pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : novembro 2016
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terça-feira, 29 de novembro de 2016

Charge! Renato Aroeira via Facebook

Museu do Homem do Nordeste promove o I Seminário em Ecomuseus e Museus Comunitários

Muhne promove o I Seminário de Pesquisa em Ecomuseus e Museus Comunitários


Nos próximos dias 5 e 6 de dezembro, o Museu do Homem do Nordeste realiza o I Seminário de Pesquisa em Ecomuseus e Museus Comunitários que tem por objetivo reunir pesquisadores do campo da Museologia para que exponham seus estudos sobre a temática, tanto no que diz respeito às observações de campo quanto aos avanços nos diálogos conceituais transdisciplinares. 

Pesquisadores ligados a universidades federais ou estaduais apresentarão um painel atual de suas pesquisas e estarão reunidos para discutir a constituição do Observatório de Ecomuseus e Museus Comunitários do Brasil. Interessados podem se inscrever através do e-mail estudos.muhne@fundaj.gov.br ou pelo telefone (81) 3073-6338 ou 3073-6227

Entre os temas analisados durante o Seminário, serão apresentadas ações colaborativas e de curadoria compartilhada para o estabelecimento de parcerias que motivaram a realização de museus indígenas, como aponta a pesquisa de Marília Xavier Cury (USP); bem como o Movimento Tropeirista, suas origens e processos culturais, na região dos distritos de Cachoeira do Campo, Casa Branca, São Bartolomeu e arredores, nos séculos XVIII, XIX e XX, como indica a pesquisa de Yara Matos (UFOP).

Para a pesquisadora Camila Morais, da UFMG, “os processos animados por iniciativas comunitárias em memória e patrimônio cultural englobam diferentes perfis institucionais, entre os quais Ecomuseus, Museus de Território e Museus Comunitários, e nos trazem diferentes epistemologias, questionando práticas institucionais e disciplinares da Museologia”.

O Seminário, que aborda discussões atuais e prementes, se notabiliza por pautar a museologia por meio de experiências participativas e comunitárias, que podem ser encontradas em diversas práticas museais no Brasil e exterior, como indicou Marcelle Pereira (UNIR). “No entanto, ainda são poucos os estudos e trabalhos que tenham como objetivo analisar a trajetória destas práticas com o intuito de aferir seus impactos junto às comunidades e aos grupos sociais em que atuam. Conflitos internos e externos das práticas museais”, concluiu a pesquisadora.



Cherge!Laerte via Facebook

domingo, 27 de novembro de 2016

"Projeto de vida" de István Mészaros será publicado no Brasil a partir de 2017


Filósofo húngaro dedicou os últimos quinze anos à trilogia “Para além do Leviatã: crítica do Estado”, seu projeto mais político e radical
Divulgação
O filósofo húngaro István Mészáros (Foto: divulgação)
Redação
Aos 85 anos, o filósofo István Mészáros, considerado um dos principais pensadores da esquerda contemporânea, anunciou a publicação de sua obra mais ambiciosa e abrangente, Para além do Leviatã: crítica do Estado. O livro, ao qual Mészáros dedicou seus últimos quinze anos de pesquisa e escrita, é um extenso tratado de mais de mil páginas sobre o Estado, que abrange desde sua formação arcaica no despotismo oriental até a constituição moderna do Estado liberal.
Leviatã foi um conceito utilizado pelo teórico político Thomas Hobbes para denominar um contrato social, segundo o qual o sujeito abriria mão de sua liberdade em nome de um Estado protetor e detentor do poder e da coesão social. O termo é recuperado pelo filósofo húngaro para apontar como qualquer formação de um Estado, de um poder institucionalizado, é em si um leviatã. E, seguindo a tradição marxista da qual faz parte, delineia as possibilidade de dissolução desse Estado.
Para além do Leviatã: crítica do Estado será publicado no Brasil pela Boitempo. Serão três volumes: O desafio histórico, previsto para o segundo semestre de 2017; A dura realidade, para 2018; e A alternativa necessária, para 2019.  Fazendo uma análise crítica de diversos pensadores do Estado, Mészáros não abre mão de Sartre [reveja aqui texto de Caio Liudvik sobre a relação do filósofo húngaro e o autor de O ser e o nada], utilizando o conceito de liberdade do pensador francês para refletir a prática marxista em uma época que o capitalismo ameaça toda a vida.
Nascido em Budapeste em 1930, o filósofo húngaro tem diversos estudos sobre grandes pensadores marxistas, como Sartre, Lukács e o próprio Marx. Atualmente é professor na Universidade de Sussex, Inglaterra. Grande parte de sua obra já foi publicada no Brasil pela Boitempo, que conta com 15 títulos de Mészáros em seu catálogo. Para além do Leviatã: crítica do Estado, considerado o “projeto de vida” do autor, é um de seus estudos mais políticos e radicais, recuperando um tema caro ao marxismo tradicional: a atenção ao Estado leviatã.

(Publicado originalmente no site da revista Cult)

