segunda-feira, 29 de novembro de 2021
domingo, 28 de novembro de 2021
Tijolinho: Eduardo Leite seria mais leve, Raquel Lyra.
Agora, com a vitória de João Dória, na convenção nacional da legenda tucana, em Brasília, começa-se a especular sobre como serão os arranjos políticos daqui para frente, uma vez que o partido tem candidata ao Governo do Estado nas próximas eleições. A prefeita de Caruaru, Raquel Lyra(PSDB-PE), já faz um périplo pelo Estado, lançando as bases de sua plataforma política. Como disse antes, até mesmo pelos comportamentos pessoais já identificados pelos eleitores e ex-amigos, as taxas de rejeição de Dória são altas: 52% junto ao eleitorado e, permitam-me os leitores, acima disso junto aos seus pares. Raposas felpudas da terceira via já informaram que, com ele, não haverá negociação possível.
É um andor difícil de ser carregado, principalmente para uma mulher com a sensibilidade da prefeita, que, aliás, aparece na dianteira das primeiras pesquisas de intenção de voto. Eduardo Leite seria um candidato bem mais leve, com uma capacidade bem maior de atrair determinados segmentos do eleitorado. Depois de acompanhar uma entrevista dele à CNN, ficamos convencidos disso. Seria o melhor nome para os tucanos tentarem atrais o chamado eleitorado NEM NEM. Fora da disputa, o debate político fica mais pobre e isso não é nada bom para a democracia.
Outro nome que somaria ao lado da prefeita é o de Anderson Ferreira(PL-PE), prefeito de Joboatão dos Guararapes, que vive um grande dilema. Tem carta banca na legenda liberal, mas deverá, inexoravelmente, apoiar ou ser o candidato do bolsonarismo no Estado, ele que já acompanhva a prefeita pelas microrregiões, consolidando uma aliança em curso. Pode mudar de legenda para continuar essas caminhadas, mas não será uma tomada de decisão fácil, pois perderia o controle do partido no Estado.
Editorial: João Dória vence as prévias tucanas
Finalmente, as prévias tucanas chegaram ao fim, com a vitória do governador de São Paulo, João Dória(PSDB-SP), que venceu os concorrentes Eduardo Leite(PSDB-RS) e Arthur Virgílio(PSDB-AM). Este editor não se equivou ao afirmar que o governador paulista estava blefando ao anunciar que ganharia essas prévias com mais de 70% dos votos. Ao contrário, o jogo foi bastante equilibrado: João Dória: 53,99%, Eduardo Leite: 44,66% e Arthur Virgílio: 1,35%. Para as câmaras, foi ensaiado um discurso de unidade, de soma, mas, a rigor, os tucanos estão irremediavelmente cindidos, o que deve ser refletir nas quadras estaduais, onde candidatas como Raquel Lyra(PSDB-PE), prefeita de Caruaru, possivelmente encontrará alguma dificuldade de montar o palanque do governador paulista no Estado, pois moveu moinhos pela vitória de Eduardo Leite(PSDB-RS).
Aliás, até os mais renhidos adversários dos tucanos sabem que Eduardo Leite(PSDB-RG) seria um melhor candidato para o partido. Como disse antes, as taxas de rejeição de João Dória(PSDB-SP) são altas mesmo dentro do campo político, onde ele atua, para usarmos uma expressão de Pierre Bourdieu. Apesar dos discursos contundentes, é muito pouco provável que ele venha a empolgar o eleitorado da terceira via, assim como será difícil uma composição com outras forças políticas do chamado centro,que já anteciparam que não abririam um canal de negociação com os tucanos se o nome vencedor fosse o de Dória.
Dória, preferencialmente - como, aliás, já vem fazendo há algum tempo - lançará suas baterias de críticas ao presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), que lidera, até o momento, todas as pesquisas de intenção de voto. O ex-juiz Sérgio Moro(Podemos) ainda não entrou no seu radar. Ele chegou a prestigiar, salvo melhor juízo, a festa do Podemos que lançou o nome do ex-juiz como candidato presidencial, o que sugere que haja algum pacto de não agressão entre eles. Moro é o único nome da terceira via que mantém um canal de negociações com o governador tucano.
A definição dos tucanos pelo nome de Dória ajuda os demais partidos a tomarem alguma decisão sobre o imblóglio político envolvendo a quadra de São Paulo, onde os rumos que Dória tomaria seria uma variável importante para as definições de candidaturas, alianças e estratégias dos partidos naquele estado, que se constitui no maior colégio eleitoral do país.
sábado, 27 de novembro de 2021
Editorial: Será que é ela?
Editorial: A terceira via e o dilema de Ciro Gomes.
