pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : junho 2015
Powered By Blogger

terça-feira, 30 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Os rumos políticos de nossa querida Paulista.





A cidade de Paulista, localizada na Região Metropolitana do Recife, parece-nos mesmo uma cidade sem a menor vocação republicana. No passado, dominada por uma oligarquia industrial, essa nódoa patrimonial parece ditar o ritmo político da cidade até os dias de hoje. Foi muito feliz uma jovem que, ao estudar a história daquele torrão natal, num lampejo de lucidez, afirmou tratar-se uma "quase cidade". Até o chefe político Agamenon Magalhães, em pleno Estado Novo, quando questionado sobre a emancipação política da cidade - que já foi distrito de Olinda - afirmou ser necessário, antes, que se fizesse uma reforma agrária, distribuindo melhor as terras do feudo familiar dos Lundgrens. 

Politicamente, as coisas não mudaram muito desde então. A administração pública municipal passa de oligarquia para oligarquia, sem que os problemas estruturais da cidade sejam, de fato, enfrentados. Quase três mandatos de gestão socialista e o município continua na rabeira dos indicadores sociais, principalmente em educação, onde ainda é muito fraco desempenho do IDEB, entre as cidades como mais de 200 mil habitantes.Até recentemente, se fazia "rodízio de alunos", o que levou uma bem-humorada internauta a se perguntar: "eu já vi rodízio de carne, rodízio de pizzas, mas de aluno..." Pois é. 

Não se pode negar que, pelo menos nesse aspecto, o município é inovador. Reclamei disso enormemente pelas redes sociais e pela blogosfera. Enormemente e inutilmente. Ontem um blog local informou que a possibilidade de uma reeleição do atual prefeito, Júnior Matuto(PSB), são favas contadas. Nenhum mérito em razão da gestão que ele vem realizando na cidade - envolta em problemas de toda ordem - mas por pura "falta de opção" do eleitorado. O socialista Ives Ribeiro - que governou a cidade por dois mandatos -teria transferido seu título eleitoral para a cidade de Igarassu. O eterno candidato do PT, Sérgio Leite, perdeu as três eleições que disputou e estaria desestimulado a disputar uma quarta eleição. Nena Cabral nunca reuniu o capital político para participar do jogo com chances efetivas de vitória. Falta na cidade, portanto, candidatos sérios, movidos pelo espírito público, capazes de promover uma gestão voltada para o interesse da população. 

Sobram, por sua vez, denúncias de malversação de recursos públicos; conluio do poder público com setores do capital; descaso com a preservação do meio ambiente; destruição dos remanescentes de mata atlântica etc. A destruição da Mata do Frio, onde batíamos nossas peladas de final de tarde com a turma da Torres Galvão, então, já foi denunciada inúmeras vezes, sem que providências fossem tomadas. Não sabemos precisar, mas, criança que conviveu com aquelas matas, podemos assegurar que a cobertura vegetal da cidade foi muito sacrificada nas últimas décadas.  

"Conluio antidistributivo" puniu Dilma, e campanha será mais radicalizada, diz sociólogo.

Ouvir o texto
Publicidade
Há um "conluio antidistributivo" no Brasil que puniu a presidente Dilma quando ela tentou reduzir as taxas de juros e desvalorizar o real. Empresários compensaram queda no rendimento de aplicações com alta de preços, impedindo uma guinada na política econômica.
A análise é do sociólogo Adalberto Moreira Cardoso, 52, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que inclui no "conluio", parte da classe média rentista e o setor de serviços. Para ele, a campanha eleitoral deste ano será radicalizada, e as mídias sociais alimentam a animosidade.
Doutor pela USP e autor de dez livros –entre eles "A Construção da Sociedade do Trabalho no Brasil" (FGV, 2010) e "Ensaios de sociologia do mercado de trabalho brasileiro" (FGV, 2013)–, Cardoso enxerga Dilma como nome mais forte. Mas, ao contrário do que ocorreu com Lula, prevê que a presidente "não vai poder surfar acima das brigas entre candidatos. Ela vai ser o alvo principal dos ataques".
A seguir, trechos da entrevista concedida por telefone, do Rio de Janeiro.