    sexta-feira, 25 de novembro de 2016

    "O Brasil é incapaz de refletir sobre seu passado", diz Julian Fuks


    Vencedor do Jabuti na categoria Ficção do Ano com o livro “A resistência”, o escritor fala à CULT sobre as origens autobiográficas de seu romance premiado
    O escritor Julián Fuks, vencedor do Jabuti na categoria Ficção do Ano com o romance "A resistência" (Foto: Paula Pires)
    O escritor Julián Fuks, que venceu o Jabuti na categoria Ficção do Ano com o romance “A resistência” (Foto: Paula Pires)
    Paula Pires
    Aos 35 anos, o brasileiro de família e raízes argentinas Julián Fuks recebeu, nesta quinta (24), o prêmio Jabuti na categoria Ficção do Ano com o livro A resistência, de 2015. Em suas narrativas, o autor revela a descoberta constante da escrita: um processo entre a criação e o relato, por vezes poético, de suas próprias sensações, pensamentos, análises e vivências ao longo do ato de resistência que é escrever.
    Doutor em Literatura pela USP, Fuks não escreve um romance como costumamos entendê-lo, mas o desafia a se apresentar em outras facetas, com situações menos óbvias, sem personagens caricatos. É que, para ele, o romance é um território híbrido, sem fronteiras demarcadas com outros gêneros. Fuks está sempre em busca do romance possível.
    No premiado A resistência, o autor traz um tema delicado e complexo que se mescla com sua própria história: o processo de adoção do irmão em meio à fuga de seus pais, perseguidos na ditadura militar argentina, a chegada ao Brasil e a decisão de permanecer no país. Em entrevista à CULT, ele fala sobre as raízes de seu romance premiado.
    CULT – Em que medida resistir é existir ou vice-versa?
    Julián Fuks – O romance, a princípio, se chamava “O irmão possível”, que colocava mais centralidade na questão da adoção. Só que a editora tinha problemas com esse título, pelo fato de o Chico Buarque ter publicado logo antes O irmão alemão, meu livro poderia ter uma cara de paródia do livro do Chico. E em um dado momento “A resistência” surgiu e me pareceu complexo o bastante, porque há muitas existências ao longo do livro. Pode não estar mencionada assim. A resistência dos pais à ditadura militar é a mais imediata, mas há a resistência do irmão ao convívio familiar, a resistência do narrador ao contar essa história. Então tem uma série de resistências atravessando o livro e é aproximando dessa noção mesmo: de resistir como um ato simples de existência, existir e resistir como duas coisas muito relacionadas. Hoje está se fazendo muito esse trocadilho com o reexistir: voltar a existir. Resistir seria uma forma de voltar a existir. Gosto, especialmente, do que a palavra tem de ambivalente: resistência como algo negativo, como uma recusa a alcançar algo ou, pelo contrário, como um ato de força, de posicionamento diante de uma situação que exige uma tomada de posição. Eu gosto de pensar a literatura como capaz de fazer essa transição: do sentido mais negativo de resistência para o sentido mais positivo. Por meio da escrita a gente pode transformar uma resistência na outra.
    Além de tentar encontrar algo das raízes familiares do seu irmão, você também tenta se reencontrar ao longo do livro. Pode falar um pouco sobre essa busca?
    Na verdade a minha relação com a Argentina sempre foi muito ambivalente e complicada. Eu sempre tive muita identificação com a Argentina e procurei ao máximo me aproximar do país, mas ao mesmo tempo encontrava limites nessa cumplicidade.
    Que limites?
    De não me perceber plenamente argentino sem nunca me sentir totalmente brasileiro. Coloquei isso no livro: o exílio é algo que se herda.  Se o filho nasce no exílio dos pais é também um exilado. E a situação do exilado, e também do imigrante, é do não-lugar, de um não pertencimento a nenhum lugar. E eu senti isso muito forte. É sempre muito forte ir pra Argentina, passar o tempo lá. Porque é esse processo de identificação constante e também de afastamento. Eu já tinha escrito sobre a busca identitária deste mesmo narrador, o Sebastián, por suas próprias origens, por seu passado, seu passado familiar. E, em parte, eu achava que isso estava resolvido naquele livro. Eu acreditava que eu não iria voltar a escrever sobre a Argentina. Mas, de repente, eu me vi falando do meu irmão e para falar do meu irmão eu precisava, de novo, voltar a falar da Argentina e falar dos meus pais. À medida que eu reconstitui a história deles, eu reconstitui a minha própria. Então, estava envolto de novo nas mesmas questões. Percebi que são coisas que não se superam tão facilmente. Que eu não deixo para trás. E também não penso que, com o livro, eu vá resolver aquilo que não estava resolvido, que vou superar essa ambivalência. Ela continua, ela permanece, ela tem certa resiliência.
    A adoção é um tema marcante na sua obra e a adoção aqui também pode significar ser recebido, acolhido, querido. Você se sente adotado pelo Brasil ou foi você quem adotou o país?
    Hoje eu me sinto mais brasileiro do que antes. O Brasil adotou muito generosamente a minha família inteira. Meus pais foram muito bem acolhidos aqui, isso foi uma das coisas mais marcantes da vida deles. Eles vieram de passagem, não ficariam no Brasil, estavam indecisos. Um queria ir para o México, o outro para a Espanha. Aqui era simplesmente uma escala. E foram muito bem acolhidos, mesmo no contexto de ditadura militar. Aqui, eles corriam riscos, estavam sendo perseguidos. Mas, ainda assim, há outra sociedade para além da “oficial” que pode ser muito acolhedora. Há sérios problemas de governo, de autoridade e de desempenho dessa autoridade no Brasil e, no entanto, existe toda uma vitalidade pra além disso, uma candura e um valor no que há nesse país. Acho que meus pais se sentiram muito bem. Quando a ditadura acabou, eles demoraram para voltar à Argentina, e essa é uma parte que não está nem no livro: eles não quiseram voltar de imediato para a Argentina. Eles ficaram aqui até 1988. Voltamos para morar lá, mas não conseguimos, não nos readaptamos. Ficamos dois anos somente. Naquele momento, a Argentina era um país menos interessante, menos acolhedor do que o Brasil.
    Por falar em ditadura na Argentina e no Brasil, você percebe uma diferença de posição, hoje, entre argentinos e brasileiros na relação com esse passado tão recente?
    Há muito que se apreciar no exercício da memória que se faz na Argentina. Esse contato com o passado é mais intenso, mais profundo e mais sofisticado. O Brasil é incapaz de refletir sobre seu passado. Ao contrário, aqui, tenta-se superar aquilo que passou. É curioso, o povo brasileiro sempre se mostrou pouco combativo ou menos combativo do que os povos desses países vizinhos. Na Argentina, a resistência à ditadura militar foi mais forte talvez porque o regime tenha sido mais sanguinário, assim como no Chile. Acho que aqui houve uma cumplicidade, uma leniência grande de parte importante da população com a ditadura. Sinto que nunca se fez devidamente a crítica àqueles tempos, aos autoritarismos, às violências, às repressões. Com o passar do tempo, a balança política pesa para o outro lado e a gente não elabora construtivamente esse passado. Mas quando a balança volta para o outro lado e pende mais para a direita, os autoritarismos afloram. O que a gente vê hoje no Brasil é um recrudescimento desse sentimento autoritário de trinta anos atrás. Faltou a crítica àquele momento. Recentemente, invadiram o Congresso – um grupo pequeno, por sorte, mas um grupo significativo – para pedir a volta dos militares. Que falta de rigor histórico, de conhecimento do passado há para que pessoas peçam isso? Volto a pensar que isso tenha a ver com o modo como se encerrou a ditadura aqui, com uma suposta reconciliação nacional, marcada pela anistia. Essa é uma falsa conciliação, porque os crimes que permaneceram impunes foram aqueles cometidos por apoiadores do regime. Essa reconciliação trouxe a ideia de que o Brasil precisava de uma pacificação geral, sem julgar os erros do passado. “Vamos passar agora a uma tranquilidade democrática”. Só que isso não funciona justamente porque as pessoas precisam refletir criticamente o processo histórico que se deu até aquele momento, para pensar que passos dar dali para frente. Com essa condição conciliatória, os professores de história não tiveram possibilidade de fazer a crítica severa que a ditadura merecia.
    Para você, o que tornou A resistência o livro vencedor do prêmio Jabuti nas categorias Romance e Ficção do ano?
    Desde o início os leitores tiveram uma relação diferente com esse livro. Talvez pelo aspecto ambíguo que ele cria, de você não saber ao certo se está lendo uma ficção ou algo autobiográfico. Em comparação com meus livros anteriores, há um envolvimento do leitor com a obra que é de outra natureza, e eu mesmo senti um vínculo mais forte com o leitor desta vez, que vinham me procurar para comentar as sensações tiveram ao lê-lo. E críticos e jurados são fundamentalmente leitores. Se eles se deixam tocar da mesma maneira, também fazem uma apreciação – de outra ordem – estética. Mas eu não acho que as duas coisas estejam separadas: o sentimento que o livro provoca e a sensação estética que ele possibilita. Então, as duas coisas devem estar presentes na avaliação do júri.
    Você tem consciência de que é um bom escritor e de que o seu livro ganharia o prêmio?
    Eu me esforço bastante. Todo escritor em alguma medida tem algo de crítico literário, nem que seja crítico da própria obra. Eu dedico um olhar crítico à minha própria escrita e não saio de uma frase, de um parágrafo e de uma página até ficar plenamente satisfeito com ela. Então, de fato, ao terminar esse livro, eu estava, em alguma medida, contente com o que eu tinha alcançado. A minha relação é ambígua com o livro: algumas vezes eu o encaro literariamente e em outras eu o encaro como parte da minha intimidade. Eu não consigo enxergar plenamente como ele é ou como um leitor qualquer enxerga. Talvez nenhum autor consiga. Em termos de prêmio, eu sei que essas coisas são muito imprevisíveis. Já fui três vezes finalista do Jabuti, em nenhuma delas eu havia ganhado. Parte de mim tinha vontade que isso acontecesse. Como o que eu escrevia estava sendo valorizado, eu sentia que algum dia esse reconhecimento por meio do prêmio aconteceria, mas não necessariamente pensava que seria com esse livro. Pelo contrário, À procura do romance, um livro que tinha sido escrito de uma forma muito mais trabalhosa, é mais complexo que A resistência. E eu achava que ele teria uma apreciação critica maior do que teve. Neste, eu estava mais relaxado, tinha menos expectativa que ganhasse o prêmio. E, de repente, aconteceu. Foi bom.
    Paula Pires é jornalista e mestranda em Comunicação e Audiovisual pela Universidade de São Paulo (USP).