Se houve uma aspecto positivo nesta pandemia da Covid-19, foi o fato de nos dedicarmos com maior afinco às leituras - algumas delas estavam adiadas há algum um tempo - assim como ter assistido às diversas lives de cursos e seminários que tivemos a oportunidade de acompanhar durante o confinamento, pois respeitamos rigorosamente todos os protocolos médicos tratando deste assunto. Felizmente, deixamos as clivagens ideológicas de lado,o que representou uma grande aprendizagem. Perdemos os pudores porque, se até o Moro foi acusado de comunista, imaginem o que já não disseram sobre este humilde escriba. Estamos literalmente perdidos( ou lascados, como diria o Gil do Vigor). Se Moro é comunista, precisamos urgentemente rever nossos conceitos. Vejam como essa onda de fake news contribuíram para a vulgarização de comportamentos e conceitos.
O mais importante deles foi um curso sobre marxismo e cinema,embora o cinema tenha surgido bem depois das ideias do filósofo alemão. Marx é contemporâneo da fotografia. Quem primeiro estabeleceu este nexo foi Walter Benjamin, deixando o caminho aberto para outros grandes nomes da arte cinematográfica. Nem Jean-Luc Godard escapou de seu período maoista - considerado por ele a melhor fase de sua carreira - embora Ken Loach, com sua crítica contundente ao capitalismo em suas diversas fases, tenha se transformado num grande ícone da esquerda. Salvo melhor juízo, contemporâneo de Vladimir Herzog, num período em que ambos passaram pela BBC.
Fizemos essa introdução para refletirmos sobre um texto bastante interessante, escrito durante aqueles períodos turbulentos que antecederam à Revolução Russa, Que fazer?, de autoria de Vladimir Lenin, um dos trabalhos mais amadurecidos do líder russo sobre os caminhos e alinças que os operários deveriam seguir para lograrem êxito no projeto revolucionário. Independentemente de conotações ideológicas, o título do texto de Lenin tornou-se uma referência quando tratamos de alguma situação complicada, de difícil solução. Lenin era uma pessoa bastante aplicada nos estudos e não dava um passo sem antes analisar, com bastante acuidade, a melhor estratégia a ser adotada. Aqui, a referência é unicamente em relação ao título, antes que façam alguma confusão.
À medida em que novas pesquisas de intenção de voto são divulgadas, o ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro(Podemos), consolida sua posição de 3º lugar na disputa das eleições presidenciais de 2022. Ele crava 11% das intenções de voto, com pequenas variações entre os institutos, aparecendo à frente de nomes como Ciro Gomes(PDT-CE), que tem um eleitorado consolidado nas três eleições presidenciais que disputou até este momento. Nos últimos dias, fazia um esforço tremendo para conquistar parte desse eleitorado da chamada terceira via, que soma algo em torno de 30% dos votantes.
Investiu, sobretudo, em novas estratégias de comunicação, mas sem muito sucesso. A rigor, Ciro foi quem mais perdeu com a entrada de Sérgio Moro na disputa. Difícil afirmar que, sem Sérgio Moro na parada, ele conseguiria a proeza de conquistar o eleitorado Nem, Nem, sobretudo em relação ao fato de tratar-se de um candidato que tem um longo passado de disputas presidenciais, sempre comendo o mingau quente pelas beiradas, mas sem ampliar de forma significativa o seu eleitorado, tornando-se mais competitivo.Pode-se concluir que ele não atende às expectativas desse eleitorado.
Pesquisas qualitativas poderiam ajudar na finalidade de entender, de fato, essas motivações de resistência desse eleitorado ao nome do senhor Ciro Gomes. Há quem diga que o seu passado petista, de alguma forma, também o prejudicaria, enfim... É o seu staff de campanha quem precisa descobrir as motivações dessa rejeição ao seu nome. João Santana vem promovendo várias mudanças em sua estratégia de comunicação, ainda sem muitos resultados. Essa coisa de comunicação é algo muito sério. Isso faz lembrar as primeiras campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT-SP), onde ele relatava - durante suas falas no guia - a sua trajetória de vida, adversidade enfrentadas, como um operário que passou fome e perdeu um dedo durante jornada de trabalho como torneiro mecânico. Um brasileiro igualzinho a você. Somente com a entrada de Duda Mendonça na campanha é que ele percebeu que o imaginário do pobre não se identifica com outro pobre.
Tal identidade só seria construída depois que ele passou a usar terno italiano e cortar o cabelo no mesmo cabeleireiro de Sílvio Santos. Ciro tem uma interdição - qualquer que seja - que ainda não foi devidamente diagnosticada. Pelo andar da carruagem política, com a entrada do juiz Sérgio Moro na disputa, tal problema parece agravar-se. Se ele já estava batendo forte em Lula e em Bolsonaro, suas baterias agora estão direcionadas para o ex-juiz da Lava Jato, a quem já andou desafiando através de um programa de televisão.
quarta-feira, 24 de novembro de 2021
Tijolinho: O que Anderson Ferreira irá fazer com sua "carta branca"?
Editorial: Como anda a saúde de nossa demcoracia II
Os rankings sobre a saúde das democracias, por razões óbvias, sempre suscitam um grande interesse da população. Talvez pudéssemos afirmar que, sobretudo no Brasil, um país onde tal experiência sempre constituiu-se numa grande preocupação entre os estudiosos do tema. Muitos adjetivos já foram empregados para definir a nossa experiência democrática. O historiador Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo, costumava afirmar que, no nosso caso, ela nunca passou de um grande mal-entendido. Num país com a experiência histórica de um colonialismo escravagista e predatório - indutor de grandes desigualdades sociais e econômicas - o historiador não deixa de ter suas razões.