Zo Guimaraes/Folhapress
O sociólogo Adalberto Cardoso, 52, da Universidade Estadual do Rio
O sociólogo Adalberto Cardoso, 52, da Universidade Estadual do Rio
*
Folha - Qual sua visão do processo eleitoral? Adalberto Cardoso - A campanha será mais radicalizada, muito violenta. Não só em relação aos ataques pessoais entre candidatos, mas também nas ruas. Várias cidades há disputas muito intensas pelo poder. Pela primeira vez em 12 anos, a oposição está vendo de fato uma chance de voltar ao poder. No caso do PSB, de chegar ao poder. Ambos estão agindo de maneira muito dura na oposição. As novas mídias sociais estão permitindo o afloramento de um radicalismo raivoso por parte da população. Ele sempre existiu, mas antes não parecia. Nas redes sociais isso fica muito explícito. Isso alimenta uma animosidade entre os contendores muito pouco saudável para a dinâmica da democracia. As redes sociais não têm contribuído para formar opinião, mas para radicalizar as opiniões que as pessoas já têm. Isso é ruim numa dinâmica em que estarão em questão os horizontes da política, o futuro que queremos. Essa eleição reinaugura a disputa política propriamente dita. O PSDB, que agia de maneira errática nas últimas três eleições, está claramente com um projeto mais definido, mais conservador, mais à direita, definindo um eixo de retomada de um projeto que foi bem-sucedido no primeiro mandato de FHC. Mas que fracassou no segundo mandato. O que o Aécio tem afirmando é o projeto do segundo mandato de FHC. O primeiro foi mais claramente neoliberal, com políticas de abertura da economia. Todo o receituário neoliberal, com muita intensidade, foi implementado. No segundo, deu-se um passo adiante, do meu ponto de vista ainda mais equivocado. O primeiro mandato teve a virtude de ter controlado a inflação a um preço muito alto, que foi o do emprego formal, industrial. O Brasil entrou numa rota de desindustrialização a partir de 1995, 1996, que só se aprofundou com o tempo. Chegou-se ao final do segundo mandato com 40% de emprego formal. O emprego industrial, que tinha atingido 22%, foi para 11% da PEA. Houve uma desindustrialização dos empregos e um aumento brutal do desemprego. O custo social das políticas adotadas foi muito alto. As pessoas se esquecem de que o Brasil estava numa rota de dolarização quando Lula ganhou a eleição. O projeto de FHC era de dolarização da economia. Armínio Fraga já tinha transformado quase 40% da nossa divida interna em nominada em dólar, expondo profundamente a economia às intempéries internacionais.
O projeto Aécio é semelhante ao de FHC?
É de voltar às políticas de FHC. Seu possível ministro da Fazenda é Armínio Fraga, um dos responsáveis pela grande fragilidade do Brasil no segundo mandato do FHC. Ele colocou o Brasil numa rota de dolarização da economia num momento em que a dolarização já tinha destruído a economia da Argentina. Ele está fazendo o programa do PSDB, baseado nas políticas neoliberais de financeirização da economia.
Qual o significado da candidatura de Eduardo Campos?
É uma oposição que saiu do governo, uma candidatura de oportunidade. Com a saída de Lula da disputa, ele se sentiu livre para, entre aspas, trair o seu aliado principal. Entre aspas porque a lealdade dele era em relação à pessoa de Lula, não ao partido. Uma aliança típica das oligarquias no Brasil. Ele, como filho de oligarca, agiu como tal. É perfeitamente legitimo. Foi um movimento oportunista, assim como foi oportunista a aliança com Marina Silva, com quem ele não tem a menor afinidade ideológica.
Ideologicamente, como essa candidatura se posiciona?
Campos ainda não disse a que veio em termos de seu projeto de governo. Diz que podemos fazer mais e melhor, que vamos dar continuidade ao governo Lula e esquecer Dilma, como se a Dilma tivesse traído as diretrizes de Lula. É como se estivesse reafirmando sua fidelidade a Lula. Não há outra possibilidade a Campos do que partir para ataques pessoais. A questão da corrupção vai surgir de novo. Faz parte das campanhas em todo o mundo. A corrupção, infelizmente, vai ser de novo a tônica do debate eleitoral no Brasil. Isso vai respingar para cima de Lula e dos governos anteriores. Campos não tem projeto de governo. Vai ser difícil para ele quando a Dilma começar a mostrar os resultados de sua administração –e ela tem muito para mostrar. Ele vai ter que apresentar um programa com alguma credibilidade. De um lado da oposição estão André Lara Resende e Eduardo Giannetti. De outro, Armínio. Vai ficar claro é que existe um projeto neoliberal e de aliança com o sistema financeiro do lado da oposição nas duas candidaturas. De outro lado, há uma candidatura mais voltada para o neodesenvolvimentismo, que de alguma forma olha para a produção, para a economia real.
Se essa campanha vai ser mais radicalizada, como isso vai acontecer do lado do governo?
Todas têm sido muito radicalizadas. A única que não, foi em 2002, quando o PT apresentou um programa alternativo e o governo que estava saindo era muito mal avaliado. Não foi possível bater na pessoa de FHC. Houve uma certa divisão de trabalho na campanha, e ficou para o Ciro Gomes bater. Isso permitiu que Lula surfasse acima das disputas pessoais. Isso não vai ser possível nessa campanha. Dilma não vai poder surfar acima das brigas entre candidatos. Ela vai ser o alvo principal dos ataques. Eduardo Campos sabe que a única possibilidade de ir para o segundo turno é destruir Aécio. O inimigo de Campos não é Dilma; é Aécio. Dilma estará no segundo turno, se houver segundo turno. A campanha ainda não começou. Hoje tudo indica que haverá um segundo turno. A oportunidade única de Campos é impedir que Aécio mantenha a intenção de voto que ele tem hoje. Haverá uma luta no campo da oposição.
Mas ambos aparecem muito juntos, numa relação de boa vizinhança, não?
Não. Marina já disse que o projeto deles não tem semelhança com o PSDB.
Ela está correta?
Ela tem um projeto que é diferente do de Campos. Ela tem uma visão da política que é mais comunitarista, não individualista, que é o caso de Aécio e do PSDB em geral. Ela tem um viés conservador de outro tipo. É um conservadorismo voltado para a vida comunitária, contra a ideia de financeirização, de subordinação do Brasil ao capital financeiro internacional. Ela tem um projeto; Campos não tem. Ele estava costurando uma aliança com o agronegócio quando Marina foi para o partido dele e isso foi desfeito. Então, Aécio se colocou como candidato do agronegócio. Ela tem uma diferença em relação ao PSDB. Ela foi oposição ao PSDB a vida inteira e continua sendo. Do ponto de vista dela, não tem aliança possível com o PSDB. Uma aliança entre os dois partidos que possam marchar juntos para destruir a Dilma no segundo turno dificilmente vai acontecer por causa de Marina.
O que pode acontecer se o segundo turno for entre Aécio e Dilma?
O mais provável é que haja um apoio à Dilma do que a Aécio. Campos está muito mais próximo desse campo da coalizão de governo do que do PSDB. Ele tem se mostrado um político muito pragmático.
O sr. fala que a candidatura Dilma é neodesenvolvimentista, mas o crescimento do país é baixo e a desindustrialização segue.
Crescimento baixo depende do parâmetro. Se olhar para a China, é baixo. Mas se olhar para a América Latina, o Brasil está crescendo na média. O Brasil não está sozinho no mundo. É um erro comparar o Brasil com a China, que é a segunda economia do mundo, que é um regime autoritário.
Mas o governo é desenvolvimentista?
O governo é de uma coalizão, na qual o PT tem a liderança. Implementar políticas com esse Congresso não é fácil. O executivo tem sido refém de uma política que tem troca de favores no Congresso. Por causa do tempo de televisão, que é um grandes elementos da dinâmica política do Brasil. O tempo de televisão é a grande moeda em ano eleitoral e no ano anterior e anterior. Há políticas que não podem ser implementadas por haver uma base política conservadora. O governo chegou tarde à conclusão de que a economia brasileira está profundamente fragilizada. Do ponto macroeconômico está bem, com sinais de que pode piorar depois. A economia do país foi fragilizada ao longo dos últimos 20 anos.
O sr. pode explicar melhor?
Em parte por conta da âncora cambial dos dois mandatos de FHC. Ainda que tenha que tenha acabado em 1999, ela retornou via taxa de juros, uma das maiores do planeta. O dólar chegou a bater R$ 3. Lula restituiu a âncora da economia brasileira via taxa de juros. São 20 anos de política que Dilma tentou reverter quando começou a baixar de maneira consistente a taxa de juros. Dilma foi punida pelo mercado, inclusive pela indústria.
Punida como?
Quando a taxa de juros chegou num patamar que todos, inclusive a Fiesp, saudaram como uma taxa civilizada, juros reais de 2%, todo mundo começou a aumentar preço. Porque o empresariado no Brasil deixou de investir quando a taxa de juros ficou muito baixa, ao contrário do que acontece no mundo inteiro. No mundo inteiro, quando a taxa de juros está muito alta, os empresários não investem. No Brasil é o contrário: os empresários investem com taxa de juros alta, porque ela reduz o risco do investimento. Por incrível que pareça! Quem financia o investimento no Brasil é o BNDES, o investimento é com juros subsidiados. Com taxa de juros alta, os empresários podem ganhar no mercado financeiro. O que ajuda a segurar preço não é o fato de que a demanda é contida pelos juros altos. Porque os empresários compensam os preços das mercadorias ganhando no mercado financeiro. Não é preciso aumentar preço: eles estão ganhando em outro lugar. Quando a taxa de juros cai, a primeira atitude do empresário que começa a perder dinheiro no mercado financeiro é aumentar preço. A economia é oligopolizada. Em todos os setores importantes, três ou cinco empresas ou grupos têm mais de 50% do mercado. Como essa profunda oligopolização, os grandes grupos têm o poder de arbitrar preços. Dilma foi punida fazendo o que todo mundo pediu: redução consistente de taxa de juros e aumento consistente do câmbio, desvalorização do real. Quando o câmbio bateu em R$ 2,4 e os juros em 7,5% todo mundo reagiu contra. Há agentes econômicos com grande poder de veto a medidas que representam, do ponto de vista dos rentistas, perda de renda. Esses agentes não permitiram dólar alto e juro baixo.
Há um pacto pró juro alto no Brasil?
Existe um conluio antidistributivo no Brasil. Reúne as classes médias, que querem juro alto para garantir sua aposentadoria, sua viagem internacional, para garantir dólar baixo. Interessa a essa classe media e parte dela está contra o governo, é conservadora. Vai votar contra, apesar de ter ganhado muito com a taxa de juros. Essa classe média é antidistributiva, é contra as políticas do tipo Bolsa Família, de melhoria da vida dos mais pobres. A indústria reclama da taxa de juros, mas, quando a taxa de juros cai, responde com aumento de preços. O resultado é aumento de preços, não investimento. Aí é o aumento da taxa de juros para conter a inflação. O BC não tem outra saída a não ser aumentar os juros. O setor de serviços é o maior responsável pelos aumentos de preços. São três agentes muitos poderosos: tem consumidores, uma certa fatia de rentistas que é grande, de 25% a 30%, que ganha com as taxas de juros dos fundos públicos; têm a indústria e o setor de serviços. Quando se aumenta a taxa de juros, se transfere diretamente recursos do Tesouro nacional para esses agentes. A taxa de juros é fruto de uma luta política entre agentes econômicos para o aceso dos fundos públicos no Brasil. O governo percebeu a sinuca de bico em que estamos metidos decorrente de muitos anos de taxas de juros muito altas e inflação baixa –para os padrões brasileiros.
Como esse conluio pode ser enfrentado?
A indústria brasileira foi muito fragilizada. A China ficou 20 anos com o câmbio muito desvalorizado e todo mundo foi para lá. Antes tinha sido o Brasil, o México. Isso não tem mais volta, é uma configuração da economia mundial. O Brasil perdeu, mantendo muito valorizada sua moeda nesse período. O processo é de longo prazo. A China levou 30 anos para chegar onde está. O Brasil tomou outro caminho e não se reverte uma política assim em pouco tempo. A política de redução de juros e desvalorização do câmbio durou um ano e meio com Dilma, e ela foi punida pelos agentes que são contra essa guinada. Isso não quer dizer que essa guinada não possa ser dada. Ela provou do custo de dar essa guinada. Poderia ter tentado bancar isso politicamente.
Por que ela não fez isso?
Porque parte do PMDB também é rentista, parte da base do governo também é rentista. A única pessoa que conseguiu uma maioria estável no Congresso foi FHC, no primeiro mandato. Foi um rolo compressor. No segundo mandato, não foi possível. Houve uma coalizão forte nos dois primeiros anos de lula. Depois do mensalão, acabou. Lula ficou mais dependente do PMDB. Dilma continua com uma base muito fragmentada, sem unanimidade no PMDB e inclusive no PT. Numa situação de grande fragmentação, todo o presidente eleito vai depender do PMDB, que vai continuar sendo o fiel da balança no Congresso. Os presidentes vão continuar reféns de uma forma de fazer política que é a do toma-lá-dá-cá.
Esse conluio, como o sr. define, implica crescimento baixo?
Essas pessoas [do conluio] não tão preocupadas com crescimento. A crítica ao baixo crescimento é resultado da crítica em geral à política econômica. Mas não há recessão. A Europa é que está parada desde 2009. O que impede o crescimento é a taxa de investimento. É uma reação dos empresários à percepção sobre o cenário econômico.
Mas o governo também não falha ao não ser mais ativo no investimento?
Houve um problema sério de transformação da vontade de investir do governo em investimento real. Os projetos de infraestrutura continuam com problemas sérios de execução. Há uma coalizão anti-investimento. Isso decorre, em parte, dos controles instituídos pelos partidos políticos. O Ministério Público acha que o sistema político é corrupto e parte do princípio de que a decisão de investimento por parte do poder publico é corrupta do nascimento. Há uma coalizão anti-investimento por parte de todos os mecanismos de controle. Não estou dizendo que não deva ter controle. Mas chegou-se a um paroxismo em que é muito difícil investir. Esse governo demorou a entender isso. Lula conseguiu, por seu voluntarismo, fazer uma série de projetos. Vários estão ainda pelo caminho: ferrovias, São Francisco, barragens. É fácil lançar o projeto, mas a execução, do ponto de vista dos controles, é muito difícil. Projetos do PAC estão capengando. Ao perceber isso, Dilma fez concessões, que é uma forma de privatização. Agente privado não tem que fazer concorrência, não tem controles. E, por definição, o mercado não é corrupto.
A chance maior é a da reeleição?
Dilma é a candidata mais forte. Passaram os últimos quatro anos tentando destruir o legado de Lula, inclusive o seu jornal e a imprensa em geral no Brasil. Não conseguiram. Lula continua sendo a pessoa mais importante na política brasileira hoje. Ele vai entrar de cabeça na reeleição e é um cabo eleitoral importantíssimo. Só se ouve que o governo é ruim. Apesar disso, ela tem 40%. Claro que essa campanha, orquestrada por uma oposição que vê a chance de chegar ao poder, minou parte da base dela. Tirando a possibilidade do inaudito, ela está no segundo turno e é a candidata mais forte.
Como o sr. avalia essa discussão sobre a classe média e como ela deve se comportar na eleição?
Não concordo com a afirmação de que o Brasil é um país de classe média. É uma definição estatística, não sociológica, que só mede o consumo das famílias. É uma definição ruim, arbitrária e equivocada. Uma parte da classe média vai cotar na Marina e em Campos achando que está votando de maneira mais à esquerda. Identifica nela uma novidade, coisa progressista, mesmo que ela não seja isso. Outra parte vai voltar nos candidatos mais à esquerda, uma classe estudantil que é militante, que foi para a rua. Outra vai continuar fiel ao PT, que lê o cenário como um complô contra o PT. Outra parte vai votar no PSDB, achando que o mercado é o caminho e que o Estado é gigante. Uma proporção grande da classe média pensa assim. Isso tudo dá 20% e não ganha eleição. A eleição vai ser decidida pelos outros 80% que incluem os 50% que são pobres e muito pobres e 30% dessa classe popular que ascendeu e que tem demanda reprimida. Esse pessoal vai ser o fiel da eleição.
O sr. espera grandes manifestações de rua nos próximos meses?
Grandes manifestações, como no ano passado, com um milhão nas ruas, é difícil ter de novo. Mas a política está na rua. Isso não vai acabar. As pessoas vão continuar se fazendo ouvir na rua.
Todo o ano de Copa e eleição há a discussão sobre a interferência do esporte na política. Qual sua visão?
Essa discussão vem desde os anos 1970, na ditadura. Para o governante, de todos os níveis, é melhor que o Brasil ganhe. Isso pode contribuir para amainar os ânimos, para pacificar, para reduzir um pouco o calor da disputa política. Mas não acho que se o Brasil ganhar vai ser bom para a Dilma. As pessoas sabem distinguir. O brasileiro é muito mais inteligente do que se imagina. 