    Le Monde: Mais de 1.500 comunidades quilombolas esperam por suas terras


    Em seu balanço anual, a Comissão Pró-Índio divulgou a evolução dos processos de titulação das terras quilombolas. Em 2016, apenas uma terra quilombola foi titulada até o momento
    por Carolina Bellinger, Otávio Penteado, Lúcia Andrade


    Longos 13 anos. É o tempo que as 387 famílias quilombolas de Brejo dos Crioulos, em Minas Gerais, aguardam pela conclusão do processo de titulação de suas terras no Incra. No Pará, em Oriximiná, o processo de regularização da terra Alto Trombetas, onde vivem 182 famílias quilombolas, se arrasta por 12 anos. Já na Paraíba, as 39 famílias quilombolas de Serra do Talhado esperam há 11 anos que o Incra finalize o processo de regularização de suas terras.
    Infelizmente, essa é a realidade de muitas comunidades quilombolas pelo Brasil. Segundo cálculos da Comissão Pró-Índio, 467 processos de terras quilombolas tramitam pelo Incra há 10 anos ou mais sem conclusão. Ao lado dos processos mais antigos, outros mais recentes se somam, chegando a um total de 1.525 processos abertos atualmente no órgão federal.
    2016 vem se mostrando mais um ano de poucos avanços na regularização das terras quilombolas com apenas uma titulação até o momento. Após aguardar nove anos pela tramitação de seu processo no Incra, as 89 famílias quilombolas da comunidade Tabacaria recebem hoje (20/11) título de propriedade referente a 399 hectares dos 410 hectares reconhecidos e declarados como pertencente a comunidade.
    Já no âmbito dos governos estaduais não se registra ainda nenhuma titulação esse ano. Os governos estaduais são os responsáveis pela titulação de grande parte das 165 terras quilombolas tituladas no Brasil. Foram 131 titulações realizadas pelos estados da Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, São Paulo e Rio de Janeiro. Da lista, os estados do Maranhão, com 52 terras, e do Pará, com 50, se destacam. Porém, o estado do norte do país, pioneiro na regularização de terras quilombolas, diminuiu consideravelmente o ritmo de titulações nos últimos anos.
    Evolução Processos no Incra
    As publicações em 2016 seguem a média dos anos anteriores mantendo-se bastante aquém da demanda. Do total de 1.525 processos no Incra, somente 37 tiveram avanços em 2016 com a emissão de Concessões de Direito Real de Uso (3) e publicações (5 decretos de desapropriação, 19 portarias de reconhecimento e 10 relatórios de identificação).
    Os obstáculos para a concretização das titulações são muitos e diversos. A titulação das terras quilombolas envolve, em muitos casos, contrariar interesses de setores do agronegócio e mesmo do governo. O orçamento do Incra para encaminhar os processos vem sendo reduzido a cada ano - em 2016, o Incra contou com um orçamento 73% inferior ao de 2015. E o Serviço Quilombola, embora tenha crescido e se consolidado nos últimos anos, ainda é insuficiente para dar conta da enorme demanda.

    PLACAR 2016 (20/11/2016)
    TÍTULOS EMITIDOS
    1 terra titulada – 1 comunidade beneficiada.
    PUBLICAÇÕES
    Concessão de Direito Real de Uso: 03 terras - 3 comunidades beneficiadas
    Decreto de desapropriação: 5 decretos – 5 comunidades beneficiadas
    Portaria de Reconhecimento: 19 portarias – 19 comunidades beneficiadas
    Relatório de Identificação (RTID): 10 RTIDs – 11 comunidades beneficiadas


    Governo Temer
    O governo Temer transferiu do extinto Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário para a Casa Civil, a competência de delimitação das terras dos remanescentes das comunidades dos quilombos. O Incra – agora vinculado à Casa Civil - continua como o órgão responsável por conduzir os processos de regularização das terras quilombolas. Porém, tal mudança parece indicar que o andamento dos processos de titulação será ainda mais influenciado por decisões políticas.
    A previsão orçamentária do governo Temer para 2017 sinaliza ainda maiores dificuldades para a execução da política de regularização das terras quilombolas. A proposta encaminhada ao Congresso estabelece uma redução de 50% do orçamento do Incra para a titulação de terras quilombolas em comparação com 2016. A proposta prevê 4,1 milhões para a política de titulação de terras quilombolas, ante aos 8 milhões deste ano.
    O cenário de baixa efetividade dos direitos dos quilombolas, portanto, tende a piorar. Até hoje, quase 30 anos após a Constituição garantir o direito dos quilombolas aos seus territórios, o governo federal titulou somente 37 terras sendo que 20 delas apenas parcialmente.
    Assim, 92,5% das 214.000 famílias quilombolas que a SEPPIR estima existirem no Brasil permanecem na insegurança e vulneráveis às disputas e conflitos agrários enquanto aguardam a regularização de suas terras.
    Monitoramento dos Direitos Territoriais
    A Comissão Pró-Índio de São Paulo monitora, sistematiza e divulga dados relacionados aos direitos territoriais das comunidades quilombolas desde 2004. Os resultados da pesquisa são disponibilizados aqui.
    É possível acessar os balanços mensais acerca da efetivação desse direito através desse link.