No Brasil, tudo é uma espécie de concessão provisória de nossa elite torpe, insana e esquerosa. Foi assim com a libertação institucional dos escravos, tem sido assim com o nosso sistema educacional - cindido numa educação para os pobres e negros e outra para os brancos ricos - e, naturalmente, não seria diferente com a democracia. A incerteza, inerente aos processos democráticos, nunca esteve no menu dessa elite insensível. Até recentemente, em 2016, foram feitos alguns ajustes no processo democrático, justamente para satisfazer aos seus interesses, supostamente prejudicados ao se atender às demandas humanitárias do andar de baixo da pirâmide social.
Por muito pouco o processo autocrático não recrudesceu de vez. Tentativas ocorreram. Felizmente, alguns atores estratégicos não endossaram tais manobras. Escrevemos um longo editorial aqui no blog tratando da saúde de nossa democracia. Foi um dos editoriais mais lidos e festejados entre os leitores. Existem, como informo naquela texto, alguns órgãos que monitoram a saúde das democracias pelo mundo. No dia de ontem, a universidade de Gotemburgo, na Suécia, através do seu Instituto Variações da Democracia, publicou o seu ranking, onde o Brasil aparece como a 4º democracia mais vulnerável ou ameaçada do planeta.
Entre os indicadores elencadas por aquele Instituto - para se chegar ao nível de assédio - apenas o indicador da liberdade de associação não teria sofrido baixa. Em todos os outros itens, temos sofrido algum tipo de assédio. Estamos à frente apenas de países como Polônia, Hungria e Turquia, hoje classificados como regimes autocráticos. Victor Orban e Recep Erdogan, que governam, respectivamente a Hungria e Turquia, são considerados déspotas. Nossa democracia, como disse antes, tem problemas estruturais, histórico. Existem algumas variáveis novas, como o rearranjo do capitalismo financeiro internacional, cuja dinâmica acumulativa, passou a exigir regimes políticos mais fechados e estados mais condizentes com esta lógica, daí ser o fortalecimento do poder Executivo - em detrimento do Legislativo e do Judiciário - uma premissa bastante comum entre essas novas experiências autocráticas.
Ao admitir as chamadas ondas de autocracias, como a de 1994 - embora não entrem no mérito sobre como se formaram essas ondas - o Instituto Variações da Democracia, converge com o nosso raciocínio. Muito importante mencionar aqui os indicadores aferidos por aquele Instituto para se chegar a essas conclusões. Vejam onde sofremos assédios autocráticos: a) Grau de liberdade de atuação do Judiciário e do Legislativo; b) Liberdade de expressão da população; c)Disseminação de informações falsas por órgãos oficiais; d)Repressão às manifestações da sociedade civil; e)Liberdade de imprensa; f) Liberdade de oposição política.
segunda-feira, 22 de novembro de 2021
Editorial: A maldição das prévias tucanas.
Numa outra oportunidade, com mais calma, voltaremos a tratar da recente pesquisa do Instituto Parará Pesquisas, divulgada mais recentemente, pela importância que essas pesquisas de intenção de voto assumem, neste momento, no contexto da corrida presidencial das eleições de 2022. Mas, antes que entremos na discussão sobre a maldição das prévias tucanas - interrrompidas no dia ontem, por absoluta ausência de condições técnicas - convém esclarecer um ponto, que tornou-se bastante polêmico, apresetado pela pesquisa da Consultoria Ponteio Político, onde, pela primeira vez, depois do lançamento oficial de sua candidatura, o ex-juiz da Lava-Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro(Podemos), aparece com dois dígitos, acima do veterano Ciro Gomes(PDT-CE).
Pelo levantamento daquela consultoria, Moro crava 11% das intenções de voto, um escore bastante alvissareiro para os seus apoiadores, que não deixaram de comemorar o fato. Logo se especulou sobre a idoneidade e o profissionalismo de tal consultoria, criada há bem pouco tempo. Numa postagem aqui no blog, sem procuração, defendemos os resultados apresentados por tal empresa, sempre em razão da credibilidade que devotamos, em princípio e por dever de ofício, aos institutos de pesquisa. Os resultados do Instituto Parará Pesquisa - que já atua no mercado há algum tempo e tem espertise no assunto - confirmam os números da Ponteio Política: Moro aparece com 10,7%. Quase onze! Antes de mais nada, gostaríamos informar que a nossa opinião sobre tal candidatura tem sido externada por aqui, através dos inúmeros editoriais.
