pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : setembro 2015
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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Polícia Federal encontra irregularidades envolvendo o leilão que vendeu o terreno do Cais José Estelita




A Polícia Federal realiza uma operação de busca e apreensão na sede da empresa Novo Recife Empreendimentos Ltda. A operação ocorre em razão da suspeita de fraude no leilão de arrematação do terreno do Cais José Estelita, que pertencia à Rede Ferroviária Federal. É bom que se diga que sempre especulou-se bastante sobre as irregularidades nesse leilão. Além dos valores pagos - 10 milhões abaixo do valor de mercado do terreno - há a suspeita de informações privilegiadas, favorecimento de grupos, quiçá envolvendo alguns agentes públicos. 

Há alguns equívocos graves com as políticas de intervenções urbanos no Recife, independentemente dos partidos que passaram pelo Palácio Antonio Farias. Essas políticas de intervenções urbanas - tratadas por alguns como de caráter higienista - talvez tenham sido plantadas lá pela década de 40, em plena vigência do Estado Novo, quando o então interventor, Agamenon Magalhães, manifestava sua indisposição como os mocambos e palafitas dos bairros alagados do Recife. Isso é apenas uma suposição, merecedora de uma fundamentação científica, mas vale a linha de investigação. 

Já se discutiu bastante aqui sobre o caráter segregacionista dessas intervenções, colocando a cidade como um espaço limitado apenas a alguns grupos sociais privilegiados, isolando outros da possibilidade de usufruir dele. Se confirmadas as suspeitas da Polícia Federal sobre as supostas irregularidades envolvendo o leilão daquele terreno, estamos diante de uma assombrosa conspiração do capital - que já dita as regras de intervenções urbanas no Recife - e, pelo visto, não o faz, sequer, de forma lícita, consoante as leis vigentes. 

Tijolinho do Jolugue: Reforma Ministerial: Governo de coalizão peemedebista




A articulação política do Governo Dilma Rousseff sempre representou uma grande dor de cabeça para os seus aliados. Um dos atores políticos mais preocupados com o assunto é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, recentemente, teve uma longa conversa com ela, tratando dessa questão. Um pouco do resultado dessa longa conversa tivemos hoje, com o anúncio dos novos nomes da reforma ministerial. Em certo sentido, essa reforma ministerial é uma grande roubada. Na realidade, o PMDB "ocupou" o Governo. Depois, seus caciques se reunirão e vão pensar se vale a pena ou não tomá-lo de uma vez, através de um possível pedido de impeachment, como bem informou o jornalista Josias de Sousa. 

Sei que os petistas o abominam - ele também não deixa por menos - mas, noves fora sua linha anti-petista, neste caso em particular, faz algum sentido as suas observações. São 07 ministérios a serem ocupados pelo partido, inclusive o Ministério da Saúde, uma pasta que sempre foi motivo da cobiça daqueles vestais. "Aquele" Governo Dilma descaracterizou-se completamente, em razão das injunções políticas e econômicas. Essa é uma dura realidade, mas é a realidade. Faz pouco tempo, um cara com a inteligência de Roberto Mangabeira Unger entregou o cargo de ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que ficaria responsável pelo programa Brasil, Pátria Educadora. 

Agora vem a notícia de que o filósofo Renato Janine Ribeiro, que atualmente responde pelo Ministério da Educação, deverá deixar a pasta, que poderá ser reassumida por Aloizio Mercadante, que se despede da Casa Civil. É preciso avaliar um pouco melhor isso, mas Aloizio Mercadante estava se transformando num grande embaraço dentro do Governo Dilma. Lula pedia a sua cabeça já fazia algum tempo. Está sendo indicado para a articulação política o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, homem de confiança do ex-presidente Lula. 

Dizem que um bom nome para a articulação, um grande gargalo do Governo Dilma. Jacques deixa a pasta da Defesa, que deverá ser ocupado pelo "comunista" Aldo Rebelo. Noutros tempos, um comunista na pasta da Defesa poderia suscitar um grande debate. Hoje, no entanto, com os comunistas que nós temos, isso não significa muita coisa. Dilma também convidou ao Planalto os três governadores do PSB. Embora seus dirigentes tenham dado indicações de que apoiariam um possível pedido de impeachment da presidente, os governadores da legenda pediram moderação sobre o assunto. A presidente pretende oferecer a pasta da Ciência e Tecnologia aos socialistas, que ficou vaga com a saída de Aldo Rebelo.

Tijolinho do Jolugue: Por que eles estão deixando o PT?

 
 
Alguém já abordou este assunto aqui pelas redes sociais, mas penso que ele pode ser melhor explorado. Para nós, movidos por uma preocupação científica, estamos tentando esquadrinhar as reais motivações dessa revoada de quadros da legenda, sem, contudo, embarcar em argumentações frágeis ou inconsistentes daqueles que saem, tampouco os amuos daqueles que ficam. O primeiro fato curioso é que o partido tem um histórico de expulsão e não de auto exclusão. Por decisão tomada pelas instâncias partidárias, até mesmo Tendências já foram expulsas da agremiação, por defenderem posições que iam de encontro ao processo de institucionalização da legenda, que permitiu ao partido chegar ao Palácio do Planalto. 

A Convergência Socialista, por seu turno, fundou uma nova agremiação partidária, o PSTU, até hoje um partido pouco afeito às políticas de alianças. Com a saída do vereador do Recife, Luiz Eustáquio​, para filiar-se à Rede, já são quatro o número de integrantes do partido que largaram a legenda: Luciano Cartaxo, prefeito de João Pessoa, que filiou-se ao PSD; a ex-ministra da Cultura, Marta Suplicy, que no último domingo filiou-se ao PMDB e o Deputado Federal, Alessandro Malon, figura de proa da legenda no Rio de Janeiro, que ocupava uma das vice-lideranças do partido na Câmara Federal. 

Aqui pela província, dizem, a desfiliação do vereador Luiz Eustáquio não teria surpreendido muita gente dentro do partido. É como se ele já se sentisse desconfortável com a legenda. Sobre Marta e Cartaxo, já comentamos o assuntos em diversos momentos, traduzindo, em última análise, uma observação do dirigente Rui Falcão, argumentando que, quem deixa o partido, o faz por puro oportunismo. O caso de Luiz Eustáquio é recente, nos aconselhando a uma moderação sobre o assunto, mas, no caso de Marta e Cartaxo, faz sentido a observação de Rui Falcão. 

Desse grupo, o único que nos suscitou uma certa preocupação com os argumentos foi Alessandro Malon. Malon lembra as teses defendidas pelo partido no seu 5º Congresso, realizados em Salvador, além de uma política de subordinação da legenda ao PMDB, o que vem contribuindo para a erosão programática e de imagem do partido. Malon fala isso no plano nacional, mas, segundo dizem, no caso do Rio de Janeiro, o quadro é ainda mais grave. o PT tornou-se uma sublegenda do PMDB. Em alguns casos, seria mesmo salutar que alguns membros deixassem a legenda. Certamente não fariam falta. Em outros casos, quando os argumentos são consistentes, merecem um aprofundamento sobre as causas que estão levando alguns integrantes a largarem a legenda. Salvo algumas exceções, os quadros que estão saindo ainda não nos remetem a uma investigação do fenômeno. Vamos aguardar mais um pouco. 

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Michel Zaidan Filho: A doença, o doente e o termômetro.


