Ficamos dois dias ausente das discussões aqui pelo blog, em razão dos arremates finais da conclusão de mais um romance. Quem escreve sabe que, não raro, somo tomados por umas sensações esquisitas, como os bloqueios ou rejeição do trabalho produzido. É preciso dar um tempo para as coisas retornarem à normalidade, seguir seu curso natural, pois logo percebemos que faltavam apenas alguns ajustes pontuais. Em breve teremos novidades por aqui.
Depois que enfrentamos, aqui na província, uma grande polêmica em torno de uma proposta de mudança de nome de um auditório, em homenagem a um ex-interventor do Movimento de Cultura Popular, em Pernambuco, Carlos Maciel, passamos a ter uma atenção maior ao que, no jargão jurídico, conhecemos como Justiça de Transição. Um amigo professor faz sempre uma brincadeira conosco, informando que a Argentina vence esse placar, em relação ao Brasil, por 43 a 0, ou seja, lá, a justiça conseguiu colocar na prisão agentes de Estado que estiveram envolvidos no cometimento de torturas, durante os estertores da Ditadura Militar, que são tipificados como crimes hediondos, contra a humanidade. Até generais-presidente foram parar no xelindró, com pena de prisão perpétua.
Como no Brasil tudo se resolve com um tapinha as costas, como diria o poeta, aqui a Lei de Anista foi pactuada por acima, num acordo de cavalheiros, envolvendo setores conservadores e militares que, praticamente, impediu esse ajuste de contas com o passado sombrio dos 21 anos de trevas e obscurantismo ao qual fomos submetidos com o Golpe Civil-Militar de 1964. O professor Sílvio Almeida, Ministro dos Direitos Humanos, ja antecipou que a Lei de Anistia precisa ser revista, assim como pretende retomar os trabalhos da Comissão da Verdade.
Os casos são estarrrecedores e um acerto de contas com esse passado sombrio seria fundamentalmente importante, para não reproduzirmos novos filhos e filhotes, herdeiros dessas patologias políticas. Em Pernambuco ocorreu o primeiro caso de tortura pública infringida a um opositor do regime, o líder comunista Gregório Bezerra, arrastado amarrado pelo pescoço pela praça do bairro de Casa Forte, no Recife, depois que teve seus pés queimados com uma solução de ácido sulfúrico. A dor que senti não sei descrever, diria ele mais tarde.
A poeta paraguaia, Soledad Barrett, que estava qrávida de quatro meses, foi torturada e executada numa granja na cidade de Paulista, num episódio que ficou conhecido como o Massacre da Granja São Bento, que alcançou repercussão internacional. Foi encontrada num tonel, ensanquentada, com o feto coberto em sangue, numa evidência de aborto provocado pela tortura. Dos 34 tiros disparados, 18 deles foram na cabeça, indicador de uma possível execução do grupo da VPR que se reunia no local, depois de traídos pelo Cabo Anselmo.
Enquanto não ajustarmos essas conta com o passado, vamos viver este clima de escaramuças, onde o nunca mais cede espaço ao eterno retorno. A última dessas tessituras nefastas de retrocesso autoritário ocorreu em 08 de janeiro útimo. Apesar da aparente "normalidade", convém sempre ficarmos atentos a uma observação do sociólogo português, Boaventura de Sousa Santos, quando afirma que o Brasil, infelizmente, tornou-se um laboratório de experimentos nefastos da extrema-direita.