Não foram poucos os momentos, igualmente, que nos debruçamos sobre a análise das prévias tucanas, ora externando nossas opiniões sobre sua importância para as eleições presidenciais de 2022, ora comentando sobre os seus problemas que, aliás, acompanham essas prévias desde o instante em que elas foram anunciadas, como, por exemplo, o escândalo das filiações irregulares, devidamente contornado pela Executiva Nacional da legenda, que anulou as inscrições. Agora, na reta final, surge um problema técnico com o aplicativo usado para a votação remota dos filiados em todo o Brasil. Este fato transformou a convenção do partido, em Brasília, num grande fiasco, alcançando uma repercussão bastante negativa na mídia, o que deve render bastante, possivelmente até os debates que deverão ocorrer entre os candidatos, envolvendo essas eleições. O PSDB, em termos concretos, não começa bem sua corrida presidencial.
Aliás, este editor não vê como os tucanos possam ter grandes expectativas em relação às eleições presidenciais de 2022. O governador Eduardo Leite(PSDB-RS), além de reunir poucas chances de vencer as prévias, é um ilustre desconhecido do eleitorado. João Dória(PSDB-SP), por sua vez, poderá até vencer as prévias tucanas, mas irá enfrentar grandes dificuldades pela frente. Além de uma alta taxa de rejeição junto ao eleitorado, é também muito rejeitado entre os seus pares, o que dificultaria enormemente possíveis negociações políticas. Raposas políticas felpudas da chamada terceira via já anteciparam que,com ele, não haveria negociação alguma. Fora do ninho tucano, as expectativas sobre quem será o vencedor dessas prévias diz respeito aos arranjos políticos aliancistas, principalmente no Estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.
domingo, 21 de novembro de 2021
Editorial: Senhores candidatos à Presidência da República: O eleitor ainda sabe o que vocês fizeram no verão passado.
sábado, 20 de novembro de 2021
Tijolinho: Ainda não estamos em condições de realizar as festas de carnaval.
Jessé Souza: É preciso explicar o Brasil desde o ano zero
O sociólogo Jessé Souza, autor de 'A elite do atraso', lançado pela editora Leya (Divulgação)
Em A elite do atraso – Da escravidão à Lava Jato, Jessé Souza quer fazer o que, em sua opinião, nenhum intelectual da esquerda jamais fez: explicar o Brasil desde o ano zero. Isso porque se ideias antigas nos legaram o tema da corrupção como grande problema nacional – conforme defende no livro -, só mesmo novas concepções sobre o país e seu povo poderiam explicar, de uma vez por todas, que as raízes da desigualdade brasileira não estão na herança de um Estado corrupto, mas na escravidão.
Para tanto, o sociólogo confronta uma das principais obras do pensamento social brasileiro, Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda – responsável por utilizar pela primeira vez a ideia de patrimonialismo para definir a política nacional. Jessé compreende que o conceito – segundo o qual o Estado brasileiro seria uma extensão do “homem cordial” que não vê distinções entre público e privado – serve para legitimar interesses econômicos de uma elite que manda no mercado, este sim a real fonte de corrupção e poder.
Doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha) e professor da UFABC, Jessé Souza é autor de 27 livros, incluindo A ralé brasileira: quem é e como vive (2009), A tolice da inteligência brasileira (2015) e A radiografia do golpe (2016). Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre 2015 e 2016, coordenou pesquisas de amplitude nacional sobre classes e desigualdade social. Em entrevista à CULT, o sociólogo critica a existência de uma interpretação dominante sobre o Brasil e aponta os motivos pelos quais a sociedade brasileira em 2017 não passa de uma continuidade da sociedade escravocrata de 500 anos atrás.
No livro você afirma que Sérgio Buarque de Holanda inaugurou uma forma de pensar o brasileiro como negatividade que se estende ao Estado, visão que teria influenciado de Raymundo Faoro a Sergio Moro. Por que essa chave de leitura tem tanta força?
Essa ideia foi montada para defender interesses econômicos. Às vezes me espanto como não se percebeu isso antes. Quando a elite paulistana perde o poder político para Vargas em 1930 – e perde para um movimento de classe média, que estava se formando no país naquela época -, ela começa a organizar um poder ideológico para condicionar o poder político a atuar conforme as suas regras. Isso foi dito, articulado, pensado. Esse pessoal já tinha fazendas de café, as grandes indústrias em São Paulo, já tinha controle sobre a produção material e aí constroem as bases para o poder simbólico – e a sociedade moderna vive desse poder simbólico. Essa elite cria a Universidade de São Paulo, que vai formar professores de outras universidades e que vai produzir conceitos importantes para que essa elite, tirando onda de que está fazendo o bem, faça efetivamente todo mundo de imbecil para que seus interesses materiais e políticos sejam preservados.
Que conceitos são esses?
São duas ideias que nos fazem de imbecis. Uma delas é a do patrimonialismo, em que há uma distorção da fonte do poder social real, como se o Estado fosse montado para roubar, vampirizar e fazer o mal – e como se nada acontecesse no mercado. Embora seja uma instância de poder importante, no capitalismo quem comanda o poder é o mercado. Há uma tradição inteira, 99 de 100 intelectuais até hoje professam esse tipo de coisa. Sérgio Buarque inaugura [esse pensamento no Brasil], depois Raymundo Faoro dá uma profundidade histórica e Fernando Henrique Cardoso transforma isso em teoria; o programa político do PSDB é todo retirado de Raízes do Brasil. Mas também influenciou a esquerda. Sérgio Buarque foi um dos fundadores do PT, fez todo mundo de imbecil, da direita à esquerda. E como a esquerda não tem uma concepção autônoma de como a sociedade funciona, de como o Estado funciona, ela chega ao poder com um plano econômico alternativo, mais inclusivo, e acha que as pessoas por alguma mágica vão perceber que aquilo é bom pra elas. A esquerda nunca fez o que a direita e a elite fizeram.
