Somente no dia de ontem, tivemos uma conhecida apresentadora de TV defendendo assediadores; uma atriz famosa ridicularizando o drama do genocídio vivido pelas crianças Yanomamis; um candidato à Presidência do Senado Federal afirmando que defenderá o legado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Isso apenas nos remete à conclusao de que o retrocesso civilizatório observado no país nos últimos anos foi enorme. Talvez bem pior do que imaginávamos. O devastador relatório da FUNAI - produzido ainda num período de algum resídio republicano que restavam, posto que a sua direção sofreria as represárias - é uma evidência de que a bandidagem atingiu o núcleo mais duro do aparelho de Estado no país.
Pior do que isso somente a má-vontade de alguns setores da grande mídia com o Governo que se inicia, que tem o propósito inegociável de restaurar o tecido democrático perdido e promover a retomada de padrões civilizados de convivência. Ontem, pelas redes sociais, andou repercutindo imensamente um caso de malversação - ou aplicação de recursos em benefício próprio - de verbas oriundas do famigerado Orçamento Secreto, utilizadas por um ministro indicado pelo União Brasil para compor o ministério de Lula. Matreiramente, setores da mídia utilizaram a expressão "Ministro de Lula", numa clara intenção de jogar no colo do Governo a responsabilidade pelos atos do ministro. Que os bolsonaristas explorassem o fato até se entende, mas a grande mídia não.
Ora, como se sabe, a relação do Governo Lula com o União Brasil ainda é marcada por alguns desacertos. Próceres petistas baianos, integrantes do Governo, por exemplo, rejeitaram a indicação de nomes sugeridos pelo União Brasil. Os nomes indicados, por outro lado, não contam, necessariamente, com o aval dos dirigentes da legenda. Por outro lado, esse tal orçamento secreto é uma grande excrescência que extrapola, em muito, o campo das ideologias. Precisa ser veementemente combatido, mas as contigências políticas, infelizmente, caminham para manter esse expediente nefasto, que depõe contra os mais basilares principios de gestão de recursos públicos. Os escândalos que estão sendo descobertos tendem a ser ampliados enormemente. É prudente fiscalizar, exercer o seu papel legítimo, mas seria prematuro jogar essas lentes contra eventuais desvios de conduta de um Governo que está apenas se iniciando, fazendo um esforço enorme para acertar. Principalmente através desses expedientes.