    Carolina Bellinger, Otávio Penteado, Lúcia Andrade
    Carolina Bellinger é assessora de Coordenação da Comissão Pró-Índio de São Paulo,Otávio Penteado é assessor de programa da Comissão Pró-Índio de São Paulo e Lúcia Andrade é coordenadora executiva da Comissão Pró-Índio de São Paulo


    21 de Novembro de 2016
    Palavras chave: terrasquilombosquilombolascomunidadesterritóriofundiária

    quarta-feira, 23 de novembro de 2016

    A voz crítica de Lima Barreto ainda ecoa na nossa República, diz pesquisador

    Felipe Botelho Correa, professor da King’s College de Londres, comenta a escolha do autor como homenageado da FLIP em 2017
    lima-site
    Fotografia de Lima Barreto tirada durante os três dias em que esteve internado no Hospício Nacional, em 1919 (Foto: Divulgação)
    Eric Campi
    No dia 11 de novembro, a FLIP (Festa Literária de Parati) anunciou o escritor carioca Lima Barreto como o homenageado da edição de 2017 do evento. A notícia chega quatro anos depois que a jornalista baiana Joselia Aguiar, atual curadora da FLIP, e a tradutora Denise Bottmann iniciaram uma campanha pela escolha do autor de O triste fim de Policarpo Quaresma.
    Para Felipe Botelho Correa, 33, pesquisador e professor da King’s College de Londres, “a demora em homenagear Lima Barreto simboliza e sintetiza uma série de pesquisas que foram feitas nesse começo de século 21 e um saudável desejo de discutir a obra e o legado desse autor”.
    Correa identificou 164 textos inéditos de Barreto publicados sob pseudônimos nas revistas ilustradas Fon-Fon e Careta. Os escritos estão compilados no livro Sátiras e outras subversões (Penguin & Cia das Letras), publicado em julho deste ano. Negro e de origem pobre, Lima Barreto produzia crônicas de costumes do Rio de Janeiro e em suas obras tratava sobre o preconceito racial e as injustiças sociais do Brasil. Uma literatura “subversiva e militante”, segundo o pesquisador.
    “A voz crítica de Lima Barreto ainda ecoa na nossa República, que em meio a tantas turbulências claramente não deixou de ser uma Bruzundanga”, diz. Na entrevista abaixo, Correa discorre sobre a homenagem ao autor no principal evento literário do país e fala sobre as características de sua literatura “militante”. “Ser um escritor abertamente negro era uma perspectiva pouco comum no meio intelectual da época, quando muitos tentavam se embranquecer.”
    CULT – Em 2013 houve um movimento pela escolha de Lima Barreto como homenageado do evento, mas só em 2017 essa homenagem vai, de fato, se concretizar. Como interpreta essa demora de quatro anos?
    Felipe Botelho Correa – A homenagem vem em boa hora. Nos últimos quinze anos um grande número de trabalhos reanimou a obra de Lima Barreto. Textos inéditos foram revelados em edições recentes: alguns nos dois volumes com as crônicas que foram editados por Beatriz Resende e Rachel Valença; outros na edição com os contos que foram compilados pela Lilia Moritz Schwarcz, que está também escrevendo uma nova biografia. Além disso, aumentou o número de teses de doutorado sobre Barreto, apontando para novas perspectivas de leitura do autor carioca. O livro Sátiras e outras subversões é, de certa forma, um elemento a mais nessa renovação da obra de Lima Barreto, levando ao público 164 textos que permaneciam inéditos até então, a maioria camuflados por pseudônimos. Nesse sentido, a demora em homenagear Lima Barreto simboliza e sintetiza uma série de pesquisas que foram feitas nesse começo de século 21 e um saudável desejo de discutir a obra e o legado desse autor.
    A homenagem na FLIP pode trazer novo fôlego à sua obra?
    A FLIP tem sido nos últimos anos um momento de redescoberta de autores fundamentais, atualizando debates e impulsionando acesso e visibilidade à obra dos homenageados. A novidade desse ano é que finalmente teremos uma homenagem que tem respaldo de uma campanha popular que vem sendo sugerida informalmente por muitos anos e que representa uma perspectiva ímpar no nosso panteão literário. Curiosamente, Lima Barreto continua representando aquilo que Jorge Amado sugeriu: um escritor que representa uma certa voz popular. A voz crítica de Lima Barreto ainda ecoa na nossa República, que em meio a tantas turbulências claramente não deixou de ser uma Bruzundanga. Creio que o desafio da curadoria de Joselia Aguiar será traduzir para o nosso momento atual as questões e as subversões que Lima Barreto propunha há cem anos.
    Por que devemos voltar à obra e à biografia de Lima Barreto neste momento?
    Lima Barreto já faz parte de nossa historiografia e devemos lutar por tê-lo presente em nossas bibliografias, não importando o momento político que estamos atravessando. Feita essa ressalva, eu não poderia deixar de mencionar um aspecto da obra e da perspectiva de Lima Barreto que me parecem importantes neste momento não só no Brasil, mas também em vários outros países, que é a questão do nacionalismo. Em 1920, Lima Barreto escreve um artigo que poderia perfeitamente ser publicado hoje em dia, alertando para os males da utilização desenfreada do nacionalismo político. Naquele momento, essa questão tinha como pano de fundo o fim da Primeira Guerra Mundial e, no Brasil, a questão da intensa imigração europeia e do movimento que veio a fundar o Partido Comunista em 1922. Lido hoje em dia, o artigo “O nacionalismo”, publicado no jornal Voz do Povo em 1920 nos dá um sopro de lucidez e clareza.
    Você já afirmou que o projeto literário que dá direção à produção de Lima Barreto é seu anseio por uma “literatura militante”. Essa militância pode ter contribuído para a sua marginalização, digamos assim, na história da literatura brasileira?
    De fato, Lima Barreto teve dificuldades em sua trajetória literária, como muitos outros escritores, e há exemplos de instituições nas quais ele não era bem-vindo, como a Academia Brasileira de Letras e o jornal Correio da Manhã, mas estas são questões menos relevantes, ao meu ver. Essa ideia de uma suposta marginalização é difícil de sustentar se olharmos pelo lado do alcance de sua literatura não só em sua época como hoje em dia. Lima Barreto foi um escritor de imprensa, mais especificamente um escritor de revistas, e seu projeto literário e militante passava necessariamente por esse meio. Ele era um profundo conhecedor dos vários tipos de revistas da época (clássica, ilustrada, pequena, de humor, de variedades etc.) e ao longo de sua carreira como escritor sempre esteve ligado a várias publicações e seus respectivos grupos de intelectuais que se reuniam nos cafés da cidade. As pequenas revistas como a Floreal lhe davam a liberdade de escrever seus “sonhos e maluquices” e desafiar a “escala de valores intelectuais”, como ele mesmo dizia.
    Por outro lado, as revistas de grande circulação, como as revistas ilustradas, lhe davam não só uma maneira de melhorar sua renda, como também um amplo público que ia muito além da capital, com cerca de 70% de suas numerosas tiragens sendo enviadas para outros estados. Ser lido pelo grande público era um pilar importante dessa literatura militante, e as revistas, muito mais que os livros, eram os meios que proporcionavam esse contato com os leitores. Arrisco a dizer que foi muito mais através das revistas do que por meio de livros que Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Jorge Amado e muitos outros escritores da época conheceram a verve de Lima Barreto. Quando Lima Barreto morre em 1922, essa presença nos periódicos acaba e o que fica são seus poucos livros editados e a imagem de um escritor sagaz e popular, amplamente lido nas várias camadas da sociedade brasileira. Entre as décadas de 1930 e 1950, vemos um escritor que foi esquecido pelo mercado editorial.
    Essa escassez de edições só foi sanada na década de 1950 com a iniciativa de Francisco de Assis Barbosa, primeiro com a biografia e depois com a luxuosa edição de 17 volumes em 1956. É só nesse momento que passamos a ter acesso ao Lima Barreto que conhecemos hoje. Mas como escritor de imprensa ou de livros, é difícil sustentar a tese de que Lima Barreto foi um autor marginalizado. Por outro lado, acho perfeitamente cabível entendermos Lima Barreto como escritor marginal no sentido daquele que vai contra a corrente, que produz uma literatura crítica e mordaz sobre o seu tempo, com temáticas até então pouco exploradas. A isso, podemos adicionar também as circunstâncias de sua biografia e os desafios que um escritor negro enfrentava naquele Brasil do começo do século 20, ainda muito dominado pelas ideias do Darwinismo social que surgiram no final do século 19 na Europa e nos EUA. Nesse sentido, ser um escritor abertamente negro era uma perspectiva pouco comum no meio intelectual da época, quando muitos tentavam se embranquecer.
    Antonio Candido, por exemplo, observa que, se por um lado, a “militância” de Lima Barreto “favoreceu nele a expressão escrita da personalidade”, por outro “pode ter contribuído para atrapalhar a realização plena do ficcionista”.  Você vê um embate entre esses dois fatores ou considera esta uma ideia já superada?
    O fato de boa parte da obra de Lima Barreto ser baseada em referências autobiográficas já foi discutido por vários críticos. Quem primeiro colocou isso em pauta foi Sérgio Buarque de Holanda em 1949 no texto “Em torno de Lima Barreto”, que é uma resposta à declaração de Caio Prado Junior de que, sob muitos aspectos, Lima Barreto era o maior romancista brasileiro, numa comparação indireta com Machado de Assis. Sérgio Buarque, no entanto, responde que Lima Barreto não poderia ser comparado a Machado de Assis porque em grande parte a obra do carioca era uma confissão mal escondida que atrapalhava o acabamento e as qualidades da “literatura de fantasia”. Lima Barreto dizia que, ao contrário de Machado, ele escrevia sem medo da palmatória dos gramáticos e com muito temor de não dizer tudo o que queria e sentia, sem calcular se se rebaixava ou se se exaltava demais. Obviamente, essa questão da exposição da perspectiva pessoal salientada por Lima Barreto tem uma relação direta com o fato de os dois terem sido mulatos numa sociedade marcada indelevelmente pela escravidão. Utilizar essa categoria para ler a obra de Lima Barreto me parece um equívoco, e o próprio Lima já alertava para isso.
    No texto “Os enterros de Inhaúma”, um dos que foram revelados em Sátiras e outras subversões, ele esclarece um pouco essa questão. Ele pede desculpas aos leitores por suas constantes confissões e afirma que isso era inevitável, pois tudo que escrevia eram páginas das suas memórias, numa indicação clara de que sua perspectiva era uma espécie de autoficção, misturando autobiografia com invenções. Nesse sentido, não vejo os textos de Lima Barreto como obras de um ficcionista com ambições de uma realização plena como sugeriu Antonio Candido. Nem sei ao certo o que seria essa realização plena. Havia uma urgência naquilo que Lima Barreto produzia.