 
Uma das inversões patológicas mais conhecidas é aquela onde o doente - muito enfermo - se vinga da doença, quebrando o termômetro ou investindo contra o diagnóstico ou o médico. Naturalmente o médico, o termômetro ou o diagnóstico não pode ser responsabilizado pela enfermidade do doente. Mas ele se ilude (ou pretende iludir a outros) de que não está doente, tão mal assim, e que é tudo culpa da Medicina, de seus profissionais ou dos exames clínicos. Esse desvio de percepção parece caracterizar a atitude de certos gestores, quando recebem críticas à sua gestão. Ao invés de ter a humildade de reconhecer as dificuldades, os problemas e procurar consertá-los, na medida do possível, investe contra o diagnóstico de sua gestão, com medidas administrativas ou judiciais. 
É o caso de uma curiosa inversão: a autoridade pública, escolhida para gerir recursos públicos tendo em vista atender as inúmeras carências da sociedade, conforme promessas feitas em praça pública durante a campanha eleitoral, acha que não deve mais nenhuma satisfação  aos seus eleitores e concidadãos. Sua comunicação com a sociedade é a propaganda institucional ou os sofismas,a que se entrega, quando tem de responder a perguntas incômodas feitas pela imprensa.
Melhor fariam esses gestores se, ao invés de quererem intimidar seus críticos com pedidos de interpelação judicial sobre as críticas a eles destinadas, atacassem os inúmeros problemas que afligem à população. Exemplo: pagar o aluguel dos imóveis onde funcionam as escolas públicas. Pagar a fabulosa dívida com os fornecedores e prestadores de serviço ao Estado, que inviabiliza a Saúde Pública, o funcionamento dos hospitais, postos de saúde etc. Resolver o problema das merendas escolares do Ginásio Pernambucano. Cuidar dos cadáveres abandonados na IML. Remunerar condignamente os professores e servidores da educação estadual. 
Estancar o processo de demissão dos médicos nas UPAs , por falta de pagamento e condições de trabalho. E explicar convincentemente na Corte interamericana da OEA a mortandade e as rebeliões no sistema penitenciário que leva, aliás, o nome do santo. Isso sim seria a atitude mais responsável, madura e correta de um gestor que se elegeu pela mão do outro e a primeira medida que tomou foi anunciar, candidamente, um rombo de 8 bilhões nas contas publicas!
Será que ninguém disse a esses gestores que déficit público não se resolve com aumento de impostos, corte de salários  e falta de investimentos? - Num contexto de retração econômica, alta de juros, desemprego e queda da renda do trabalho, mais impostos só aumentam a recessão e a queda da arrecadação? - O problema do déficit público só se resolve com cortes na própria carne (andar de avião, por exemplo) e com o aumento da atividade econômica. Não se aumenta a arrecadação apenas com aumento de impostos, mais inflação e mais recessão. Aumenta-se o confisco, a expropriação da limitada capacidade contributiva do cidadão e da cidadã. Esse fundamentalismo fiscal - aprovado com pequenas ressalvas pela bovina maioria governista - só impõe mais sacrifícios à população e não vai resolver o problema de caixa do governo.
Ao invés de combater os sintomas da doença, o governo do senhor Paulo Saraiva Câmara devia fazer uma" mea culpa" dos inúmeros erros cometidos, ao invés de investir contra os críticos de sua administração.
Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

Tijolinho do Jolugue: Caruaru volta a ser palco de disputas renhidas entre Lyras e Queiroz.


 

Caruaru integra o chamado "Triângulo das Bermudas" do Estado, ou seja, um conjunto de cidades que podem definir o rumo de uma eleição, dada a sua condição estratégica, como a "capital" de uma região, o Agreste. Inclusive as eleições nacionais passam por essas cidades, contando sempre com a presença dos candidatos, assim como tornam-se fulcro das preocupações dos estrategistas de campanha. Já faz algum tempo, uma velha raposa política local, acredito que Drayton Nejaim,para definir o embate que mantinha em lados opostos as famílias Lyra e Queiroz, dizia que ali ou se era charque ou se era carne-de-sol. Na realidade, salvo melhor juízo, esses dois grupos políticos são "descendentes" do grupo liderado por Drayton Nejaim.

Hoje, o cardápio já está bastante variado, com forças políticas adversárias esquecendo suas diferenças, optando por um filé de bode no Alto do Moura, com a presença dos Lacerdas, dos Gomes e outros troncos familiares ascendentes. As famílias que polarizaram no passado as disputas políticas locais já estiveram juntas em algumas eleições, festejando seus êxitos na Fazenda Macambira, um verdadeiro termômetro político do Estado, nos festejos juninos. Pois muito bem. As eleições de 2016, entretanto, prometem ser uma das mais renhidas no município, possivelmente colocando em lados opostos os dois grupos políticos rivais, além de outras forças políticas emergentes. 

José Queiroz(PDT), prefeito do município, mantém ótimas relações com o Palácio do Campo das Princesas - porque não dizê-lo, leia-se família Campos. É uma relação antiga. Queiroz emprestou apoio irrestrito ao ex-governador Eduardo Campos e deste recebeu tratamento vip até quando ele ocupava o Palácio do Campo das Princesas. Nas últimas eleições para o Governo do Estado, Paulo Câmara e Fernando Bezerra Coelho obtiveram aproximadamente 76% dos votos no município. A relação com João Lyra Neto, entretanto, não foi das melhores. Segundo comenta-se nos bastidores, vários pleitos do município não foram atendidos. 

Os Lyras, por sua vez, desejam que a deputada estadual, Raquel Lyra seja candidata a prefeita do município, de preferência com o apoio do atual prefeito. No momento em que José Queiroz entabula conversas com o atual governador do Estado, João Câmara, João Lyra Neto, segundo dizem, estaria mantendo conversações com os tucanos. João não abre mão da candidatura da filha, o que significa dizer que o impasse está posto, uma vez que José Queiroz não cogita em apoiar o nome indicado pelos Lyras. Segundo informações que nos chegam agora, os Lyras estão praticamente fechados com o PSDB.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: No país do hímen complacente, Marta Suplicy se esforça para superar Jânio Quadros.





Parece são haver dúvidas de que o ex-presidente Jânio Quadros foi o responsável pelas maiores contribuições ao folclore político brasileiro. Impagáveis as suas tiradas; suas respostas contundentes aos adversários, durante debates memoráveis; seus discursos demolidores; seus símbolos, como os paletós cheios de "caspas", a vassoura para varrer a corrupção do país, assim como a chuteira pendurada na porta do gabinete, anunciando o outono de sua carreira política, quando ainda era prefeito de São Paulo. Penso que ninguém tira esse título de Jânio,mas, por outro lado, não se pode negar que a ex-ministra da Cultura, Marta Suplicy, vem se esforçando bastante para isso. 

Num único ato de filiação partidária - Marta filiou-se ao PMDB - a senhora protagonizou algumas cenas hilariantes. As suas declarações também não ficaram atrás. É preciso tomar alguns cuidados com esta cidadã porque ela perdeu completamente o "eixo". Juntou-se à escória política do país, argumentando que não mais suportava o suposto envolvimento do PT nos casos de corrupção. Não vamos citar nomes, mas os leitores que acompanharam as fotos publicadas no ato de sua filiação, certamente, sabe quem estava ali presente, de mãos dadas com a nova filiada. Não eram os vestais da política nacional. 

Marta venceu muitos embates internos dentro do PT.Sua postulação à candidata à prefeita de São Paulo, nas eleições municipais de 2012, era tida como certa. Lula é que deu uma carteirada oligárquica e impôs o nome de Fernando Haddad. Sinceramente, não acho que Marta poderia fazer uma gestão melhor do que a que está sendo realizada pelo prefeito Fernando Haddad. Em todo caso, entendemos seus ressentimentos com a cúpula paulista da legenda, que aceitou pacificamente que a senhora Marta Suplicy fosse rifada naquela ocasião. É certo, entretanto, que a democracia petista, ao longo dos seus anos de militância, também lhes facultou inúmeras vitória em alguns pleitos. Sem falar na força da militância partidária, fundamental para ela vencer alguns embates nas urnas.

