Ecos brasilienses
Eli Martins*
Um: como é a política
Política é assim: na campanha a gente diz uma coisa e no governo faz outra. Dilma passou a campanha eleitoral declarando que Marina iria entregar o Brasil aos banqueiros, que tinha o apoio da filha do proprietário do Banco Itaú (que tem apenas 1% do Banco, e nunca lá trabalhou). Os banqueiros iriam roubar a comida dos pobres. Como se nos governos Lula e Dilma os Bancos não tivessem ganho dinheiro “como nunca antes neste País”. E criticou o Aécio que iria colocar um ministro liberal na Fazenda para fazer um arroxo em cima dos trabalhadores. Passadas as eleições, quem a Dilma convidou para ministro da Fazenda? Primeiro o segundo homem do Banco Bradesco, que não aceitou, mas indicou um de seus auxiliares, economista conhecido por suas posições liberais, aluno predileto daquele que seria o ministro do Aécio. E, segundo os jornais, teria colaborado com o programa dos tucanos. Cara de pau espelhado no Maluf.
Dois: pra que ministro da Fazenda?
Alguns petistas se escandalizaram que a presidenta tenha nomeado como ministro da Fazenda um economista liberal, igual ao que o Aécio iria nomear. Protestaram. Mas o pessoal do pano quente entrou em cena afirmando que quem nomeia os ministros é a Presidente, e que ela é quem dirige a economia. Então, pergunta-se nas ruas em Brasília: por que nomear um ministro da Fazenda?.
Três: Primeira manobra contra o escândalo da Petrobras
O escândalo da Petrobrás está deixando o governo desesperado. É preciso encontrar uma fórmula que a população não os responsabilize pelo maior escândalo de corrupção que o Brasil já conheceu. Em resumo, aqueles que se dispuseram a fazer a delação premiada têm dito o seguinte: as empresas que ganhavam licitações na Petrobras combinavam entre si quem ganharia cada uma das licitações, e pagavam propinas a dirigentes da empresa que, por sua vez, ficavam com parte dos recursos e repassavam parte a três partidos da base governamental: PP, PMDB e, sobretudo, o PT. Esta prática existiria desde o início do governo Lula. A primeira manobra: a presidenta declara que é preciso averiguar com rigor as denúncias, ao mesmo tempo em que sua base parlamentar desfaz as CPIs instaladas para investigação. Ademais, dava a entender que ela é quem estava dirigindo a ação dos investigadores. Mentira. A presidenta aqui só pode atrapalhar. O poder judiciário é independente e o Ministério Público também. E se este apresenta denúncia, a Polícia Federal tem que investigar. Policiais fies não ao Estado, mas ao governo podem exercer prática incorreta que leve o processo a se tornar ilegal, e engavetado.
Quatro: Segunda manobra contra o escândalo da Petrobras
A segunda manobra para tapar o buraco com a peneira por parte dos petistas: alguém descobre que em 1997 houve um escândalo na Petrobras, pois alguém desviou dinheiro. Desviou ontem e está desviando hoje. Só que não são os mesmos. Hoje é uma prática institucionalizada, e desenvolvida no governo Lula. Conclusão: se houve roubo antes podemos roubar hoje. Raciocínio pelo menos estranho vindo de um partido que se diz de esquerda e defensor da ética.
Cinco: Enfim, a terceira manobra…
A terceira manobra para abafar o escândalo da Petrobrás começou. O ministro do Supremo, Zavascki, pede explicações ao Sergio Moro sobre a citação de parlamentares nas investigações em curso, a pedido dos advogados de duas empresas envolvidas. O objetivo é um só: levar o processo para o Supremo, uma corte politica com maioria esmagadora de indicados pelo governo petista. Risco: ingresso no buraco negro.
Seis: Parece piada, “nunca se roubou tão pouco”
Um empresário, que um dia já foi celebridade, escreve um artigo dizendo que ” nunca se roubou tão pouco quanto hoje”. Quem encontrar qualquer dado que confirme sua afirmação ganha uma viagem para a lua. Não tem nada. O que se pergunta é a motivação que fez o tal empresário escrever o artigo que os petistas distribuem nas redes dizendo: tão vendo, roubamos menos que os outros. Daqui a pouco vão dizer: “roubamos, mas fazemos”, como Ademar de Barros. Já o ex-presidente do STJ, Feliz Fischer, melhor posicionado para entender do assunto do que o ex-célebre empresário, declarou: “Acho que nenhum outro país viveu tamanha roubalheira. Pelo valor das devoluções, algo gravíssimo aconteceu”.
Sete: Miopia política
Tarso Genro, um dos políticos mais inteligentes e preparados do PT, sucumbiu à miopia política. E afirma nos jornais que a oposição contou com “votos da elite”. É difícil imaginar que a elite seja mais de 48% do País. Quando os petistas vão se convencer que o País se dividiu, que Dilma, legitimamente eleita, recebeu apenas 39,16% dos votos do corpo eleitoral brasileiro, que parte da esquerda votou contra ela? E que parte da direita está em seu governo e não com a oposição. Exemplo: a líder do agronegócio, senadora Katia Abreu, que saiu do DEM para o PSD e em seguida, a pedido da Dilma, para o PMDB. Isso sem citar os clássicos Renan, Collor, Jader e Maluf.
Oito. A culpa é da crise internacional
Durante toda a campanha eleitoral, a Presidenta insistiu que o Brasil estava economicamente bem e no caminho certo. O mundo é que estava em crise e não tinha crescimento econômico. A China está crescendo a módicos 7,5% e os “Estados Unidos teve alta anualizada de 3,9% entre julho e setembro, maior que os 3,5% da primeira leitura, anunciada em 30 de outubro. O dado é bem melhor do que o esperado por analistas do mercado, que previam uma redução para 3,3%.“ O Brasil tem crescido a menos de 1% graças ao brilhantismo da Presidente economista, popularmente conhecida em Brasília como “madame sabe tudo”
(artigo publicado originalmente na revista eletrônica Será?)