Por que a esquerda nunca articulou uma narrativa contrária a essa?
Porque foi incapaz. Porque não foi inteligente, porque se deixou imbecilizar. Porque o tema do patrimonialismo é tratado como crítica social: “Olha, estamos descobrindo quais são as mazelas brasileiras, um gene da corrupção de 800 anos que nos toma a todos”. Isso significa que o Estado [teoricamente] vampiriza e não deixa as forças “emancipadoras” do mercado agirem – como se o mercado, em algum lugar do mundo tivesse sido emancipador por si próprio. Os países campeões do liberalismo como Inglaterra e Estados Unidos têm uma estrutura de Estado extremamente forte, foram protecionistas – e depois dizem a outros países serem o que eles mesmos nunca foram. Isso deu esse charme – o “charminho crítico”, como eu chamo – a esse tipo de ideia como o patrimonialismo, que muitas vezes a esquerda comprou.
O segundo conceito chave, também inventado na Usp, foi o populismo, que torna suspeito e criminaliza tudo aquilo que vem das classes populares – inclusive qualquer liderança associada a elas, que são também estigmatizadas e suspeitas de estarem manipulando a tolice “inata” dessas classes. Eu estudei por décadas os muito pobres e eles são muito mais inteligentes do que a classe média. Eles veem a política como o jogo dos ricos em que todo mundo rouba enquanto a classe média se deixa engambelar por esse tipo de coisa. A classe média foi montada para ser idiotizada, é uma espécie de capataz da elite entre nós.
Na história do pensamento social brasileiro nenhum intelectual chegou perto de romper com essas duas ideias, na sua opinião?
Florestan Fernandes saiu um pouco disso porque estudou dilemas e conflitos de classe; Celso Furtado foi outro genial que percebeu coisas importantes que não têm nada a ver com esses esquemas. Mas esses caras não reconstruíram a história do Brasil como um todo. Foi essa a ambição que eu tive nesse livro porque eu percebi que, para atacar esse negócio e dar nele um nocaute, é preciso fazer o que eles [a elite] fizeram: explicar o Brasil desde o ano zero. O que foi, como foi, por que somos hoje o que somos e o que isso implica para o nosso futuro. Eu tentei fazer o que esses caras não fizeram, apesar de termos tido críticos que discutiram aspectos parciais de modo extremamente importante. Mas se não reconstruirmos o todo, as lacunas do que construímos apenas parcialmente serão invadidas pela teoria dominante, daí Florestan usar o patrimonialismo e essa bobagem toda.
Esse pessoal diz que nosso berço é Portugal e que de lá vem a nossa corrupção – uma coisa que me dá raiva de tão frágil, já que corrupção é um conceito moderno que implica a noção de soberania popular que é coisa de 200 anos. O nosso berço é a escravidão, que não existia em Portugal a não ser para os muito ricos. Não era fundante, era marginal, nunca foi mais de 5%, enquanto nós fomos montados nela. Essa teoria sobre o Brasil, que se põe como científica, no fundo não vale um centavo furado. É montada a partir de ilusões do senso comum, como se a tradição cultural fosse transmitida pelo sangue. São instituições concretas que nos moldam, é a forma da família, da escola que faz com que sejamos o que somos.
No livro você comenta que um dos principais problemas do Brasil é que aqui não houve nenhum tipo de reflexão acerca da escravidão. Quais são os efeitos práticos disso na sociedade brasileira, hoje?
Literalmente tudo. Primeiro há a naturalização da miséria e do sofrimento alheio. Todas as sociedades já foram um dia escravocratas, apenas a Europa, no Ocidente, quebrou com a herança escravista do mundo antigo. Isso significa que embora a pessoa seja socialmente inferior a você, ela não será tratada como uma coisa, mas como um ser humano. E com as lutas sociais por igualdade, são produzidos processos coletivos de aprendizado na qual a dor e o sofrimento do outro podem ser revividos em cada um. Nós, por outro lado, mantivemos essa subhumanidade. Nós não nos importamos com a dor e com o sofrimento dos pobres, as evidências empíricas são claríssimas como a luz do sol, inegáveis para qualquer pessoa de boa vontade. A polícia mata pobres indiscriminadamente – e faz isso porque a classe média e a elite aplaudem. Houve recentemente essa coisa completamente absurda e bárbara das matanças nos presídios, e a classe média aplaudiu. São provas de que temos, como sociedade, ódio aos pobres. Isso veio da escravidão, em que havia uma distinção muito clara entre quem é gente e quem não é. Por isso, não nos importamos com o tipo de escola e de hospital que essa classe vai ter, por exemplo, o que é uma enorme burrice porque estamos criando inimigos, ressentimento. A Alemanha fez um esforço extraordinário para incorporar os 17 milhões que viviam na Alemanha Oriental, tornando seu mercado mais forte, mas aqui a gente simplesmente joga no lixo esse tipo de coisa porque nunca criticamos a nossa herança escravocrata, porque acreditamos nessa baboseira de herança portuguesa da corrupção. Raymundo Faoro tratava a existência de senhores de escravos como algo banal, quando na verdade o senhor de escravo deve estar no centro [da análise], já que todas as outras instituições vão se montar a partir daí. É uma continuidade absurda de 500 anos e nós somos cegos a isso.