Entendo que os mecanismos de consultas internas do PT estão se deteriorando ao longo dos anos, mas alguns setores do partido ainda o mantém vivo. O PMDB, Marta, não possui esses expedientes de democracia interna. Realmente não sei de onde você tirou essa sandice de que o PMDB é um partido democrático. O que esse partido conhece bem, dona Marta, é de fisiologismo, de barganhas, de chantagens e coisas afins. Nesse ritmo, não duvido que você possa superar o ex-presidente Jânio Quadros, que dizia que o Brasil era um hímen complacente. Como ele tinha razão, Marta. Você jogou toda uma biografia política pela janela, em nome do oportunismo de uma candidatura que ainda precisa ser decidida pelos caciques da legenda. Não sei se você deixou cair alguma máscara. Talvez você sempre tenha sido isso mesmo e conseguiu disfarçar muito bem. Uma outra coisa, diferente do que ocorre com o hímen da Jânio, os leitores não costumam ser complacentes com traidores.   

Tijolinho do Jolugue: Paulo Câmara como vice de Aécio Neves? Não sei não...


Está repercutindo bastante aqui pelas redes sociais uma notícia publicada originalmente pela coluna do jornalista Cláudio Humberto, reproduzida pelo Jornal do Commércio, informando sobre a articulação de uma chapa presidencial, encabeçada pelo tucano Aécio Neves(PSDB), tendo como vice o governador de pernambuco, Paulo Câmara(PSB). Esse é o tipo de notícia que precisa ser muito bem analisada. Embora seja um cidadão muito bem-informado, a credibilidade do senhor Cláudio Humberto já esteve melhor. A articulação entre PSDB/PSB não causa estranheza a ninguém. 

Este link, aberto pelo ex-governador Eduardo Campos, vem se aprofundando ao longo dos anos. Nas eleições presidenciais passadas, caso ainda estivesse vivo, havia algumas dúvidas sobre quem o ex-governador apoiaria num segundo turno entre Aécio Neves(PSDB) e Dilma Rousseff(PT). A recepção dada ao senador mineiro aqui na província, pelos dirigentes do PSB e pela família de Eduardo Campos, dissiparam todas as dúvidas. Aqui no Estado, sobretudo em relação às eleições municipais de 2016, no Recife, existem algumas arestas pontuais, mas, num contexto mais amplo, a relação entre os dois grêmios partidários é a melhor possível. A pombinha do PSB, definitivamente, cresceu o bico. A decisão dos socialistas em apoiarem um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma não permitem dúvidas sobre o assunto.

Agora, se considerarmos os atores políticos em campo, as coisas mudam substantivamente de configuração. Primeiro porque a prevalência de Aécio Neves no sentido de disputar as próximas eleições presidenciais não é prego batido e ponta virada no ninho tucano. Há setores do partido que, inclusive, advogam a manutenção das regras do jogo democrático exatamente prevendo dar uma rasteira interna no candidato nas próximas eleições presidenciais. 

Depois, não vejo como o nosso governador, Paulo Câmara, possua a capilaridade política suficiente para um pleito dessa natureza. Quem estaria "bancando" essa indicação? a esposa do ex-governador? o escritor Antonio Campos? a direção nacional da legenda socialista, cujas relações com os socialistas da província não são das melhores? São questões que precisam ser respondidas, antes de admitirmos como procedente essa informação. A notícia está parecendo mais uma barriga de segunda-feira.   

domingo, 27 de setembro de 2015

Por que a nova estratégia política de Marta vai dar errado.

Por que a nova estratégia política de Marta vai dar errado

Por adminsetembro 27, 2015 12:05
Por que a nova estratégia política de Marta vai dar errado
martapmdb
Política tem lógica, a despeito de alguns acharem, como alguns boleiros, que é “uma caixinha de surpresas”. Isso não significa que vez por outra aconteça algo muito surpreendente. Mas é raro, raríssimo.
Marta Suplicy saiu do PT atirando no partido como poucos.
Marta Suplicy saiu esculhambando seus ex-companheiros como poucos.
A senadora imagina que com isso pode vir a conquistar uma fatia cada vez maior de anti-petistas paulistanos.
E com isso empinar sua candidatura para prefeita de São Paulo.
Mas isso é tão difícil de acontecer como Eduardo Cunha desembarcar do golpe.
E só vai fazer com que Marta jogue fora boa parte do seu capital político.
Marta fez um grande governo em São Paulo. E não foi reeleita muito menos por conta do PT e muito mais por conta da sua alta rejeição pessoal e de suas opções táticas.
Naqueles tempos, Marta não elogiava Sarney e Eduardo Cunha. E se negou a fazer uma coligação com o PMDB que exigia ter o cargo de vice na sua chapa da reeleição. Preferiu sair em chapa pura, com o atual presidente do PT, Rui Falcão, de vice. Porque mirava ser candidata a governadora no meio do mandato.
Marta abriu mão do tempo que o PMDB lhe daria porque considerava o partido fisiológico. E isso foi um dos motivos que lhe levaram a perder a eleição.
Marta dos tempos do PT não abria mão de fazer investimentos na periferia e confrontava sua classe social, batendo boca em vários lugares com aqueles que a criticavam por fazer CEUs, por exemplo.
Até por isso, pessoalmente Marta foi muito mais rejeitada do que Haddad pela classe média paulistana nos seus tempos de prefeita.
Essas pessoas não vão votar em Marta de novo. Nem elas e nem seus filhos.
Esses paulistanos vão escolher no primeiro turno qualquer outro candidato. Não vão votar nela e muito dificilmente votarão em Haddad.
E na periferia Marta vai ter que convencer seus antigos eleitores que não mudou. Que continua a mesma que fez um grande governo. E que defendia a periferia.
A questão é que a ex-prefeita terá milhares de pessoas que hoje consideram Marta uma traidora com t maiúsculo e que farão o que for necessário para dar o troco a ela.
E sem lideranças para reverberar suas mensagens na periferia, Marta será uma candidata com pés de barro. Não com os pés no barro.
Ou seja, quando foi candidata à reeleição Marta errou por esbanjar o PMDB e deu de barato que não precisava daquele partidinho (sim, Marta despreza o PMDB) para derrotar Serra.
Agora, ela vai para o PMDB, chama Sarney de grande líder, afaga Eduardo Cunha, defende o impeachment de Dilma e dá de barato que não precisará nunca mais do PT e dos seus eleitores.
Não tem como dar certo.
Marta vai ficar no primeiro turno.
E na próxima eleição este blogueiro não se surpreenderá se ao invés de disputar o Senado ela vier se conformar com uma candidatura para deputada federal.
O povo aceita que as pessoas mudem de partido, mas não costuma perdoar quem muda de lado.

(Publicado originalmente no blog do Rovai, Revista Fórum)

Editorial: Em tempos de crise, o descontrole das ações do aparelho de segurança do Estado.




Estamos bastante preocupado com os rumos dos acontecimentos no país. Crescem as atitudes de arbítrio e intolerância, algumas delas com o concurso do próprio aparelho de Estado. No Rio de Janeiro, por exemplo, vem ocorrendo uma espécie de criminalização da pobreza. Os negros pobres da periferia estão proibidos de frequentarem as praias dos bacanas. Rio de Janeiro e Pernambuco, aliás, se tornaram fulcro de nossas preocupações quando o assunto é violência. Durante as chamadas "Jornadas de Junho' esses dois Estados se notabilizaram pelos "excessos" no enfrentamento das manifestações de rua. Desde então, passamos a monitorar o que ocorre em termos de violência nesses Estados. 