(Publicado originalmente no Jornal Folha de São Paulo)

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Com a entrada de Antonio Campos, as costuras políticas em Olinda se complicam.



Principalmente hoje, ideologia não é, seguramente, um aspecto mais determinante para analisar o comportamento ou as decisões das agremiações partidárias. Quem enveredar por este caminho, não raro, corre o risco de cometer inúmeros equívocos. Outro dia alguns atores políticos históricos, ligados ao PSB, questionavam as especulações em torno de um possível ingresso do neto de Antonio Carlos Magalhães, ACM Neto, atual prefeito de Salvador, nas fileiras do PSB. O Roberto Amaral pode até ter lá suas razões, mas, sinceramente, aqui no Estado, o principal líder da agremiação, o ex-governador Eduardo Campos, garantiu uma sobrevida às viúvas do macielismo. 

Pragmaticamente, sob que argumento essa gente poderia vetar o nome de ACM Neto? Pode-se perguntar, isto sim, o que faz um Roberto Amaral nesta agremiação partidária?  Isso vem a propósito do complexo quadro  de arranjos políticos que deve ser montado em Olinda, em razão de uma possível candidatura do escritor Antonio Campos à Prefeitura Municipal, nas eleições de 2016. Arranjos políticos entre as duas agremiações - PCdoB e PSB - garantiam à Olinda a condição de um reduto dos comunistas. Os comunistas, por sua vez, mesmo com as reações conhecidas, conseguiram, durante esses anos, aplacar os ânimos dos petistas que, mesmo amuados, estiveram ao lado do PCdoB. Com a entrada de Antonio Campos no jogo, várias possibilidades estão sendo especuladas. 

Há quem informe que tudo está "arranjado". PT e PCdoB poderão apoiar o nome do irmão do ex-governador. Uma outra possibilidade, como sugeriu o internauta Ygor Barros​, é a volta da dobradinha PT e PCdoB, reeditando as eleições de 2000. Isso poderia se reeditado em Olinda e no Recife. Mesmo com a morte do ex-governador, um dos principais artífices da guinada à direita dos neo-socialistas, o partido parece desejar seguir essa tendência. Já entabula conversas com o PPS, com os Democratas. Com os tucanos, então, isso já vem de longas datas, envolvendo aves emplumadas em vários ninhos da Federação. 

No Recife eles já integram o Governo de Geraldo Júlio e, pelo andar da carruagem política, há até mesmo a possibilidade deles ampliarem a participação no condomínio governista. As costuras dos neo-socialistas, em Olinda, envolvendo os tucanos e o PMDB, portanto, poderão ser mais facilmente tecidas. Raul Henry(PMDB) é vice de Paulo Câmara e  a vereadora Aline Mariano (PSDB) é a titular da Secretaria de Enfrentamento do Crack e Outras Drogas, na gestão de Geraldo Júlio. O PMDB tem uma penca de pretendentes na cidade, mas a expectativa de "participar" de uma futura gestão consegue fazer milagres. 

Crédito da Foto: Agência Folha/PE

domingo, 28 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: A Casa da Rabeca transforma-se num comitê eleitoral dos socialistas.