Como essa continuidade aparece?
A família dos muito pobres repete há 500 anos a família dos escravos e eles ainda fazem o mesmo tipo de serviço que faziam antes, são escravos domésticos. Fazem parte de famílias desestruturadas, uma vez que na escravidão não se estimulava que o escravo tivesse família porque era preciso humilhá-lo, abatê-lo. Exatamente como acontece hoje. A escravidão só prospera com o ódio ao escravo e o Brasil de hoje é marcado por uma coisa central que só um cego não vê, o ódio ao pobre. A humilhação do pobre. O PT caiu não por causa da corrupção – que pode ter existido, é bom ver as provas -, mas porque tocou no grande pecado de ter diminuído um pouquinho a distância entre as classes. A distância desses 20% para os 80% é a pedra de toque para esse acordo de classes absurdo no Brasil.
O único país que se assemelha a nós no planeta é a África do Sul. Vivemos um apartheid aqui. Governos de esquerda caem, acontecem golpes de Estado toda vez que tentam diminuir essa distância entre as classes. Com isso você constrói dois planetas dentro de um mesmo país, é isso o que temos hoje. Como a classe média não pode transformar esse seu ódio ao pobre em mensagem política – porque isso seria canalhice e temos essa influência cristã -, ela utiliza o pretexto da corrupção já dado pelos nossos intelectuais no tema do patrimonialismo. Todas as elites estudaram em todas as universidades essa mesma bobagem, todo jornal repetiu e repete em pílulas essa mesma imbecilidade, fazendo com que as pessoas internalizem isso como uma verdade absoluta.
Você afirma no livro que a crise atual do Brasil é “também e principalmente uma crise de ideias”. Partindo disso, quanto dessa crise a gente pode colocar na conta da própria esquerda, já que ela nunca se mobilizou para produzir outra interpretação do Brasil?
Ela nunca se mobilizou, isso é uma fraqueza e eu acho que temos que mudar isso. Eu decidi transformar a minha vida nisso, por exemplo. Tem que começar em algum momento. Eu tive sorte porque morei muito tempo fora do Brasil e de algum modo peguei um olhar externo. Tem um grande filósofo que diz que o que propicia o conhecimento é o fato de você conhecer aquele lugar, mas estranhá-lo, ou todas as coisas viram naturais. E se tudo é natural você não interroga, não há dúvida.
Um estudo recente do Instituto Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Datafolha mostra que, numa escala de 0 a 10, a sociedade brasileira chega num índice de 8,1 na predileção por posições autoritárias, principalmente entre jovens de 16 a 24 anos. Como interpreta esse dado?
É de fácil explicação. A partir de 1980 há um partido que nasce de baixo para cima. Nunca havia existido isso entre nós, um partido que congrega trabalhadores rurais e urbanos – eu tenho muitas críticas ao PT, mas é inegável que ele foi uma inflexão importante nessa história da escravidão. E ele passa a representar uma demanda por igualdade nessa sociedade perversamente desigual. Quando você afirma que esse partido é uma organização criminosa – usando no fundo aquela ideia do populismo, de que tudo o que vem das classes populares é estigmatizado – você está afirmando que a igualdade não é um fim, mas um mero meio, uma estratégia de assalto ao Estado. Ora, para onde vai a raiva justa dos 80% dos excluídos se ela não pode ser expressa de modo político e racional? Vai ser expressa de modo pré-político, ou seja, violência pura. A Globo e a Lava Jato criaram Jair Bolsonaro, só o cego ou o mal intencionado não vê. Esse namoro com o autoritarismo tem a ver com o ataque midiático, esse conluio entre Rede Globo e Lava Jato, e eu espero que esse pessoal pague por isso um dia.
No limite, essa chave de leitura inaugurada por Sérgio Buarque serve para justificar golpes de Estado e a Lava Jato, por exemplo?
Sim, a Lava Jato não tem nada a ver com acabar com a roubalheira. Até porque a roubalheira aumentou, isso é visível agora que temos no governo uma turma da pesada. É claro que a corrupção dos políticos existe, mas é uma gota no oceano. Esses caras são meros lacaios do mercado, os office-boy, é o que o nosso presidente é. Se você disser que o sistema inteiro é corrupto e que ele foi montado assim para que o mercado pudesse comprá-lo, aí você estaria esclarecendo alguma coisa, mas quando se diz que apenas um partido, aquele das classes populares, rouba, isso é uma mentira e um crime.