    (Publicado originalmente no site da Revista Cult)

    domingo, 20 de novembro de 2016

    Editorial: As "incríveis" histórias em torno da prisão de um Garotinho


    Pouca coisa por aqui nos facultam fazer uma defesa do senhor Anthony Garotinho, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro. Não cometeria o deslize de o condenar por "convicção", mas em razão de seus precedentes como homem público. Mas, neste caso em particular, do ponto de vista político e jurídico sua prisão foi irregular. Em tese, não caberia o pedido de prisão em razão dos delitos cometidos. Crimes eleitorais - pelo menos o da natureza à qual o governador foi acusado - são punidos com o afastamento da função pública e a inelegibilidade pelos pleitos seguintes. Exatamente em função desses pressupostos é que a sua prisão foi posteriormente revogada por uma juíza do STE. Não sem antes daqueles espetáculos protagonizados durante a sua transferência para o presídio de Bangu, onde ele tentou reagir à sua transferência do hospital onde estava internado.

    Mas, o pior viria depois, com as denúncias de uma conhecida publicação semanal, dando conta de que está sendo pedida pelo Ministério Público, em caráter de urgência, uma investigação sobre a suposta tentativa de subornar autoridades públicas - neste caso, o juiz que decretou a sua prisão - numa manobra do ex-governador e do seu filho, em sondagens a pessoas próximas ao magistrado. Aqui, estamos diante de um Garotinho sendo Garotinho...(...)

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    sexta-feira, 18 de novembro de 2016

    Le Monde: Nicarágua: o que resta do sandinismo?


    Seus esforços puderam contar tanto com a conjuntura internacional – boom do preço das commodities no mercado mundial – quanto com a ajuda maciça da Venezuela de Hugo Chávez. Mas agora a primeira mudou, e a segunda secou.
    por Bernard Duterme


    "Nicarágua sandinista”. As duas palavras estão coladas uma à outra. Na década de 1980, a América Central atravessava um período de revoluções e contrarrevoluções. Em 1979, os rebeldes sandinistas tinham conseguido derrubar o ditador Anastasio Somoza, há muito conhecido na região como “homem dos Estados Unidos”. Imputava-se aos líderes norte-americanos a tirada: “Somoza é um filho da puta, mas é o nosso filho da puta” – frase que o presidente Franklin Delano Roosevelt teria pronunciado em 1939 a respeito de Somoza pai e que o secretário de Estado Henry Kissinger teria repetido para falar do filho, já que a dinastia Somoza reinou de 1936 a 1979.
    A Guerra Fria era reproduzida na América Central. Um medo percorria o Ocidente: de acordo com a “teoria do dominó”, o comunismo ameaçava conquistar um país após o outro em suas “zonas de influência”. A solidariedade internacionalista convergia em peso para uma pequena nação que zombava do “império” em seu próprio quintal. De um lado, Golias, na pele do presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, arquiteto de uma virada conservadora e liberal; do outro, Davi, encarnado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).
    Na Europa, o Centro Tricontinental (Cetri), na Bélgica, é há muito tempo um dos principais locais de estudo da Revolução Sandinista. Ele chegou a receber, em 1989, a visita do presidente Daniel Ortega; seu fundador, François Houtart, foi diversas vezes condecorado pelo país. Uma obra monumental do ex-ministro da cultura sandinista, o padre, poeta e escultor Ernesto Cardenal, ainda reina diante dos gabinetes do centro em Louvain-la-Neuve: o Zanatillo, símbolo da emancipação do Terceiro Mundo.
    No início dos anos 1980, o governo revolucionário da Nicarágua dedicou-se à redistribuição da riqueza, bem como à promoção da saúde e da educação. Ele tentou a economia mista,1 o pluralismo político, o não alinhamento, enquanto a direita norte-americana denunciava um “regime comunista” e armava a oposição: os “Contras”, chamados “combatentes da liberdade”. Em 1990, os comandantes sandinistas, à frente do país desde 1979, acabaram se dobrando. Esgotada pelos anos de guerra, a população fechou o parêntesis revolucionário nas urnas, em um balanço dividido. O lado bom: a luta contra o analfabetismo e a desigualdade, a escola para todos, as campanhas de vacinação, a reforma agrária, a aspiração à soberania nacional. O lado sombrio: o dirigismo de um poder seguro de sua missão libertadora, a razão do Estado imposta a todos, os sacrifícios consentidos em um contexto de violência política e boicote, o ambiente militarizado. Os sandinistas aceitaram a derrota eleitoral. Entrou em cena a “democracia liberal”.