Como já afirmamos, hoje, domingo, em grande estilo, o escritor Antonio Campos comemorou seu aniversário no tradicional reduto cultural da Casa da Rabeca, em Olinda. Na realidade, afirmar que Antonio Campos é um neófito na política constitui-se, tão somente, uma tentativa de estabelecer um procedimento didático, posto que, quando o irmão era vivo, ele já mantinha uma participação ativa nos bastidores da política estadual, embora nunca tivesse antes disputado uma eleição. As movimentações indicam que, desta vez, torna-se quase certa sua participação nas eleições de 2016, em Olinda. A festa de Antonio Campos foi bastante concorrida, contando com a presença de lideranças comunitárias, populares, e a fina flor do staff político socialista do Estado. 

Possivelmente, trata-se de uma candidatura que irá provocar alguns desarranjos políticos na aliança mantida pelo partido com os comunistas do PCdoB. Curiosamente, as lideranças do partido não foram convidadas. E olha que eles adoram uns canapés, uns comes e bebes. Os comedimentos ficaram no passado. Lá para os idos dos anos 60. Hoje, eles estão bem adaptados à dolce vita da burguesia. Pode se fazer algumas leituras, principalmente a política, com o propósito de explicar a ausência dos comunistas entre os convivas. Através de um artigo em seu blog, o escritor Antonio Campos teceu alguns comentários críticos sobre a administração municipal, a princípio, no tocante às políticas educacionais da gestão comunista de Renildo Calheiros​. Isso indica que, para viabilizar-se eleitoralmente como alternativa, o irmão do ex-governador deverá centrar fogo sobre a atual gestão do município, algo que, pontualmente, já vem fazendo.

A festança da Casa da Rabeca, então, passa a se constituir num bom termômetro político sobre as próximas eleições municipais de 2016, em Olinda e, por tabela, em Recife. Algo nos informa que aquele espaço cultural deverá se constituir numa espécie de comitê eleitoral socialista. A entrada de Antonio Campos no "jogo eleitoral" olindense está provocando uma série de "cismas" entre políticos "tradicionais" do município. O principal argumento da rejeição é que ele é um forasteiro. Eis aqui um problema que ele terá que contornar. Entre as lideranças políticas locais e, possivelmente, também entre o eleitorado. Sua inserção no campo literário da cidade não seria suficiente para credenciá-lo.

Apesar do desgaste da gestão de Renildo, Olinda continua estratégica nos planos do PCdoB. Nas últimas eleições municipais de 2012, Olinda foi apontada como "prioridade das prioridades" pelo partido. A cúpula da agremiação, se era assim, deveria ter avisado isso a Renildo, no sentido de que ele cuidasse melhor da joia da coroa. Agora mesmo ficamos sabendo que também circula pelo You Tube um vídeo comemorativo ao aniversário do escritor Antonio Campos.  Mas não compete a nós fazermos julgamentos. Os atores delegados para isso são outros e eles já se pronunciaram sobre o assunto,  afirmando que não há nada demais nisso. Coisas da política, meu filho.

Crédito da Foto: Agência Folha/PE

sábado, 27 de junho de 2015

O xadrez político das eleições de 2016 no Recife: Enquanto Antonio Campos amplia o lastro político em Olinda, no Recife Geraldo Julio tenta cooptar o PSDB





José Luiz Gomes


O caldeirão da política recifense continua em plena ebulição. A máquina mói nos bastidores embora, por razões óbvias, muitas coisas não são tornadas públicas. Isso faz parte do campo político. Hoje tive a oportunidade de ler um pequeno artigo do escritor Antonio Campos, em seu blog, sobre a educação na cidade de Olinda. De posse de alguns dados - como o desempenho do município no IDEB - informa que as coisas não vão bem nessa área, na Marim dos Caetés. 90% dos 185 municípios pernambucanos entregaram, dentro do prazo, o Plano de Educação Municipal. Olinda, nas palavras do escritor, não fez o dever de casa. Não temos muitas informações sobre este assunto, mas algo nos sugere que este blog seja novo e integra uma plataforma de ação - mais uma - que visa ancorar uma possível candidatura do escritor à Prefeitura da Cidade de Olinda. Ou o blog é novo ou, pelo menos, as temáticas que estão sendo tratadas começam a problematizar sobre a cidade de Olinda.

Há grandes questionamentos sobre os arranjos políticos em jogo, com o objetivo de viabilizar essa candidatura. Além de neófito, com a manobra, Antonio Campos provoca um "desarranjo" na correlação de forças locais, em alguns casos, atingindo aliados do primeiro escalação do prefeito Geraldo Júlio(PSB), no Recife. Talvez possamos descobrir mais tarde que tudo já teria sido "arranjado" e que estamos fazendo uma tempestade num copo de água. Talvez. No momento, todos os indícios apontam para uma candidatura. Seu aniversário será comemorado no melhor estilo, na cidade, precisamente na Casa da Rabeca, um tradicional reduto cultural e simbólico do município. Os observadores poderão afirmar que a Tabajara é um distrito em disputa por dois municípios, mas, por outro lado, todos sabem das relações afetivas daquela espaço cultural com a Marim dos Caetés. 


Ademais, pelo que se sabe, os convivas são todos de Olinda e extrapolam os círculos literários e culturais. Em outras palavras, envereda pelos círculos políticos, numa evidente demonstração da estratégia de construção de capilaridade num campo até então estranho ao escritor: o político. Aqui surge mais um dado para analisarmos sobre quem, de fato, dá as cartas entre os socialistas tupiniquins. Outro dia, pelos jornais, em meio às especulações sobre a sucessão no município de Jaboatão dos Guararapes - onde já era intensa as costuras do socialista João Fernando Coutinho - o governador Paulo Câmara veio a público para "por ordem" no recinto: 2016 se discute em 2016. No caso de Olinda, um silêncio obsequioso. Afinal, formiga sabe que roça come. 

Continua ainda merecedora de uma análise mais consistente os "significados" da visita do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ao Recife.  Foi daquelas chegadas intempestivas, alvoraçadas, onde ele atirou para todos os lados, atingiu alguns alvos, abriu alguns flancos e depois desapareceu. O prefeito do Recife, teria encontrado com ele em Brasília, onde aproveitou a deixa para questioná-lo acerca da eventualidade de uma candidatura pedetista no Recife, em 2016. Aqui na província, Lupinho havia questionado uma possível fusão - hoje já descartada - entre o PSB e o PPS. Nas suas observações, seria o abraço da morte com os tucanos, via PPS. Em certa medida, ele tem razão, embota essa questão da ideologia seja apenas um "pano de fundo", principalmente quando se está em jogo a filosofia pragmática que regem as nossas agremiações partidárias. 


Tratou-se, tão somente, de um discurso do presidente nacional da legenda pedetista. E como diria o filósofo Nietzsche, toda palavra é uma máscara, todo discurso é uma fraude. Naturalmente que passa longe essa preocupação de Carlos Lupi com a possível "decadência ideológica" dos socialistas tupiniquins. Lupi chegou a levantar a hipótese de uma possível candidatura do ex-deputado federal, Paulo Rubem Santiago - hoje na presidência da Fundação Joaquim Nabuco - à Prefeitura da Cidade do Recife, em 2016. Pouco tempo depois, em entrevista a uma rádio local, o ex-deputado descartou completamente essa possibilidade. Como no dicionário da política não existem as palavras nunca nem jamais, as posições também mudam como as nuvens.



E,afinal, a quantas andam as movimentações no establishment governista do Recife? Começaram a ser veiculadas pela TV algumas peças publicitárias da Prefeitura da Cidade do Recife. Lembro-me de uma que fala precisamente sobre a melhoria da qualidade da merenda escolar na rede municipal. Educação é um dos aspectos nevrálgicos da administração do senhor Geraldo Júlio(PSB). Aliás, há ali uma caveira de burro que precisa ser urgentemente desenterrada. Faz muito tempo que o órgão anda enredado em problemas de toda ordem, sejam administrativos, fiscais, de desempenho etc. Há várias denúncias de irregularidades, contas já foram bloqueadas, merendas e materiais deixaram de ser distribuídos por falta da pagamentos a fornecedores. Até o pessoal do TCE já assumiu a pasta, numa espécie de intervenção branca, a despeito das boas relações entre o órgão e os socialistas da província. Num quadro como este, não se poderia esperar muita coisa sobre o desempenho do alunado. 