(Publicado originalmente no site da Revista Cult)
Editorial: A fadiga do eleitorado brasileiro com a polarização.
Com base em pesquisas internas realizadas, o Podemos garante que ele é um candidato viável. Isso, possivelmente, o ajudou a decidir-se entrar no jogo presidencial. Não se pode dizer que sua assessoria não tem feito o dever de casa, preparando-o para enfrentar temas importantes para o país, tentanto descontruir a imagem de um candidato de uma nota só, o que seria um tiro no pé. Durante o lançamento de sua candidatura, por exemplo, ele falou sobre desemprego, fome, meio ambiente e, naturalmente, corrupção, que está em seu DNA, para o bem ou para o mal.
Como já afirmamos em editorial anterior, corrupção não é mais o tema que empolga o eleitorado, diante da crise econômica e sanitária que o país atravessa. Não deixa de ser um tema que tem sempre sua importância num país como o nosso, mas passa despercebido, como diria o economista Roberto Campos, quando a parte mais sensível está sendo afetada: o bolso. E, por falar em temas que poderão definir os rumos das eleições presidenciais de 2022, a avaliação do candidato que pretende continuar como inquilino do Palácio do Planalto sempre tem um peso decisivo. Antes de qualquer coisa, é preciso informar que essa premissa vale para qualquer candidato que tente a reeleição. Os analistas, inclusive - com base em suas experiências e ancorados nas pesquisas - asseguram que um candidato que esteja com um escore inferior aos 40% de bom e ótimo, dificilmente se reelege.
Uma avaliação ruim aliada ao descarrilo da economia - com inflação, retração de consumo e desemprego em alta,por exemplo - constitue-se numa combinação explosiva. Como o observou o Mago Antonio Lavareda - cientista político pernambucano - a partir da análise da última pesquisa do XP-IPESPE, a postura do governante para o enfrentamente da crise da pandemia da Covid-19, nestas eleições, também poderá ter um peso decisivo,embora,pelo menos no país, em razão da vacinação, estejamos enfrentando um arrefecimento do número de contágio e mortes.
sexta-feira, 19 de novembro de 2021
Tijolinho: Como fica a situação do PL em Pernambuco?
Editorial: O PL irá "cristianizar" Jair Bolsonaro?
A rigor, não há consenso construído entre ambos, mas um arranjo possível, diante das dificuldades encontradas nessa relação. É mais ou menos a mesma situação daquele casal que percebeu estar numa relação exaurida, mas prefere salvar as aparências, em nome de alguma conveniência ou para preservar os filhos. Para Valdemar da Costa Neto, no momento, é oportuna essa aliança, pois o presidente tem caneta e dotes, e, ainda, pode contribuir para ampliar a bancada do partido, que almeja alcançar 60 deputados federais nas próximas eleições, tornando a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados.
O presidente, por sua vez, além de precisar de uma legenda para viabilizar seu projeto de continuar como inquilino do Palácio do Planalto, promove um rearranjo ou "acomodação" das forças bolsonaristas em alguns Estados da Federação, como São Paulo e Pernambuco. Em tese, recebeu o aval de Valdemar da Costa Neto de que teria "carta branca" para intervir. Não vai permitir que o PL alie-se aos inimigos do bolsonarismo. Numa postagem a parte, discutiremos como fica a questão do prefeito Anderson Ferreira(PL), aqui em Pernambuco, que já teria firmado alianças com os tucanos.
Como disse no início, o jogo é pesado e repleto de escaramuças, o que sugere termos a devida clareza da situação para não incorrermos em conclusões precipitadas. Não há conciliação e, muito menos, juras de amor eterno entre ambos. É só uma questão de tempo para ambos perceberam que tal situação de instabilidade e conflitos intermitentes não seria saudável para ninguém. O PL trabalha com algumas variáveis, uma notória habilidade de negociações e um "cálculo político' preciso. Resta saber se o presidente entendeu toda a dinâmica deste jogo, assim como se possui algum coringa, caso precise usá-la. E não seria nada improvável que ele precisará usá-la.
quinta-feira, 18 de novembro de 2021
Editorial : A repercussão da viagem de Lula à Europa.
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
Tijolinho: As condições do PSB para apoiar Lula
Não está sendo fácil para ninguém os ajustes das composições políticas nacionais com as quadras estaduais. Aliás, no Brasil, elas sempre foram difíceis, pois seguem uma dinâmica própria, consoante o conjunto dos interesses dos líderes partidários dos Estados da Federação. No Brasil, partido político com orientação nacional é coisa rara. Agora mesmo, por ocasião de uma possível filiação do presidente Jair Bolsonaro(Sem Partido) ao PL, isso ficou bastante evidenciado. Ou ele entende que se trata de um problema estrutural dos nossos grêmios partidários, ou será muito difícil encontrar um partido que atenda às suas expectativas. Talvez não seja nem um problema dos partidos, mas da dinâmica da política brasileira. Um articulista da revista VEJA lembrava que este fenômeno ocorreu até mesmo durante o regime militar, onde a ARENA tinha as suas sublegendas.