    “Populista responsável”
    Na mesma época, um período chamado de “normalização democrática” teve início em toda a América Central. Liberalização política formal e liberalização econômica real, ambas com resultado no mínimo problemático. Duas décadas e meia depois, a região não conseguiu romper com o modelo agroexportador, ainda dominante. Apesar de exibir, entre altos e baixos, uma taxa de crescimento de cerca de 4% em média, a Nicarágua não logrou reduzir a pobreza, que afeta uma em cada duas pessoas, e combater a desigualdade: o patrimônio de seus duzentos cidadãos mais ricos representa 2,7 vezes a riqueza que o país produz a cada ano. Ela também não conseguiu garantir emprego formal para a maioria da população ativa nem matar a fome dos habitantes das regiões atingidas pela seca e pelas mudanças climáticas. Depois do Haiti, o país continua sendo o mais pobre do hemisfério ocidental e o mais vulnerável a furacões e terremotos.
    Esse balanço social é o mesmo do sandinismo do século XXI. De volta ao governo da Nicarágua em 2006, o ex-líder revolucionário Daniel Ortega completa este ano seu terceiro mandato, fechando duas décadas à frente do Estado (1980-1990 e 2006-2016). Para voltar ao poder após três derrotas consecutivas (nas eleições presidenciais de 1990, 1996 e 2001), o inamovível secretário-geral da FSLN não recuou diante de manobras táticas nem de reviravoltas políticas.
    Em termos estritamente eleitorais, sua vitória em 2006, com cerca de 38% dos votos, deve muito a uma primeira reforma constitucional,2 obtida graças ao “pacto” controverso com Arnoldo Alemán. Presidente ultraliberal da Nicarágua entre 1996 e 2001, este havia sido condenado por corrupção, antes de ser absolvido pela Corte Suprema... de obediência sandinista. Para poder candidatar-se novamente em 2011, já que a Constituição proíbe que uma pessoa tenha mais do que dois mandatos presidenciais, Ortega contou com uma oportuna revogação da mesma Corte Suprema. A vitória, obtida no primeiro turno com uma confortável maioria (62%), continua maculada por várias “irregularidades”, apontadas principalmente pela União Europeia e pela Organização dos Estados Americanos (OEA).
    Na perspectiva das eleições presidenciais de 6 de novembro, o FSLN, que controla a Assembleia Nacional, conseguiu remover todos os obstáculos constitucionais à reeleição ilimitada por maioria simples. Basta “Daniel” (como é chamado na Nicarágua) confirmar as pesquisas, que lhe dão ampla vitória. Hoje, seus concorrentes estão divididos, por falta de notoriedade ou credibilidade, ou impedidos: em junho de 2016, a Corte Suprema de Justiça retirou do Partido Liberal Independente, motor da principal força de oposição (a Coalizão Nacional pela Democracia), a possibilidade legal de apresentar seu candidato para a próxima eleição presidencial. Tudo sob os auspícios de um Conselho Supremo Eleitoral mais do que nunca composto de servos do presidente e contrário, como ele, a qualquer observação externa das eleições.
    Em termos fundamentalmente políticos, o “danielismo”, ou “orteguismo” – nas palavras de seus críticos –, não bebe no sandinismo original, mas manteve seu nome. Com concessões disfarçadas e arranjos contraditórios, Ortega soube ganhar o apoio dos setores da sociedade outrora hostis, mantendo sua popularidade entre o povo sandinista.
    A criminalização de todas as formas de aborto (inclusive em caso de estupro ou risco de morte), aprovada pelos deputados da FSLN em 2006, marcou os espíritos.3 Ela agradou especialmente ao conservadorismo cristão, dominante na Nicarágua, e em particular ao velho cardeal Miguel Obando. O ex-inimigo jurado do sandinismo começou a mostrar apoio incondicional à família Ortega, que aumentou as promessas de boa-fé... O casal presidencial casou-se na igreja em 2007, após um quarto de século de concubinato e uma sórdida história de abuso sexual de uma filha adotiva. O slogan para a campanha eleitoral de 2011, “Por uma Nicarágua cristã, socialista e solidária”, é repetido incansavelmente nas comunicações governamentais.
    Instituições financeiras internacionais, investidores estrangeiros e patronato também encontraram apaziguamento na gestão ortodoxa do presidente Ortega e seu vice-presidente liberal, Jaime Morales, cuja trajetória fala por si só: ex-banqueiro e homem de negócios exilado durante o período revolucionário, ex-líder dos Contras, ex-ministro do presidente Alemán... Juntos, eles decidiram aplicar os programas de austeridade do FMI e do Banco Mundial, privatizar empresas nacionalizadas. Ratificaram o tratado de livre-comércio com os Estados Unidos – país com o qual a Nicarágua realiza hoje metade de seu comércio –, forjaram alianças com o Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep, uma organização patronal), ofereceram exoneração parcial de impostos aos investimentos estrangeiros diretos (IED) etc.
    Uma tendência tão reconfortante que, às vésperas das eleições de 2011, o presidente sandinista era descrito nos círculos de negócios como um “populista responsável”. Em 6 de agosto de 2014, a manchete da revista econômica Forbes falava sobre o “milagre da Nicarágua”, elogiando as “políticas de Daniel Ortega”, que “conseguiram atrair investimentos e empresas estrangeiras, graças ao consenso entre governo e setor privado, bem como as reformas estruturais [...] necessárias para a economia de mercado e a reativação das exportações e, consequentemente, para o crescimento econômico e o progresso social”.
    Embora o “progresso social” não esteja exatamente presente, as medidas tomadas desde 2007 nas áreas de educação e saúde (retorno à gratuidade), combate à pobreza (programa Fome Zero), habitação (projeto Moradia Digna), apoio a pequenos e médios produtores e a cooperativas de mulheres, tudo isso alimentou a popularidade do presidente junto à sua base social sandinista, que permanece leal a ele. Seus esforços puderam contar tanto com a conjuntura internacional – boom do preço das commodities no mercado mundial – quanto com a ajuda maciça da Venezuela de Hugo Chávez. Mas agora a primeira mudou, e a segunda secou.