Uma verdade, no entanto, precisa ser dita. Esses problemas estão se arrastando já faz algum tempo. Na realidade, Geraldo Júlio pegou as "batatas" e não conseguiu descascá-las a contento. Mesmo sem a forte liderança do ex-deputado Sérgio Guerra, os tucanos mais emplumados estão de bico afiados, de olho no Palácio Antonio Farias. Por muito pouco, uma dessas aves não jogaram as eleições de 2012 para um segundo turno, o que teria provocado a ira do ex-governador, Eduardo Campos, que não ficou nada satisfeito com o "impasse". A bronca teria sobrado até mesmo para o marqueteiro argentino, que o acompanhava desde de 2006. Essa mesma ave, com as arestas mais aparadas no ninho tucano, promete voltar a cantar nas eleições de 2016. 


Trata-se do deputado estadual Daniel Coelho, político ainda jovem, com forte penetração em alguns segmentos do eleitorado recifense. Segundo uma bem informada blogueira do Estado, os estrategistas do staff do prefeito teriam urdido uma manobra que quase sempre dá certo: moveria uma peça do ninho tucano para os espaços da Prefeitura da Cidade do Recife, o que poderia proporcionar um "naco de poder" imediato, atiçando a cobiça e vilania, capazes de refrear qualquer pretensão futura. Um dos nomes convidados teria sido o da vereadora Aline Mariano, que teria recusado o convite. Ainda de acordo com a blogueira, um outro nome aventado seria o do vereador André Régis, presidente da comissão de educação da Câmara Municipal, um ferrenho opositor do prefeito. 


Com a manobra, Geraldo Júlio mataria dois coelhos de uma cajadada só. Por aqui, bem se vê que o interesse público pode esperar. O ilustre vereador - colega do mestrado em ciência política da UFPE - seria convidado justamente para assumir a pasta da educação. Justamente ele que, outro dia, apontou como um dos principais  problemas da educação do município a ausência de ar-condicionado nas salas de aula da rede municipal.

P.S do Realpolitik: O artigo comete um equívoco ao mencionar que a tucana Aline Mariano havia recusado o convite para integrar a equipe do prefeito Geraldo Júlio. Na realidade, a vereadora Aline Mariano é titular da Secretaria de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas. Aliás, convém lembrar que a relação entre neo-socialistas e tucanos, no Estado, sempre foram muito amistosas. O que talvez esteja faltando no momento é alguém para brecar as pretensões de algumas lideranças tucanas, como ocorria no passado, quando o ex-deputado Sérgio Guerra era vivo. Falta a ave de coordenação dos voos. 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Michel Zaidan Filho: Comunidade de fanáticos


 
 
 
 

O Brasil vive hoje sob uma cruzada evangélica (e evangelizadora), em nome de Jesus Cristo. Seu objetivo é salvar a alma das pessoas para Jesus, ante a ameaça desagregadora de uma sexualidade "perversa" e um modelo "pervertido" de família. Que contaria com a leniência das autoridades públicas e dos militantes de esquerda, fora e dentro do Congresso Nacional. Os oitenta  e cinco  parlamentares evangélicos, sob o comando  do Presidente da Câmara dos Deputados, e apoiados pela bancada da bala e a bancada ruralista, vêm festejando no plenário da Casa cada vitória da sua causa, repercutindo no Legislativo, as vistosas "Marchas para Jesus" em favor da Família, da Propriedade e da Liberdade. O ambiente só não é parecido com o pré-1964 no Brasil, porque não há consenso em amplo setores da população brasileira sobre a agenda golpista dessas manifestações. Nem os militares se aventuram num novo golpe de Estado. Mas o cenário assusta: não só pelo crescimento do ódio, da intolerância em relação aos diferentes, mas também pelo rolo compressor do conservadorismo no Congresso, liderado por um acólito da Igreja Sara Nossa Terra, sequioso de poder.
 
 
Já fui mais tolerante e compreensivo em relação aos religiosos.  Tive uma longa educação em colégios católicos romanos e presbiteriano (animado por missionários norte-americanos). Estudei e lecionei em Universidade Católica (Jesuíta), mantendo uma longa convivência harmônica e proveitosa com padres e pastores. Aprendi muito com eles. Cheguei a ser vice-coordenador de um bispo da Igreja Episcopal, na Pós-graduação de Ciência Política, por muitos anos. E posso dar o meu testemunho de que eram pessoas de mentalidade aberta e progressista.

Nos dias atuais, venho perdendo a paciência e a tolerância com esses grupos religiosos que disputam votos dos eleitores, em nome de Jesus Cristo. Se não fossem tão fundamentalistas e semi-analfabetos, recomendaria que estudassem mais a Bíblia. Não para aceitarem acriticamente os costumes patriarcais dos antigos judeus exilados do Egito, em busca da Terra Santa...dos palestinos. Sugeriria que pesquisassem sobre o modo de vida dos Essênios, os cristãos primitivos, tomados por Engels como modelo de comunistas. A sua simplicidade, seu despojamento, a sua humildade, o seu exemplo  de vida. Em tudo contrário à chamada "Teologia da prosperidade" de certa Igreja neo-pentecostal, ou a amostração  espalhafatosa desses cortejos triunfais para Jesus. Nada disso combina com o espírito de humildade, pobreza, simplicidade que os primeiros cristãos ostentavam, sem alarde.
 
Mas, pelo visto, o objetivo dessa turma é outro: não é ganhar as almas para Jesus Cristo. É ganhar os votos de eleitores incautos, que confundem o mundo profano da política com o mundo sagrado da Bíblia, tal como é lida e interpretada por esses fanáticos. E é aí onde mora o perigo. Eis "o ovo da serpente" sendo, pouco a pouco, chocado pelas larvas do ódio, da raiva, do ressentimento, da ignorância. Templos apedrejados, perseguição aos portadores de uma orientação sexual distinta, encarceramento de menores, pena de morte, onde vamos parar?

Michel Zaidan Filho é historiador, filósofo, cientista político, professor titular da Universidade Federal de Pernambuco e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia  - NEEPD-UFPE. 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Maria Alice, mais um caso de violência contra a mulher em Pernambuco.

Maria Alice, mais um caso de violência contra a mulher em PE
Havia ainda alguma esperança de uma notícia que informasse que a jovem Maria Alice Seabra ainda estava viva. Infelizmente, na tarde de hoje, depois que o seu padrasto acompanhou a polícia nas buscas, o corpo dela foi encontrado nos canaviais da divisa dos municípios de Goiana e Itapissuma, na Mata Norte do Estado. Não há muitas informações sobre essa tragédia. A Polícia Civil promete uma coletiva para a imprensa onde, espera-se, tudo seja esclarecido à população. Nos interessam, em particular, como afirmamos em outras ocasiões, acompanhar os resultados do Pacto pela Vida. O caso de Maria Alice, por exemplo, levou a população a esquecer, temporariamente, um outro episódio de feminicídio, ocorrido recentemente, também na cidade de Goiana. Uma jovem foi assassinada, depois de sequestrada, espancada e violentada. Somente naquela semana, se os nossos números estão corretos, foram assassinadas 06 mulheres no Estado de Pernambuco. Segurança pública é um problema de toda a sociedade. Nosso torcida deve ser sempre no sentido que os atores envolvidos acertem o passo para que possamos ter algum momento de paz. Já faz algum tempo que o Pacto pela Vida enfrenta alguns problemas. Talvez fosse o momento de os atores envolvidos voltarem à mesa para rediscutirem suas estratégias. Nossa solidariedade à família.

P.S do Realpolitik: Até o final, ainda torcíamos para que a jovem Maria Alice fosse encontrada com vida. Infelizmente, como todos já sabem, isso não foi possível. Preso, o seu padrasto revelou à polícia a sequência macabra de martírio a que foi submetida a jovem, culminando com o ocultamento do seu cadáver, nos canaviais da cidade de Itapissuma, na Mata Norte do Estado. Maria Alice foi sequestrada, torturada, sofreu abuso sexual e, finalmente, morta. Foi um crime com requintes de crueldade, planejado com riquezas de detalhes. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

Todos nós poderíamos "procurar uma rola"


A 'treta' Boechat x Malafaia diz muito sobre nossos tempos. Freud e Lacan nos ajudam a entender o sentido do que disse Boechat.