Na semana passada, a leniência - quiçá conivência fosse o termo mais adequado - proporcionou cenas de barbárie, quando jovens da classe média passaram a agredir adolescentes negros que se dirigiam às praias cariocas. As ações da polícia carioca simplesmente interditam esse acesso, numa atitude que fere os direitos constitucionais do cidadão, inclusive no que concerne à presunção do ilícito, algo, definitivamente, incorporado às ações da polícia do Estado do Rio de Janeiro. 

Ontem, uma declaração de um comandante da Polícia Militar do Estado do Ceará, reproduzida pelo jornal O Povo, foi, no mínimo, muito infeliz. Que a população civil pode contribuir para evitar os altos índices de violência é algo admissível e até salutar, uma vez, neste caso, todos os agentes sociais devem estar envolvidos. O problema foi sua infeliz declaração sobre esse pedido de "ajuda", numa espécie de salvo conduto para os "justiçamentos". Vocês podem imaginar as consequências disso? Por falar em justiçamentos, eles continuam ocorrendo em todo o Brasil, assim como atos violentos movidos por preconceitos, atingindo, sobremaneira, os estratos populacionais não blindados, a exemplo de negros, gays, prostitutas e similares. Ainda ontem duas jovens dadas como desaparecidas, no Estado do Pará, foram encontradas mortas, com requintes de crueldades. Ambas mantinham uma relação homoafetiva. 

O pior é que, diante da crise de financiamento do Estado, não se vislumbra soluções para o problema a curto prazo. O Estado de Pernambuco é um bom exemplo disso. Uma polícia judiciária desaparelhada; com seus membros desmotivados; com carência de quadros; sem perspectivas de recomposição do seu efetivo - em razão da inviabilidade de novos concursos - e com os salários bastante defasados. Mas esse quadro não é privilégio do nosso Estado. Com menor ou maior agravante, isso se repete em todo o país. Enquanto isso, eles batem cabeça, adotando medidas punitivas radicais a quem se insurge contra esses desmandos, como ocorreu recentemente com o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de PE.   

Tijolinho do Jolugue: O que sabe Pedro Correia Neto?


É quase certo que as negociações de um acordo de delação premiada proposto pelo ex-deputado Pedro Correia Neto seja aceito pela Justiça. Há uma grande expectativa sobre o assunto, com alguns veículos de comunicação conhecidos já antecipando o provável teor desse depoimento, sugerindo que ele envolveria o presidente o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff na Operação Lava Jato. Não há a menor dúvida de que Pedro Correia deve conhecer, com riqueza de detalhes, os esquemas de corrupção da República. Era um homem da linha de frente, um articulador privilegiado. 

Médico por formação, Pedro é oriundo de uma família tradicional e rica aqui do Estado de Pernambuco. Membro de um partido eminentemente fisiologista, o PP, não se conhece um grande escândalo nacional, com ramificação em Pernambuco, onde o seu nome não esteja envolvido. A prisão, com a sua idade avançada, deve estar causando um profundo mal-estar a ele e à sua família. Num dos últimos depoimentos à Justiça do Paraná, ele isentou os familiares em qualquer envolvimento nos casos em que estão sendo acusados, assumindo para si todas as responsabilidades sobre os possíveis delitos. A tendência é que ele, de fato, abra o jogo sobre o que sabe. E, como já afirmamos, deve saber de muita coisa, dada a sua condição de um ator privilegiado dos estertores da política nacional. Vamos aguardar. 

sábado, 26 de setembro de 2015

Tijolinho do Jolugue: Melhore seus argumentos, senhora Marta Suplicy




Existem alguns adjetivos que poderíamos ser usados em relação à ex-ministra Marta Suplicy, sem corrermos o risco de sofrermos um processo judicial, posto que as últimas instâncias de nossa justiça já teriam julgado tais adjetivos como de caráter não ofensivo. Mas não vamos fazer uso desses adjetivos, em razão deles não se adequarem à nossa linha editorial. Para o comum dos mortais, uma das piores coisas é o cidadão perder o "eixo". Para os políticos, então, uma verdadeira tragédia.É esta a situação em que se encontra a ex-ministra da Cultura, Marta Suplicy. Com a sua candidatura à Prefeitura de São Paulo, em 2012, rifada pelos caciques do PT, Marta nunca mais assimilou a legenda. 

Quando deixou o Governo Dilma, já saiu atirando, através de uma carta de demissão que parecia mais um manifesto anti-PT. Sua guinada conservadora, possivelmente, não surpreende a muita gente. O que talvez surpreenda mesmo seja as razões alegadas pela ex-ministra para deixar a legenda e procurar abrigo justamente no PMDB. Marta alega que está cansada das denúncias de envolvimento do partido com os casos de corrupção. Até parece que o pessoal do PMDB está fora disso. Um outro argumento da ex-ministra é que o PMDB é um partido democrático. Será, Dona Marta? Garanto a você que mais do que o PT - a despeito de todos os problemas - ele não é. É comum as pessoas se desligaram do partido com esses argumentos inconsistentes e depois se arrependerem. Neste caso, senhora Marta Suplicy, seria mais interessante melhorar os seus argumentos.   

