derrota. Filho da mais tradicional oligarquia política do Estado, Cássio Cunha Lima nunca havia perdido uma eleição até então. Assim como Aécio ao se identificar com FHC, Cássio não tinha currículo de gestão para mostrar aos paraibanos. Ricardo vem de uma trajetória política ligada ao Partido dos Trabalhadores, depois, já como filiado ao PSB - ainda dos bons tempos das relações com o Planalto - ainda que em menor escala, beneficiou-se dos investimentos federais no Estado. Soma-se a isso, ainda, mesmo que muito diluído, um sotaque de sensibilidade social, algo em relação ao qual o tucano não poderia se contrapor. Venceu as eleições. Há alguns anos atrás, quando éramos mais ativos no microblog twitter, trocávamos muitas ideias. Parabéns, Mago. Vamos tomar uma Volúpia com agulha frita em Jacumã, qualquer dias desses.
Michel Zaidan Filho: Unidade, divisão e ódio.
A presidenta da República, Dilma Rousseff, em seu discurso de agradecimento pela reeleição, falou em unidade, diálogo e recomposição política aproveitando "as energias mobilizatórias" da campanha eleitoral. Os adversários derrotados (Aécio Neves e Paulo Câmara) também enfatizaram a necessidade da união em prol do Brasil, do povo brasileiro e da federação brasileira.
Nunca se viu, nos últimos tempos, uma campanha política majoritária tão despolitizada como essa. Perdeu-se a grande oportunidade de se convocar os eleitores brasileiros para um debate sobre os grandes temas da agenda econômica do país e suas perspetivas, num momento aliás de grandes dificuldades econômicas na vida de cada brasileiro. Apesar do confronto entre duas propostas (neo-desenvolvimentista e neo-liberal) de gestão econômica do Brasil, suas vantagens e desvantagens: o histórico de dois governos do PSDB e três do PT, o tom da campanha ganhou o aspecto de uma cruzada moralista e de ataques pessoais (com muitas infâmias, calúnias, boatos e difamações), ao gosto do civilismo de certas classes médias urbanas tradicionais (como não lembrar da velha UDN?). Ao invés de uma "esfera pública" democrática onde se podia formar racionalmente as opiniões e a vontade política do eleitor, viu-se a ante-sala de uma delegacia de costumes, cujo objetivo era escandalizar o espectador. Campanha marrom, de par com uma imprensa marrom, de resultados escusos e sensacionalistas. 0 desserviço prestado à democracia e ao esclarecimento dos eleitores ainda está por ser devidamente analisado.
A invocação por todos da palavra "unidade" significa desunião, divisão, preconceito, ódio e ressentimentos. Um psicanalista da sociedade brasileira diria que em lugar de cultura cívica, amor ao país e mentalidade republicana, viu-se um espetáculo de familismo amoral, de afetos e desafetos mobilizados para a disputa eleitoral, por conselho dos marqueteiros de plantão.
A entrada da ex-candidata Marina Silva mudou inteiramente os termos do debate eleitoral. Enquanto a campanha estava circunscrita a projetos políticos institucionalizados tendo como representantes Dilma, Aécio e Eduardo, ela seguiu um determinado rumo (situação, oposição e uma terceira via). Com a chegada da militante pentecostal o tom do discurso político mudou, produzindo-se uma despolitização da campanha eleitoral. Infelizmente, com a derrota da candidata-suplente do PSB, o segundo turno não melhorou de qualidade nas argumentações e debates públicos entre os dois candidatos principais. Restou uma mágoa, um sentimento de raiva ou ressentimento, habilmente administrado pelos assessores dos comitês, tendo como alvo o eleitor mais suscetível a esse tipo de pregação política.
A administração do ódio contribuiu muito para potenciar as divisões latentes e manifestas da sociedade brasileira. 0s preconceitos, o sentimento de hierarquia social, a apartação geográfica e social entre classes, regiões e camadas socais se ampliaram ou se reatualizaram de uma forma assustadora. Parecia a ressurgência do neo-nazismo e do separatismo de anos passados no Brasil. Era os ricos contra os pobres, os sulistas e sudestinos contra os nordestinos e nortistas. A classe média tradicional contra a nova classe média. A cidade esclarecida (?) contra o mundo rural atrasado e dependente de esmolas. Discurso fascista que levou muitos desavisados a vestir a camisa verde-amarela, sem entender o sentido da manipulação a que estavam sujeitos.