Rita Almeida

reprodução
Freud funda a psicanálise a partir do mal-estar. Sua grande questão é: o que fazemos com nossos mal-estares? Lacan vai retomar o tema freudiano para dizer que nosso mal-estar é sempre o da linguagem, já que ela sempre fracassa na sua tentativa de dar conta do real. Em outras palavras, a linguagem é sempre falha, equivocada imperfeita e sempre desliza por caminhos dos quais não temos o controle. Nossos atos falhos – aquilo que dizemos sem querer dizer ou dizemos sem pensar – demonstram o quanto a linguagem escapa a qualquer controle racional. A linguagem denuncia o tempo todo nossa falha, nossa divisão e faz emergir o inconsciente. Quer dizer, por mais que relutemos em admitir, o inconsciente nos atravessa o tempo todo, ele fala por nós e a revelia de nós, jogando por terra nossa pretensão de ser um in-divíduo (um ser sem divisão). Para usar as palavras de Freud: o eu não é o senhor da nossa casa.
 
Feito este preambulo gostaria de falar sobre o que vou chamar de moda do politicamente correto, um dos modos de tentar dar conta desse mal-estar presente na linguagem. Quando o inconsciente fala, evidenciando nosso equívoco e nossa divisão, a onda politicamente correta vai tentar fazer UM reparando a falha. A tentativa é criar um modo correto, verdadeiro ou universal de melhor dizer alguma coisa, com o objetivo de evitar que o inconsciente apareça e denuncie aquilo que não queremos admitir: o fracasso da linguagem em dar conta do real.
 
O filme Minority Report dirigido por Spielberg, que já se tornou um clássico, é magnífico para retratar esta forma contemporânea que inventamos para lidar com nossos mal-estares. Obviamente que de uma forma mais radical e drástica, a proposta contida no filme é a mesma perseguida pela polícia politicamente correta, a de que seja possível lidar com o erro inventando um modo de evitar que ele aconteça. O filme se passa num futuro próximo no qual seria possível prever e evitar um assassinato antes que ele se consume. O paradoxo é que o sujeito pode ser condenado por um crime que jamais cometeu, porque foi impedido de fazê-lo por uma divisão policial chamada pré-crime. Entretanto, a suposta infalibilidade do sistema autorizaria a condenação do sujeito pela certeza de que ele irá cometê-lo adiante. Resumindo, o sujeito não é condenado pelo seu ato, mas pelo seu desejo. E o filme é brilhante nesse ponto porque está corretíssimo: o que nos põe em perigo, o que nos desconcerta, que nos tira da razão é mesmo o desejo. É o desejo que nos divide e que emerge a revelia do nosso controle. O desejo é o diabo!
 
Não por acaso o lema do pré-crime é: o que nos mantém seguros também nos mantém livres. Tal como no filme nossa sociedade também acredita em tal promessa, de que encontraremos a liberdade quando pudermos nos manter seguros do fracasso, do equívoco e, sobretudo, do desejo. O mundo ideal que buscamos prevê o apagamento ou o controle total do desejo, o que é o mesmo que apagar toda a singularidade e, consequentemente, por fim às diferenças. Visualizamos num mundo de iguais o fim de todo o conflito e a resposta para todas as nossas mazelas.
 
Lacan vai dizer que o homem tenta com a linguagem produzir laço social, e a isso ele chama discurso. O discurso seria, portanto, toda a tentativa que fazemos para recobrir com a linguagem nossa falha fundamental e constitutiva. Em outras palavras, é na medida em que não somos UM (inteiro e perfeito) que precisamos nos relacionar com o OUTRO, fazendo laço, produzindo discurso. 
 
Dentre as formas discursivas trabalhadas por Lacan destacaremos a que ele chama de Discurso Universitário para explicar a moda do politicamente correto. Toda vez que, na tentativa de fazer laço, criamos normas, regras, métodos, receitas e protocolos, estamos fazendo uso do Discurso Universitário. Muito presente no discurso religioso fundamentalista, nos livros de autoajuda, na burocracia, nos preceitos morais, na educação capturada pelos métodos e na ciência dogmática, o Discurso Universitário privilegia os enunciados universais que são criados para que todos sejam tratados de maneira unificada e universalizada, não havendo lugar para as diferenças e as singularidades. O objetivo seria encontrar uma única verdade que se aplique a todos a fim de evitar o mal-estar. 
 
Esta perseguição desenfreada por um ideal de linguagem politicamente correta, livre de qualquer equívoco, é um bom exemplo do uso do Discurso Universitário, que domina muitos grupos que militam em favor das chamadas minorias. A justificativa desses grupos é que determinadas formas de uso da língua são efeito do machismo, do racismo, da homofobia ou de outro tipo de preconceito e por isso devem ser evitadas ou banidas. É óbvio que se estamos numa sociedade machista, racista, homofóbica ou preconceituosa nossa linguagem vai denunciar isso. Mas é exatamente aí que está a beleza do inconsciente. Na medida em que o desejo ali se faz presente, por mais que tentemos poli-lo com a razão, ele sempre escapa e nos denuncia. É o inconsciente que não nos impede de sermos machistas mesmo quando tentamos fazer um discurso contra o machismo, é o inconsciente que não nos impede de sermos homofóbicos mesmo quando estamos fazendo um discurso para condenar a homofobia. É isso meus caros! Não somos unívocos! 
 
Esta semana o jornalista Ricardo Boechat virou notícia ao fazer uma intervenção inflamada contra o Pastor Silas Malafaia e seu já tradicional discurso de ódio contra homossexuais. Em programa ao vivo na rádio BandNewsFM, Boechat notadamente perde a paciência com uma provocação de  Malafaia no tuíter e o aconselha a “procurar uma rola”. 
 
As manifestações na internet foram imediatas e junto com aqueles que “lavaram a alma” com o desabafo do jornalista, tivemos também os que denunciaram a própria fala de Boechat como machista e homofóbica. “Procurar uma rola” foi considerado um comentário tão equivocado quanto a postura tradicional de Malafaia para com os homossexuais. Em seguida vieram as sugestões para banirmos da linguagem comentários e xingamentos deste tipo, que seriam machistas e que provocariam e ofenderiam minorias sexuais.  
 
É neste ponto que, a meu ver, a moral politicamente correta se perde na panaceia do Discurso Universitário. Quando ela tenta, tal como no filme Minority Report, criar um modo de pre-ver e pre-venir o fracasso da linguagem. O equívoco da linguagem é efeito do inconsciente. (Lembrando que o inconsciente não é aquilo que está dentro, mas aquilo que já estava lá antes de nós, o caldo cultural onde fomos mergulhados quando nascemos). Então é ótimo quando podemos escancarar e denunciar um ato falho para dizer da nossa disjunção, dos nossos equívocos. Foi isso exatamente que Freud propôs com a invenção da psicanálise: acessar o inconsciente por meio do equívoco manifesto da nossa linguagem, que aparece nos atos falhos, nos chistes e sonhos, por exemplo. Mas ao contrário do Discurso Universitário – presente nas propostas de terapia comportamental – a psicanálise trabalha pela via do Discurso do Analista. Nesse sentido ela não se dispõe de silenciar ou adestrar o equívoco, mas fazer o sujeito trabalhar no seu processo de subjetivação a partir de seus equívocos. A proposta de Freud seria, então, escutar o equívoco e lhe atribuir valor ao invés de eliminá-lo. 
 
Já proposta do discurso politicamente correto é silenciar e adestrar os equívocos. Na tentativa de evitar o conflito que emerge nessas falhas discursivas, a proposta é apagar as diferenças fazendo com que todos se submetam a um ideal de linguagem único e universal. Diante do insuportável de conviver com o desejo na sua diversidade e singularidade, a saída proposta seria um modelo único de linguagem que nos proteja das nossas diferenças e que evite os conflitos. 
 