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

UFRN: O concurso de Ciência Política e a miséria do Homos Academicus


Por Alyson Freire e Carlos Eduardo Freitas
imagesOs concursos para a universidade transformam-se, muitas vezes, em profundas fontes de mal-estar institucional e pessoal. As realidades políticas de alguns departamentos convertem o que deveria ser um processo meritocrático de seleção em uma verdadeira guerra por quadros para aumentar fileiras e reforçar posições na correlação de forças departamentais. A entrada docente nas universidades é um verdadeiro campo de luta em que grupos de professores se debatem para determinar as condições e critérios de pertencimento e de hierarquia legítimos. Nesse sentido, cada aspecto do processo de seleção, dos pré-requisitos do edital, a formação da banca, a escolha dos temas até o sistema de critérios “implícitos” , constitui objeto de intensa disputa política em que projetos e visões de mundo se chocam, o que é, a priori, perfeitamente legítimo e salutar. Porém, em alguns casos, lamentavelmente, os projetos e visões dizem mais respeito às divergências pessoais e de poder do que a coisas de natureza acadêmica, institucional e teórica.
Sob a pressão de contextos altamente polarizados por razões extraintelectuais e inflacionado de rancores, em que as disputas internas de poder e vaidades sobrepujam ideais de convivência democrática e normas legais e meritocráticas, a fórmula de concurso em que o departamento controla quase que inteiramente os rumos do processo mostra-se, a nosso ver, bastante desgastada, problemática e predisposta à equívocos, violências institucionais, injustiças e a produção de mais tensão, animosidade e ressentimento entre professores e candidatos. Este é o caso no qual está imerso o concurso para Ciência Política da UFRN.
A atual fórmula de seleção controlada pelos Departamentos se esgotou em termos de sua legitimidade social e tem transformado a universidade em uma fábrica de rancores e adoecimento emocional. E, nesse sentido, conduz a imagem da própria universidade, uma instituição cuja profissão de fé é a exemplaridade, o amor ao saber e ao mérito, ao desgaste e à constante suspeita, arrastando também a honra e reputação de profissionais íntegros que se veem tragados por esse redemoinho de intrigas.
Rebaixando o que já está rebaixado
Por conta de “denúncias”, realizadas por um professor do Departamento de Ciências Sociais, o concurso para Ciência Política da UFRN tomou o rumo da polêmica. E na polêmica, como já havia dito o filósofo Michel Foucault, o que se desenrola não é uma ética da discussão orientada pela busca conjunta por uma verdade relevante e difícil, mas uma moral de extermínio do adversário. É exatamente isto o que expressam as postagens do dito professor.
Anexo9
Postagem que circula na internet com a denúncia do professor.
Denúncias, aliás, repleta de conteúdos xenófobos, racistas e que visam o assassinato da reputação alheia em que, de maneira precipitada antes do fim do certame, a integridade pessoal de profissionais é colocada em xeque e manchada com insultos baixos e mesquinhos por conta de supostos privilégios a determinados candidatos. Tal não se coaduna com o comportamento esperado e digno de qualquer docente, e que, em certa medida, ilustra porque o curso de Ciências Sociais da UFRN, seja sua graduação ou pós, encontra-se tão mal avaliado por estudantes e por institutos de avaliação – como esperar equilíbrio e excelência de um programa de pós-graduação se o seu próprio coordenador age com desequilíbrio e distribui ofensas contra os seus pares?  Na arte de viver (e na morada do saber), não há nobreza em quem não governa a si mesmo! Sob o espírito da polêmica e do ressentimento não existe crítica honesta. As “denúncias” do professor personalizam, atacando a honra e dignidade pessoal de maneira generalizante e inadvertida toda banca, um problema que é, na verdade, estrutural e sistêmico, qual seja: o dispositivo de seleção e a natureza das relações entre os professores.
Se há dúvidas sobre a lisura do processo, que os interessados judicializem o certame, apresentando as devidas provas legais. As ofensas e agressões realizadas, por sua vez, devem ser duramente condenadas, inclusive, a UFRN não deve permanecer neutra diante das acusações e seu conteúdo discriminatório, um vexame em se tratando de um profissional de Ciências Sociais.
A nosso ver, a crítica que deve ser realizada contra este concurso, além da destacada acima, deve se centrar em dois pontos principais: primeiro, nos critérios de composição da banca e no espectro restrito de temas escolhidos para avaliar o desempenho dos candidatos nas provas. No concurso em questão, não tivemos espelhado a diversidade teórica e metodológica da Ciência Política nem na formação da banca nem nos temas. Por que os professores do DCS não priorizaram o pluralismo teórico? Este, certamente, é um ponto sobre o qual se deve insistir e questionar porque a universidade, especialmente no âmbito das Ciências Sociais, notadamente um campo de saber multiparadigmático, deve se pautar pelo pluralismo e diversidade do pensamento – o expediente de convidar membros externos serve exatamente para garantir isso, e, como podemos ver na banca em questão, tal não foi feito.
No entanto, o monismo teórico ou a predileção por determinadas correntes de pensamento não constituem crimes nem, muito menos, permite ilações sobre o caráter das pessoas. Em outras palavras, abraçar uma corrente teórica e política não é sinônimo de desonestidade intelectual, que faria, inevitavelmente, seus autores, privilegiar candidatos alinhados a sua linha teórica ou ideológica. O próprio resultado final do concurso mostra, em franca contradição às acusações apressadas, que a banca seguiu critérios de desempenho na escolha dos candidatos aprovados. O problema está na suspeita e dúvida que tal monismo levanta e nas vantagens de partidas que candidatos com maior afinidade teórica irão ter na prova escrita. Nada disso impediu que se deflagrasse o “escândalo” e o mal-estar presente, porque as causas são mais profundas e as forças em questão ultrapassam a integridade e as intenções dos indivíduos. Estamos falando de um problema histórico e estrutural por conta das relações estabelecidas e dos dispositivos de seleção instituídos.
Segundo, e mais importante, a crítica deve ser dirigida ao papel que o acirramento das disputas políticas e pessoais nos departamentos tem produzido em termos de consequências sobre a vida acadêmica e sobre os processos que constituem a razão de ser desta – o Departamento de Ciências Sociais da UFRN é um flagrante e triste exemplo do estrago que o acirramento e a disputa incondicional pode produzir, mesmo com a presença e atuação de alguns professores íntegros, vocacionados e compromissados. Esse contexto anômico de relações esgarçadas de desavenças, rancores e luta por poder atravessa praticamente todo processo do concurso em menção, e é em função dele que o comportamento dos atores e as consequências que estamos assistindo ganham sentido, prejudicando até aqueles que se pautaram ética e legalmente na condução do certame. A esfera do debate qualificado sobre a vida acadêmica e o tipo de cultura científica e curso que se almejam fomentar acaba sendo submergida pela cena das acusações e guerras de boatos dos “corredores” e das redes sociais facebookeanas, as quais, aliás, servem apenas para alimentar blogs de abutres sensacionalistas, que publicou informações falsas “confundindo” currículos de candidatos, ou o vitimismo cínico dos concurseiros interessados. Este triste episódio deve servir para universidade e sua comunidade repensar suas relações e seus dispositivos de seleção.
Proposições futuras ou como a universidade pode cultivar o cuidado de si
Diante de tal quadro, urge revisar os dispositivos de seleção para a Academia. Defendemos o fim do monopólio departamental sobre o processo de seleção ou que o poder dos professores internos seja minimizado. Os concursos deveriam ficar à cargo de uma Fundação especializada e independente, seguindo o modelo de instituições como o Judiciário e a Polícia Federal. Esta Fundação ou OS, com efeito, teria, em tese, maior autonomia e distância em face das disputas internas dos departamentos, de modo que a escolha dos membros da banca – composta por quatro nomes sendo três externos e um interno ao departamento em questão – seria de responsabilidade da Fundação que teria em seu banco cadastro de diversos docentes e pesquisadores os quais seriam escolhidos mediante critérios meritocráticos, impessoais e plurais. A própria Fundação poderia exigir dos professores e pesquisadores cadastrados que formulassem questões diversas as quais poderiam ser utilizadas e adaptadas em vários concursos. A banca, por sua vez, teria a liberdade de formular e acrescentar novas questões discursivas para a prova escrita. Sendo ela responsável também, acrescida da presença de um pedagogo, pela avaliação da prova didática.
Evidentemente, esta fórmula não elimina por completo a força dos interesses políticos e subjetivos. No entanto, acreditamos que tornam o seu peso e interferência bem menores. Resulta urgente e cristalino o fato de que a universidade deve rever seus dispositivos de seleção, pois muitos departamentos não conseguem se governar devido as suas próprias desavenças e disputas internas. Em meio às lutas por poder e crenças de prestígio, todos os envolvidos com a vida universitária acabam sendo prejudicados em algum grau. A atual fórmula não é necessariamente viciada e corrupta, mas é extremamente vulnerável e frágil, e, seus resultados nos mais diversos cantos do país, provam sua fragilidade e o quanto ela tem ocasionado mal-estar, fazendo com que os concursos passem a ser cada vez mais judicializados.
Os departamentos tem fracassado sistematicamente em sua autogestão dos processos seletivos. E sua miséria organizacional e ética é a causa principal disso. É preciso enfrentar e promover este debate pelo próprio bem da universidade e de seu papel pedagógico e formador. A autonomia universitária não deve servir de caução ideológico e livre passe para se manipular e decidir, conforme a correlação de forças e interesses estranhos ao concurso e aos candidatos, o futuro, os projetos de vida e o valor das pessoas. O modelo fracassou. É o momento de pensar outro modelo em que o controle dos instrumentos de reprodução do corpo professoral não dependa de maneira tão absoluta das dinâmicas de poder dos departamentos. Dito de outro modo, os instrumentos de seleção docente não podem ser instrumentos e armas de poder para angariar e agraciar candidatos que assegurem a reprodução de grupelhos políticos e teóricos. A universidade não é uma sociedade de corte, portanto, é preciso eliminar os resquícios que a fazem parecer como tal.
Nesse sentido, para preservar a própria legitimidade da universidade e a ideia civilizatória que ela encarna, devemos ser realistas e críticos em relação às práticas acadêmicas vigentes, e, desse modo, reconhecer que elas tem contribuído para a deslegitimação da universidade e seus princípios éticos. Portanto, desde já, agir para prevenir a injustiça, a violência e garantir a lei, a equidade e o mérito.