    Um hiato intransponível
    As críticas mais duras vêm dos antigos compañeros do presidente, que foram expulsos da FSLN ou saíram por conta própria, a cada fase da privatização do partido vermelho e negro por Ortega e seu clã. Mais ou menos à esquerda da FSLN, mas às vezes também à direita, eles ainda se afirmam sandinistas, empenham-se em “resgatá-la” ou “renová-la” e opõem-se violentamente ao “orteguismo”. Eles vêm das fileiras dos dirigentes, ministros e deputados sandinistas dos anos 1980. A seu lado estão os intelectuais e artistas da Revolução Sandinista da mesma época. Mas, até agora, nenhum deles conseguiu construir uma base social ou eleitoral.
    Eles acusam Ortega de ter capturado a FSLN desde a derrota de 1990 e de tê-la instrumentalizado a serviço de sua própria pessoa, quando ela devia ter sido democratizada. Denunciam o “caudilhismo” do comandante, tanto à frente do partido como do país. Criticam seu contorcionismo ideológico para ganhar (e manter) a presidência vitalícia, seu enriquecimento e sua conivência com as grandes fortunas nacionais, o domínio de seu clã – esposa, filhos e amigos – sobre todas as instâncias do Estado e para além dele (Exército, polícia, mídia). Para Dora María Téllez, ícone da revolução e ex-ministra sandinista da Saúde, o presidente tenta “institucionalizar a sucessão familiar” (El País, 19 fev. 2016).
    Mais oportunista que socialista, o presidente sandinista mantém um hiato intransponível entre, de um lado, a retórica anti-imperialista, o nacionalismo soberanista e o alinhamento ao livre-comércio e, de outro, a venda das vantagens comparativas do país para quem pagar mais. Um grupo de 27 intelectuais, incluindo o poeta Ernesto Cardenal e a escritora Gioconda Belli, publicaram em maio de 2016 um manifesto intitulado “Não deixemos uma minoria sequestrar a nação”. O modelo de governança orteguista é descrito como um sistema “autoritário, excludente e corrupto”, além de “repressivo em relação às tensões sociais que ele mesmo engendra”. O manifesto denuncia ainda a explosão, entre 2007 e 2015, da economia informal e do subemprego, da dívida externa e dos lucros das grandes empresas.
    O sandinismo atual também ofereceu aos investidores estrangeiros (asiáticos, norte-americanos etc.) diversas concessões para projetos ou megaprojetos de desenvolvimento de mineração, energia e turismo, oficialmente para “erradicar a pobreza”. Entre eles, o faraônico e polêmico projeto de escavação do “grande canal da Nicarágua”, ladeado (pelo menos no papel) por uma zona de comércio livre de impostos, um novo aeroporto internacional, complexos turísticos de luxo, portos de águas profundas, estradas, viadutos etc.4
    Apesar das contestações, a FSLN e seu líder gozam de uma reputação e de um poder de influência que lhes permitem olhar para o escrutínio de novembro com otimismo.

    Bernard Duterme é diretor do Centro Tricontinental (Cetri), Louvain-la-Neuve, Bélgica (www.cetri.be)

    1    Com empresas privadas e um setor público forte.
    2    Elegibilidade no primeiro turno a partir de 35% dos votos.
    3    Ver Maurice Lemoine, “Une gauche délavée s’enracine au Nicaragua” [Uma esquerda desbotada ganha força na Nicarágua], Le Monde Diplomatique, maio 2012.
    4    Ver “Le Nicaragua double le canal de Panama: à quel prix?” [Nicarágua duplica o Canal do Panamá: a que preço?] e “Le grand canal du Nicaragua: une concession imposée à un pays vaincu” [O grande canal da Nicarágua: concessão imposta a um país derrotado], mar. 2016. Disponível em: www.cetri.be.

    31 de Agosto de 2016
    Palavras chave: NicaraguáSandinismoFSLNDaniel OrtegaAmérica LatinaPanamáVenezuelaContra

    Crônicas do cotidiano: Gilberto Freyre e o Português do Porto do Recife.




    José Luiz Gomes da Silva


    Confesso que, não raro, fico confuso sobre alguns dados biográficos do sociólogo Gilberto Freyre. Aliás, Gilberto é um ser híbrido em muitos aspectos. Híbrido e certamente complexo, o que suscita algumas interpretações igualmente confusas sobre sua vida e, principalmente sobre a sua obra. Ainda ontem discutíamos por aqui uma polêmica entre ele e o médico Josué de Castro, envolvendo questões relativas à alimentação. Quando as nuvens políticas se fecharam aqui na província, em razão do Estado Novo, ele se exilou em Portugal, um país que tinha todos os motivos para acolhê-lo bem, em razão de suas excelentes relações políticas e acadêmicas com aquele país, inclusive com com intelectuais ligados ao salazarismo. Apesar desse ambiente político favorável, o que se diz é que ele teria enfrentado muitas dificuldades, tendo que ministrar aulas para sobreviver. Foi nesse período que ele teria dado os retoques finais em sua obra clássica Casa Grande&Senzala. Como sempre brinco, apesar de doce, Casa Grande & Senzala foi produzida num momento delicado do seu autor. 

    Um outro dado curioso que alguns biógrafos relutam em assumir abertamente é o que informa que o sociólogo de Apipucos é filho da fina flor da aristocracia açucareira do Estado, ou, como diria Tobias Barreto, da açucarocracia pernambucana. Ontem li um texto onde a primeira referência da autora é sobre este assunto, confirmando este fato. Seu pai, Alfredo Freyre, era juiz e professor catedrático de economia política da Faculdade de Direito do Recife. Sua família era descendente dos colonizadores portugueses, o que talvez possa informar muita coisa acerca de suas teses sobre o conceito de colonialismo assimilativo, em contraposição ao do tipo segregacionista inglês. O que também reforça essa sua relação com a aristocracia açucareira do Estado, desde suas origens, é o fato de ele passar suas férias em um engenho da família, em São Severino dos Ramos. Sobre suas ligações políticas com esta classe senhorial, creio, dispensa-se os comentários.

    O repórter Geneton Moraes Neto certa vez comentou que Gilberto Freyre costumava receber os jornalistas nos jardins da Fundação Joaquim Nabuco. Ali, num bate papo informal, respondia, uma a uma, as perguntas a ele dirigidas, sempre muito cortes, sempre muito solícito. Por vezes, as perguntas envolviam diversos temas, mas, qual não era a surpresa dos jornalistas quando chegavam às redações. Ao fazerem a checagem do material, estavam diante de um artigo muito bem redigido, com argumentos consistentes e uma linguagem bem articulada. Freyre era um homem de uma inteligência ímpar. Comenta-se que até hoje em sua residência existem algumas cartas a ele dirigidas onde se escreve Gilberto Freyre com "i". Quando Dona Madalena Freyre reclamava que ele não abria as correspondência, ele repetia: não é para mim. É para um tal de Gilberto Freyre com "i". Quem gosta muito dessa história é o jornalista Paulo Henrique Amorim. Ainda escrevo uma crônica sobre o assunto, mas antecipo que ela envolve um alto executivo das organizações globo. 

    Aos 17 anos, Gilberto Freyre saiu aqui da província para estudar nos Estados Unidos, precisamente nas Universidades de Baylor- Columbia, onde tornou-se amigo do professor Franz Boas, que exerceria forte influência sobre ele, inclusive no seu projeto posterior de criação do Museu do Homem do Nordeste. Gilberto ganhou uma bolsa de estudos concedida por entidades ligadas a Igreja Batista à qual sua família pertencia. Aqui, na juventude, era um disciplinado pregador, um missionário, o que nos informava o ex-bispo anglicano Robinson Cavalcanti. Já nos Estados Unidos, Gilberto abandona completamente suas convicções religiosas, o que contingenciou Robinson Cavalcanti a escrever um artigo nos jornais locais fazendo um apelo: Volta ao púlpito, pregador

    Exílio é sempre algo muito ruim. O sociólogo Josué de Castro morreu deprimido, em Paris, tentando voltar para casa, para matar saudade da paisagem e da gente dos bairros alagados do Recife, habitat de seus estudos sobre a fome. Outro dia, publicamos por aqui um belo texto escrito por Paulo Freire, em homenagem à família que o acolheu no Chile. O poema - sim, um poema - invoca as belas paisagens do Recife, com aquele nomes de ruas que mais se parecem um convite ao encantamento, à paixão. Mas, um dado curioso que li recentemente fala de um momento difícil na vida do autor de Casa Grande & Senzala. Creio que a década de 40 tenha sido uma das mais difíceis para Gilberto Freyre, embora no seu finalzinho, em 49, já como Deputado Constituinte, ele tenha conseguido a aprovação do projeto de lei que criou o então Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco. 