Sendo assim, ao invés da tão sonhada liberdade, o que o Discurso Universitário consegue é tão somente inventar regras e modelos que nos aprisionam e endurecem. E como não consegue sucesso em sua proposta que é a de adestrar o desejo, pois que isso é impossível, tal discurso consegue apenas semear o medo do conflito. Sob o jugo do Discurso Universitário temos medo de que tudo o que dissermos se volte contra nós. Resta-nos afastarmos uns dos outros ou escaparmos por uma tendência muito comum nas redes sociais que é a nos relacionar apenas com nossos iguais, com nossos guetos, com nossos partidos, com aqueles que pensam como nós. Vamos progressivamente desaprendendo a lidar com nossos atos falhos e os dos outros, desaprendemos a debater, a discutir e a experienciar o conflito, tão saudável e necessário para o nosso processo de subjetivação. E se não podemos falar a partir de nossas diferenças, nos resta atacar o outro na sua diferença, com ofensas, ameaças ou em ato. Só para exemplificar um ato extremo nesta direção, temos o famoso ataque à sede de Chalie Hebdo por adeptos do fundamentalismo islâmico e cujos atos foram justificados pela insatisfação destes com as charges de humor publicadas no jornal, que teciam críticas às religiões islâmicas. Neste caso, não faltou quem defendesse que o massacre poderia ter sido evitado se os jornalistas tivessem se esquivado do tema espinhoso da crítica ao Islã. O humor é constante alvo da polícia politicamente correta, que sempre cobra dele um limite prévio, como se fosse possível fazer humor sem provocar algum tipo de mal-estar ou mal-entendido. 
 
Por outro lado, podemos sim nos manifestar contra os mal-estares da linguagem. É óbvio que podemos destacar o equívoco na fala de alguém e fazer uma crítica, mas também precisamos estar abertos a escutar quando o outro denuncia nosso equívoco. É claro que podemos achar uma piada de mau gosto, mas também podemos acha-la engraçada e nos interrogar por que ela nos provoca o riso. É claro que podemos optar por excluir um palavrão do nosso vocabulário na medida em que tomamos consciência do seu sentido implícito. É claro que podemos travar um debate cara a cara ou virtual, sempre que nossas diferenças emergirem em nossos discursos, marcados pela singularidade dos nossos desejos. Perante os equívocos da linguagem, entendo que podemos até mesmo acionar a justiça, caso os limites legais compartilhados sejam ultrapassados, por um ou por ambas as partes. O importante é que em todas essas situações partimos do equívoco, para experimentar e elaborar o conflito, para lidar com a diferença, escutá-la, se incomodar com ela e sair de nossa zona de conforto.
 
Mas o que a polícia politicamente correta pretende é tentar evitar o equívoco e o conflito antes que ele aconteça e faz isso às custas da burocratização da linguagem, do empobrecimento dos nossos laços e da chatice generalizada. E aprisionado no Discurso Universitário o inconsciente escapa pela única via que lhe resta, a violência. Esquadrinhada pelo excesso de modelos e regras de como fazer e como dizer, nos tornamos uma sociedade extremamente careta, quadrada, chata ou violenta.
 
Existe antídoto pra isso? Acredito que sim. É a lição freudiana, que é a seguinte: Não há cura para nosso mal-estar, mas por outro lado podemos atenuá-lo por meio das nossas relações com os outros. A lição lacaniana é a mesma, mas dita de outro modo: É importante que não nos aprisionemos em um determinado discurso, a saída é sempre fazê-lo girar. No caso do Discurso Universitário a saída seria dar um passo atrás em direção ao Discurso do Analista. Assim sairíamos do campo do Universal para o campo do singular, do cada um. Dito de outro modo é fundamental considerar que possa existir uma resposta para uma única situação e que não seja uma resposta Universal para todas as situações semelhantes.
 
O caso da “treta” Boechat x Malafaia, vou propor que façamos tal giro discursivo para escapar das concepções universais do que significaria “procurar uma rola” e enxerga-la no seu componente singular. Em se tratando do Malafaia e do discurso de ódio que ele representa e reproduz “procurar uma rola” poderia, sim, lhe fazer um bem enorme. “Procurar uma rola” neste caso em particular, significaria fazer com que o referido pastor se enverede para além de si mesmo, a fim de fazer laço e se permitir ser afetado pelo outro. Afinal, para “procurar rola” para além de si mesmo, é necessário admitir que não se tenha, e ninguém melhor para fazer laço do que aquele que encara sua própria castração, sua limitação. Porque quem aceita sua própria castração aceita a do outro também. 
 
Por fim, oxalá todos nós nos abríssemos para “procurar uma rola” nas nossas relações com os outros ao invés de achar que a possuímos ou que podemos compra-la e fazer uma prótese! Nesses termos, repito o conselho de Boechat: - Malafaia, meu caro, vá “procurar uma rola”! Isso faria muito bem a você assim como pode fazer bem a qualquer um de nós.

(Publicado originalmente no portal Carta Maior)

sábado, 20 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: A "rola" é o de menos... ( ou não?)


A polêmica envolvendo o jornalista Ricardo Boechat e o pastor Silas Malafaia, a julgar pela repercussão que vem alcançando pelas redes sociais, possivelmente, suscitará ainda mais as animosidades e atos de intolerância entre segmentos evangélicos e GLBT. Com um agravante: agora novos atores parecem desejar entrar nessa polêmica. Num momento bastante delicado, quando os atos de vandalismo e intolerância religiosa e de orientação sexual proliferam por todo o país. Ainda ontem foram registrados, em Uberaba, ataques ao túmulo do líder espírita Chico Xavier. A princípio, os comentários do jornalista Ricardo Boechat foram sensatos e coerentes. O que ele havia afirmado - e nisso, com o perdão dos evangélicos, ele tem razão - é que alguns líderes religiosos, com a sua conhecida verve apurada, em seus cultos, ao invés de apaziguarem os rebanhos, estavam contribuindo, isto sim, para incitar o ódio e a intolerância. O que se seguiu depois foi uma sequencia de erros, culminando com a expressão: "vai procurar uma rola, Malafaia". Malafaia é a polêmica em pessoa. Nunca vi alguém gostar tanto de aparecer. Não iria perder a oportunidade de "comentar" as declarações do jornalista Boechat e, de quebra, desafiá-lo para um duelo. Sim. Duelo. Não seria certamente um debate, como aqueles que já ocorrem na Band, a exemplo do Canal Livre. Boechat mordeu a isca. Usou o microfone da emissora para dizer umas verdades sobre esses pastores, algo que milhões de pessoas gostariam de dizer. Daí a enorme repercussão e a sensação de que Boechat "nos representa" ou "nos sentimos aliviados, de alma lavada". E isso não necessariamente pela "rola", mas pelo desvelamento de uma prática de enganação, de utilização da fé alheia, de enriquecimento ilícito. Como disse o jornalista, alguns deles atuam como verdadeiros picaretas mesmo. "Rola" é o que menos importa neste caso. Com o termo, Boechat foi bastante infeliz - apesar dos aplausos - possivelmente abrindo uma polêmica no campo jornalístico onde atua; se indispondo com os grupos GLBT que consideraram vulgar e inadequado o termo; além de apimentar o "duelo" com o Silas Malafaia. Agora a "guerra santa" ou "fogueira do inferno" ganhou alguns ingredientes novos, num momento, repito, bastante crucial.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Tijolinho do Jolugue: Atentado contra Ed Soares é um atentado contra a blogosfera e a liberdade de expressão.


Pernambuco é um Estado que ainda possui alguns focos de crimes de pistolagem, sobretudo em regiões do interior do Estado ou fronteiriças. Recentemente foram a julgamento - e, finalmente, condenados - os assassinos do advogado e militante dos direitos humanos, Manuel Mattos, brutalmente assassinado, numa residência de veraneio, na praia de Pitimbu, já no Estado da Paraíba. Manuel Mattos denunciava os crimes de pistolagem que ocorriam na região fronteiriça entre os Estados de Pernambuco e da Paraíba, uma região conhecida como fronteira do medo. Ali, a violência tornou-se tão banalizada, que alguém poderia encomendar a morte de outra pessoa por apenas R$ 50.00. Certamente, isso se constitui num dos "gargalos" do Pacto pela Vida, uma vez que joga para cima as estatísticas de crimes de homicídios por causas violentas.  
Se estamos falando de Goiana, Itambé - Mata Norte, portanto - a região da Mata Sul também não fica atrás na ocorrência desses crimes de pistolagem. Fomos surpreendidos com o atentado ao blogueiro Ed Soares, que atuava na cidade de Barreiros. Ed mantinha uma atuação bastante contundente no sentido de denunciar os crimes da administração pública. Ele foi vítima de um atentado quando regressava à sua residência. Há vários indícios que apontam para um crime de pistolagem. Há alguns anos atrás, um outro blogueiro foi morto no Estado do Maranhão. Uma das primeiras peças investigativas da polícia foram as suas postagens. Queriam saber quem havia sido atingido por suas denúncias e que, supostamente, teriam interesse em assassiná-lo. Os executores do crime teriam sido presos e condenados, mas os mandantes continuam impunes, numa evidência inequívoca de que a justiça neste país só funciona para alguns.  