(Postado originalmente por Carta Potiguar)

Crônicas do cotidiano: Arraes dá uma aula de política a Manuel Correia de Andrade.


José Luiz Gomes


Ainda quando dirigia o CEHIBRA/FUNDAJ, o geógrafo Manuel Correia de Andrade nos recebeu para uma longa entrevista. Era uma manhã chuvosa, de uma Terça-Feira, no bairro de Apipucos, aqui no Recife. Uma mesa de móvel antigo, empilhada de livros, e ele sempre escrevendo, um ofício a que se dedicava com uma disciplina invejável. A condição de geógrafo e historiador facultava a Manuel Correia de Andrade escrever sobre determinado assuntos com um conhecimento de causa assombroso. Ao falar sobre a vegetação de restinga de Mossoró(RN) ou mesmo sobre os cactos que crescem encravados nas rochas da Serra das Russas(PE), por exemplo, descrevia o ambiente como um nativo da região. Esse era um dos aspectos que mais nos aproximavam dos seus livros.

Não é tarefa das mais simples esquadrinhar as pessoas ideologicamente, mas talvez não estaremos cometendo algum equívoco se o identificássemos como uma pessoa de centro-esquerda. Sempre foi ligado ao (P)MDB, embora mantivesse o diálogo e transigisse com setores mais conservadores do espectro político. Como política é a arte do possível, foi esse trânsito que permitiu sua intercessão no sentido de que os microfones da Fundação Joaquim Nabuco fossem devolvidos ao professor Michel Zaidan Filho. 

A entrevista abordou várias questões relativas ao cenário político em Pernambuco, na década de 80. Um "mote" e aquela figura simpática ia desdobrando os assuntos, entremeando outros tantos, sem, contudo, perder o fio da meada. Mais do que uma entrevista, tornou-se um papo agravável sobre o idealismo petista da década de 80. Experiente, ele já antevia os rumos que o partido tomaria num futuro próximo. Manuel Correia de Andrade deixou dezenas de livros escritos, alguns clássicos, como A Terra e o Homem no Nordeste, escrito a pedido de Caio Prado Júnior.

Suas reflexões sobre os problemas fundiários da região Nordeste levaram o então governador Miguel Arraes a convidá-lo para integrar o seu governo. Arraes lia os seus livros e o convidou ao Palácio do Campo das Princesas para colaborar com a sua gestão. Essa talvez tenha sido uma das primeiras experiências administrativas do professor Manuel Correia de Andrade. Confessou que não se sentiu muito entusiasmado com o convite formulado pelo Dr. Arraes, sobretudo em razão da inexperiência em lidar com a classe política. Na primeira conversa entre ambos, fez questão de externar isso para ele. 

Depois de pigarrear e coçar o queijo - um velho hábito das raposas políticas - Arraes o convenceu, dizendo apenas o seguinte: Quando os políticos se dirigirem à sua sala e você precisar negar algum pleito, negue, mas ofereça um cafezinho.





Tijolinho do Jolugue: Dilma deverá entregar Ministério da Saúde ao PMDB. Que tragédia!


 



A presidente Dilma Rousseff está mesmo propensa, dentro da reforma ministerial que se aproxima, a entregar o Ministério da Saúde ao PMDB. Eles estão festejando como moscas varejeiras em carne de porco em estado de decomposição. Não vejo analogia melhor para descrever o atual cenário político de Brasília. Pelo andar da carruagem política, este talvez seja mesmo um dos últimos cartuchos da presidente Dilma para tentar salvar o seu  mandato que, embora constitucionalmente legítimo, sofre uma assédio sem precedentes. 

Mesmo sem um fundamental amparo jurídico, as urdiduras no sentido de retirá-la do poder continuam a todo vapor. Seus algozes haviam dado uma trégua, mas, logo em seguida, voltaram à carga com toda força. As margens de manobra da presidente Dilma diminuem sensivelmente. Enquanto o PMDB festeja a possibilidade de comandarem um ministério como o Ministério da Saúde, seus operadores, nas coxias, obtém o apoio do PSB na eventualidade de um pedido de impeachment. As condições não são nada favoráveis e há pouco tempo para uma reação suficiente para abortar essas investidas.

O PMDB é aquele partido que, como se dizia nos gibis de antigamente, é capaz de tirar doces de criancinhas. Entregar uma pasta ao comando do partido é um salvo conduto ou uma concessão para aquilo que conhecemos muito bem. Mesmo nesses tempos de vacas magras, ainda são polpudas as verbas destinadas àquele ministério. Meu Deus! Aonde chegaremos, dona Dilma Rousseff? 

A charge que ilustra essa postagem é do Renato Aroeira.

Tijolinho do Jolugue: PSB apoia o golpe contra Dilma. Qual a surpresa?




Não entendo porque algumas pessoas ainda se surpreenderam com a atitude dos dirigentes do PSB no sentido de apoiarem um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Outro dia escrevíamos uma postagem perguntando o que atores políticos como Roberto Amaral e Luíza Erundina ainda faziam nessa agremiação política, hoje bastante descaracterizada em termos de alinhamento ideológico com o campo de esquerda. Em seu projeto de tornar-se presidente da República, o ex-governador Eduardo Campos foi o grande responsável pela decomposição ideológica da legenda. Basta observamos o cenário político pernambucano de hoje para compreendermos isso.

Aqui ele "juntou" atores políticos de um quadrante ideológico ao outro. Desde alunos aplicados, da primeira fila do macielismo - da fina flor do tradicionalismo oligárquico do Estado - até aos "comunistas" do PCdoB. O comando da Secretaria de Cultura do Estado traduz um bom exemplo do que estamos falando. As alianças políticas entre o PSB e o PSDB, em vários Estados da Federação, ocorrem desde tempos remotos. Em certos contextos, as conversas com setores do PMDB também prosperam bastante, como é o caso de Pernambuco. De forma que seria pouco provável que eles seguissem a orientação do princípio da legalidade, do respeito constitucional a um mandato obtido com a vitória nas urnas, dentro dos parâmetros e uma democracia representativa. 

Isso apenas seria possível na época em que um homem com a estatura política do Dr. Miguel Arraes comandava a legenda. Vão longe aqueles tempos em que o filósofo Walteir Silva dirigia o partido no Estado. Quando Lula se sentiu "acossado" pelos urubus voando de costa, na época em que explodiu o escândalo do Mensalão, Arraes foi uma das principais vozes políticas a emprestar solidariedade ao presidente. Grato, quando o neto Eduardo Campos assumiu o Governo do Estado, não faltou apoio do Planalto à sua gestão. 25% dos recursos do PAC foram destinados ao Estado de Pernambuco. 

O xadrez político das eleições de 2016, no Recife: Comunistas calmos e tucanos em polvorosa.




O Ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, do PCdoB, segundo se comenta em Brasília, pode se tornar um soldado da linha de frente, no sentido de viabilizar politicamente a sobrevivência do mandato da presidente Dilma Rousseff. Poderia fazer uma dobradinha com Gilberto Kassab, segundo dizem, um hábil articulador político. Seria o time dos sonhos do ex-presidente Lula, que esteve recentemente com Dilma Rousseff tratando dessas questões. Em declarações pelos jornais, o ministro Rabelo já mandou o seu recado: a presidente Dilma teria subestimado a política, daí o agravamento da crise. Já comentamos aqui, em outras ocasiões, que essas lideranças do PCdoB têm se orientado por um pragmatismo político capaz de fazer corar o mais renhido direitista. 