    Gilberto sofreu uma brutal perseguição do Estado Novo, embora tivesse uma boa relação com Getúlio Vargas. O problema era o seu "carrasco no Estado", como se referia a Agamenon Magalhães, Getúlio Vargas. Foi preso durante duas vezes, escapou de uma tentativa de assassinato na Pracinha do Diário de Pernambuco e ficou praticamente interditado aqui no Estado. Dessa época há relatos sobre reais dificuldades financeiras do mestre de Apipucos. Para sobreviver, segundo este autor, ele precisava corrigir o Português dos documentos do Porto do Recife, uma atividade que o desagradava profundamente. Apesar de suas dificuldades iniciais - foi alfabetizado antes em Inglês - Freyre, como ele mesmo gabava-se, "dançava" muito bem em língua portuguesa. 


    https://pt.wikipedia.org/wiki/Gilberto_Freyre

    Gilberto de Mello Freyre KBE (Recife, 15 de março de 1900 — Recife, 18 de julho de 1987) foi um polímata brasileiro. Como escritor, dedicou-se à ensaística da ...
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    Gilberto Freyre e o Português do Porto do Recife José Luiz Gomes da ...

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    quinta-feira, 17 de novembro de 2016

    Crônicas do cotidiano: Gilberto Freyre e Josué de Castro num encontro na Ilha de Deus






    José Luiz Gomes da Silva


    Quando se discute a questão da alimentação, sobretudo se tomarmos como referência a região do Nordeste brasileiro, há divergências substantivas entre o médico Josué de Castro e o sociólogo Gilberto Freyre. O tema é bastante polêmico e, parte a parte, em dados momentos de suas conclusões, um estudioso dessa polêmica ficaria, no mínimo dividido, caso não se deixasse levar pelas suas simpatias por este ou aquele autor. Quem nos dá a honra de ler nossas crônicas aqui pelo blog, sabe que somos, naturalmente, suspeitos para deixarmos de assumir uma posição. No campo do estudo sobre alimentação, Gilberto Freyre apresenta-se como mais um precursor, antecipando-se a outros estudos encaminhados, inclusive, por profissionais de outras formações como nutricionistas e médicos. 

    Gilberto acerta ao apontar situações como o regime escravocrata, a monocultura da cana-de-açúcar, os grandes latifúndios, assim como a introdução da farinha de mandioca, pouco nutritiva, como base da alimentação nordestina, em substituição da farinha de trigo dos colonizadores, como fatores que poderiam contribuir para uma alimentação carente de alguns nutrientes importantes. Nossa alimentação "mestiça - como resultado da relação entre as três raças - de fato, excluía vegetais, legumes, ovos, leite e algumas fontes proteicas necessárias a uma boa alimentação. Ao apontar os senhores de engenhos e os escravos da região como os mais bem alimentados, entretanto, ele comete o equívoco de confundir comer muito com comer bem, sobretudo em relação aos escravos, conforme alfineta Josué de Castro. Errou feio ao sugerir também que a região canavieira era uma das mais bem nutridas do país, mito completamente rechaçados pelos estudos de José de Castro.

    O curioso é que esta polêmica entre ambos é longa, tendo réplicas e tréplicas abusadas de ambos aos autores. Teria sido iniciada com os primeiros trabalhos de Josué de Castro, acerca da alimentação de grupos de operários do Recife, estudos de livre-docência do sociólogo da fome. Depois se estenderia pela demarcação de "campo" - como Gilberto advertindo Josué a não se imiscuir a assuntos relacionados à sociologia ou antropologia, assim Josué devolvendo, que um sociólogo não estaria habilitado a utilizar determinados conceitos, como o de albuminóides e proteínas, onde Freyre, de acordo com Josué, demonstrava absoluta ignorância do termo e que, portanto, não poderia ser levado a sério. O fato concreto é que, enquanto Freyre aponta as causas "naturais" das possíveis carências alimentares, Josué de Castro deduz que ela pode ser o resultado de engrenagens sociais perversas, alimentadas - permita-me o trocadilho - pelas relações estabelecidas entre os homens. Josué de Castro, como bem observara Manuel Correia de Andrade, empresta ao fenômeno da fome um status político. 

    Mas, todo esse introito vem a respeito dos nossos mocambos dos bairros alagados do Recife. Aqui, ambos parecem estabelecer uma "trégua" embora não tenha lido nada do sociólogo Gilberto Freyre sobre a alimentação dos habitantes das palafitas do Recife, enquanto Josué de Castro tomou esse tema até como incursão literária, ao escrever um poema para o homem-caranguejo. Outro dia, escrevemos por aqui um artigo sobre o direito à cidade. Ali, lembrávamos das divergências sobre os mocambos do Recife, envolvendo o sociólogo Gilberto Freyre e o interventor Agamenon Magalhães. Ao defender as palafitas do Recife da sanha higienista de Agamenon Magalhães, Gilberto enfatizava as soluções ecologicamente corretas utilizadas por aquela população empobrecida - em sua maioria oriunda das usinas da zona da mata do Estado - assim como a proximidade com a sua fonte principal de alimentação, os crustáceos. 

    Possivelmente em razão da influência de Gilberto Freyre, outro intelectual que iria demonstrar uma profunda simpatia pelos mocambos do Recife foi o escritor paraibano, José Lins do Rego. Em seu processo de recifinização, lá estavam os mocambos, além do Pátio do Carmo, da Av. Encruzilhada, da Rua da Aurora e, possivelmente, dos quebra nos becos dos bairros de boemia e prostituição do Recife Antigo. Sobre a relação de Josué de Castro com esses bairros alagados no Recife, creio ser desnecessário acrescentar alguma coisa. De acordo com relatos de amigos, sempre que voltava ao Recife, atolava os pés na lama para conversar com os homens e mulheres caranguejos. Um homem que conheceu o mundo, ministrou aulas na Sorbonne, morou em Paris, morreu de saudade dos Afogados, do píer do Pina, dos ribeirinhos da Ilha de Deus.





    Na Web,  em termos de acessos, perdemos apenas para o próprio site do médico Josué de Castro. Desta vez, ganhamos da Wikipedia. Obrigado aos leitores.



    www.josuedecastro.com.br/

    A vida e a obra do intelectual brasileiro que pioneiramente mapeou o drama da fome no Brasil e no mundo. Josué de Castro diagnosticou a relação direta entre ...

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    21 min atrás - Crônicas do cotidiano: Gilberto Freyre e Josué de Castro num encontro na Ilha de Deus Quando se discute a questão da alimentação, sobretudo se tomarmos ...

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    20 min atrás - Crônicas do cotidiano: Gilberto Freyre e Josué de Castro num encontro na Ilha de Deus

    Josué de Castro – Wikipédia, a enciclopédia livre

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Josué_de_Castro

    Josué Apolônio de Castro (Recife, 5 de setembro de 1908 - Paris, 24 de setembro de 1973), mais conhecido como Josué de Castro, foi um influente médico, ...