Depois se descobriu que Décio Sá sabia demais. Poderia ter sido morto apenas porque detinha informações valiosas. De posse de uma agenda pessoal, a Polícia Civil do Estado do Maranhão, logo em seguida, desencadeou uma operação que resultou na prisão de várias pessoas, entre políticos, agiotas e empresários. Alguns deles ocupando cargos públicos. E havia quem jurasse que ele havia sido morto em razão das denúncias sobre as putarias dos políticos do Estado com garotas de programa do Estado vizinho do Piauí. Putarias financiadas com dinheiro público, registre-se. Comenta-se que o estado de saúde de Ed Soares é bastante grave. A propósito, cadê a sua agenda? Consideramos o atentado contra Ed Soares como um atentado à blogosfera. Um atentado contra a liberdade de expressão e o direito inalienável do cidadão em fiscalizar as ações do poder público. A esfera pública no nosso Estado tornou-se algo efêmero, posto que dominada por grupos e oligarquias guiadas unicamente por interesses comezinhos, dispostas a tudo para apear os desafetos. Esse é o tipo de postagem que segue direto para a entidade que nos solicitou informações sobre o Pacto Pela Vida. Não adianta rastrear o meu e-mail, como fiquei sabendo que o fazem, porque eu tenho para mais de 10, um para cada finalidade específica. Ah! já ia esquecendo: E algumas agendas pessoais também. 


O xadrez político das eleições municipais de 2016 no Recife: De como Olinda pode interferir nas eleições do Recife




A partir de hoje e pelos próximos meses, estaremos dando início a uma série de artigos sobre as eleições municipais do Recife, em 2016. Os atores políticos já iniciaram uma intensa movimentação neste sentido e convém acompanhá-los, para não perdermos os lances principais desse xadrez político. Fizemos esse exercício nas eleições passadas, onde uma série de 30 artigos foram produzidos sobre o assunto, numa média de um a cada semana. Este ano, teremos alguns ingredientes novos, como a ausência do ex-governador Eduardo Campos, uma peça chave nos rumos daquelas eleições. Um outro fato que deve mexer bastante no tabuleiro político do Recife são as eleições de Olinda, que podem provocar algumas indisposições entre os atores da Frente Popular, principalmente entre os grêmios PSB e PCdoB. 

Naquelas eleições, as de 2012, as relações entre esses dois partidos estavam muito bem resolvidas. Num momento de dificuldade da candidatura de Renildo Calheiros​ (PCdoB), o próprio Eduardo Campos foi até a Marim dos Caetés para apoiar o aliado. Há muito tempo a relação entre os dois partidos já passou da fase do só vou se você for. Como afirmei no dia de ontem, as ações do PCdoB hoje são orientadas exclusivamente pelo mais puro pragmatismo. Portanto, eles não terão o menor pudor em chutar o tabuleiro. Luciana Santos já aparece sorridente em outdoors, informando-se tratar-se da primeira mulher a presidir o Partido Comunista do Brasil. Olha o simbolismo, gente. Agrava o quadro o esboço de uma possível candidatura do escritor Antonio Campos, irmão do ex-governador, à Prefeitura daquela cidade. Ele nega, mas, a cada negativa, fica mais evidente sua intenção de disputar aquele pleito. 

Confirmada sua entrada no pleito, possivelmente o município terá uma das disputas das mais renhidas. Não necessariamente pelo capital político de Antonio Campos - um escriba nunca testado nas urnas -mas, sobretudo, em razão do desarranjo que ele poderá proporcionar na correlação de forças locais, a partir de acordos mantidos - e até então preservados - que colocam a cidade como reduto dos comunistas. Ontem, os tucanos de alta plumagem do Estado deliberaram por uma provável candidatura de Daniel Coelho (PSDB) à Prefeitura do Recife, nas eleições de 2016. Construir consensos em política é uma coisa bastante complicada, mas, aparentemente, pode-se afirmar que as arestas estão temporariamente aparadas no ninho tucano. 

O PT ainda não curou-se de sua "ressaca". Isso leva anos. As ações orquestradas pelo ex-governador Eduardo Campos em relação ao partido conseguiu a proeza de fragilizar bastante a agremiação no Estado. Matreiramente, Eduardo deu corda para que o partido se enforcasse, salvando, naturalmente, umas boas fatias de queijo do reino. O partido está com o prestígio mais baixo do que poleiro de pato em Pernambuco. As sondagens sobre os possíveis cargos federais a serem ocupados pelos ex-parlamentares da legenda continuam nas gavetas do Palácio do Planalto ou sob os auspícios da ABIN. Adormecem nos gabinete de Brasília.

O partido enfrentará alguns problemas estruturais nas próximas eleições municipais. Ainda não foi calculado, mas, certamente, o chamado "efeito coxinha" deverá pesar nas próximas eleições, sobretudo nos perímetros urbanos, onde a classe média faz um barulho enorme. A rejeição ao partido é grande entre alguns estratos sociais. Um outro aspecto diz respeito às dificuldades de ampliar ou mesmo manter algumas políticas sociais inclusiva em áreas estratégicas, em razão da crise econômica. Crise econômica que, inclusive, vem obrigando o governo Dilma a investir contra conquistas da classe trabalhadora, uma outro foco de problemas. Não sei se a nossa economia se recupera até outubro, mas alguns analistas juram que não. 

Pelas últimas pesquisas, a erosão do capital político do PT chega a 12% da população, apesar de todo massacre da mídia. Este número cai para 8% aqui na região Nordeste, ainda o maior reduto eleitoral da legenda. A questão é saber para quem o PT irá falar nas próximas eleições, frente ao quadro esquizofrênico em que se transformou esse segundo mandato de Dilma Rousseff. Quando deveria se aproximar, o partido se afasta de suas tradicionais bases de apoio no movimento social. Em seu último Congresso, os mais radicais foram obrigados a engolir goela a dentro o receituário proposto por Joaquim Levi, o ministro da Fazenda. Certamente muito longe de suas históricas aspirações. Em resumo, o s militantes e o partido, oficialmente,  se veem na contingência de apoiar um governo que não seria o seu.  

Esse cenário econômico adverso, portanto, terá reflexos nas próximas eleições municipais, atingindo, sobremaneira, o Partido dos Trabalhadores. Um atenuante é que o eleitorado costuma observar as eleições do município com um foco bastante localizado. Mas, mesmo assim, o PT não deixou um bom legado quando passou pelo Palácio Antonio Farias. João da Costa saiu da Prefeitura do Recife com uma avaliação nada alvissareira. João Paulo, por sua vez, seu padrinho político, herdou parte deste espólio negativo. Os petistas mais otimistas asseguram que ainda é expressivo o capital político de João Paulo. Por inúmeras razões, tenho lá minhas reservas.  

A gestão de Geraldo Júlio só vai bem mesmo nas pesquisas de avaliação de gestão, realizadas pelos grandes jornalecos.  Basta ver a reação da população a essas pesquisas, quando elas são publicadas nas redes sociais. Como gestão municipal é "cotidiano", proliferam exemplos nas redes sociais de obras inacabadas, promessas não cumpridas, comprometimento da gestão com o capital (caso do Projeto Novo Recife), mobilidade urbana caótica, descaso com o meio ambiente etc. Não vai muito bem a gestão de Geraldo Júlio. Criou-se uma grande expectativa em torno de sua gestão e os resultados não corresponderam às expectativas criadas. Hoje ele se apressa para entregar algumas obras, para ter o que mostrar nos guias eleitorais, credenciando-se a um segundo mandato. Se tivermos uma oposição competente, ele não se reelege. Mas, como a nossa oposição não é necessariamente competente, essa possibilidade até existe.