A "conversão" dessa gente é algo surpreendente. Aqui pela província, passamos a ficar muito atento às declarações do vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, acerca do posicionamento da legenda em torno das próximas eleições municipais. O PCdoB do Recife faz dobradinha no Palácio Antonio Farias com o PSB. Todos sabem que a relação entre os dois partidos já passou daquela fase do só vou se você for. Uma das possíveis razões dessas animosidades poderia ser a postulação da candidatura do irmão do ex-governador, Antônio Campos(PSB), à prefeitura de Olinda, nas próximas eleições municipais. Na época de Eduardo Campos, Olinda sempre foi respeitada como um território dos "comunistas". Noutros tempos, se estivéssemos na década de 60, poderia ser chamada de uma "Moscouzinho". 

Indagado a respeito dos reflexos dessa candidatura sobre a relação que o partido mantém com os socialistas no Recife, Luciano Siqueira informou que não via como a postulação de Antonio Campos, em Olinda, poderia trazer alguns problemas em termos da composição das duas legendas no Recife. Independentemente disso, PCdoB e PSB, poderiam caminhar juntos no Recife. Em Olinda dá-se como certa uma nova candidatura de Luciana Santos(PCdoB). A despeito do desgaste de uma gestão de 16 anos na Marim dos Caetés, os comunistas não desejam abandonar a sua bastilha. Não será uma eleição fácil para ninguém. A disputa, mais uma vez, promete bastante. Há quem especule sobre a possibilidade de o PT, finalmente, sair em raia própria e lançar o nome da deputada estadual Teresa Leitão. Ainda no plano das possibilidades. 

Pragmaticamente, só posso entender essa declaração de Luciano Siqueira no seguinte contexto: ele acredita numa possibilidade concreta de continuar como inquilino do Palácio Antonio Farias, na condição de vice do prefeito Geraldo Júlio, mantendo a aliança PCdoB/PSB. Nessa perspectiva, para Luciano, a reeleição de Geraldo Júlio é algo ainda que se encontra no plano de uma viabilidade. Já em Olinda, penso, ele deve supor que a candidatura do escritor Antonio Campos não passará da fase das preliminares. Não teria possibilidades de lograr êxito, seria apenas para tentar introduzir o irmão do ex-governador no cenário político-eleitoral. Uma candidatura olímpica, incapaz de causar algum dano aos planos dos comunistas em Olinda. 

Ideologia? que Ideologia? trata-se apenas de uma questão de conveniência e análise da correlação de forças em jogo.Simples assim. Durante esta semana, neste tabuleiro político, os responsáveis pelas mexidas mais significativas talvez tenha sido mesmo os tucanos. Através de uma nota, o partido determinou aos seus membros que ocupam cargos comissionados na gestão de Geraldo Júlio que desembarcassem da nau socialista. Pelo que sabemos, até o momento, a Secretária de Combate ao Crack e Outras Drogas, vereadora Aline Mariano(PSDB), ainda não se desligou do secretariado de Geraldo Júlio. Os tucanos parecem mesmo dispostos a concorrerem em raia própria às eleições de 2016. Há uma Resolução da legenda no sentido de lançamento de candidaturas próprias em cidades com mais de 200 mil habitantes. 

A questão maior talvez seja mesmo como se chegar a um consenso sobre esses nomes, uma vez que o ninho está muito embolado em algumas praças, inclusive no Recife. Também nesta semana, o ex-governador e ex-prefeito Joaquim Francisco desligou-se do PSB e, segundo se informa, seu destino será mesmo o PSDB. Comenta-se que Joaquim pretende disputar as próximas eleições municipais do Recife. Não sei se isso já teria sido combinado com o deputado estadual Daniel Coelho, que advoga para si a prevalência da postulação. Na ribalta há um longo tempo - observando a água bater nas pedras e decifrando a mensagem das espumas - Joaquim não faria tal movimento se não o calculasse bem. Raposas políticas dão o bote no momento certo. 

É esperar para ver como eles irão se arrumar no ninho. Os socialistas não apostavam muito na possibilidade de uma candidatura própria dos tucanos, uma vez que eles integravam a base de apoio do prefeito Geraldo Júlio, apesar da oposição de algumas dessas aves na Casa de José Mariano. Hoje, entre os socialistas, o quadro é bem mais complexo do que em outras épocas. Quando ainda eram vivos, os caciques Sérgio Guerra e Eduardo Campos contornavam as divergências no centro e na periferia. Soldavam as alianças independentemente dos amuos pontuais. Eduardo Campos escalou dois técnicos para gerirem os destinos do Recife e do Governo do Estado e o meio de campo político ficou bastante comprometido. Esse "vácuo" político será motivo de muitas disputas daqui para frente. As raposas estão assanhadas. Dentro e fora das hostes socialistas.

Aproveito o artigo semanal para lamentar a postura do vereador André Régis(PSDB), que pediu vistas de uma proposta de moção de desagravo em relação ao processo movido pelo governador Paulo Câmara contra o professor titular da UFPE, Michel Zaidan Filho, encaminhado pela vereadora Marília Arraes. Doutor em direito, André argumentou que era preciso ouvir a outra parte, no contexto do direito ao contraditório. É curioso que um ator político que exerce a função de vereador na Casa de José Mariano demonstre tanta desinformação sobre o cenário político pernambucano. Ele já deveria saber que, aqui na província, os governantes de turno respondem às críticas com difamações, políticas de erosão de imagem, práticas persecutórias, perseguições, processos e "vias de fato", como se diz lá pelas terras dos menestréis. Contratam áulicos para destratarem seus críticos nos jornais, tarefa que talvez devesse ser exercida por ouvidores independentes, movidos pelo espírito democrático e republicano. Penso que o cidadão André Régis precisaria melhorar os seus argumentos.  

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Michel Zaidan Silva: O julgamento do mito





 
Nos idos dos anos 90 do século passado, quando ainda era coordenador da Pós-graduação de Ciência Política, o hoje vereador André Régis (PSDB) foi nosso aluno de Mestrado. Depois, tive o prazer de participar da banca examinadora de seu doutorado em Direito, na Universidade Federal de Pernambuco. Voltei a encontrá-lo quando de seu retorno dos EUA, nas andanças de entrevistas e debates políticos nas emissoras de TV aqui em Pernambuco. Nessa época, Régis era muito próximo ao deputado (menudo) Bruno Araujo (PSDB), que às vezes convidava para os nossos debates na Universidade Federal. Já era uma pessoa de centro-direita, sempre crítico da política e do pensamento de esquerda. Mas sempre me teve muita consideração. 

Foi exatamente durante este período, que ele escreveu o artigo, publicado no Jornal do Comércio, sobre a trajetória política de Miguel Arraes, vaticinando como seria conhecida pela posteridade a biografia do ex-governador. Foi também a época do escândalo dos precatórios que arrastou não só o nome do velho chefe político, mas também o do neto, apontado como principal responsável pela operação intermediada pelo ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta.
 
Do que mais me lembro era a atitude acrimoniosa de André em relação ao clã da família Arraes, contraposta à política da Frente por Pernambuco, liderada pelo ex-governador Jarbas Vasconcelos. De um lado, o atraso. Do outro, a modernidade. De um lado, a oligarquia atrasada; do outro o perfil gerencial, competente para tirar o Estado do isolamento e da decadência econômica. Quando disse ao meu antigo aluno - retornado dos EUA, que o seu candidato moderno estava me processando por críticas à sua gestão, ele se horrorizou e disse: "isso não é possível", é uma demonstração de autoritarismo insuportável. Voltei a participar de outros debates com Régis e ele sempre manifestou suas críticas ao grupo político de Arraes, pelo menos até a última eleição, quando o PSDB aliou-se ao PSB e foi comer na mão da oligarquia tão criticada. Na época, me perguntava como iria se comportar o já vereador tucano, amigo do deputado Bruno Araujo, assim como Priscila Krause, Mendocinha e outros.
 