Os dirigentes do PSB entregaram ao candidato Lula uma lista de exigências para fecharem uma alinça com o propósito de disputar as eleições presidenciais de 2022. Desejam indicar o vice na chapa e contornar alguns casos problemáticos em alguns Estados da Federação, onde o partido não abdicaria de ter candidato próprio concorrendo ao governo. Em Pernambuco, o PT apoiaria o projeto de manter o governo nas mãos dos socialistas, emprestadno seu aval e apoio político ao nome do Secretário de Desenvolvimento, Geraldo Júlio(PSB-PE),ao Governo do Estado. Como é sabido, Geraldo Júlio enfrenta um momento difícil, com algumas arestas até mesmo dentro do partido. Em todo caso, é homem da confiança dos herdeiros do espólio político e eleitoral do ex-governador Eduardo Campos.
A situação mais complicada é o caso de São Paulo, onde os socialistas não abrem mão da candidatura de Márcio França(PSB-SP) ao Governo do Estado, embora seja uma praça onde o PT, tradicionalmente, apresenta um nome para concorrer - que deve recair sobre Fernando Haddad - numa integração com o projeto nacional. O fiel da balança nesse processo pode ser o ex-governador Garaldo Alckmin(PSDB-SP), que poderia, a convite de Lula, filiar-se ao PSB e compor uma chapa com ele, na condiação de vice. Viabilizada essa manobra, Márcio França poderia ajustar os passos com o professor Fernando Haddad, seja na condição de vice, seja concorrendo ao senado federal. O quadro ainda está bastante embolado, exigindo alguns ajustes e arestas a serem aparadas. Márcio França é uma pessoa séria e um ator político de grande estatura. Não é improvável que abdique de alguma ambição pessoal - embora legítima - em nome do interesse nacional.
Editorial: Moro está "pronto" para disputar a presidência da República?
Uma espécie de cruzada anticorrução, liderada pelo ex-juiz Sérgio Moro, foi, basicamente no que se transformou a Lava Jato, antes, naturalmente, que seus métodos fossem duramente questionados e até decisões retificadas por instâncias superiores, como o STF. Segundo observam alguns analistas políticos, naquele timing, Moro seria imbatível numa corrida presidencial, sobretudo num país com um histórico de corrupção estrutural como o nosso. Suas decisões colocaram muitos peixes graúdos na cadeia, principalmente da classe política, e este fato alcançou uma grande repercussão no imaginário da população, colocando-o como um grande justiceiro, alguém que teve a coragem de enfrentar esse grave problema do país.
Isso, naturalmente, antes que todo o edifício fosse desmoranando - depois dos vazamentos dos áudios comprometedores - demonstrando uma absoluta fragilidade em seus métodos e resultados alcançados, como a condenação sem a observância de ritos legais primários, como as provas concretas dos crimes ou delitos imputados aos réus. Moro, evidentemente, saiu chamuscado desse processo, principalmente entre um eleitorado mais informado e consciente, menos infenso aos impulsos.
Sejemos bastante objetivo com os nosso leitores e leitoras. Moro não está "pronto' para ocupar a Presidência da República, como ele tentou sugerir em sua entrevista ao apresentador Pedro Bial. Seja por não ser um estudante aplicado dos problemas do país, seja por ter demonstrado, em sua conduta, algumas atitudes que não o credenciam ao cargo. Ele tem apresentado ao público uma equipe de bons nomes, capazes de construir uma plataforma de gestão do país em suas áreas específicas. São profissionais experientes e qualificados. Mas ele, em particular, ainda não está preparado. Talvez seja exatamente por isso que a sua assessoria preparou um discurso onde ele se dirigisse à população de uma maneira mais ampla, não se limitando a famosa nota só do combate à corrupção. Até uma tal de força tarefa para enfrentar a fome foi mencionada. Se, um dia, ele chegar ao Planalto, espero que essa força tarefa siga outros métodos.
Em sua primeira entrevista ao apresentador Pedro Bial, da Rede Globo, ficou famoso um questionamento do apresentador acerca de sua preferência de leitura. Ele informou que gostava de ler biografias. Quando questionado sobre qual o último livro que leu, ele não soube responder. E, por falar em biografias, será que ele já adquiriu a biografia de Lula, escrita por Fernando Moraes? Seria uma boa sugestão.No nosso último editorial, abordamos a questão dos intérpretes do Brasil, algo para muito além dos chamados "cânones sagrados", como Gilberto Freyre, Caio Prado Junior e Sérgio Buarque de Holanda. Eles não deixam de ser importantes - imprescindíveis até - mas existem outros estudiosos e pesquisadores que se debruçaram sobre a questão de entender este país, como Francisco de Oliveira, Josué de Castro, Roberto DaMatta, Darci Ribeiro, Milton Santos, Celso Furtado, entre outros. Será que ele leu Elegia Para Uma Re(li)gião? Pedagogia do Oprimido? Geografia de Fome? A Natureza do Espaço: Tempo, Razão e Emoção? Muito pouco provável.
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