E, no entanto, as divisões existem, são de natureza objetiva e precisam ser enfrentadas com coragem e determinação. 0 país tem uma enorme concentração de renda. Os afro-brasileiros são os mais pobres e menos instruídos. As mulheres também são discriminadas econômica e socialmente. Os homossexuais são perseguidos e humilhados. Há uma enorme concentração industrial que se traduz de desigual repartição tributária nacional. 0 pacto federativo está aos pedaços. Grandes concentrações de terra na mãos de poucos contrasta vivamente com uma maioria que não tem onde trabalhar no campo. Enfim, as causas da divisão persistem. Mas esta não é a hora de dramatizá-las e tirar delas dividendos eleitorais, como se tentou criminosamente fazê-lo. É hora de reflexão, de reconstruir canais de comunicação, do diálogo sincero e consequente entre o vitorioso e o derrotado. Deve haver um pouco de razão em todos os lados. É preciso de uma agenda de reconciliação supra-partidária em benefício do povo brasileiro. Que haja sabedoria na nossa classe dirigente. 0 Brasil não é de nenhum partido, de nenhum candidato. É de todos nós, sobretudo daquelas que mais precisam da ação do Estado e do governo para melhorarem a vida. É para eles que deve ser voltada a atenção nesse momento, se quisermos acabar com as divisões e os péssimos sentimentos que elas alimentam e constituir um verdadeiro país, um nação.
Michel Zaidan Filho é cientista político, filósofo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco.
sábado, 25 de outubro de 2014
Tijolinho do Jolugue: Ganhamos as eleições, moçada!
Dizer quem perdeu ou ganhou um debate é sempre algo bastante complicado, uma vez que envolve uma série de variáveis, inclusive as expectativas ou reações do eleitorado. Há, também, uma torcida indisfarçável de partidários deste ou daquele candidato, sempre considerando que o seu favorito esteve melhor. Ontem perguntávamos aqui se ele levaria a revista Veja para o debate. Levou. levou e tentou pegar Dilma no contrapé, na primeira investida, de bate-pronto. A manobra não deu certo. Dizem que os analistas já se debruçam sobre os problemas que estariam levando o candidato a ser superado por Dilma na reta final, quando já navegou em céu de brigadeiro. Nós poderíamos citar aqui um milhão de motivos, mas, certamente, alguns deles se sobressaem, como a sua tentativa de colar sua imagem a do Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Um suicídio. Antes, hoje e eternamente. Pior ainda quando essa identidade se dá no campo das conquistas sociais, algo em relação à qual, o príncipe dos sociólogos nunca demonstrou qualquer sensibilidade. Como bem informa Dilma Rousseff, em dois meses, os investimentos do Bolsa Família equivalem aos investimentos sociais nos 08 anos de seu Governo. Nesses momentos só restam ao candidato tucano olhar para ela com cara de pastelão. Ele só tem razão num ponto. De fato, o embrião do Bolsa Família nasceu na cidade de Campinas, então administrada por um tucano. FHC era presidente. Nunca desejou ampliar e nacionalizar o programa, iniciativa que Lula tomou, tornando-se uma espécie de pai do Bolsa Família. Outro grave problema de Aécio são as contradições do seu discurso, algo que não foi devidamente dimensionado por seus assessores. Logo no início do debate ele mencionou a panfletagem caluniosa da revista Veja, que hoje se encontra com o prestígio mais baixo do poleiro de pato. Muito interessante a construção do seu discurso. Começou por dizer-se vítima de campanha difamatória, assim como Marina, Eduardo Campos. Bastou a presidente dizer que, através daquela panfletagem, estava sendo vítima também de difamação. Outro equívoco do candidato é centrar esforços em torno dos supostos casos de corrupção envolvendo petistas no Governo Dilma Rousseff. Pelas últimas notícia envolvendo a fala do delator Paulo Roberto, na realidade, os ratos mais graúdos da estatal são tucanos. Aqui mesmo na província, um tucano de alta plumagem - já falecido - levou 10 milhões de reais para esvaziar uma CPI. Isso evidencia, inclusive, como a corrupção está imbricada na máquina pública, de forma endêmica, independentemente de ideologias. Até uma pomba neo-socialista acompanhava os tucanos nesses voos sobre os recursos da Viúva. O discurso dos tucanos contra a corrupção na máquina pública é grotesco. Não surte nenhum efeito. Se parte da população se mostra indignada com esse problema, possivelmente, não seria em razão dos tucanos e eles, muito menos, reúnem as condições morais para reverter essa situação. Talvez por essas razões, o candidato tucano tenha se apresentado no debate tão abatido, cansado e sem aquele viço de outrora. Ganhamos as eleições, moçada!
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