Qual não foi minha surpresa quando li no Blog do Jamildo que a proposta de moção de desagravo apresentada pela vereadora Marília Arraes (PSB) tinha sido questionada por André Régis, em nome do "contraditório", de "ouvir o outro lado"! Ora, se essa atitude não é uma mera atitude de proteger o senhor governador das críticas (que o vereador fazia antes ao grupo político de Arraes) é de uma incoerência moral e política a toda prova. 

Quem precisa de proteger a liberdade de expressão e de crítica aos políticos em Pernambuco, por não concordar com a sua calamitosa gestão, é a Justiça, os operadores do Direito, a imprensa (não calada), os partidos democráticos (que não comem na mão do governador), e os políticos que têm um pingo de vergonha, os que não vão mudar de opinião ou de princípios porque o seu partido se tornou aliado do Poder que tanto nos infelicita.Lamento muito que o parlamentar que tinha tudo para ser diferente dos políticos fisiológicos, clientelistas ou transformistas, como o senhor Raul Jungmann, tenha cedido à tentação de agradar, ajudar, contribuir para o silenciamento da crítica em nosso Estado.
 
Quer ele saber os motivos da atitude autoritária e intolerante do senhor Paulo Saraiva Câmara, basta ler os artigos publicados nesse mesmo blog sobre os malfeitos, a situação falimentar da administração pública (no IML, nas escola públicas, nas UPAS, na segurança pública, nos imensos buracos), as denúncias da Polícia Federal sobre a construção da malfadada Arena Pernambuco. Quem sabe, ele volta a ser o crítico dessa oligarquia política em nosso Estado.

Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD-UFPE

Michel Zaidan Filho: A conjuntura política, hoje, no Brasil

 
 
 
 
 
Os meus leitores pedem que se faça uma análise de conjuntura no Brasil, hoje. Pois bem: a primeira coisa é definir o que é uma “conjuntura”. Conjuntura é uma atualização da estrutura. Ou seja, o momento atual do estrutura, como a estrutura se apresenta num dado momento. A conjuntura não tem autonomia absoluta em relação à estrutura, que continua sendo determinante para se entender a lógica dos acontecimentos políticos e econômicos. A margem de manobra dos atores, na esfera da conjuntura, é relativa. Ou seja, ela determinada pelas limitações da estrutura. Achar que essa margem é ilimitada e que os atores podem fazer o quer quiser é incorrer numa espécie de voluntarismo e suas consequências práticas no campo social e político.

Como atualização da estrutura, a conjuntura apresenta sempre algo novo, diferente. Isto porque a correlação de forças e interesses no tabuleiro político varia. Quando a política de alianças sofre uma mudança, a sociedade experimenta uma sensação de turbulência, de insegurança ou crise. As conjunturas são determinadas, em primeira instância, pelas alianças políticas em jogo. No regime presidencialista a mudança, a variação dessas alianças tem um impacto imediato sobre as instituições políticas, que não gozam de nenhum sistema amortecedor ou para-choques, como no regime parlamentarista. Podemos dizer então que o nosso modelo político (presidencialista imperial) é um modelo altamente suscetível à crise. Basta haver uma mudança brusca do sistema de alianças, e o Poder Executivo se sentir isolado ou incapaz de aprovar no Congresso sua agenda legislativa. Ou o congresso se colocar contra a agenda do Poder Executivo.

O regime multipartidário que nós temos (32 legendas e outras tantas em formação) também não ajuda muito. A atual legislatura é composta de 28 partidos, com 75 parlamentares evangélicos, que obedecem à ordens de suas Igrejas, somando os parlamentares das bancadas do Boi (os ruralistas) e da Bala.(Indício de uma grave crise de representação parlamentar evidenciada pelos movimentodas ruas, em 2013). A presidência da República possui uma base instável e volátil que não chega a 200 votos na Câmara dos deputados (o que leva o detentor do cargo a empregar meios – não necessariamente republicanos - para assegurar o apoio de legendas e partidos fisiológicos – verbas, cargos e obras- para ter governabilidade) Três legendas Te, sido são particularmente infiéis ao governo: PTB, PROS, PP. Sendo que o PMDB é uma partido dividido e em vias de desembarque da coligação dominante, em função de seus próprios interesses políticos. E o PT tem apresentado muitas restrições aos pacotes de ajuste fiscal, aumento de impostos, corte ou redução de direitos dos trabalhadores e aposentados.

A Presidente Dilma, em razão das políticas anticíclicas do primeiro mandato, baseadas na redução de impostos, o crédito subsidiado, administração do preço das tarifas públicas, no endividamento do setor público, no estímulo à demanda interna, num ambiente de crise internacional e queda do preço das comodities, foi obrigada a adotar uma política contracionista (pró-cíclica) em relação à economia. Tendo que enfrentar um déficit nas contas públicas muito grande, que a impede de cumprir a meta do superávit primário, que ajude a pagar os juros da explosiva dívida pública (37% do PIB), que custa o serviço de 17% do orçamento da União e é remunerada por uma taxa de juros de 15% + taxa de indenização, foi obrigada a assumir uma agenda que não é a sua, nem da campanha eleitoral, nem do seu partido, nem da sua base. Corte nos gastos públicos, reforma da Previdência, congelamento de salários, aumento de impostos, redução de benefícios e direitos, esta agenda pertence aos adversários (do fundamentalismo fiscal), que produz desemprego, queda do salário real, queda da arrecadação, retração das atividades econômicas, altas taxas de juro, recessão e aumento de impostos. Onde os principais beneficiados são os agentes do mercado financeiro, sobretudo os portadores de títulos da dívida pública interna e os exportadores ligados ao agronegócio, por causa da desvalorização do real e o aumento do dólar.

A crise externa ajuda a piorar este cenário. O Mercosul está em fogo morto, com crise em vários desses países. A china desacelerou sua economia e desvalorizou o yuan. E para piorar, o Banco central americano cogita aumentar as taxas de juros, provocando uma revoada dos investimentos para os títulos do tesouro americano.

É inegável que a crise política, com a desagregação da base de apoio ao governo aumenta o potencial de negatividade da crise econômica, levantando dúvidas nos agentes econômicos sobre a capacidade do governo honrar compromissos e pagar dívidas. Há um círculo vicioso entre a crise política e a crise econômica. Ambas se alimentam mutuamente. Há quem defenda que a Presidente deveria retomar no meio da crise as políticas anticíclicas de estimulo às atividades econômicas do país. Como se diz: se é para cair, tem de cair em pé, fazendo a política própria do partido, sem frustrar mais ainda suas bases. Outros, chantageiam. Embora não sejam apoiadores do governo, querem que ele se mantenha para fazer a política favorável aos seus interesses. E há aqueles que torcem abertamente pelo “quanto pior, pior”. Ou seja, querem o impedimento, a renúncia ou o afastamento da Presidenta. Mas não há unidade entre estes. Nem mesmo no maior partido da Oposição.

Esse cenário também se caracteriza pelo avanço da judicialização do Política, quando os juízes federais tomam a cena e se tornam os fiéis da balança; e os movimentos sociais se dividem entre a conspiração e o golpe, assumindo posições filofascista e os que emprestam um apoio crítico ao governo, mesmo discordando da agenda econômica da Presidenta.

Diferentemente das crises econômicas que são cíclicas: têm começo, meio e fim, a crise política depende do florescimento de um novo grupo, uma na hegemonia para passar. A sensação que se tem é que há um esgotamento de um ciclo econômico e um ciclo político no Brasil. Mas ainda não apareceram indícios da emergência ou formação de um novo ciclo.
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Michel Zaidan Filho é filósofo, historiador, cientista político, professor titular da UFPE e coordenador do Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia - NEEPD/UFPE